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Como a Coreia do Norte está mudando a guerra da Rússia na Ucrânia – DW – 24/10/2024
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Em junho, o presidente russo Vladímir Putin viajou para Pyongyang para discutir uma parceria de segurança com o líder norte-coreano Kim Jong Un.
Antes disso, havia rumores de extensas Entregas de armas norte-coreanas à Rússia. E já em 2023, a inteligência militar ucraniana informou que um contingente militar norte-coreano limitado havia chegado ao Territórios ocupados pela Rússia na Ucrânia.
Agora, as últimas descobertas do serviço nacional de inteligência sul-coreano (NIS) indicam que os laços entre a Coreia do Norte e a Rússia atingiram novos patamares.
Zelenskyy: Rússia enviará tropas norte-coreanas
Soldados norte-coreanos na Rússia
De acordo com um relatório publicado na sexta-feira passada, Pyongyang quer fornecer até 12.000 soldados para a guerra da Rússia na Ucrânia.
Destes, 1.500 já teriam desembarcado na cidade portuária russa de Vladivostok. Entretanto, o NIS aumentou este número para cerca de 3.000 soldados.
Parece que os soldados norte-coreanos vão receber uniformes russos para ocultar a sua identidade. A equipe de verificação de fatos da DW conseguiu confirmar que as imagens fornecidas pelo NIS mostram locais nos distritos militares do leste da Rússia.
Nem a Rússia nem a Coreia do Norte confirmaram ainda oficialmente as conclusões.
“No momento, há pouca informação concreta e muita especulação vaga”, disse à DW Nico Lange, membro sênior da Conferência de Segurança de Munique.
“Mas não há dúvida de que os norte-coreanos estão na Rússia para treinar”, acrescentou. “E também não há dúvida de que já há algum tempo (…) unidades de construção das forças armadas norte-coreanas têm estado ativas nos territórios ocupados da Ucrânia”.
E, no entanto, ele também adverte para não se tirar a conclusão de que 12 mil soldados norte-coreanos estavam agora a combater nas trincheiras russas em toda a Ucrânia. “Isso não é o que temos observado até agora”, disse ele.
Restrição ocidental
Do ponto de vista ucraniano, contudo, tudo isto ainda é um desenvolvimento preocupante.
Embora o chefe de Estado da Rússia, Putin, tenha se apresentado como um anfitrião respeitável na Cúpula do BRICS esta semanaKyiv está cada vez mais preocupada com a diminuição do apoio à Ucrânia.
Presidente Volodymyr Zelenskyy O “plano de vitória” até agora não conseguiu ganhar força. Além disso, a Ucrânia teme que o candidato republicano, Donald Trump, que quer cortar armas ajuda e recentemente culpou o presidente ucraniano pela invasão da Rússia, vencerá as eleições presidenciais dos EUA no início de Novembro.
A partir de agora, resta saber de que forma os EUA irão lidar com uma escalada na guerra da Rússia na Ucrânia. Afinal de contas, Washington não é apenas o maior apoiante da Ucrânia, mas também uma potência protectora da Coréia do Sul.
Os EUA foram o primeiro membro da NATO a referir-se a “evidências” da presença de tropas norte-coreanas na Rússia. Mas, além disso, o secretário da Defesa, Lloyd Austin, manteve-se bastante calado.
Os laços entre a Coreia do Norte e a Rússia serão provavelmente uma questão para a próxima administração dos EUA – seja sob liderança republicana ou democrata.
Lange acredita que a Europa está à espera para ver qual será o resultado das eleições nos EUA.
“Neste momento, não vejo os principais estados europeus a unirem-se para desenvolver uma estratégia comum: o que queremos alcançar na Ucrânia? Como iremos lidar com a Rússia e os apoiantes da Rússia? Como podemos conseguir isto juntos? É isso que precisaríamos”, disse ele.
O fracasso da Europa
Na quarta-feira, o porta-voz da NATO, Farah Dakhallah, em Bruxelas, disse à DW que se as tropas norte-coreanas fossem de facto designadas para lutar na Ucrânia, “isso marcaria uma escalada significativa no apoio da Coreia do Norte à guerra ilegal da Rússia e mais um sinal das perdas significativas da Rússia na frente”. linhas.” Ela acrescentou que a aliança estava consultando ativamente sobre o assunto.
De acordo com Roderich Kiesewetter da União Democrata Cristã Alemã, o maior partido da oposição da Alemanha no Bundestag, foi uma “omissão fatal” que a Europa ainda não tivesse reagido à suspeita de envio de tropas pela Coreia do Norte.
