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‘Dahomey’ aborda colonialismo europeu na África – 21/10/2024 – Ilustrada

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'Dahomey' aborda colonialismo europeu na África - 21/10/2024 - Ilustrada

Inácio Araujo

Foi um tanto estranha a reação do público do CineSesc em 17 de outubro, dia de abertura da Mostra. Embora estivesse bastante atento ao filme de Mati Diop, os aplausos foram muito tímidos. Talvez “Dahomey” tenha acabado de maneira seca e todos esperássemos que continuasse de algum modo.

O certo é que “Dahomey” é um documentário precioso que toma por pretexto a volta de 26 peças das 7.000 sequestradas pelos franceses após a invasão do reino da África ocidental, hoje República do Benin, em 1894. A surpresa é o narrador, a peça 26, que expressa o alívio por voltar ao lugar que é seu depois de mais de um século (o retorno data de 2021).

Entre os vivos as reações são divergentes: há quem elogie o esforço do governo para trazer as peças de volta; há quem julgue 26 um número irrisório diante dos 7.000 sequestrados; há quem denuncie a “boa vontade” de Macron e dos franceses, que querem se fazer de simpáticos, depois de colonizarem o país por quase 70 anos.

Alguém menciona a chegada das peças como motivo de orgulho nacional. Outro acusa a população de hipocrisia, pois vai à igreja católica de dia, mas de noite pratica a religião ancestral. Uma discussão se estabelece sobre a porcentagem da cultura local saqueada: 10%? Ou 90%? A variedade das reações é imensa. É muito da cultura material, em todo caso, mas que dizer da cultura imaterial? Das danças, dos ritos, das crenças.

Para o quadro colonial ficar mais completo, essas crenças envolvem elementos religiosos iorubá, entre outros que conhecemos no Brasil. Como existem notícias de presentes dados por um rei local a d. João 6º, não é difícil deduzir, por todos os motivos, que muitos dos escravizados no Brasil vieram do antigo Daomé.

Em resumidas contas, “Dahomey” nos coloca diante do caos produzido pelo colonialismo europeu entre os próprios ex-colonizados locais, e mais amplamente na África, que se reproduz na imensa variedade de pontos de vista expressados no filme sobre o retorno das 26 peças da estatuária agora restituídas. Elas são muito mais que isso. Elas colocam os ex-colonos (a independência se deu nos anos 1960, portanto há bem menos de um século) diante da necessidade de recriar seu país a partir, entre outras coisas, de uma língua estrangeira (o francês) imposta ao país, que os afastou de sua língua original e, com isso, de seu modo de pensar.

Diante desse quadro labiríntico, o resultado a que chega a parisiense Mati Diop é notável, na medida em que o documentário promove uma ordenação do caos. Não é para isso que existe a arte?

Sim, Diop realiza uma quase miraculosa ordenação dos discursos tão díspares que procuram responder ao desafio de construir no século 21 um país destruído no século 19. Por mais díspares que sejam, esses discursos não enunciam nenhum disparate: todos apontam para um mesmo lado, todos pensam uma maneira de sair do labirinto colonial. É como se cada falante detivesse um fragmento do mosaico sobre o qual Benin precisará trabalhar para acompanhar as transformações da cultura ocidental que lhe foi legada (e de que hoje faz parte, queira ou não) sem renunciar a sua herança ancestral, essa que lhe foi roubada pela colonização.

O que produz a devolução dessas 26 peças do tesouro roubado é um rigoroso quebra-cabeça, a que “Dahomey” dá forma, inclusive pelo seu caráter sintético. São 81 minutos de duração para uma história que inclui reis, guerreiras amazonas, escravizados etc. —destinos tão diversos que, aliás, incluem também a nós, brasileiros, nessa história infame.

O Leão de Ouro ganho pelo filme em Berlim faz todo sentido.





