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Como o Drex pode se tornar o ‘carro autônomo’ das suas finanças

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Drex real digital

Drex real digital

Você lembra do mundo na virada do século 20 para o 21? Não havia Netflix ou Spotify. A internet já existia, claro. Ainda engatinhava, mas a infraestrutura dela estava entre nós. E a partir desse chassi, dessa base, vários agentes criaram os serviços que deram ao mundo a cara que ele tem hoje.

O Drex, se tudo der certo, pode assumir um papel semelhante ao que a internet teve: servir de alicerce para toda uma nova gama de serviços financeiros – que hoje parecem tão distantes quanto era o streaming lá atrás, na época em que a gente comprava CDs e alugava DVDs.

O Drex começou com o nome de “real digital”. E isso causou confusão. Ficou a ideia de que o projeto, liderado pelo Banco Central, era o de uma nova moeda. Só que o Drex é mais complexo. Trata-se de uma nova infraestrutura para o sistema financeiro – que um dia pode se tornar tão essencial para certas operações quanto a internet é para quem deseja maratonar um seriado.

“Será como se, de repente, todos os carros virassem veículos autônomos, sem precisar de motoristas”, diz Ibiaçu Caetano, executivo-chefe de finanças do grupo Bitybank e integrante do conselho da Associação Brasileira de Cripto Economia (ABcripto). Agora, vamos ao principal:

O que é o Drex, afinal?

Existe um problema no mundo de hoje do qual basicamente ninguém se dá conta: o dinheiro “roda” num sistema próprio, o bancário. E coisas importantes que você compra com dinheiro habitam, cada uma, seu próprio sistema. O registro de carros, por exemplo, fica a cargo do Detran do seu Estado.

Para comprar um carro usado, então, você precisa operar em dois sistemas. Primeiro, no bancário, fazendo uma transferência para o dono antigo. Depois, no do Detran, transferindo o veículo para o seu nome. Ok. Não é o fim do mundo. Mas comprar CDs também não era.

A novidade que o Drex propõe para um caso assim é a seguinte: o dinheiro e os carros estariam registrados no mesmo sistema. Vamos dizer que vocês fecharam o negócio por R$ 100 mil. Grosso modo, o proprietário do carro faz o upload do registro na rede do Drex. Você sobe R$ 100 mil na mesma rede e, lá dentro, compra o registro do carro. Pronto.

O sistema vai saber que foi você quem fez a compra e passar o veículo para o seu nome. O antigo proprietário não precisa atestar isso no cartório nem nada. É tudo automático. Num piscar de olhos, o documento novo vai para o seu celular. E você já sai dirigindo com tudo em ordem.

Esse é um exemplo hipotético. Primeiro, o sistema do Drex precisa estar operante – e hoje ele está em fase de testes. Segundo, alguém terá de combinar com os Detrans. Mas trata-se de uma possibilidade concreta que o Drex abre. Vamos a outras.

LEIA MAIS: Drex vai reduzir custo de estruturação de FIDCs, aponta especialista do BC

Tesouro Direto 24 horas

O termo “Drex” vem da junção das iniciais de digital, real, e eletrônico. Já o “x” remeteria à ideia de conexão ou experiência. Essa infraestrutura do real digital tem como base a tecnologia de blockchain – a mesma das criptomoedas.

Que diferença ela faz? A mais importante: permite o upload de dinheiro e de outras coisas lá dentro (como o registro de carros). As duas ficam na forma de “tokens”, objetos digitais. E passam a ser intercambiáveis. Esse registro virtual, o token, é um tipo de escrituração inviolável. Ele representa, autentica e assegura a propriedade do ativo. Os tokens podem, então, ser negociados com segurança e muita velocidade.

É por isso que o registro do carro ali em cima vai direto para o seu nome. O que aconteceu ali foi a troca de um token registrado na blockchain (um “objeto digital” representando R$ 100 mil) por outro (a posse de veículo). “Tokenize” a posse de um apartamento no Drex e você também terá uma transferência instantânea – quando, e se, isso for possível.

Vale o mesmo para ativos financeiros. Se o Tesouro Nacional tokenizar títulos públicos, você vai poder comprá-los sem o intermédio de um banco ou de uma corretora. O que você vai fazer é subir dinheiro para o sistema do Drex. O montante será convertido em “reais digitais” – o nome mais preciso seria “reais tokenizados”, mas paciência.

