Yuri Eiras
O percentual de brasileiros que veem as mudanças climáticas como um risco imediato aumentou nos últimos meses, chegando a 60% após a crise das queimadas no país, aponta pesquisa Datafolha divulgada neste domingo (20).
Em junho, o percentual de brasileiros que viam as mudanças no clima como risco imediato ao planeta era de 52%.
A nova pesquisa ouviu 2.029 pessoas com 16 anos ou mais, em 113 municípios, nos dias 7 e 8 de outubro. A margem de erro é de dois pontos, para mais ou menos, e o nível de confiança é de 95%.
Como houve aumento no percentual de brasileiros que dizem ver as mudanças climáticas como uma urgência, a fatia dos que entendem os eventos extremos como um risco para as pessoas que viverão daqui a muitos anos caiu de 43%, em junho, para 32% em outubro.
Outros 7% entendem que as mudanças climáticas não são um risco. Em junho, eram 5%. Não souberam responder 2% dos entrevistados, ante 1% em junho.
A pesquisa é realizada no momento em que o Brasil vive a pior estiagem em 75 anos, segundo o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), e dois meses desde que a fumaça gerada por incêndios florestais começou a encobrir boa parte do país.
O aumento na percepção de risco imediato em razão das mudanças no clima foi mais acentuado nas regiões Sudeste e Centro-Oeste/Norte. No Sudeste, o percentual saltou de 52%, em junho, para 64% em outubro. No Centro-Oeste/Norte, foi de 53% para 65%.
Agosto teve mais de 68 mil focos de incêndio em todo o Brasil, enquanto setembro ultrapassou 83 mil, segundo dados do sistema BD Queimadas, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Os estados que mais queimaram nos primeiros nove meses de 2024 foram Mato Grosso (55 mil km²), Pará (46 mil km²) e Tocantins (26 mil km²).
No acumulado do ano, uma área comparável ao estado de Roraima foi queimada no Brasil.
A discussão ambiental já havia pautado o primeiro semestre de 2024, com a destruição causada pelas enchentes no Rio Grande do Sul. Fortes chuvas inundaram ao menos 364 dos 497 municípios gaúchos, e mais de 180 pessoas morreram.
A pesquisa Datafolha divulgada neste domingo também indica que o desempenho do governo Lula (PT) na gestão do meio ambiente é reprovado por 40% dos brasileiros. Outros 29% aprovam a condução da gestão petista no tema, e 29% a consideram regular. Não souberam responder 3% dos entrevistados.
De modo geral, sem levar em consideração apenas o recorte ambiental, a gestão do presidente Lula é aprovada por 36% dos brasileiros, segundo pesquisa Datafolha divulgada em 11 de outubro. Outros 32% a reprovam, 29% a consideram regular e 2% dos entrevistados não souberam responder.
O cenário é de estabilidade em comparação ao levantamento anterior, do fim de julho. Ali, o petista marcava 35% de ótimo e bom, 33% de ruim e péssimo e 30% de regular.
Na questão ambiental, a reprovação do governo Lula é maior no Centro-Oeste e no Norte, as regiões que mais têm sofrido com a fumaça das queimadas e com o cenário extremo de seca na amazônia e no pantanal.
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Também ficam nas duas regiões os cinco estados com mais focos de calor em 2024, segundo o governo federal: Mato Grosso, Pará, Amazonas, Tocantins e Mato Grosso do Sul.
No Centro-Oeste e Norte, 50% dos entrevistados consideram a gestão ruim ou péssima na área ambiental. Também a reprovam 44% no Sul, 42% no Sudeste e 26% no Nordeste.
A volta de Lula à Presidência para o terceiro mandato foi marcada pela promessa de fortalecer a agenda ambiental, centrada na figura da ministra Marina Silva (Meio Ambiente).
Durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) houve uma explosão do desmatamento na amazônia e no cerrado.
Bolsonaro foi o presidente que menos gastou com o meio ambiente desde 2000 e promoveu no seu governo um esvaziamento de órgãos de fiscalização e gestão ambiental, como Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).
O desejo de que o Brasil lidere o debate ambiental global integrou os discursos de posse de Lula no Congresso e na Assembleia-Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), no ano passado, entre outros momentos.
Promessa de campanha, a criação da autoridade climática, função inédita no governo brasileiro, voltou a ser mencionada por Lula em setembro, em meio à crise das queimadas, mas segue sem sair do papel.
Para 2025, o país se prepara para sediar, em Belém, o principal evento mundial sobre mudanças climáticas, a COP30, conferência da ONU.