Marcelo Toledo
Sede da extinta Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, uma das mais icônicas ferrovias brasileiras, Bauru poderá dar uma nova destinação à sua imponente estação ferroviária, que não recebe passageiros há mais de 20 anos e está numa região degradada da cidade.
A proposta é a de usar o espaço como sede da prefeitura e foi apresentada pela prefeita, reeleita no primeiro turno, Suéllen Rosim (PSD), sendo mais um capítulo de uma história que se arrasta nas últimas décadas na cidade.
Com localização privilegiada no mapa paulista, Bauru atraiu os olhares no passado de companhias ferroviárias, que contribuíram para que a cidade se desenvolvesse, inclusive abrigando a estação inicial da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, que a ligava a Corumbá (MS) e depois passou a ser conhecida como o Trem da Morte.
No atual mandato, iniciado em 2021, vários possíveis usos do espaço foram discutidos. Em abril daquele ano, Suéllen anunciou a criação de um núcleo de estudos e concessões, que entre várias propostas tinha uma que previa a “concessão ou parceria para a antiga estação ferroviária da Noroeste”.
No início do ano seguinte, a proposta tinha amadurecido, segundo a prefeita disse em entrevistas a veículos locais, já que o custo para transformar a estação num prédio administrativo seria superior a R$ 30 milhões (R$ 34,3 milhões, atualizados pelo IPCA). A ideia, então, seria utilizar o espaço para abrigar outras atividades, como um centro de compras ou instituição de ensino, entre outras.
A prefeita e secretários foram a Campinas naquele ano para conhecer um projeto de revitalização do pátio ferroviário da cidade –atendida pela Companhia Mogiana– e, neste ano, as ferrovias estiveram na pauta em ao menos dois momentos.
O primeiro em janeiro, quando um grupo de empresários chineses visitou a estação, e a administração citou a possibilidade de fazer parcerias para recuperar o imóvel e usar os trilhos na área urbana para o transporte de passageiros.
O tema voltou em setembro, na campanha eleitoral, quando a prefeita disse que faria estudos para a implantação de um VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) no município.
“Um dos nossos projetos para o próximo mandato é recuperar a estação ferroviária, ativar a nossa maria-fumaça. E aí a gente veio com a equipe aqui para fazer todos os levantamentos necessários, porque em breve, falo em breve porque a gente vai correr bastante para esse projeto sair do papel, vocês vão conhecer a nova sede da prefeitura municipal de Bauru”, disse Suéllen em suas redes sociais.
De acordo com a prefeita, o imponente prédio de três pisos abrigará as principais secretarias, com o objetivo de reduzir gastos com aluguéis, revitalizar o prédio e movimentar a região com o fluxo diário de pessoas.
No vídeo em que falou da proposta, é possível ver que o local segue sujo, como nos últimos anos, com entulhos em cômodos e, próximo à plataforma de embarque, abriga vagões abandonados, pichados e em péssimo estado.
A Noroeste, que tinha 1.272 quilômetros de extensão entre Bauru e Corumbá, na fronteira com a Bolívia, ganhou esse nome por ser a “extensão” do verdadeiro Trem da Morte, entre Puerto Quijarro, vizinha a Corumbá, e Santa Cruz de la Sierra, maior cidade boliviana.
Ela ganhou esse nome devido ao número de acidentes e por ser no passado rota para o transporte de pessoas doentes. O lado brasileiro com o tempo ganhou o mesmo nome, especialmente a partir dos anos 60, quando houve a desaceleração gradual de investimentos na ferrovia, ampliando acidentes e problemas.
O cenário de abandono em Bauru não é único na rota até Corumbá, que teve 122 estações, das quais ao menos 80 foram demolidas ou estão em processo avançado de deterioração, abandonadas ou sem uso —a maior parte delas sob responsabilidade do governo federal.
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