Lá dentro do sistema, haverá tokens de títulos públicos. Aí é só comprar. Sem banco, sem corretora. Só você e o Tesouro na jogada. Como a blockchain é automática e trabalha 24 horas por dia, sete dias por semana, você poderá comprar e vender títulos no sábado de madrugada, se não tiver algo melhor para fazer.

LEIA MAIS: Itaú, BTG e Santander adotam blockchain para apoiar BC com Drex

Um adendo: falamos aqui em “upload de dinheiro”, mas essa é uma simplificação para facilitar o entendimento. A ideia é que o BC produza tokens de real e repasse para os bancos; só aí eles chegam ao público (veja no quadro abaixo). Ou seja: você não fará exatamente um upload no dia em que der para comprar carro com Drex. Você vai trocar “reais normais” que tem no banco por versões tokenizadas, que fluem pela blockchain.

Diagrama de fluxo do funcionamento do Drex, versão digital dos reais, com 4 etapas que vão desde a emissão pelo Banco Central até o uso por pessoas físicas, detalhado e ilustrado por ícones representativos.

Bolsa Família sem bets

O Drex embute outra característica que pode moldar as aplicações financeiras do futuro. Ele se baseia no conceito de smart contracts, ou “contratos inteligentes”, com registro validado por meio da rede blockchain. Isso permite algo novo: o “dinheiro programável”.

Marco Zanini, CEO da Dinamo Networks, responsável pela seguranca do PIX e que também participa do grupo de discussões para desenvolvimento do real digital, explica que essa possibilidade poderia resolver um problema grave: o uso de recursos do Bolsa Família em plataformas de apostas online.

O dinheiro poderia simplesmente ser programado para o usuário não conseguir gastar em apostas. “Pode usar no supermercado, na padaria, na farmácia, mas não nas bets”, acrescenta Zanini.

O projeto do Drex entrou na fase final de testes que vai até o fim do primeiro semestre de 2025. O Drex deve se tornar acessível comercialmente primeiro para transações entre pessoas jurídicas, como a compra de títulos públicos por parte de bancos. Gradualmente, viriam aplicações abertas para a população.

O CEO da Dinamo cita ainda um caso prático que tem sido testado em conjunto com o Banco da Amazônia. Uma dificuldade de se captar recursos internacionais direcionados ao desenvolvimento da região vem do fato de não ser possível garantir que o dinheiro não vai ser usado sem critério.

Em um projeto piloto, o grupo de trabalho criou uma moeda digital regional amazônica programada para ser utilizada apenas em consumo na região.

“Com isso, conseguimos garantir ao investidor que aquele recurso só vai ser utilizado para aquela finalidade específica.”

Marco Zanini, CEO da Dinamo Networks

O especialista em tecnologia de finanças digitais e chefe de comunidade fintechs da ABFintechs, Rogério Melfi, explica que o uso do Drex vai permitir programar condições para a realização ou não de um pagamento. A simples reserva de um hotel, por exemplo, pode embutir condições como não ser efetivada se o hóspede desistir dentro do prazo limite ou ainda liberar apenas o valor de multa.

Token o seu coração e façam a revolução

Com o Drex, o setor de crédito também tende a ganhar eficiência, reduzir burocracia e custos. Isso pode baratear taxas cobradas de empréstimos. Também vai aumentar a concorrência. Melfi reforça que o Drex aumenta a competição para as instituições financeiras tradicionais, além de trazer mais eficiência para as operações. “O real digital, junto com o PIX e o open finance, vai levar a uma verdadeira digitalização da economia do país.”

Zanini, da Dinamo, cita uma situação comum nos dias atuais para exemplificar o potencial da tecnologia.

Hoje, num empréstimo em que a garantia é um veículo, se seu carro vale R$ 100 mil e você pega R$ 10 mil, o automóvel fica inteiramente alienado à instituição que concedeu o crédito até a dívida ser quitada.

Mas, e se você pudesse dividir o valor do veículo em 10 pedaços digitais (ou seja, 10 tokens na blockchain) representando R$ 10 mil cada? Seria possível usar cada um deles como garantia em várias operações. Se o carro acabar vendido antes da quitação total, o smart contract repassa o valor proporcional devido automaticamente aos credores. Além disso, seria possível surgir plataformas que conectem vários investidores interessados em fazer o financiamento.

