Tamara Nassif
Não é raro ver a cotação do dólar comercial com três, até quatro, casas depois da vírgula. Nas reportagens da Folha, por exemplo, a moeda norte-americana quase sempre é grafada com três casas –como na segunda (27), quando a moeda fechou em R$ 5,912–, ainda que, na vida cotidiana, o mais comum seja arredondar para R$ 5,91.
A grafia das cotações com no mínimo três casas decimais é uma orientação das instituições financeiras para garantir mais precisão nas operações.
Isso porque o dólar comercial é usado para grandes transações no mercado internacional, seja por bancos e empresas, seja por corretoras de investimento. É a cotação de referência para o dólar turismo, por exemplo, comprado em casas de câmbio.
“Quando as operações são menores, como de compra de US$ 500, US$ 1.000, arredondar não faz tanta diferença assim no preço. Mas, quando os valores são mais expressivos, como milhões ou bilhões, a terceira casa faz bastante diferença”, diz Lucélia Freitas, especialista em câmbio da Manchester Investimentos.
A recomendação é sempre usar o valor cheio para evitar prejuízos –ou ganhos– expressivos para quem faz as operações. Um exemplo: em uma compra de US$ 1 bilhão, usando a cotação em R$ 5,869, o preço a ser pago seria de R$ 5.869.000.000,00.
Mas, caso a cotação fosse arredondada para R$ 5,87, o valor pago seria de R$ 5.870.000.000,00 –ou seja, R$ 1 milhão mais caro.
“É o que acontece nas bombas de postos de gasolina. A maioria dos postos cobra o valor do combustível com três casas decimais, porque a movimentação de carros é muito grande ao longo do dia”, diz Davi Lelis, especialista e sócio da Valor Investimentos.
“São várias transações e, se o posto consegue acrescentar R$ 0,005 a mais na bomba de combustível, isso vai se acumulando e vira um montante muito expressivo no final do ano.”
É uma orientação que vale para todas as moedas –inclusive as que são como o real, que, pelo padrão monetário, não tem formalmente a terceira casa decimal como valor em circulação. “O uso das casas decimais é pela matemática da coisa, para manter uma conversão fidedigna e que faz diferença para grandes valores”, explica Lelis.
As três casas decimais também são usadas por empresas que se valem do dólar comercial para fazer importações e exportações, ainda que, para o consumidor, o mais comum seja o arredondamento para apenas duas casas depois da vírgula.
Já para casos em que é preciso deixar em duas casas decimais —como nas manchetes da Folha—, o mercado financeiro segue um princípio de neutralidade e não bate o martelo para nenhuma regra.
“Ainda que o recomendado seja usar as três casas, é comum que usem o ‘truncamento’ (corte da terceira casa decimal sem arredondar) ou o arredondamento bancário, que segue a regra do ‘arredondamento para o par mais próximo'”, diz Lelis.
“O truncamento evita erros sistemáticos para cima ou para baixo. Se o valor sempre for arredondado para cima, isso cria um viés de alta no preço da moeda, o que pode ser prejudicial ao comprador da moeda estrangeira.”