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Como o “Le Monde” cobriu a questão racial nos Estados Unidos

Como o “Le Monde” cobriu a questão racial nos Estados Unidos

O mundo e os Estados Unidos, que história! Fascínio, repulsa, admiração, circunspecção: tudo se mistura no olhar constantemente voltado para o outro lado do Atlântico há quase oitenta anos. Cultura, diplomacia, economia, política: tudo é acompanhado de perto. Por onde começar, senão no início? Sabemos, segundo o seu biógrafo, Laurent Greilsamer, que o fundador do diário, Hubert Beuve-Méry, regressou cautelosamente da sua primeira viagem para lá, na primavera de 1945, poucos meses após a publicação do primeiro número do jornal.

Ele esteve lá por ocasião da conferência que levará as Nações Unidas a São Francisco, na pia batismal. O europeu mede a degradação do seu continente, e o homem – supostamente austero – descobre nesta ocasião outro que está desmoronando sob a abundância, embora tenha deixado uma Paris ainda sob o jugo do racionamento. Não familiarizado com o inglês, o que não ajuda, o jansenista não se sente, no fundo, à vontade face ao alegado e ostensivo materialismo dos Estados Unidos. Representam, está firmemente convencido, uma dupla ameaça para a França, tanto económica como moral. Contudo, não é realmente um sentimento de trombetear, como a nova superpotência ainda desfruta, entre os primeiros leitores do Mundocaracterísticas de um exército de libertadores.

No entanto, devemos encontrar no seu olhar a fonte da tentação neutralista do diretor do diário, nos primeiros anos da Guerra Fria, que nunca chegou ao ponto de colocar Washington e Moscovo costas com costas. Na verdade, Hubert Beuve-Méry não tem a certeza de que os Estados Unidos voltariam a ajudar os europeus se estes fossem ameaçados. Essa dúvida gerou uma embaraçosa decepção diária no dia 28 de junho de 1950, quando ele anunciou, peremptoriamente, nas manchetes, que “Os Estados Unidos não travarão uma guerra pela Coreia”. Antes de reconhecer no dia seguinte, também na primeira página, que “Forças aéreas navais do General MacArthur”o chefe das tropas americanas na Ásia, “entrar em ação” na península…

Esta desconfiança em relação aos Estados Unidos provocou mesmo a tentativa de golpe, idealizada um ano depois por outro membro fundador do MundoRené Courtin, que é um atlantista convicto. Este último agiu após a publicação da coluna de um colaborador do diário, o futuro académico Pierre Emmanuel, pseudónimo de Noël Mathieu, que anunciou a chegada do fascismo a Washington nas carrinhas do anticomunismo que aí reina. Condenado a deixar o cargo, o diretor do diário é salvo pela sua redação. Na batalha, conquistou seu lugar na capital com a criação da Sociedade de Editores, inédita na imprensa nacional francesa.

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