Idas e vindas e politização marcaram os mais de seis anos de investigações que culminaram, na quinta (31), na condenação dos assassinos da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, mortos em 2018 no Rio de Janeiro.
Os ex-policiais Ronnie Lessa e Élcio Queiroz foram condenados, respectivamente, a penas de 78 anos e de 59 anos de prisão.
Por cinco anos, até a entrada da Polícia Federal, a Polícia do Rio de Janeiro não conseguiu avançar na apuração, o que aponta para a trama complexa e nefasta de relações entre criminalidade e forças de segurança locais, não só na capital fluminense, mas no país.
“A Justiça por vezes é lenta, é cega, é burra, é injusta, é errada, é torta. Mas ela chega”, disse a magistrada Lúcia Glioche, que presidiu o julgamento no 4º Tribunal do Júri do estado.
Por óbvio, no plano ideal de qualquer nação civilizada, tal barbaridade nem sequer haveria ocorrido. Mas, ocorrendo, a identificação de assassinos e mandantes teria sido mais célere.
A condenação só dos executores, porém, é o desfecho possível, mesmo que tardio e incompleto. Falta avançar, com agilidade e no rigor da lei, no esclarecimento de quem deu a ordem para o crime.
A Procuradoria-Geral denunciou os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão —deputado federal do União Brasil na época dos homicídios e atualmente sem partido— por serem os mandantes dos assassinatos.Em razão do foro especial do segundo, o processo se encontra agora no Supremo Tribunal Federal.
Ademais, o delegado Rivaldo Barbosa, ex-diretor da Divisão de Homicídios da Polícia Civil do Rio e chefe da corporação entre 2018 e 2019, e dois policiais militares são réus sob suspeita de auxiliar no planejamento do ataque.
Além do desfecho, o que está em jogo no Supremo é o papel da Polícia Civil do Rio em supostamente acobertar crimes de bicheiros, milicianos e demais organizações criminosas, como indica relatório da Polícia Federal.
Assim, o caso Marielle Franco e Anderson Gomes revela não só um contexto de violência política como expõe a infiltração de facções dentro das instituições que deveriam combatê-las —um dos maiores problemas do setor de segurança pública no país.
Esse ato brutal mostra como a procrastinação da Justiça é um dos aspectos da percepção de impunidade a incentivar delitos, e que, sem um corte nas relações espúrias entre as polícias e o crime organizado, não há como conter a violência que se abate principalmente sobre os estratos mais pobres das cidades brasileiras.
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