Leia Mais: Folha

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Senado aprova texto-base da reforma tributária

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Senado aprova texto-base da reforma tributária

Pedro Rafael Vilela – Repórter da Agência Brasil

O Senado Federal aprovou, na tarde desta quinta-feira (12), o texto-base da regulamentação da reforma tributária. Foram 49 votos favoráveis e 19 contrários. A regulamentação da reforma trata das regras de incidência dos novos impostos sobre o consumo: a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), em nível federal, e o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), de nível estadual/municipal. Além disso, haverá o Imposto Seletivo (IS), o chamado “imposto do pecado”, que é uma sobretaxa aplicada sobre determinados produtos e serviços considerados prejudiciais à saúde e ao meio ambiente.

Pela manhã, o texto, relatado pelo senador Eduardo Braga (MDB-AM), havia sido aprovado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), antes de seguir para o plenário. Agora, os senadores seguem votando diversos destaques ao texto principal, que podem alterá-lo. Uma dessas alterações, por exemplo, foi a exclusão de armas de fogo e munições do Imposto Seletivo.

A emenda com essa exclusão já havia passado na CCJ, mas uma outra foi reapresentada, em plenário, para que esses itens voltassem a ser sobretaxados. A medida era defendida pelo relator e senadores da base governista, mas não obteve os 41 votos necessários. Com isso, armas e munições não pagarão tributo adicional.

Outro item excluído do “imposto do pecado” foram as bebidas açucaradas, como sucos e refrigerantes industrializados. Foi mantida no parecer de Braga, e confirmada em plenário, a isenção para 22 produtos da cesta básica, incluindo carnes e queijos.

Os senadores seguem analisando os destaques. Ao final da votação, o projeto voltará à Câmara dos Deputados, que poderá manter ou retirar pontos aprovados pelos Senado, dando a palavra final sobre a regulamentação.

*Texto em atualização.



Leia Mais: Agência Brasil



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Esposa de homem de Wisconsin acusado de falsificar seus próprios arquivos de óbito para divórcio | Wisconsin

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Esposa de homem de Wisconsin acusado de falsificar seus próprios arquivos de óbito para divórcio | Wisconsin

Maya Yang and agencies

A esposa do Wisconsin O homem que supostamente fingiu a própria morte e fugiu para a Europa Oriental pediu o divórcio, de acordo com os autos do tribunal online.

Revisados ​​​​pela Associated Press, os registros judiciais online revelaram que Emily Borgwardt entrou com uma petição de divórcio contra Ryan Borgwardt, seu marido e pai de três filhos, no tribunal do condado de Dodge, em Wisconsin.

Os registros descreveram o casamento de 22 anos dos Borgwardt como “irremediavelmente rompido” e acrescentaram que Emily Borgwardt está buscando a custódia exclusiva de seus três filhos, a Associated Press relatórios.

A petição de divórcio de Emily Borgwardt surge depois que Ryan Borgwardt começou a se comunicar com as autoridades policiais em novembro, após um desaparecimento de três meses.

A investigação subsequente da polícia revelou que Ryan Borgwardt fingiu a própria morte em meados de agosto, fingindo se afogar no Lago Verde de Wisconsin – que ele disse ele escolheu porque era o lago mais profundo do estado – virando o caiaque, descartando o telefone e remando até um barco inflável próximo.

Ryan Borgwardt viajou então para Madison, onde disse que pegou um ônibus para Detroit, depois outro ônibus para Toronto antes de pegar um vôo para Paris e depois viajar para um país do Leste Europeu.

pular a promoção do boletim informativo

De acordo com uma queixa criminal contra ele analisada pela Associated Press, ele disse que uma mulher o pegou e eles passaram vários dias juntos em um hotel antes de ele fixar residência no país do leste europeu de Geórgia.

Um análise da trilha digital de Borgwardt pelas autoridades policiais revelou que Ryan Borgwardt planejava viajar para a Europa e então tentou enganar os investigadores.