Produtos como consórcios, financiamentos, seguros e remessas de dinheiro também podem migrar para a infraestrutura tokenizada. Serão versões turbinadas daquelas que temos atualmente, mais rápidas, eficientes e, em grande parte, instantâneas.

LEIA MAIS: Banco do Brasil receberá tokens de commodities agrícolas como pagamento

O coordenador do projeto Drex no BC, Fabio Araújo, ressaltou em uma live sobre o projeto que a nova infraestrutura vai expandir a democratização dos serviços financeiros no Brasil. “As pessoas poderão fazer um empréstimo com mais facilidade ou ter uma opção de investimento mais acessível, um seguro mais fácil, a gente quer trazer esses produtos financeiros para a mão das pessoas.”

Daqui a alguns anos, talvez nem vamos nos lembrar que crédito imobiliário demorava meses para sair ou vender um carro exigia inúmeras checagens e idas e vindas entre órgãos públicos e cartórios. Com a desintermediação financeira, o instantâneo vai virar padrão e dinheiro vai funcionar como se tivesse um GPS, onde o melhor crédito nas melhores condições será a opção mais acessível.

Mas tudo dependerá de iniciativas da sociedade. O Detran se permitirá tamanha perda de poder? Os bancos toparão perder boa parte de seu papel no sistema financeiro? Não sabemos.

O Drex não é uma iniciativa única no mundo. Ele é mais um projeto de CBDC (“moeda digital de banco central”), que vários países tocam. E o fato é que todos eles ainda engatinham, em grande parte porque não faltam amarras, como as que citamos aqui.

Mas a estrada está sendo construída. E uma hora vão entrar carros nela. Como aconteceu com a internet.

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Tatiana Tiburcio destaca movimento negro retratado em Garota do Momento: ‘Golaço’

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Tatiana Tiburcio destaca movimento negro retratado em Garota do Momento: ‘Golaço’

Prestes a estrear em Garota do Momento, Tatiana Tiburcio comemora movimento negro na trama de época, em coletiva de imprensa com a presença da CARAS Brasil

Tatiana Tiburcio (47) está na expectativa para a estreia de Garota do Momento, nova novela das seis, que estreia em novembro, na TV Globo. A atriz dará vida a personagem Vera Machado, mãe de Ulisses (Ícaro Silva) e esposa de Sebastião (Cridemar Aquino). Ela, o marido e amigos fundaram o Clube Gente Fina. Lá, Tia Vera, como é conhecida, canta e faz parte do coro de pastoras do clube. Em coletiva de imprensa com a presença da CARAS Brasil, Tatiana fala da importância do movimento negro retratado em uma história de época. “Golaço”, destaca. 

“É difícil falar de uma maneira muito reduzida sobre a importância de se retratar um clube de pessoas negras, em uma década como a de 50; e ainda refletindo para hoje. É difícil resumir isso. Mas acho que é um golaço da equipe toda e uma ousadia. Trazer isso para a cena, mas principalmente, trazer da forma como está sendo trazido. De uma maneira naturalizada, como deveria ser. Humanizada, principalmente, fundamentalmente”, salienta.

“Você tem personagens – esses dois personagens em particular (Vera e Sebastião) – colocados como seres humanos, e não como um estereótipo militante; sem nenhum demérito à militância. Mas o gol, para mim, está na humanização desses personagens, em colocá-los dentro de um contexto de participação dessa história. Dessa história de Brasil, dessa de sociedade, para além da ficção. Acho que isso que me seduziu muito em aceitar o convite; de ver os meus, a minha história, a minha ascendência sendo representada de uma maneira participante na construção de tudo isso”, continua.

Para ela, todos saem ganhando. “Porque é uma parte da história que não é muito retratada, mas que é parte dessa história, de forma muito fundamental. Quando você fala de rock’n roll, você está falando dessas pessoas. Quando você fala de samba, de cultura, de sociedade, da construção econômica dessa sociedade, você está falando dessas pessoas. Dessa galera que forma o Clube Gente Fina, entende? Então, poder ver isso sendo retratado com leveza, discurso, humanidade, complexidade, é muito bacana. E acho que todo mundo ganha, não é só a gente que está sendo retratado ali, mas a gente ganha enquanto sociedade e com leveza, que é o principal, que eu acho que é a maneira mais efetiva de chegar no coração das pessoas”, frisa.

