Ao final do dia de ontem, 19, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou uma nota técnica alertando que o uso da cloroquina e hidroxicloroquina para a doença causada pelo novo coronavírus, Covid-19, não está liberado e, por isso, não é recomendado. A nota veio após a divulgação de estudos recentes, mostrando eficácia em um grupo de pacientes com Covid-19.
Segundo a agência regulamentadora, para que os medicamentos tenham uma nova indicação terapêutica ainda são necessários ensaios clínicos com uma amostra representativa de pessoas, comprovando, não só a eficácia, como também a segurança para este uso.
A hidroxicloroquina e cloroquina são substâncias medicamentosas indicadas, atualmente, para algumas condições reumatológicas e dermatológicas: reumatismo e lesões de pele; artrite reumatoide; artrite reumatoide juvenil; lúpus eritematoso sistêmico; lúpus eritematoso discoide; e condições dermatológicas provocadas ou agravadas pela luz solar. Além disso, são usados no tratamento da malária.
Hidroxicloroquina para coronavírus
Em um estudo in vitro na China, os pesquisadores concluíram que a hidroxicloroquina e a cloroquina inibiram estágios de infecção pelo SARS-CoV2, como está sendo chamada a nova cepa do coronavírus. Eles observaram também que esses medicamentos bloquearam o transporte do vírus pelas organelas das células, o que parece ser uma etapa determinante na liberação do genoma viram nas células.
Em outra análise, um ensaio clínico aberto não randomizado, com uma mostra pequena (20 pessoas) associou a hidroxicloroquina à azitromicina e identificou que o tratamento reduziu a viremia nesses pacientes.
Conclusões
Os estudos são animadores e justificam a realização de novos ensaios clínicos de forma urgente. Mas “apesar de promissores, não existem estudos conclusivos que comprovam o uso desses medicamentos para o tratamento da Covid-19”, como declarou a Anvisa.
Assim, não existe uma recomendação, pelo menos por enquanto, da utilização desses medicamentos nos pacientes confirmados, menos ainda mesmo como forma de prevenção. Por isso, é importante também orientar os pacientes, já que em algumas cidades, após a divulgação dos resultados do estudo, os fármacos começaram a ficar em falta nas farmácias.
É importante lembrar também que não apenas esse medicamento está sendo estudado com bons resultados, mas também o lopinavir-ritonavir, apesar de não ter viralizado da mesma maneira aqui no Brasil. Por pebmed.com.br
Referências bibliográficas:
- http://portal.anvisa.gov.br/noticias/-/asset_publisher/FXrpx9qY7FbU/content/covid-19-esclarecimentos-sobre-hidroxicloroquina-e-cloroquina/219201
- http://portal.anvisa.gov.br/documents/219201/4340788/Nota+Te%C2%B4cnica+sobre+Cloroquina+e+Hidroxicloroquina.pdf/659d0105-60cf-4cab-b80a-fa0e29e2e799
Não há estudos conclusivos que comprovam o uso desses medicamentos para o tratamento do novo coronavírus, diz Anvisa.
Anvisa faz esclarecimentos sobre hidroxicloroquina e cloroquina.
Diante das notícias veiculadas sobre medicamentos que contêm hidroxicloroquina e cloroquina para o tratamento da Covid-19, a Anvisa esclarece que:
– esses medicamentos são registrados pela Agência para o tratamento da artrite, lúpus eritematoso, doenças fotossensíveis e malária;
– apesar de promissores, não existem estudos conclusivos que comprovam o uso desses medicamentos para o tratamento da Covid-19. Portanto, não há recomendação da Anvisa, no momento, para a sua utilização em pacientes infectados ou mesmo como forma de prevenção à contaminação pelo novo coronavírus; e
– a automedicação pode representar um grave risco à sua saúde. Por: Ascom/Anvisa.
Nota Técnica sobre Cloroquina e Hidroxicloroquina
No contexto da atual pandemia decorrente do novo Coronavírus, evidências científicas sobre o potencial uso da Cloroquina e da Hidroxicloroquina no tratamento da doença estão sendo geradas e publicadas.
No Brasil, existem tanto medicamentos à base de Cloroquina como de Hidroxicloroquina registrados. As indicações aprovadas para esses medicamentos são:
– afecções reumáticas e dermatológicas (reumatismo e problemas de pele);
– artrite reumatoide (inflamação crônica das articulações);
– artrite reumatoide juvenil (em crianças);
– lúpus eritematoso sistêmico (doença multissistêmica);
– lúpus eritematoso discoide (lúpus eritematodo da pele);
– condições dermatológicas (problemas de pele) provocadas ou agravadas pela luz solar;
– Malária (doença causada por protozoários): tratamento das crises agudas e tratamento supressivo de malária por Plasmodium vivax, P. ovale, P. malariae e cepas (linhagens) sensíveis de P. falciparum (protozoários causadores de malária). Tratamento radical da malária provocada por cepas sensíveis de P. falciparum.
Um estudo in vitro desenvolvido por pesquisadores chineses avaliou o efeito antiviral da hidroxicloroquina contra o SARS-CoV-2 em comparação com a Cloroquina. Os pesquisadores afirmam que a Hidroxicloroquina inibiu efetivamente a etapa de entrada do vírus na célula assim como estágios celulares posteriores relacionados à infecção pelo SARS-CoV-2. Esse efeito também foi observado com a Cloroquina. Os pesquisadores também observaram que a Cloroquina e a Hidroxicloquina bloqueiam o transporte do SARS-CoV-2 entre organelas das células (endossomos e endolisossomos) o que parece ser a etapa determinante para a liberação do genoma viral nas células no caso do SARS-CoV-2 (1).
Gautret et al. conduziram um estudo clínico aberto não randomizado. Apesar de seu pequeno tamanho amostral (foram 20 pacientes tratados), os autores afirmam que essa pesquisa mostra que o tratamento com Hidroxicloroquina é significativamente associado à redução / desaparecimento da carga viral em pacientes com COVID-19 e seu efeito é reforçado pela Azitromicina (2).
De acordo com revisão sistemática, há evidência pré-clínica da eficácia e evidência de segurança do uso clínico de longa data para outras indicações, o que justifica a pesquisa clínica com a Cloroquina em pacientes com COVID-19. A conclusão dessa revisão foi que dados de segurança e dados de ensaios clínicos de maior qualidade são urgentemente necessários (3).
A Anvisa reforça que, para a inclusão de indicações terapêuticas novas em medicamentos, é necessário conduzir estudos clínicos em uma amostra representativa de seres humanos, demonstrando a segurança e a eficácia para o uso pretendido.
Referências bibliográficas
1 – Liu, J., Cao, R., Xu, M. et al. Hydroxychloroquine, a less toxic derivative of
chloroquine, is effective in inhibiting SARS-CoV-2 infection in vitro. Cell Discov 6, 16
(2020). https://doi.org/10.1038/s41421-020-0156-0.
2 – Gautret et al. (2020) Hydroxychloroquine and azithromycin as a treatment of COVID19: results of an open-label non-randomized clinical trial. International Journal of Antimicrobial Agents – In Press 17 March 2020 – DOI : 10.1016/j.ijantimicag.2020.105949.
3- Cortegiani A, Ingoglia G, Ippolito M, Giarratano A, Einav S. A systematic review on the efficacy and safety of chloroquine for the treatment of COVID-19. J Crit Care. 2020 Mar 10. pii: S0883-9441(20)30390-7. doi:10.1016/j.jcrc.2020.03.005. [Epub
ahead of print] PubMed PMID: 32173110.