Lucas Leite
Grupos de comédia como Porta dos Fundos e Os Melhores do Mundo mostram que o humor levado a sério pode ser um negócio lucrativo e gerar resultados em diferentes plataformas.
Fundado por Fábio Porchat, Gregório Duvivier, João Vicente de Castro, Antonio Tabet e Ian SBF em 2011, o Porta dos Fundos se tornou uma das grandes referências do humor na internet brasileira da última década.
A iniciativa surgiu da busca por mais liberdade criativa, após tentativas frustradas de vender conteúdos a canais de televisão.
Os cinco sócios decidiram, então, publicar os materiais no YouTube. Em pouco tempo, as esquetes ganharam popularidade e repercussão —só o vídeo “Xuxa Meneghel“, de 2016, no qual a artista simula uma visita à casa de uma fã, tem pouco mais de 24 milhões de visualizações.
Em entrevista ao programa Sem Censura, da TV Brasil, João Vicente afirmou que o projeto era um segundo trabalho do grupo e que não esperava que ele alcançasse grandes proporções.
“Tivemos um momento que unimos forças e apontamos todos os canhões para o mesmo lado, mas o Porta é um ponto fora da curva”, disse. “Em quatro meses já estávamos bem, ganhando dinheiro. Acho que tem muito a ver com o talento desses rapazes, mas também com o momento certo, a hora certa, o jeito certo e as discussões certas.”
Hoje, com 8 bilhões de visualizações e 18 milhões de inscritos, o canal do coletivo no YouTube é um dos maiores do segmento de humor no Brasil.
Em entrevista à Folha, Rafael Fortes, CEO do Porta dos Fundos há dois anos, afirma que o grupo ainda é pioneiro em empreender na produção de conteúdo na internet.
Um dos segredos do sucesso, diz, está na preocupação com a qualidade. “O Porta nunca olhou a internet como algo menor. Tentamos entregar para o YouTube exatamente o mesmo produto que entregamos para o cinema, para o streaming ou para um canal de TV.”
Em 2017, o Porta dos Fundos expandiu as operações internacionais após se tornar parte da Paramount. Hoje, há braços do coletivo no México e na Polônia, com elenco e temáticas locais.
“O sucesso no México foi um milagre, porque começamos lá do zero”, diz Gregório Duvivier, um dos fundadores. “Não usamos o canal do Brasil para impulsionar lá porque queríamos que a viralização fosse espontânea. Hoje é o maior canal de esquetes do México, e um dos maiores da América Latina.”
Fortes também ressalta a relação do grupo com as redes sociais, como YouTube, Instagram e TikTok, marcada pela proximidade construída a partir da troca de feedbacks e das interações semanais com o objetivo de fomentar a inovação.
Além da atuação na internet, o coletivo é referência em produção multiplataforma por criar programas, séries e filmes para canais de TV e streamings.
“O Porta se define como um hub de humor. Procuramos abranger todo o ecossistema. Em setembro, por exemplo, alcançamos o recorde de 34 milhões de visualizações no Instagram”, explica Fortes.
Já a companhia de humor Os Melhores do Mundo é responsável um dos primeiros vídeos virais de humor na internet. O marco aconteceu durante uma entrevista ao Programa do Jô, da TV Globo, em 2006, em que o grupo apresentou um trecho da esquete “Joseph Climber”, da peça “Notícias Populares”.
O grupo formado por Adriano Siri, Adriana Nunes, Jovane Nunes, Ricardo Pipo, Victor Leal, Marcello Linhos e Welder Rodrigues deu os primeiros passos em 1995, em Brasília, quando a capital federal passava por uma efervescência teatral.
Mas a companhia começou a se estruturar mesmo em 1997 com a abertura de um CNPJ. “Nós abrimos a empresa e isso já era uma visão, de alguma maneira, de empreendedorismo, porque vivíamos realmente do teatro”, afirma Siri.
Entre 2000 e 2001, o grupo contratou um novo produtor para expandir as atividades e fazer temporadas em diferentes locais do país. Além disso, eles alugaram um escritório, contrataram uma secretária e um assistente de produção.
O sucesso veio após a entrevista dada a Jô Soares (1938-2022). “Meses depois, estávamos no Canecão [antiga casa de espetáculos no Rio de Janeiro] com vendas esgotadas com um mês de antecedência. Deixamos de fazer teatros de 300, 400 lugares para fazer as casas de show”, relembra Adriano Siri.
Siri conta que, apesar do sucesso, a trajetória não foi isenta de desafios. A companhia já passou por períodos em que “as contas não batiam bem”, havia impostos atrasados, e o desgaste emocional e a rotina intensa de trabalho provocavam momentos de crise.
Desde 2021, a parceria com a produtora e agência NonStop, que colabora com a produção e divulgação da companhia, representa um novo capítulo para Os Melhores do Mundo.
Prestes a completar 30 anos em 2025, o grupo está em cartaz com três peças: “Tela Plana”, “Hermanoteu na Terra de Godah” e “Notícias Populares”.