Tatiana faz uma reflexão sobre o movimento negro, ainda exaltando o Clube Gente Fina. “É muito bacana essa relação que a gente tem com esse clube, que parece que é parte da nossa vida mesmo. Sou do interior do Rio de Janeiro, nasci no Rio, mas fui criada no interior, em Casimiro de Abreu. E a minha família é uma família grande. Minha avó teve 11 filhos, então tenho 11 tios. E lá tinham os seus clubes. Tinha um clube, na verdade, que frequentavam majoritariamente pessoas pretas porque nos outros clubes elas não podiam entrar. E a minha família, meus tios, minha mãe chegavam no clube e era aquela coisa: Os Tiburcios chegaram”, conta.

“E eles dançavam muito. Meu tio Ed, meu tio Babal, eles dançavam muito, tiravam muita onda dançando. Então, era um lugar de autoafirmação, de valorização. Eles trabalhavam aqui no Rio, voltavam no final de semana para reinar no seu Gente Fina. Enquanto esses lugares eram e ainda são de alguma maneira; porque hoje esses clubes se diversificaram em rodas de samba, em viadutos, em outras formas de acontecer, mas ainda com o mesmo princípio de identidade, de valorização de uma identidade, de encontro, de fortalecimento. Lugares onde a nossa beleza, a nossa cultura, os nossos modos, os nossos fazeres são reconhecidos e valorizados”, completa a artista.

‘LUGAR DE AUTOAFIRMAÇÃO’

A carioca ainda revela, com muito entusiasmo e alegria, a reação da mãe sobre sua personagem. “Costumo dizer no camarim que todo figurino que eu coloco, tiro uma foto e mando para a minha mãe. E ela fica toda feliz. Ela fala: ‘Nossa, que lindo! Traz pra mim’ (risos). Ela se vê, isso é muito bacana. A novela nem estreou e ela e as minhas tias se veem ali, sabe? E se veem num lugar de autoafirmação, onde a gente está falando das nossas questões que passam por um lugar de dor, de incômodo. Tem uma cena linda com a Paloma (Duarte), que a gente fala sobre isso, dessa diferença dos feminismos”, fala.

“Que a gente fala o feminismo como se fosse uma coisa só. E o que uma mulher negra vive enquanto mulher, como mulher, não enquanto como mulher. É completamente diferente do que uma mulher branca vive como mulher, que uma mulher indígena vive como mulher. Até mesmo que uma mulher nordestina, porque ainda entram outras camadas, que são as regionais. Esse privilégio, essa predominância de determinadas regiões em cima da manifestação cultural de um povo, em um país de dimensões continentais como o nosso. Então, você vê os seus se reconhecendo em você, num lugar que eles sabem que existe e que era praticamente não visto”, acrescenta.

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Lista do MTST com mulher de Boulos excluiu militantes – 19/10/2024 – Poder

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Lista do MTST com mulher de Boulos excluiu militantes - 19/10/2024 - Poder

Marcos Hermanson

A direção do MTST, movimento que já teve o deputado e candidato Guilherme Boulos (PSOL) como sua principal liderança, excluiu 61 militantes da lista de beneficiários na reta final da construção de um condomínio do Minha Casa Minha Vida Entidades em Taboão da Serra (SP).

Esses militantes firmaram o contrato de compra do imóvel em abril de 2013. Dez dias antes da entrega, em dezembro do ano seguinte, assinaram documentos transferindo suas vagas para outras pessoas, a quem dizem desconhecer.

Afirmam que foram orientados a assinar pelo movimento e, em ao menos quatro casos, não sabiam do que se tratavam os papéis.

Segundo cinco militantes ouvidos pela Folha, as exclusões da lista foram justificadas com base em presença nas atividades do movimento —quanto menos atuante menos pontos para ser escolhido. A troca representa um terço (32%) dos beneficiários originais listados no contrato de compra.

Procurado, o MTST nega as acusações, diz que a substituição foi discutida com as famílias e afirma que os contratos de alienação contaram com anuência de todos. Ainda segundo o movimento, as trocas se deram para adequar a lista de beneficiários aos critérios do programa.