No dia em que ele desapareceu, o disco rígido de um laptop vinculado a Ryan Borgwardt foi substituído e todos os navegadores da Internet foram limpos, relata a Associated Press, acrescentando que os investigadores encontraram fotos de passaporte, perguntas sobre transferência de fundos para bancos estrangeiros, comunicação com uma mulher de Uzbequistão bem como uma apólice de seguro de vida de US$ 375 mil que ele fez em janeiro.

Desde o retorno de Ryan Borgwardt aos EUA, ele foi acusado de contravenção por obstrução da busca por seu corpo, que durou mais de 50 dias e envolveu vários mergulhos do pessoal de busca em Green Lake.

De acordo com Para o gabinete do xerife do condado de Green Lake, a busca por Ryan Borgwardt custou pelo menos US$ 35 mil.



Leia Mais: The Guardian



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Macron da França deve nomear novo primeiro-ministro na sexta-feira | Notícias

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Macron da França deve nomear novo primeiro-ministro na sexta-feira | Notícias

O gabinete do presidente francês diz que um novo primeiro-ministro será nomeado na manhã de sexta-feira, após a renúncia de Michel Barnier na semana passada.

O presidente francês, Emmanuel Macron, nomeará um novo primeiro-ministro na manhã de sexta-feira, informou seu gabinete.

“A declaração que nomeia o primeiro-ministro será publicada amanhã de manhã”, disse o palácio presidencial do Eliseu na quinta-feira, depois de Macron ter regressado mais cedo de uma viagem à Polónia.

O novo primeiro-ministro substituirá Michel Barnier, que renunciou na semana passada depois de legisladores de extrema direita e de esquerda terem votado pela derrubada do seu governo, mergulhando a França na sua segunda grande crise política em seis meses.

Barnier deixou o cargo após apenas três meses no cargo – o mandato mais curto de qualquer primeiro-ministro na história moderna da França.

Todos os candidatos amplamente divulgados até agora encontraram objecções de pelo menos um lado do espectro político.

A suposta principal escolha de Macron, o veterano centrista François Bayrou, suscita arrepios à esquerda – que tem receio de dar continuidade às políticas do presidente – e à direita, onde não é querido pelo influente antigo presidente Nicolas Sarkozy.

Além de Bayrou, os candidatos a primeiro-ministro incluem o ex-primeiro-ministro socialista Bernard Cazeneuve, o atual ministro da Defesa, Sebastien Lecornu, um leal a Macron, e o ex-ministro das Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian.

O nome Roland Lescure também está a ser discutido nos meios de comunicação social – Lescure é um antigo ministro da Indústria, mas a nomeação do antigo socialista correria o risco de inflamar a direita.

A queda do governo pressionou Macron depois que ele ligou eleições antecipadas no início deste ano, o tiro saiu pela culatra. Os partidos da oposição exigiram mesmo a demissão de Macron no meio da crise política e económica, com um orçamento para 2025 ainda não aprovado pelo parlamento.

No entanto, o presidente, num discurso televisivo, disse que permanecerá no cargo “até ao final” do seu mandato de cinco anos, até maio de 2027.

Raiva pública sobre a crise

As sondagens indicam que o público francês está farto da crise. Pouco mais de dois terços dos entrevistados numa sondagem Elabe publicada na quarta-feira afirmaram querer que os políticos cheguem a um acordo e não que derrubem um novo governo.

Mas a confiança é limitada, com aproximadamente o mesmo número a afirmar não acreditar que a classe política possa chegar a um acordo.

Numa sondagem separada da IFOP, Marine Le Pen, figura de proa da extrema-direita do Rally Nacional (RN), foi creditada com 35 por cento de apoio na primeira volta de uma futura eleição presidencial – bem à frente de qualquer provável adversário.

Ela disse que “não está infeliz” com o fato de seu partido de extrema direita ter sido deixado de fora das negociações em torno do governo, parecendo, por enquanto, se beneficiar do caos em vez de sofrer a culpa por ter derrubado o voto de desconfiança da semana passada. a linha.



Leia Mais: Aljazeera

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