Você está num espaço vazio, sem saída aparente, e descobre que está compartilhando essa experiência com um monstro, como o Minotauro, mas pós-apocalíptico. Poderia ser um pesadelo para a maioria. Mas no TikTok há quem ache esse cenário convidativo e até relaxante.
Os backrooms, como são conhecidos vídeos de terror psicológico que circulam nas rede, são uma espécie de jogo em primeira pessoa no qual o protagonista desvenda labirintos com diferentes graus de dificuldade e chances de sobrevivência.
“Boas histórias de terror estão em falta hoje em dia”, diz João Marcos Martinez, criador do site e perfil no TikTok @MedoB. Para ele, este é o motivo pelo qual há tanto interesse nessas narrativas e cita que é também uma atmosfera semelhante aos jogos do gênero survival horror, como “Five Nights at Freddy’s” e “Amnésia: The Dark Descent”.
Os vídeos podem mostrar espaços com piscinas, escritórios acarpetados, parques de diversão abandonados. São sempre lugares tanto infinitos quanto vazios. A isso, soma-se a possibilidade de existirem perigos. Sozinho, o usuário não conta com nenhum mecanismo de defesa.
“O objetivo seria sair, mas a ideia principal é explorar. Pessoas são curiosas para saber se encontram algo, como desenhos nas paredes com mensagens macabras”, diz Martinez.
Assim como outras creepypastas, as lendas horripilantes criadas na internet, backrooms surgiram de uma imagem postada no 4chan, em abril de 2018. Nela, há apenas um corredor iluminado por luz fluorescente e paredes e carpete amarelos, o suficiente para atiçar a imaginação.
A partir de 2020, vídeos de backrooms tomaram conta do TikTok, com cenários mais complexos. Afastando-se dos fóruns e de textos que acompanham imagens, hoje internautas recorrem à inteligência artificial para criar essas histórias.
O gênero ganha relevância a partir de 2022, quando o artista de efeitos visuais Kane Pixels dirigiu um curta que imita uma gravação em VHS, supostamente feita em 1996, de uma backroom. No vídeo, quem filma estava com os amigos, quando tropeça e, na queda, é transportada para uma sala vazia.
Para Nátali Corbeau, criadora de conteúdo sobre filmes de terror independentes, o sucesso desse gênero fica por conta da dúvida sobre a falha no espaço-tempo e o sentimento de pertencimento ao contribuir para uma linha narrativa.
“Aflora muito a criatividade das pessoas e elas se sentem à vontade para colocar para fora as ideias que têm”, diz Corbeau.
Para além da curiosidade, esses vídeos podem funcionar como uma maneira virtual de lidar com traumas e questões existenciais. É o que defende Leonardo Breno Martins, professor do Instituto de Psicologia da USP.
“É um pouco parecido com a sensação de visitar cemitérios, que atrai muitas pessoas por colocar você em contato com emoções básicas, como a sensação de finitude”, afirma.
A vantagem dos vídeos, diz Martins, é que há possibilidade de interromper o consumo quando proporcionar algo desagradável. “Qualquer que seja essa emoção meio ruim, seja solidão, medo ou adrenalina, você está vivendo de forma segura da sua casa, podendo controlar e ficar ali até quando você quiser.”
Para Rodrigo Barreto Huguet, psiquiatra da Rede Mater Dei, os backrooms se assemelham a montanhas-russas ou filmes de horror. Há o lazer que proporcionam, mas também oferecem uma experiência psíquica mais profunda.
“Nos permitem percorrer partes do nosso repertório emocional que geralmente procuramos evitar, e isso pode ser útil ao aprendizado de que devemos ter medo de situações perigosas, mas não de emoções ou pensamentos”, afirma.
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