Não se sabem ao certo os objetivos e a estratégia do Banco Central ao fazer intervenções massivas no mercado de câmbio desde a semana passada. Sabe-se apenas que o plano é de baixa eficácia.
De quinta-feira (12) até esta terça (17), o BC despejou na praça US$ 12,8 bilhões —dos quais US$ 5,8 bilhões em vendas à vista, com impacto direto nas reservas da instituição. A despeito da dinheirama, a cotação do dólar se mantém em patamares nominais históricos e fechou perto de ainda assustadores R$ 6,10.
Pior, a atuação mal explicada adicionou incertezas em torno da política econômica, levando a um novo salto dos juros de mercado, que já incorporam projeções de uma alta da Selic, a taxa básica, dos atuais 12,25% para 15% ao ano ou mais.
Em um regime de câmbio flutuante, que o Brasil adota desde 1999, o BC não busca interferir nas cotações, que devem variar conforme os movimentos de demanda e oferta, equilibrando-os. Graças a essa política, o país deixou para trás uma longa e penosa tradição de crises provocadas por escassez de divisas.
Esse entendimento fora reafirmado no início deste dezembro pelo próprio diretor Gabriel Galípolo, prestes a assumir o comando do BC, segundo o qual a instituição “não segura no peito” o dólar —como desejam abertamente expoentes petistas.
Intervenções no mercado devem se limitar a momentos atípicos, de problemas pontuais na oferta ou de especulação aguda. É no mínimo duvidoso qualificar assim a conjuntura atual.
Existe uma razão cristalina e persistente para a escalada do dólar, que ultrapassou o patamar de R$ 5 em abril e o de R$ 6 no final de novembro —a desconfiança crescente e justificada quanto ao compromisso do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com o reequilíbrio do Orçamento e o controle da dívida pública.
Há oito meses, o Executivo afrouxou as metas para os saldos das contas do Tesouro; mais recentemente, anunciou um pacote frustrante de contenção de gastos, ora em exame no Congresso.
Haverá quem ache exagerada a reação do mercado, e de fato podem ocorrer movimentos irracionais em situações de grande tensão. Para restabelecer alguma tranquilidade, o melhor caminho é uma indicação crível de reforço à política fiscal.
O BC dispõe de cerca de US$ 360 bilhões em reservas, que garantem ao país segurança nas transações com exterior, de importações ao pagamento de dívidas. Esse montante foi adquirido, a um custo elevado, ao longo de anos em que a bonança da economia global gerava aqui fartos excedentes de dólares.
São recursos preciosos, que não podem ser desperdiçados em uma eventual tentativa de mascarar fragilidades na gestão da economia. O BC autônomo, que mostrou coragem ao promover um choque de juros para conter a inflação, precisa zelar por sua credibilidade na seara cambial.