Como mostrou o UOL, a advogada Natália Szermeta, esposa de Boulos, foi uma das contempladas no empreendimento. Ela é liderança do MTST e descumpriu regras do programa, já que nunca viveu no imóvel. A assessoria de imprensa de Boulos afirma que Natalia cedeu o imóvel ao MTST logo em seguida. O apartamento, porém, seguiu até este ano em nome da pessoa que sempre viveu no local.

Batizado de João Cândido, o edifício em Taboão da Serra foi bancado com recursos públicos, dentro da modalidade Minha Casa Minha Vida – Entidades , e inaugurado com a presença de Lula (PT) em 2014.

A Folha ouviu oito militantes e ex-militantes do movimento que foram substituídos na reta final. Destes, dois concordaram em ter seus nomes divulgados. A maioria preferiu o anonimato porque teme represálias ou segue atuando no MTST.

Eles estavam no grupo desde pelo menos 2007, participando de núcleos diferentes dentro do movimento. Ocuparam terrenos na Vila Calu e no Valo Velho (bairros da zona sul), participaram de atos e de assembleias.

Em abril de 2013, esses militantes assinaram documentos de compra dos apartamentos junto à Caixa e foram informados pelo movimento de que receberiam unidades no condomínio.

Já nessa etapa, a Caixa fez uma triagem dos beneficiários para enquadrá-los nos critérios sociais e de renda do programa –renda familiar bruta mensal de até R$ 1.600, não possuir imóvel e prioridade para mães solteiras e moradores de áreas de risco.

Seus nomes foram incluídos na matrícula do imóvel, registrada em cartório.

Em dezembro de 2014, oito dias antes da entrega do condomínio, assinaram novos papéis, desta vez transferindo suas vagas no residencial. Os documentos foram conferidos pela Folha.

“Eu estava trabalhando, recebi a ligação da coordenadora”, diz o encanador Jair Dias Santos, 44, que militou no MTST de 2005 a 2018. “Eu tinha que estar no Casarão [sede do MTST], para assinar o documento.”

Santos soube depois, por meio de uma assembleia, que tinha transferido o direito ao apartamento em que esperava morar.

As lideranças se justificaram dizendo que os moradores excluídos não tinham pontuação suficiente para entrar no empreendimento, segundo cinco delas ouvidas pela reportagem.

No mesmo residencial, quatro filhas e um filho de uma coordenadora do MTST foram beneficiados.

Maria Nair Gomes dos Santos, Cibele Cristina Gomes dos Santos, Jonathan Gomes dos Santos, Ana Lucia Gomes dos Santos e Cintia Gomes dos Santos são filhos de Sueli Gomes da Silva, coordenadora de núcleo e integrante do MTST desde 2005.

Cada filho recebeu um apartamento de 55 a 65 m² que, de acordo com sites de venda de imóvel, são vendidos hoje por R$ 200 a R$ 300 mil.

Procurada, Sueli nega ter havido favorecimento e diz que o critério de inclusão no condomínio era a participação. “Não é porque eles são meus filhos que eles entraram por prioridade, não. Eles também eram de luta.”

A coordenadora afirmou que os filhos militavam no núcleo liderado por ela. Quando questionada se era ela mesma quem anotava a presença deles, ela disse: “Sim, eu e os outros”.

Procurado para comentar a exclusão dos militantes da lista final, o MTST lembrou que a substituição de beneficiários pelo programa está prevista em norma. Disse também que a troca foi discutida e aprovada entre as famílias contempladas, com a finalidade de adequar a lista de beneficiários aos critérios sociais e de renda do programa.

Sobre os contratos de venda, o movimento afirmou que a Caixa promoveu a regularização formal das trocas, tendo averbado contratos de alienação entre substitutos e substituídos com a assinatura e anuência de todos.

“Causa absoluta estranheza o teor suspeito das acusações apresentadas sem provas e sem autoria às vésperas da eleição, questionando a entrega de chaves de apartamentos de 10 anos atrás”, completou o movimento, em nota.

Resolução do Ministério das Cidades vigente na época permitia a substituição de até 30% dos beneficiários originais dos empreendimentos, desde que essas pessoas tivessem direito à ampla defesa e ao contraditório.

