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10 anos de Paulista aberta: o marco da urbanidade em SP – 21/02/2025 – Mauro Calliari

10 anos de Paulista aberta: o marco da urbanidade em SP - 21/02/2025 - Mauro Calliari

Espaços públicos não têm vida fácil na história de São Paulo. Por isso foi transcendental a abertura da avenida Paulista para os pedestres aos domingos, há dez anos. A multidão andando, brincando, conversando, comendo e dançando, é um marco na nossa relação com a cidade.

Pessoas e circunstâncias

Fosse outra a administração, fosse a pressão feita de outra maneira e os carros estariam passando pela Paulista aos domingos como se nada tivesse acontecido.

O fato é que havia uma circunstância e havia pessoas.

Em 2015, a circunstância era um movimento de reocupação do espaço público, com o Carnaval de rua, a discussão sobre o Minhocão, o plano para novos parques (principalmente nas periferias), movimentos de ciclistas e pedestres, hortas urbanas, hip hop e arte na rua.

Aí entram as pessoas, que propõem e que implementam boas ideias. A avenida já havia sido aberta para lazer em alguns trechos, mas a proposta trazida pelas ONGs Minha Sampa, Paulista Aberta e SampaPé trouxe a inspiração da orla sul do Rio de Janeiro e principalmente do Paseo de la Reforma, na cidade do México, que recebe dezenas de milhares de pessoas aos domingos. A pressão durou quase dois anos até que a gestão Haddad encampou a demanda, transformou-a numa política pública e ainda criou um programa para abrir uma rua em cada subprefeitura, o Ruas Abertas. Depois de testes, a avenida abriu em 18 de outubro de 2015.

Reações e resistências

É difícil acomodar interesses diferentes. Moradores não querem barulho. Hospitais querem acesso fácil para ambulâncias. Comerciantes querem vagas na porta. O Ministério Público estava atento a um TAC que só permitia três eventos na avenida por ano.

Os ajustes foram sendo feitos e ninguém deixou de chegar ao hospital. Comerciantes descobriram que ciclistas e pedestres também compram seus produtos. Uma pesquisa feita cinco anos depois mostrou que a maior parte dos moradores da região ficou a favor da iniciativa.

A Paulista aberta é um sucesso, mas dá para melhorar muito

Para começar, a segurança. A região já é campeã em roubos de celulares, em qualquer dia da semana. Multidões precisam de mais policiamento e prevenção.

A própria avenida precisa de uma repaginada. Faltam árvores, bancos, lixeiras e manutenção. Faltam boas conexões entre a avenida e as ruas adjacentes. A reforma feita na alameda entre o Sesc e o Itaú Cultural mostra como um pouco de investimento pode melhorar muito o ambiente.

Outros problemas dependem da resolução de conflitos. Não custa nada criar um grupo de frequentadores, moradores, comerciantes e membros da prefeitura para arbitrar conflitos. O som alto, por exemplo, incomoda tanto frequentadores como quem mora a cinco quarteirões. Bastaria negociar um limite e fiscalizar. O horário de fechamento também pode ser estendido. Às 16h, a avenida ainda está cheia.

A cena das pessoas aproveitando a Paulista num domingo é o verdadeiro cartão postal da cidade. É o exato oposto de outra imagem difundida institucionalmente, a ponte Estaiada, vazia, sem transporte público, sem pedestres e sem alegria.


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