Uma reação unida e decisiva de força e dissuasão é absolutamente necessária, disse ele à DW. “Muitos países europeus desejam isto há muito tempo”, acrescentou. A Alemanha também teve de alterar a sua posição, disse ele, reduzindo as restrições de alcance das armas entregues, fornecendo mais sistemas de armas à Ucrânia e emitindo um convite para aderir à aliança da NATO.
Entretanto, o Ministério Federal dos Negócios Estrangeiros de Berlim convocado Encarregado de Negócios da Coreia do Norte na quarta-feira. Na reunião, Berlim deixou claro que apoiar a guerra de agressão da Rússia representava uma ameaça à segurança alemã e à paz na Europa.
Laços temporários
No início de outubro, quando as indicações de uma cooperação mais profunda entre a Rússia e a Coreia do Norte começaram a intensificar-se, a DW conversou com Andrei Lankov, professor da Universidade Kookmin, em Seul.
“A Rússia pode beneficiar disto para evitar a mobilização”, disse ele à DW, acrescentando que “se olharmos para isto do ponto de vista russo, (o presidente russo Vladimir) Putin está a travar uma guerra que é geralmente popular na Rússia, mas apenas em a única condição é que a maioria da população seja mantida fora dos combates e não seja ‘perturbada’ da sua vida quotidiana pela guerra.”
Na sua opinião, cada vez menos homens na Rússia estão dispostos a colocar as suas vidas em risco, mesmo por benefícios financeiros como os oferecidos em contratos militares.
A Coreia do Norte, por outro lado, quer dinheiro e tecnologia por enviar seus soldados.
“Neste momento, um soldado militar russo recebe 2.000 dólares (1.850 euros) por mês, mais um bónus de adesão que pode chegar aos 20.000 dólares (18.500 euros). Se a Coreia do Norte receber metade desse valor por cada soldado que fornece, então Pyongyang ficará muito feliz”, disse Lankov.
Além disso, a Coreia do Norte está de olho na tecnologia moderna da Rússia.
“Em circunstâncias diferentes, a Rússia nunca estaria disposta a partilhar tecnologia com um país tão instável, mas agora não tem outra escolha”, acrescentou Lankov.
No entanto, na sua opinião, esta cooperação não pretende durar. Em vez disso, após o fim da guerra na Ucrânia, Lankov esperava que as relações regressassem ao nível anterior, à medida que a Coreia do Norte deixasse de ter interesse económico para Moscovo.
Rayna Breuer contribuiu para este artigo, que foi traduzido do alemão.
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Na COP29, Arábia Saudita, Irão, Rússia, Egipto e Vaticano opõem-se a medidas sobre igualdade de género
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22 de novembro de 2024É uma foto reveladora: 12 de novembro, um dia após a abertura do 29e Conferência dos Partidos pelo Clima (COP29), chefes de estado e de governo posam para a tradicional foto de família. Suas fileiras incluem apenas 8 mulheres entre 78 líderes. Em 2023, na COP28 em Dubai, estes últimos representavam apenas 19% dos chefes de delegação e 34% das delegações nacionais – o mesmo valor de há dez anos. Uma sub-representação quando as mulheres são as principais vítimas das alterações climáticas, mas também detentoras de soluções eficazes para combater o aquecimento global.
Para melhor integrar as mulheres nas políticas climáticas, os Estados devem conseguir, na COP29, a adoção de um novo programa de trabalho sobre a igualdade de género. Mas nos últimos dias, as negociações foram interrompidas pela ofensiva de uma coligação de países líderes “um certo número de desistências, desejos de recuar, flashbacks”de acordo com Agnès Pannier-Runacher, Ministra Francesa da Transição Ecológica, quarta-feira, 20 de novembro.
A Arábia Saudita, o Irão, a Rússia, o Egipto e o Vaticano opuseram-se a várias referências a esta questão. No último rascunho do texto de negociaçãoque poderia ser adotado como está pelos países, conseguiram obter a exclusão da menção de “mulheres em toda a sua diversidade”assim como “interseccionalidade”isto é, o reconhecimento do facto de que o género interage com outros elementos da identidade, como a origem, para agravar a discriminação. As referências aos direitos humanos, à luta contra a violência contra as mulheres e aos activistas dos direitos humanos também desapareceram.
“Estes países querem ver uma distinção simples entre homens e mulheres, rapazes e raparigas”lamenta Mwanahamisi Singano, da ONG Women’s Environment and Development Organization. A razão, segundo diversas fontes, é o medo de que essas expressões incluam mulheres transexuais.