A decisão de substituir 62 pessoas do empreendimento está registrada em ata de assembleia de 22 de novembro de 2014 –portanto um mês antes da inauguração do João Cândido.

Segundo o documento, a troca se deu por exigência da Caixa, que teria apontado nomes com restrições pelos critérios do programa, “por conta da faixa de renda ou problemas no CadÚnico”. A lista de presença em anexo conta com nome e assinatura de ao menos 17 dos excluídos, embora as pessoas ouvidas pela reportagem digam que a decisão de substituição nunca foi submetida a elas.

Procurada, a Caixa não informou se pediu a exclusão de beneficiários do empreendimento. “A Caixa é responsável pelas pesquisas das famílias indicadas pela entidade, a partir das informações cadastradas e transmitidas pelo CadÚnico e critérios de seleção estabelecidos pelo Ministério das Cidades”, afirmou o banco.

As oito pessoas ouvidas pela reportagem dizem que não participaram da decisão de troca e que não tiveram direito de se defender, como exigia a resolução. Também segundo elas, o movimento justificou a exclusão com base em presença nas atividades (a chamada pontuação), não em critérios sociais ou de renda.





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O australiano Tim Tszyu sofre uma derrota surpreendente para Bakhram Murtazaliev na luta dos super meio-médios | Boxe

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O australiano Tim Tszyu sofre uma derrota surpreendente para Bakhram Murtazaliev na luta dos super meio-médios | Boxe

Guardian sport

A estrela do boxe australiano Tim Tszyu sofreu uma derrota surpreendente em seu tão aguardado título super meio-médio da IBF na Flórida, demolido em três rounds pelo invicto russo Bakhram Murtazaliev.

Tszyu pareceu sofrer um corte no meio do primeiro round, quando o golpe de Murtazaliev causou danos iniciais. As coisas pioraram para o australiano no segundo round, quando o russo mais alto usou sua vantagem de altura para acertar combinações no corpo de Tszyu.

Quando Murtazaliev derrubou Tszyu três vezes apenas no segundo round, a luta estava praticamente encerrada. Tszyu emergiu para o terceiro, mas estava grogue e tropeçando por todo o ringue, sua defesa quase inexistente.

Quando o árbitro se recusou a interromper a luta, o médico oficial interveio. O médico do ringue permitiu que Tszyu continuasse lutando, mas quando o australiano foi mandado para a lona pela quarta vez, seu corner jogou a toalha.

Tim Tszyu foi derrubado quatro vezes na derrota para o russo Bakhram Murtazaliev, na Flórida. Fotografia: Fornecida por No Limit Boxing/PR IMAGE

“Cada vez que entro no ringue, estou disposto a morrer aqui”, disse Tszyu arrasado após a derrota. “Sem desculpas. Boxe não foi feito para ser perfeito, mas você vive e aprende. Depois do primeiro tiro, as coisas não saíram conforme o planejado.”

Tszyu estava se candidatando para se juntar a seu pai, Kostya, membro do Hall da Fama, como o segundo pai e filho a ganhar dois títulos mundiais. O vencedor de vários títulos mundiais, Kostya, estava na Flórida assistindo ao ringue pela primeira vez depois de uma década afastado de seus filhos.

Tim e Kostya se reuniram na Tailândia em maio deste ano. Mas esse reencontro sofreu uma reviravolta amarga e inesperada quando o australiano de 29 anos foi demolido em três rounds, sua segunda derrota consecutiva depois de abrir sua carreira com 23 vitórias.

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Após a vitória, Murtazaliev salgou a ferida da família Tszyu. Içado sobre os ombros de sua equipe, o russo foi ouvido gritando: “Quem é seu pai agora?”

Tszyu, criado em Sydney, tentava se recuperar de uma derrota sangrenta para Sebastian Fundora em março, onde um enorme corte na testa prejudicou sua visão e, apesar de ter visto a luta corajosamente, caiu para a primeira derrota de sua carreira.

Ele estava escalado para lutar contra Vergil Ortiz Jr em agosto, mas a luta foi cancelada por orientação médica, com Tszyu precisando de mais tempo para cicatrizar o corte na cabeça. Agora, a sua reputação – e o seu futuro como cartão de visita global – sofreu uma forte surra.



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