Camila Camargo Dantas e João Camargo
O Brasil chegou a um ponto de inflexão. O tempo das soluções paliativas se esgotou. Com uma dívida crescente e um modelo econômico de juros altos e baixa poupança interna, a inércia fiscal nos condena a um ciclo vicioso de baixo crescimento, crédito caro e perda de competitividade.
O problema não é conjuntural, mas estrutural. A máquina pública opera com distorções que comprometem o equilíbrio fiscal. O país destina mais de R$ 600 bilhões anuais em subsídios e isenções, muitas vezes sem transparência ou critérios claros de retorno. Esses benefícios, criados para estimular setores estratégicos, muitas vezes se perpetuam sem revisão, drenando recursos que poderiam impulsionar infraestrutura e inovação.
Além disso, desajustes administrativos e salariais tornam o Estado pesado e ineficiente. Supersalários persistem, inflando o gasto público com auxílios que burlam o teto constitucional. Enquanto se discute ajuste fiscal, milhares de servidores seguem recebendo remunerações descoladas da realidade. Empresas estatais deficitárias também absorvem bilhões anualmente sem justificativa econômica clara.
No campo social, o modelo de reajuste automático do salário mínimo e do Benefício de Prestação Continuada (BPC), atrelado ao PIB e à inflação, pressiona as contas públicas sem garantir aumento proporcional da arrecadação, tornando a gestão fiscal ainda mais desafiadora.
O efeito desse descontrole é direto: afastamos capital externo. Sem previsibilidade fiscal e um ambiente de negócios estável, o Brasil se torna uma aposta de risco. O resultado é um mercado retraído, baixo crescimento e oportunidades escassas.
Diante desse cenário, propomos um pacto nacional. Não um plano superficial, mas um compromisso real para restaurar o equilíbrio entre responsabilidade fiscal, crescimento econômico e justiça social. Nenhuma nação prospera sem líderes dispostos a enfrentar desafios.
Cabe ao Executivo reordenar despesas, garantindo cortes estratégicos que preservem os mais vulneráveis. Programas sociais precisam ter começo, meio e fim, funcionando como ponte para a autonomia, não como sistema permanente de dependência.
O Brasil tem no presidente Lula um dos grandes líderes políticos dos últimos tempos, alguém que domina como poucos a arte da negociação e da construção de consensos. Essa capacidade precisa ser exercida com urgência. Sem diálogo, o impasse fiscal se perpetuará. O momento exige pactos amplos e soluções equilibradas.
O Congresso Nacional tem papel central nessa transição. A chegada de lideranças experientes reforça a necessidade de um Parlamento comprometido com acordos pragmáticos. O Legislativo deve ser o espaço dos grandes debates nacionais, garantindo que as soluções políticas sejam construídas com base no diálogo e no interesse público.
O Judiciário, por sua vez, deve ser poupado da sobrecarga de decisões que cabem à política. Quando tudo é judicializado, o que se revela não é a força da Justiça, mas a falência da política. Um país saudável precisa de um Judiciário que garanta estabilidade institucional, não que substitua o debate democrático.
Por fim, a sociedade civil precisa assumir seu papel. Nenhuma transformação acontece sem o envolvimento do setor produtivo, da academia e dos cidadãos. O Brasil não pode delegar seu destino exclusivamente ao governo.
O erro recorrente no Brasil tem sido acreditar que o ajuste deve partir do outro. O empresário espera que o governo resolva, o governo aguarda que o Congresso atue, o Congresso transfere a decisão ao Judiciário, e a sociedade permanece à espera de uma solução. Esse ciclo de inércia precisa ser rompido.
O pacto que propomos não busca preservar privilégios, mas construir um Brasil viável para as próximas gerações. Cada setor precisará ceder algo, mas todos colherão os frutos de um país mais equilibrado e competitivo.
As nações que avançaram não hesitaram diante de crises. A hora do Brasil é agora. Se esse pacto for conduzido com seriedade e visão de longo prazo, deixaremos de remediar crises para preveni-las.
O futuro está em nossas mãos. A escolha também.
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