Elon Musk chupa uma colherzinha com “maionese de podrão”, daquelas verdes, frequentemente servidas em bisnagas de lanchonetes brasileiras. É a cena descrita em vídeo viral de Julio Carneiro, chef que diz ter servido a iguaria ao bilionário como acompanhamento de uma coxinha em um coquetel no Vale do Silício, nos EUA.
O episódio é um capítulo da trajetória do rapaz que saiu de Mairiporã, na Grande São Paulo, para cozinhar para executivos de grandes empresas e políticos em uma das regiões mais ricas do mundo.
Aos 29 anos, Carneiro acumula histórias inusitadas dos bastidores das mansões onde costuma trabalhar. Ele conta que, certa vez, uma família para a qual cozinhou enviou um avião particular para buscar uma caixa de cereal específica em outra cidade.
Em outra ocasião, precisou elaborar um prato de última hora para preencher a mesa em uma reunião de fechamento de um grande negócio da internet. Um “bolinho vagabundo de posto de gasolina”, que deveria ser mero figurante na composição dos pratos, foi um dos que mais fez sucesso, segundo conta. Seus clientes também não dispensam arroz com feijão.
“Não faço comida brasileira, mas abrasileiro todas as receitas. Já servi pastel em festa de governador americano e caldinho de moqueca em coquetéis. Acham exótico e bizarro”, diz.
Carneiro é formado em gastronomia no Mackenzie. Meses após sair da faculdade, e pouco antes do início da pandemia, foi tentar a vida nos Estados Unidos. Ele começou a oferecer serviços de compras e refeições por um aplicativo de bairro. Os pedidos foram crescendo, até que foi chamado por uma empresa de eventos para cozinhar em um jantar, sem revelar o destino.
Precisando de dinheiro, ele aceitou. Era uma mansão no Vale do Silício.
Preparou o jantar sem saber para quem, e agradou. Foi chamado para cozinhar mais vezes no mesmo lugar. Só depois descobriu que a residência pertencia a um bilionário do setor de tecnologia.
“Você nunca sabe quem é o cliente. As casas têm gerentes, chamados de ‘house managers’. Assinamos vários contratos de confidencialidade”, conta. Ele mantém um perfil no Instagram onde exibe cozinhas luxuosas e refeições na casa das centenas de dólares —mas nada do rosto de seus chefes, que preferem a discrição.
Filho de família de baixa renda, Carneiro entrou para o mundo da culinária por meio de um projeto social do Hotel Unique Garden, localizado em sua cidade natal. Lá, inspirado por um chef da cozinha, decidiu cursar gastronomia, conseguindo mais tarde ser aprovado na graduação do Mackenzie.
Ex-professores ouvidos pela coluna o descrevem como um aluno que, mesmo começando com repertório limitado, demonstrou desenvolvimento acima da média durante o curso.
Dormia algumas noites por semana na rodoviária de São Paulo para conciliar o trabalho, em Mairiporã, com as aulas na Consolação, região central. “Eram três horas para ir e duas para voltar. Às vezes não dava tempo de voltar para casa”, diz.
No próprio Unique Garden, conseguiu um emprego na cozinha enquanto ainda estava na faculdade. Antes de ir para os EUA, passou pela cozinha do D.O.M., premiado restaurante de Alex Atala, e chefiou o The Blue Pub, ambos na capital paulista.
“Minha família encontrou um jeito de sobreviver por meio da cozinha. Só depois entendi que comida não era somente renda, tinha também como ser arte. É o meu jeito de me expressar”, diz.
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