NOSSAS REDES

MUNDO

Com festa, Flip 2024 aponta literatura como esperança – 13/10/2024 – Ilustrada

PUBLICADO

em

Com festa, Flip 2024 aponta literatura como esperança - 13/10/2024 - Ilustrada

Anna Virginia Balloussier, Bárbara Blum, Fernanda Mena, Maurício Meireles, Paola Ferreira Rosa, Walter Porto

O que espanta a miséria é a festa, disse o escritor e historiador Luiz Antonio Simas logo na abertura da Festa Literária Internacional de Paraty, num encontro que evocou o orixá Exu —”o senhor dos caminhos”, nas palavras dele.

Estava dado ali o tom do evento deste ano. Os assuntos mais duros sempre estavam lá —a mudança climática, a violência, o racismo, o ódio e a guerra. Mas, em vez de se perder no niilismo, uma nota de esperança sempre prevalecia, já que os convidados fugiram da resignação e apontaram a literatura como uma alavanca rumo à salvação.

Um exemplo foi o encontro com Édouard Louis, que cumpriu as altas expectativas que o antecediam como escritor mais incensado da edição —tanto que foi o único que a curadoria de Ana Lima Cecilio deixou sozinho numa mesa.

Cecilio, aliás, estará de volta na edição de 2025, que acontecerá numa data entre agosto e outubro, a depender da prontidão com que patrocínios forem fechados.

O escritor francês lembrou sua infância violenta delineando um mapa de fuga para vítimas da dominação. “Os que são menos livres são os que conseguem se libertar”, disse ele. “Fugimos porque não temos escolha. A ausência de liberdade se torna a possibilidade de emancipação.”

Diante de uma plateia com a respiração presa, Louis pregou uma transformação não só de si, mas do mundo. E defendeu uma literatura de confronto que contribua para esse projeto.

Mas o caso dele e de Simas foram só dois dos exemplos.

O encontro com Felipe Neto agradou a um público vasto, mobilizando uma multidão de crianças ansiosas por uma foto com o influenciador e sem dúvida será um dos momentos mais lembrados da edição. Com retórica bem-humorada e frases de efeito, Neto chegou de helicóptero sob forte esquema de segurança para pregar contra o capitalismo —mas também viu redenção na leitura.

“É através dela que conseguimos desenvolver novos mundos, ver o mundo através de outros olhos, concatenar pensamentos”, disse.

A crítica da melancolia apareceu em uma mesa cujo título fazia referência a uma “guerra dos sexos”. A crítica literária Ligia Gonçalves Diniz, que arrancou risos da plateia em diversos momentos, ironizou a carranca dos autores que a formaram como leitora —os “hominhos” que a fizeram achar que era legal ser sério e tristonho. Descobriu anos depois que não.

Em uma das mesas de tom mais grave da programação, a Flip aproximou a guerra conflagrada na Faixa de Gaza das enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul. O escritor palestino Atef Abu Saif discorreu sobre a função da escrita em meio à chance de não chegar vivo ao fim do dia. Mas a mesa deu menos atenção à morte do que ao instinto de vida e à extensão da memória através das palavras.

Mesmo falando de ameaças ambientais, a ativista indígena Txai Suruí numa mesa desfalcada de última hora pelo cacique Raoni— pediu ao público que não se entregasse à desilusão. “O que eles querem é que a gente acredite no fim do mundo e se entristeça para não conseguir lutar.”

A impressão é que a curadoria esteve atenta a críticas que a festa literária recebeu muitas vezes ao longo dos anos. Por exemplo, de que a Flip se mostra desatenta ao noticiário mais palpitante —desta vez, a festa incluiu até uma mesa extra para falar da recente onda de queimadas. Ou de que o evento deixou de ligar para nomes mais célebres e atrativos em prol de uma intelectualidade mais desafiadora ao público que não era iniciado.

Isso porque esta edição foi generosa com autores e abordagens populares, surfando em um público cativo, investindo em literatura acessível —e muito acessada— sem deixar de levar esses autores absolutamente a sério —o maior exemplo foi Carla Madeira, autora de “Tudo É Rio” e principal best-seller do Brasil.

Na entrevista coletiva de encerramento, Cecílio não pestanejou em dizer que acharia fantástico ter Paulo Coelho em sua próxima aventura curatorial.

A sensação, comentava-se nas ruas, era de uma “Flip de antigamente”, porque várias cenas pareciam de outros tempos. Édouard Louis, que ficou três dias em Paraty, virou figurinha carimbada nas ruas e em festas da cidade. Foi vorazmente tietado e respondeu com simpatia, tirando selfies e conversando com todos que se aproximavam —e ensaiou dancinhas.

Claro, nem tudo é festa em um evento desse porte. A mesa da outra estrela internacional da festa, o premiado senegalês Mohamed Mbougar Sarr, ficou aquém das expectativas —e o escritor não teve chance de desenvolver pontos cruciais de sua obra como Louis teve.

A escolha da curadoria foi colocá-lo numa mesa com Jeferson Tenório. Tenório é um dos melhores escritores brasileiros em atividade e falou com desenvoltura, mas está próximo ao público brasileiro e em breve embarca em nova turnê de lançamento —o tempo para ouvir Sarr, em bola dividida com ele, já era precioso e acabou reduzido.

O senegalês é autor de um romance de grande originalidade, “A Memória Mais Recôndita dos Homens”, no qual faz uma declaração de amor à literatura, mas também tece contundentes críticas à cena literária, nas quais ninguém é poupado.

