Matheus Leitão
O agitado 2024 está chegando ao fim, e as análises começam a projetar um 2025 repleto de cenários desafiadores, para dizer o mínimo. Governar tornou-se mais difícil na última década, especialmente após a pandemia de Covid. Indicadores positivos já não asseguram o ânimo da população, sobretudo em meio a altos preços e custo de vida elevado.
A equação é complexa, mas abre brecha para uma direita moderada, que precisará utilizar-se de um discurso bem afinado e atento às verdadeiras demandas do eleitorado. Olhando para os exemplos mundo afora, não é mais o incumbente quem tem vantagem, mas a oposição, independente se de esquerda ou de direita. Neste cenário, Lula e o PT precisam ficar atentos, porque 2026 será bem mais difícil do que se imagina e 2025, provavelmente, será um calvário.
O cenário internacional tem dado uma lição muito clara nesta direção. Se Trump perdeu em 2020 com um discurso de situação, em 2024 ele voltou ao poder afinado com os clamores populares e sabendo fazer oposição ao governo de Biden. Na América Latina, a história tem sido mais ou menos deste jeito também. O Uruguai elegeu um presidente de esquerda e derrubou a frente de direita que governava o país. Na Argentina, Milei teve o mesmo feito. Vociferou como oposição raivosa e se elegeu deixando para trás o peronismo de Cristina Kirchner.
Por aqui, e por alguns milímetros de votos, Lula venceu Bolsonaro, mostrando-se como mudança a uma política que não funcionou nada bem. Sabíamos, e hoje sabemos bem mais, que a eleição de Lula foi muito mais do que isso, porque escapamos da instauração de um ditadura mequetrefe e perigosa de Jair e sua turba. Nunca é demais dizer que foi por muito pouco que não nos enfiamos em uma barbárie muito maior do que havia sido o primeiro mandato de Bolsonaro.
A Europa vive uma situação idêntica porque na França e na Alemanha, por exemplo, a situação tem sido de instabilidade política constante. Em ambos os países, os primeiros-ministros já caíram em desgraça. No caso da Alemanha, a situação se deu muito pela queda do ministro de finanças, demitido por não conseguir impulsionar a economia do país, que por lá deve encolher este ano.
Mais uma vez é a economia e o custo de vida da população que berra aos quatro cantos. Veja que na Argentina, na Alemanha, no Brasil, nos Estados Unidos e até no Canadá, onde o primeiro ministro também deve cair, a situação é a de que governos não têm dado conta de impulsionar economicamente a vida população, seja mantendo benefícios de bem-estar social, como na França e na Alemanha, seja em garantir uma inflação suficientemente baixa e permitir um poder de compra adequado como nos países americanos de Sul e do Norte.
Por todo lado, o sentimento é de que a vida não acompanha os ganhos. Falta dinheiro e sobram bolsos vazios. E é bem neste ponto que entra a eleição de 2026 por aqui. Porque se em 2025 persistirem indicadores de emprego em alta, de crescimento do PIB, mas continuarmos com inflação elevada; em 2026 este sentimento pode ser facilmente capitaneado por um direita mais centrista, comprovadamente longe das fileiras de Lula e Bolsonaro, que hoje representa mais de 30% da população.
Resumidamente a conversa é a seguinte: 33% são de esquerda e/ou lulistas; 32% se dizem bolsonaristas e/ou de direita e 34% se dizem de centro e não querem saber dessa conversa de extremos. Os dados fazem parte dos desdobramentos da pesquisa Quaest de dezembro e indicam algo muito claro. Se a vida estiver cara, como promete persistir, se a conversa for moderada e o pensamento for centrado em políticas que deixem a vida mais leve, talvez o Brasil de 2026 possa mostrar que de fato incumbentes não têm mais a força que tinham no passado e quem se elege é quem chega com um discurso forte de oposição, prometendo solução para algo que, sabemos, nem sempre é possível cumprir, ainda mais neste mundo conturbado que os últimos anos nos relegaram.
* Rodrigo Vicente Silva é mestre e doutorando em Ciência Política (UFPR-PR). Cursou História(PUC-PR) e Jornalismo (Cásper Líbero). É editor-adjunto da Revista de Sociologia e Política. Está vinculado ao grupo de pesquisa Representação e Legitimidade Democrática (INCT-ReDem). Contribui semanalmente com esta coluna.