“Uma base mínima aceitável”
De um modo mais geral, certos países conservadores queriam “que muitos parágrafos incluindo o termo “gênero” sejam colocados entre colchetes, ou seja, renegociadosespecifica Anne Barre, da rede de ONGs Women Engage for a Common Future. Opõem-se a este conceito muito amplo, tanto porque inclui pessoas não binárias, mas sobretudo porque estes países se recusam a integrar a igualdade entre mulheres e homens nas suas políticas climáticas, o que os obrigaria a mudar as estruturas patriarcais. »
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Ainda estamos aqui, em 1964 – 22/11/2024 – Morte Sem Tabu
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22 de novembro de 2024 Cynthia Araújo
Perto demais
Quando eu e uma colega fomos à casa da professora Elza Maria Miranda Afonso para convidá-la para ser paraninfa da nossa turma de direito na UFMG, ouvimos histórias de seus anos de faculdade. Ela foi aluna de Edgar de Godói da Mata-Machado, cujo filho, José Carlos Novaes da Mata Machado, foi torturado e morto por agentes do Estado durante a ditadura.
Quando Elza perdeu seus pais, Edgar perguntou a ela como estava lidando com seu luto: “sabe, Professor, eu tento viver e agir como se eles estivessem presentes”. “Eu também tento me conduzir pensando na aprovação do José Carlos”, ele respondeu.
José Carlos foi contemporâneo de Elza na faculdade de direito, mas nunca se formou. Enquanto a turma recebia os diplomas, ele estava preso. Seu pai foi um dos Paraninfos daquele ano de 1968, mesmo ano em que teve o mandato de deputado federal cassado com base no AI-5. Oito meses depois, Zé Carlos foi liberado. Novamente preso, em outubro de 1973, foi torturado até a morte.
Daquele dia na casa da Elzinha, não me lembro de nenhuma dessas informações, apenas do sentimento que nos unia: o horror à ditadura. Era julho de 2007 e, naquele momento, não imaginávamos que, nove anos depois, um futuro presidente exaltaria torturador em uma sessão da Câmara dos Deputados. Ou será que imaginávamos?
Cinco anos depois, Elzinha estava na minha banca de mestrado. Fiquei emocionada com a emoção dela. Eu falava sobre nazismo. E sobre como o autoritarismo está sempre perto demais.
Onde eu estava?
O livro “Ainda estou aqui”, de Marcelo Rubens Paiva, é um registro histórico. Pouca gente vai ler o relatório da Comissão Nacional da Verdade, que demonstrou, com base no acervo pessoal do coronel Júlio Miguel Molinas Dias – assassinado em 2012 em circunstâncias suspeitas – e nos testemunhos da ex-presa política Cecília de Barros Correia Viveiros de Castro e do ex-tenente médico do Exército Amílcar Lobo, que Rubens Paiva foi preso pela Aeronáutica e morto sob tortura no DOI-Codi (Departamento de Operações de Informação do Centro de Operações de Defesa Interna), centro que concentrava a repressão aos adversários do regime. Muitos lerão trechos importantes desse relatório em “Ainda estou aqui”.
No livro de Marcelo, existem nomes. Os nomes daqueles que, cinco décadas depois, seguem impunes.
O filme homônimo, que assisti na última semana com a minha mãe, parte da falta desses nomes e de suas responsabilizações. É um grito de desespero por memória, uma memória que podemos perder em breve caso não nos mobilizemos, junto dos museus, memoriais e monumentos que nunca criamos.
Minha mãe, em dificuldade de mastigar suas pipocas, pergunta, mais para si mesma do que para mim, onde estava que não viu aqueles tanques nas ruas do Rio de Janeiro. “Eu ia sempre lá no Centro, na rua da Alfândega”. Será que não viu, mãe? Ou não se lembra mais?
O que a gente não preserva a gente esquece. E quando a gente esquece, aumentam as chances de repetirmos, por pior que seja o que tenha acontecido.
Em 2019, apresentei um projeto de pesquisa de pós-doutorado na Alemanha perante a Capes. Pretendia “testar a hipótese de que a experiência alemã pode ajudar a estipular atitudes mínimas necessárias para preservação da democracia – tais como leis que punam a negação do passado e forcem o Estado a educar sobre crimes cometidos por ele mesmo e a preservar esse conhecimento por meio de espaços permanentes de memória (monumentos, museus, exibições) – e se isso é aplicável ao Brasil”.
