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A tarifa no aço é um tiro no pé – 11/02/2025 – Bernardo Guimarães

A tarifa no aço é um tiro no pé - 11/02/2025 - Bernardo Guimarães

Nesta segunda-feira (10), Donald Trump anunciou tarifas sobre a importação de aço e alumínio. A medida pode fazer sentido no jogo político, mas, em termos econômicos, parece muito ruim para os Estados Unidos —mesmo sem considerarmos qualquer retaliação de outros países.

Como muitos têm observado, as tarifas beneficiam as indústrias siderúrgicas, mas encarecem quem usa o aço como matéria-prima. Isso é importante porque, nos Estados Unidos, para cada pessoa empregada na produção de aço, há cerca de 80 trabalhando em indústrias que utilizam aço como insumo.

O potencial para atrapalhar é grande. E o que dizem os dados?

Em 2002, o então presidente George W. Bush impôs tarifas sobre a importação de aço. Os impactos desse episódio no curto e no longo prazo foram recentemente estudados por pesquisadores, e os resultados parecem ter sido ignorados pelo governo norte-americano.

James Lake (Universidade do Tennessee) e Ding Liu (Universidade Metodista do Sul) usam métodos estatísticos para avaliar o efeito das tarifas no emprego em localidades que produzem aço ou que usam aço como insumo. O efeito positivo no emprego na siderurgia é pequeno. O efeito negativo na indústria que usa o aço como matéria-prima é grande.

Talvez de forma surpreendente, o efeito negativo persistiu anos depois que a tarifa foi revogada, no final de 2003. Por quê? Ao que parece, a explicação é que algumas empresas saíram do mercado com as tarifas altas.

Lydia Cox (Universidade de Wisconsin) estuda o mesmo caso com uma metodologia bem diferente e chega a resultados muito semelhantes.

Cox encontra uma substancial redução na produção, no emprego e nas exportações em indústrias que usam o aço como matéria-prima. A quantidade estimada de empregos perdidos nessas indústrias supera o total de pessoas empregadas na produção de aço.

Assim como Lake e Liu, ela também mostra que os efeitos persistem por muitos anos. As exportações de empresas que usam aço como insumo caem com as tarifas e não se recuperam completamente com o fim das tarifas. Ao que parece, cadeias globais de suprimentos se reorganizaram, tirando espaço das empresas norte-americanas que tinham perdido competitividade temporariamente.

A evidência disponível mostra que, mesmo focando apenas o emprego e a produção da indústria, as tarifas tiveram efeitos negativos. Outros efeitos importantes comumente apontados são o aumento nos preços para os consumidores (inflação) e a ineficiência na alocação de recursos.

Isso ocorreu há 20 anos. Agora, a história se repete. Nada indica que os resultados serão diferentes e, ao que parece, a comunicação oficial se encarregará de deixar a história mal contada.

Há o argumento de que o objetivo é tornar os Estados Unidos menos dependentes das cadeias globais de suprimento. Se é por aí, quão mais pobres os Estados Unidos estão dispostos a ficar para reduzir essa dependência?

Politicamente, a medida parece uma demonstração de força, do tipo que deixa a base de apoio do presidente Trump fascinada. Contudo, os custos econômicos não vão demorar para aparecer e vão persistir, mesmo depois de a tarifa ser revogada.


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