Chorei lendo o excelente escritor francês Édouard Louis, de apenas 32 anos. Apesar de virmos de realidades distintas —ele do norte operário da França e eu de uma família negra de classe média baixa na Grande São Paulo—, não pude deixar de me identificar com seu relato. Não é à toa que Louis, em sua passagem arrebatadora pela Flip no RJ e em inúmeras entrevistas e eventos depois, comoveu todas as audiências que lotaram teatros e livrarias para escutá-lo: Édouard Louis nos ensina o quão complexa é a busca por liberdade.
Fazendo uso com maestria da autobiografia, Louis coloca os seus próprios dramas familiares no centro de sua literatura, de forma comovente, complexa e humana. Vindo de uma família pobre francesa, Louis, um jovem gay, lutou, de um lado, contra a homofobia de seu pai e contra a falta de liberdade de sua mãe e, de outro, contra o empobrecimento. “(Virginia) Woolf já havia entendido, cem anos antes, que a liberdade não é, em princípio, uma questão estética e simbólica, mas uma questão material e prática. Que a liberdade tem um preço”, escreve no livro “Monique se liberta”.
E é aqui que entra a genialidade de Édouard. Os dois lados da moeda são, para Louis, o mesmo lado: a liberdade segundo ele é a possibilidade de existir plenamente apesar de um mundo que nos nega um lugar nele. Louis implode, com gosto, a separação que muitos fazem entre, de um lado, reivindicações identitárias de reconhecimento (p.ex. contra homofobia e papeis de gênero opressores) e, de outro, demandas por redistribuição material (p.ex. contra privação de educação a jovens pobres ou contra feminização da pobreza).
Quantas mulheres se libertariam de seus maridos abusivos se pudessem fazê-lo? Quantos jovens negros viveriam se a polícia não utilizasse a violência como forma de controle territorial sobre corpos descartáveis para o capital? De que cor seria a liberdade se a entendêssemos, como Édouard Louis entende: coletiva, radical e prática. Quantos jovens gays pobres, como eu e ele éramos, seríamos livres se tivéssemos um cheque e o poder na mão?
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