Após a forte queda na segunda-feira (4), o dólar abriu em leve alta nesta terça-feira (5) com os investidores aguardam o anúncio de medidas de contenção de gastos pelo governo brasileiro.
Ao mesmo tempo, os analistas esperam a eleição presidencial dos EUA, que será finalizada nesta terça, com a disputa apertada entre Kamala Harris e Donald Trump.
Às 9h03, o dólar subia 0,17%, cotado a R$ 5,7933. Na segunda-feira, o dólar despencou 1,47%, cotado a R$ 5,783, e a Bolsa disparou 1,86%, aos 130.514 pontos.
O dia foi marcado pelo anúncio de que o pacote de corte de gastos do Ministério da Fazenda poderá divulgado ainda nesta semana.
A notícia foi dada pelo chefe da pasta, Fernando Haddad, em entrevista coletiva a jornalistas em Brasília. Segundo ele, as medidas de contenção de gastos públicos a serem anunciadas pelo governo estão “muito avançadas” do ponto de vista técnico, o que pode permitir o detalhamento dos planos nos próximos dias.
Antes das falas, o mercado já repercutia a permanência do ministro do Brasil. Ele teve a viagem à Europa cancelada a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no domingo.
“Minha ida [à Europa] estava dependendo dessa definição, se esta semana ou semana que vem seriam feitos os anúncios. Como o presidente Lula pediu para eu ficar e como as coisas estão muito adiantadas do ponto de vista técnico, acredito que estejamos prontos esta semana para anunciar [o pacote]”, afirmou.
Ele ainda disse que há “várias definições” sobre as medidas de gastos e que o presidente passou o fim de semana trabalhando o assunto em contato com técnicos, mas não apresentou detalhes do pacote.
O ministro passaria a semana em eventos em Paris, Londres, Berlim e Bruxelas, e, segundo um interlocutor ouvido pela Folha, a ausência do chefe da ala econômica tornaria “praticamente impossível” que o plano fosse definido nos próximos dias —a contragosto do mercado, que espera celeridade na resolução das incertezas fiscais.
Em reação à viagem e a pressões externas, o dólar disparou 1,52% na sexta-feira (1º), cotado a R$ 5,869, o maior patamar para a moeda norte-americana desde o início da pandemia, quando, em 15 de maio de 2020, esteve cotada a R$ 5,841.
“A permanência de Haddad é uma sinalização muito importante para os investidores. É claro que não soluciona o problema, ainda é preciso ver como o pacote será apresentado ao Congresso e negociado nas alas políticas, mas já é um bom sinal”, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.
“[O detalhamento] vai ser importante para trabalhar melhor as expectativas da trajetória de endividamento no contexto do arcabouço fiscal, para ele ser executivo.”
Para os investidores, o governo precisa ajustar a ponta das despesas, e não só reforçar a arrecadação, para garantir a longevidade do arcabouço fiscal.
A previsão de encaminhar ao Congresso Nacional ainda em 2024 um pacote de revisão de gastos estruturais foi anunciada pela ministra Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) em 15 de outubro. Na ocasião, afirmou que as medidas seriam enviadas após as eleições municipais, que terminaram no domingo passado (27).
O mercado também reagiu a incertezas sobre as eleições presidenciais nos Estados Unidos, que ocorrem nesta terça.
Pesquisas de opinião indicam que o candidato republicano Donald Trump e a atual vice-presidente democrata Kamala Harris estão em empate técnico. No mercado de apostas, porém, as chances de um retorno do ex-presidente à Casa Branca são maioria, levando o mercado a precificar o impacto das propostas de Trump na economia.
O republicano promete aumento tarifário sobre as importações, especialmente as chinesas, e um possível corte de impostos —medidas que são vistas como inflacionárias e que podem influenciar o Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) a manter juros elevados por mais tempo, o que fortalece o dólar.
Uma pesquisa publicada no final de semana, no entanto, apontou um apoio inesperado à Kamala Harris em Iowa, estado anteriormente dominado por Trump. O levantamento, feito pela pesquisadora apartidária J Ann Selzer, é considerada o “padrão ouro” das pesquisas de opinião.
A virada democrata em Iowa desmontou parte das apostas na vitória do ex-presidente. Para efeito de comparação, a probabilidade de um retorno do republicano diminuiu de 64% para 54% na Kalshi, a Bolsa de futuros dos EUA, e de 67% para 58% na Polymarket, a Bolsa de criptomoedas offshore.
Folha Mercado
Receba no seu email o que de mais importante acontece na economia; aberta para não assinantes.
Na visão do economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo, o desfecho da eleição será fundamental para definir o cenário da economia mundial nos próximos anos.
“As pesquisas de opinião sinalizam uma disputa acirrada entre a vice-presidente Kamala Harris e o ex-presidente Donald Trump, apontando empate técnico em vários dos estados considerados pêndulo, o que torna extremamente difícil antecipar os resultados.”
A semana ainda guarda as decisões de juros do Fed e do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central).
Por causa das eleições presidenciais, a reunião da autoridade norte-americana foi adiada em um dia e irá ocorrer entre quarta e quinta-feira, enquanto a decisão do comitê brasileiro será anunciada na quarta-feira, como de praxe.
A expectativa dos agentes financeiros é que o Fed dê continuidade ao ciclo de afrouxamento nos juros. Na reunião de setembro, o colegiado reduziu a taxa em 0,5 ponto percentual, levando-a à banda de 4,75% e 5% —o primeiro corte em quatro anos.
Na ferramenta CME Fed Watch, a probabilidade de uma redução de 0,25 ponto marca 96%. A diminuição do ritmo vem na esteira de uma bateria de dados que indicaram que a economia dos Estados Unidos segue forte, com inflação convergindo à meta de 2% e mercado de trabalho resiliente.
O movimento é o oposto do BC brasileiro. Aqui, o Copom decidiu reiniciar o ciclo de apertos na taxa Selic na reunião passada, quando optou por uma alta de 0,25 ponto percentual e levou os juros a 10,75% ao ano.
Com a piora no cenário econômico nos últimos 45 dias, o mercado espera que o comitê acelere o ritmo de altas para 0,5 ponto percentual.
Com Reuters e Financial Times