No ano em que celebra sua décima edição, a Mostra Internacional de Teatro de São Paulo, a MITsp, chega ao público pela metade. As programações internacional e nacional foram reduzidas em 50% devido às dificuldades de apoio financeiro e às recentes altas do dólar e do euro.
“Estávamos com a expectativa de que pudesse ser uma edição mais robusta, comemorativa. Mas tivemos uma conjuntura que não foi favorável”, afirma Antonio Araújo, diretor artístico da mostra.
A mostra captou R$ 3,1 milhões e precisava de mais R$ 2,5 milhões para atender toda a programação planejada.
Segundo Guilherme Marques, diretor-geral de produção da mostra, falta uma política de continuidade nos financiamentos para o setor cultural, o que dificulta o planejamento a longo prazo e mantém os produtores em constante estado de emergência.
Marcada para ocorrer entre os dias 13 e 23 de março em vários espaços e teatros de São Paulo, a MITsp mantém seu caráter experimental e terá quatro espetáculos internacionais, uma estreia nacional e apresentações de cinco obras brasileiras não inéditas pelo programa MITbr – Plataforma Brasil, além de oficinas e debates sobre teatro.
Temas como o envelhecimento, perdas, a migração e os corpos dissidentes serão abordados em espetáculos de teatro, dança e performances.
A artista internacional em foco na décima edição é a coreógrafa e performer Nora Chipaumire, nascida no Zimbábue e vencedora de quatro prêmios Bessie e do prêmio Trisha Mckenzie Memorial.
Chipaumire vai apresentar a instalação “Dambudzo”, inspirada nos significados literais e filosóficos da palavra problema em xona, uma língua bantu. Ela também fará a abertura de processo “acontinua – um obituário, um manual para uma vida vivida perseguindo a VIDA”, ou seja, irá partilhar com o público a construção criativa de seu novo espetáculo.
Uma novidade da edição é a homenagem ao multiartista Antonio Nóbrega, nascido no Recife e fundador do Instituto Brincante, na Vila Madalena, em São Paulo. Ele vai apresentar “Mestiço Florilégio”, com canções, cenas teatrais, cinematografia e coreografias interpretadas por ele e por sua parceira, a atriz e bailarina Rosane Almeida, também fundadora do Brincante.
“Acho que é muito interessante pensar essas formas tradicionais como algo que faz parte do contemporâneo”, diz Araújo sobre o trabalho artístico desenvolvido por Nóbrega em torno da cultura popular brasileira. “Isso dialoga, provoca, alimenta, tensiona, abre outras possibilidades para a cena contemporânea”.
A abertura da MITsp, no dia 13, terá a apresentação do espetáculo “Vagabundus”, de Idio Chichava, com inspiração no ritual de dança do povo makonde, de Moçambique e países vizinhos. Treze performers dançam e cantam músicas tradicionais e contemporâneas para abordar os processos migratórios e seus significados.
A ancestralidade volta a aparecer em “A Vida Secreta dos Velhos”, do diretor francês Mohamed El Khatib. Ele retorna à mostra com um grupo de oito idosos que não são atores, moram em casas de repouso e abordam temas como o desejo sexual na velhice.
Também no panorama internacional, “Gaivota”, do diretor argentino Guilhermo Cacace, é uma adaptação do dramaturgo Juan Ignacio Fernández para a obra do russo Anton Tchékhov. Cinco atrizes, sentadas ao redor de uma mesa, falam sobre histórias de amores não correspondidos, sonhos e dores.
Já com a MITbr – Plataforma Brasil, criada em 2018 para estimular a internacionalização das artes cênicas brasileiras, curadores independentes assistem a espetáculos da mostra e a outros em cartaz na cidade e selecionam projetos para festivais internacionais.
“Vários artistas que se apresentaram na MITsp hoje rodam por festivais internacionais. A mostra cumpre um papel muito importante que é o de internacionalizar essa cena brasileira que é muito potente”, diz Araújo.
Este ano serão apresentados trabalhos como “Repertório nº 3”, de Davi Pontes e Wallace Ferreira, do Rio de Janeiro; “Baculejo”, do Coletivo Riddims – Encante Território Criativo, do Ceará; “Quadra 16”, de Cris Moreira, de Minas Gerais; “Parto Pavilhão”, de Aysha Nascimento, Jhonny Salaberg e Naruna Costa; e “Graça”, do grupo Girandança, do Rio Grande do Norte.
A estreia nacional será do espetáculo “Réquiem SP”, do coreógrafo Alejandro Ahmed, com o Balé da Cidade de São Paulo, companhia que dirige, em parceria com a Orquestra Sinfônica Municipal e o Coral Paulistano, sob regência de Maíra Ferreira, com composições do húngaro György Ligeti e do músico eletrônico canadense Venetian Snares (Aeron Funk).
Desde a primeira edição, em 2014, a MITsp já apresentou 179 espetáculos de 46 países a um público de 200 mil pessoas. As ações pedagógicas e os olhares críticos já tiveram 425 ações e 279 convidados em oficinas, seminários e debates que ocuparam 51 espaços.
“Acho que não dá para continuar a qualquer custo, a qualquer preço”, diz Araújo sobre as dificuldades enfrentadas pela mostra. “São Paulo tem vocação para ter um grande festival de artes cênicas, que seja referência na América do Sul. Mas fazer festival internacional é algo que custa. Meu receio é esvaziar, é a mostra perder força. Se isso acontecer, é melhor que a MITsp acabe. Mas não é que queremos”.
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