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Bannon e a estratégia de Trump contra a mídia – 08/02/2025 – Alexandra Moraes – Ombudsman

Bannon e a estratégia de Trump contra a mídia - 08/02/2025 - Alexandra Moraes - Ombudsman

“O partido de oposição é a mídia. E a mídia, porque é burra e preguiçosa, só pode focar em uma coisa por vez. Tudo que precisamos fazer é inundar o terreno. Todo dia nós jogamos três coisas. Eles vão morder uma, e conseguiremos fazer as nossas coisas. Bang, bang, bang. Esses caras nunca, nunca conseguirão se recuperar. Mas precisamos começar com velocidade de saída.”

O trecho é de uma fala antiga de Steve Bannon, ideólogo do trumpismo (e de seu primo pobre bolsonarismo). Ezra Klein, colunista do New York Times, recuperou as frases de Bannon para usar como mapa do que está acontecendo sob Trump 2. “Se você quer entender as primeiras semanas do segundo mandato de Trump, deveria ouvir o que Steve Bannon disse em 2019”, afirma Klein.

É um bom começo —ou algum começo. Desde a posse de Donald Trump e a sucessão vertiginosa de decretos e propostas, o presidente americano tem colocado em prática mais do que suas promessas de campanha. A ideia do poder total à “revolução do senso comum” tem na mídia seu grande inimigo.

Bannon usa uma metáfora bélica (“velocidade de saída” se refere ao projétil quando deixa o cano de uma arma) bem ao gosto de sua clientela e dos seguidores dela. Continua a operar no trumpismo, embora o papel oficial de amigo do rei tenha sido amealhado por Elon Musk. Mais importante, continua influente no trumpismo terceiro-mundista.

“A inundação é o objetivo. A sobrecarga é o objetivo. A mensagem não estava em nenhuma ordem executiva ou anúncio específico. Estava no efeito cumulativo”, conclui Ezra Klein sobre a atuação de Trump e seu time.

O New York Times abriu uma seção em que conta os dias do segundo mandato trumpista e elenca, de forma telegráfica, suas ações. É uma maneira de resumir e tentar dar algum foco ao que importa entre tudo o que está sendo anunciado em cascata.

Para o Brasil, em especial, documentar com clareza esses passos serve mais do que como um mapa: é quase uma bola de cristal. É pouco provável que a história, em alguma medida, não se repita aqui, seja como a farsa enunciada por Marx ou como a versão tropical da “vibe shift” celebrada pela direita na internet.

O movimento de macaqueação aconteceu na última semana com a história do corte de verbas para a Usaid, uma das bombas lançadas por Trump no período que teve até a proposta de transformar Gaza num resort americano.

Enquanto Trump e Musk acusavam o site Politico de ter recebido verba federal pelo programa, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL) repetia a cantilena e só mudava os alvos para sites brasileiros.

A Folha noticiou a acusação sem provas do filho zero-três de Bolsonaro, próximo de Bannon. O jornal demorou um pouco a mostrar, porém, como a iniciativa repetia a ação nos EUA, mas terminou por fazê-lo. O New York Times classificou a acusação ao Politico como teoria da conspiração.

Especialistas pedem mais contextualização e menos jornalismo declaratório na guerra da informação e da atenção. É, sem dúvida, o ideal. Mas a receita do trumpismo funciona, entre outras razões, porque não é possível abrir mão por completo de registrar o que dizem os homens do poder, sobretudo quando incorrem no absurdo. (O Huffington Post tentou fazer graça e cobrir Trump, ainda antes de sua primeira eleição, na seção de entretenimento. Na última semana, era o patinho feio na lista da mídia trumpista a ganhar assento na área de imprensa do Pentágono, enquanto New York Times, NBC, NPR e Politico eram expulsos dali.)

Isso que se convencionou chamar de mídia tradicional costuma acessar com maior dificuldade os representantes da direita ideológica. Ficam distantes também de seus representados, e a aversão é recíproca.

Enquanto os jornais corretamente abriam um amplo espaço para mostrar como o mundo se indignava com as declarações de Trump sobre Gaza (incluindo reações de organizações terroristas), os cantinhos e rodapés eram ocupados por gente como David Friedman, ex-embaixador americano em Israel. Ele chamou a ideia do presidente de “brilhante, criativa e, francamente, a única solução que ouvi em 50 anos que tem a chance de realmente mudar a dinâmica” na região.

A criatura ideológica Trump-Musk se alimenta de popularidade e iconoclastia. Ideias relegadas a pés de página na mídia tradicional ajudam a explicar o “senso comum” que agora se proclama vencedor.

É preciso olhar melhor para os pontos que essa retórica massageia e para os alicerces que a sustentam. O absurdo é tal que a cobertura baseada apenas na indignação também acaba servindo ao próprio absurdo —e dando alguma razão a Steve Bannon.


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