A conversa com ele passou ao largo, por exemplo, de seus ataques ao mercado editorial e se perdeu em leituras desnecessárias e digressões longas. Na programação paralela —numa mesa mediada pelo humorista Gregorio Duvivier, por exemplo—, ele mostrou que teria dado certo sozinho.

Mas o saldo é positivo, depois de edições que sofreram as consequências da pandemia. A Flip dá sinais de que quer continuar a trazer reflexões, emoção e, sobretudo, resgatar um traço fundamental —a festa.



Leia Mais: Folha

Advertisement
Comentários

Warning: Undefined variable $user_ID in /home/u824415267/domains/acre.com.br/public_html/wp-content/themes/zox-news/comments.php on line 48

You must be logged in to post a comment Login

Comente aqui

MUNDO

Baile da Vogue: Bloguerinha se fantasia de Fernanda Torres – 23/02/2025 – Carnaval

PUBLICADO

em

Baile da Vogue: Bloguerinha se fantasia de Fernanda Torres - 23/02/2025 - Carnaval

Ana Cora Lima

Rio de Janeiro

A influenciadora Blogueirinha chamou a atenção em um dos bailes mais tradicionais do Carnaval do Rio pela fantasia criativa. O figurino não tinha brilho, renda nem pedrarias. Ela escolheu homenagear Fernanda Torres. “Estou fissurada nela. Tenho acompanhado tudo nessa corrida de divulgação de “Ainda Estou Aqui” e, claro, torcendo para ela ganhar a estatueta [do Oscar]”.

Blogueirinha disse que escolheu o figurino assim que foi convidada para o baile de uma revista, que aconteceu no Copacabana Palace na noite deste sabado (22). “Comprei uma réplica de uma estatueta e escolhi um Chanel do meu armário. Fernandinha tem usado muito essa marca. Se é Channel mesmo? Nos olhos de quem vê… é sim!”, brincou.

Questionada se iria assistir a premiação ou curtir um bloco, Blogueirinha pecou na sinceridade: “Vou pular na rua”.



Leia Mais: Folha

Continue lendo

MUNDO

Adoramos: FOTES FILES PARA A SEMANA PRINCIPAIS – Nas fotos | Moda

PUBLICADO

em

Adoramos: FOTES FILES PARA A SEMANA PRINCIPAIS - Nas fotos | Moda

Jo Jones and Helen Seamons

Hades trabalhou com a caridade do Reino Unido, Mulheres na prisãoAssim, Para administrar um workshop na HMP Styal, Cheshire e colaborar em uma série limitada de cobertores decorados com um poema escrito por um dos participantes do workshop. Os lucros dos cobertores irão para a instituição de caridade, que apóia as mulheres afetadas pelo sistema de justiça criminal. £ 240, hades-shop.co.uk



Leia Mais: The Guardian

Continue lendo

MUNDO

“Em Bruxelas, a simplificação anunciada poderia realmente levar à desregulamentação maciça”

PUBLICADO

em

"Em Bruxelas, a simplificação anunciada poderia realmente levar à desregulamentação maciça"

L“Omnibus”, que evoca o pequeno trem de viajantes simpáticos que serve todas as estações de uma longa jornada tem outro significado na lei européia. A Comissão Europeia o usa para levar muitos textos no “trem” da simplificação regulatória. O veículo não é novo: já foi usado várias vezes nos últimos anos, no direito do consumidor, direito rural ou direito financeiro, para agrupar em uma única modificações de texto relacionadas a várias diretrizes ou regulamentos. Agora é bom modificar os outros, em particular a respeito da responsabilidade social e ambiental das empresas e da regulamentação financeira. A operação, cuja iniciativa escapa em grande parte do debate democrático, não é isento de perigo. A simplificação anunciada pode realmente levar à desregulamentação maciça, o que enfraquecerá a Europa nos níveis ecológicos e financeiros.

Três pacotes omnibus são anunciados no programa de trabalho Publicado pela Comissão Europeia em 11 de fevereiro. O primeiro diz respeito à estrutura de firmeza das empresas, a segunda pretende facilitar o investimento e o terceiro visa adaptar os requisitos aplicados a empresas pequenas e médias. Eles certamente não terão a lendária lentidão do trem Omnibus, já que os dois primeiros estão programados para o primeiro trimestre de 2025 e o terceiro no trimestre seguinte. Então deve ir rápido, mas para onde? Em seis meses de trabalho, pode cair seis anos de negociações!

Entre outras iniciativas de vários horizontes (redes de empresas e investidores, ONGs, institucionais etc.), mais de 240 pesquisadores, economistas e outros, assinaram um carta aberta Publicado por Euractiv, em 5 de fevereiro, para alertar o perigo do primeiro omnibus. Isso diz respeito à estrutura de firmeza para as empresas e as reivindicações de simplificar três textos -chave: a diretiva CSRD, que obriga as empresas a fornecer informações essenciais sobre o impacto ambiental e social de suas atividades e sua exposição às mudanças climáticas; A diretiva CS3D, que define o dever da vigilância das empresas em termos de direitos humanos e proteção ambiental; E a taxonomia que fornece um sistema de primeira classificação para atividades sustentáveis ​​para orientar o financiamento e o investimento. Os signatários acreditam que o “Simplificação” está em processo de servir como pretexto para revisar para baixo o nível de ambição dos textos direcionados, enquanto as empresas européias precisam controlar sua transição.

Você tem 55,52% deste artigo para ler. O restante é reservado para assinantes.



Leia Mais: Le Monde

Continue lendo

MAIS LIDAS