[RESUMO] Artista plástico traça um paralelo entre Mr. Mxyztplk, um demônio infantil e traiçoeiro que tira o sossego do Super-Homem, e políticos de extrema-direita. Há em comum uma sanha destruidora irracional e o desejo de retorno a uma dimensão paralela fantasiosa. Também os assemelha a única forma de enfrentamento possível: aproveitar de sua estupidez e fazê-los confessar em público sua origem demoníaca.
Com ” The Mysterious Mr. Mxyztplk“, Jerry Siegel e Ira Yarborough introduziram, em setembro/outubro de 1944, um novo inimigo para o Super-Homem: um demônio infantil ou pré-adolescente, vindo de uma dimensão paralela semelhante ao nosso mundo e causando acidentes catastróficos como quem brinca —uma criança antiga e perversa, originada como que num diário de caso de Melanie Klein, obrigando o Super-Homem a ocupar-se dela em tempo integral, à espera da próxima traquinagem assassina.
A única forma de livrar-se deste “trickster” é fazê-lo pronunciar seu próprio nome ao contrário (uma reminiscência do conto “Rumpelstiltskin”, dos irmãos Grimm).
No fundo, por enganar a todos, o hebefrênico não suporta ser enganado —quando alguém o faz, ele tem de voltar, por ao menos 90 dias, ressentidíssimo, a seu planeta/dimensão de origem, onde seus poderes são medíocres. E a única coisa que pode enganá-lo é este resíduo de identidade, de história pessoal intransferível, que vai num nome e que ele finge não conhecer.
Há muito da extrema direita, aqui —por mais nacionalista que seja, o cordão que a unia ao planeta Terra se rompeu nas últimas décadas, e ela flutua como um balão, provando a própria onipotência: aconselhar-se com um cachorro morto, mandar mais de 500 projetos de lei simultâneos ao Congresso, no caso de nosso vizinho argentino; dizer “Grab them by the pussy” [pegue-as pela xoxota], ridicularizar a emergência climática e instigar explicitamente a invasão e destruição de um sólido símbolo nacional (o Capitólio), no caso de nosso vizinho norte-americano; a lista de nosso próprio títere, ainda mais grosseira, seria infindável.
Essa aparição desde outra dimensão, ainda semelhante à nossa, mas onde as coisas funcionariam diferente, é como querem ser vistos. O “Again” do slogan de Trump (Make America Great Again) se refere à última aparição de algum misterioso Mr. Mxyztplk, uma fantasia histórica, e não a um período definido, reverenciado por eles.
Há um desejo de descontinuidade em cada voto na extrema direita —a homogeneidade temporal (o contrário da revolução) hoje pertence à esquerda, ao centro e à direita “normal”.
Ao pronunciar seu nome às avessas, a extrema direita confessaria, primeiro, que tem um nome, uma origem, uma construção anterior, mas também que, como numa senha de computador ou de banco, esse nome é simplesmente o espelho daquele que todos conhecem.
O difícil, no entanto, não é descobrir isso (a senha é bastante óbvia), mas fazer, como num processo psicanalítico, que a própria extrema direita o diga. Então estaríamos salvos.
Pois, de fato, o truque para enviar o demônio de volta é difícil de executar. Coisas como: “Você é incrível e pode tudo, mas aposto que não consegue dizer seu nome ao contrário”, até funcionariam numa primeira vez, pois esses demônios são mesmo muito burros, mas não há como repeti-las.
Por outro lado, fico pensando que fazer isso uma única vez não seria pouco, e que a surpresa estaria do nosso lado —hoje, neste nosso planeta, seria com certeza a primeira vez que alguém tentaria isso. Então imaginem como Trump reagiria, numa entrevista coletiva, a uma pergunta simples e direta:
“Senhor presidente, poderia, por favor, soletrar seu nome de trás para frente?”
“Para quê?”
“Eu estava apenas curioso…”
“Mas… O que você… Bem… Ok… Pmurt”
E subitamente, à frente de todos, por ao menos 90 dias, o demônio laranja desapareceria da face da Terra.
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