A essa altura, o leitor que segue de perto as notícias da China deve estar ficando acostumado com as manchetes econômicas negativas nos últimos meses, mas esta semana trouxe mais algumas.
A segunda maior economia do mundo cresceu 4,6% entre julho e setembro, abaixo do ritmo do segundo trimestre, em um ritmo que dificilmente ajudará o país a bater a meta de crescimento de 5% estipulada no início de 2024.
Já discutimos algumas vezes neste espaço os motivos para tal fenômeno e as repercussões para a saúde financeira mundial. No noticiário factual observou-se também que os chineses lançaram em setembro um robusto pacote de incentivos fiscais que podem fazer efeito, mas cujos resultados não serão sentidos no curto prazo.
Quero me concentrar então em uma narrativa que tem sido comum, conforme as notícias se acumulam —a de que o dirigente Xi Jinping não sabe gerir a economia tão bem como seus antecessores.
A percepção não é exclusiva de analistas ocidentais, já que mesmo na China o líder do Partido Comunista foi alvo de comentários neste sentido. Pode haver alguma verdade nisso, mas minha percepção não é a de que Xi seja um mau gestor econômico: ele apenas não se importa com isso na mesma proporção de outros temas.
Em mais de uma ocasião, Xi já fez alusões neste sentido. Durante a pandemia, quando se recusava a reabrir o país e apostava na estratégia de Covid zero, disse que estava disposto a sacrificar crescimento econômico para preservar “a vida e a saúde física das pessoas”.
Aos jovens urbanos desempregados recomendou “engolir a amargura” e se abrir a funções mais modestas no interior. Frequentemente critica excessos da riqueza, chegando inclusive a criar regulamentos que punem a ostentação nas redes sociais. Xi disse também que lhe interessa mais a “prosperidade comum” do que “deixar que alguns fiquem ricos primeiro” —dois slogans contrastantes que marcam uma mudança estrutural no Partido Comunista.
Não, Xi Jinping não tem pressa em passar os Estados Unidos nem faz questão de que a China seja uma superpotência econômica. A ele interessa fazer da China um país forte —e historicamente, dinheiro nem sempre foi fundamental para esse objetivo.
Se recorrermos ao passado, a Dinastia Song pode servir de exemplo. A China imperial quase sempre desfrutou de riquezas, mas poucas dinastias desfrutaram de tanto dinheiro quanto os Song que governaram entre os anos de 960 e 1279 d.C. —nesse intervalo, o reino prosperou tanto científica quanto culturalmente.
Mas os Song nunca foram fortes. Ao contrário, suas disfunções estruturais, como a dificuldade de aplicar uma cultura política coesa e de reprimir a corrupção, fizeram do governo uma presa constante das dinastias do norte, como a Liao e a Jin. Em geral, seu território era muito menor que o de antecessoras como as dinastias Han e Tang.
Seja esse ou não o exemplo histórico do líder chinês, fato é que Xi Jinping é reverenciado dentro do Partido Comunista não por fazer crescer o PIB, mas por ter poupado a legenda de falhas semelhantes que invariavelmente levariam à sua extinção no longo prazo. Por esse feito, seguirá sendo respeitado: mesmo que com isso sacrifique ganhos de uma classe média que se acostumou a enriquecer.
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