Não consegui a bolsa que pleiteava, o que não chegou a ser uma surpresa. O texto do meu projeto começava da seguinte forma: “Nunca houve um fechamento sobre como o Brasil deve lidar com a tortura e as execuções praticadas durante sua ditadura militar. Mais do que isso, sentimentos de nostalgia por esse período e mesmo sua negação como um regime antidemocrático tornam-se mais e mais frequentes. O tema ganhou maior evidência em 2016, durante o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Roussef, quando, em um discurso de menos de 10 segundos, o atual presidente, Jair Bolsonaro, louvou um torturador responsável por torturas e assassinatos durante a ditadura”.
Quem assumiu a responsabilidade pelos crimes praticados durante a ditadura foi o Estado Brasileiro. Todos nós, até hoje, pagamos por isso. Não que devêssemos ser poupados. Faz parte do processo de redemocratização entender como as coisas chegaram aonde chegaram e como a coletividade deixou que chegassem até lá.
É um exercício que todos deveríamos fazer, especialmente aqueles que já haviam nascido na década de 1960. Como minha mãe se perguntou, todos deveriam se perguntar. Onde eu estava? O que eu via? O que meus pais faziam?
Mas existe, deveria existir, uma diferenciação sólida entre o que respondemos por ser parte de uma sociedade, e o que são nossas decisões e atos individuais. O que fizemos por imposição de um regime que nos ameaçava e o que se fez por vontade. E isso a gente não tem. No lugar de culpados, temos “a ditadura” como um grande monstro abstrato.
Ditadura não mata ninguém
Rubens Paiva não morreu pelas mãos de um grande monstro abstrato, mas porque pessoas o mataram. Pessoas o torturaram até a morte. E nós precisamos dos seus nomes.
O filme “Ainda estou aqui” nos pega tanto, porque fala de pessoas reais. De crianças reais que não tiveram oportunidade de se despedir do pai. Nunca tiveram. Não fizeram velório, nem mesmo choraram a perda juntas, porque, para cada uma, a morte chegou em um momento diferente.
A gente não se comove tanto por rostos desconhecidos e sem nome, assim como não se indigna o suficiente contra um monstro abstrato. Ditadura não mata ninguém. Pessoas matam.
Muito já se falou sobre como o filme é feito de silêncios e do pavor que paira no ar quando nada é dito. Dos traumas. Ditaduras se firmam no medo.
Mas democracias também. Enquanto assistia, ficava me perguntando quão diferente é o que tantas famílias negras passam todos os dias. Pensei em uma frase que escrevi num dos meus primeiros textos aqui no Morte sem Tabu, quando o adolescente João Pedro foi executado pela polícia no Rio de Janeiro – polícia que, por sinal, foi recentemente absolvida: “A família de João Pedro passou a noite procurando por notícias suas. Ele já estava morto. A polícia já sabia que ele estava morto. Mas a família continuava procurando por ele”.
Sim, eu sei que é diferente. Pessoas negras e pobres morrem todos os dias mesmo quando não estão lutando por um projeto melhor de país, mas apenas tentando existir.
Nunca estivemos tão perto
Talvez um dia eu escreva sobre o que senti quando li o nome João Paulo Burnier* na página 36 do livro de Marcelo Rubens Paiva. Até alguns anos atrás, eu só o conhecia pelo nome de “brigadeiro”, alguém de quem eu ouvi falar desde a infância. Alguém que, depois de comandar o lugar onde Rubens Paiva sofreu as primeiras torturas, depois de comandar o lugar onde foi torturado até a morte Stuart Angel, depois de planejar um ato que levaria à morte de milhares de pessoas – para que a culpa recaísse sobre os “comunistas”-, tornou-se apenas mais um cidadão no Rio de Janeiro, vivendo a própria vida, como tantos. Convivendo, quem sabe, até mesmo com famílias de suas próprias vítimas. Alguém que estava perto demais da minha família. Mas essa é outra história.
Por mais força que o audiovisual tenha sobre nós, e que bom que tem, enaltecer um filme e suas atuações é pouco. É muito pouco. Por mais que os olhares de Fernanda Torres e Fernanda Montenegro, esse monumento que consegue se tornar tão marcante em poucos minutos de atuação sem fala, precisamos entender por que o filme nos toca exatamente onde toca. Nós nunca estivemos tão perto de repetir o passado. E, pelas últimas notícias, é por pura sorte que não estamos de volta ao Ato Institucional nº 5, de 1968.
*Embora no livro conste o nome de João Paulo Penido Burnier, o brigadeiro, filho de Otávio Penido Burnier e Margarida Moreira Penido Burnier, assinava como João Paulo Moreira Burnier.
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