O Tribunal de Recurso de Paris confirmou, quarta-feira, 11 de dezembro, o despedimento geral proferido em outubro de 2023 na investigação sobre a inação acusada do exército francês durante os massacres de Bisesero, em Ruanda em 1994, a Agence France-Presse (AFP) soube de fontes próximas ao assunto.
“Estamos obviamente decepcionados com a rejeição de ambos os apelos, mas não é uma surpresa (tendo em vista) resistência em colocar em jogo a responsabilidade dos militares e ainda mais das autoridades públicas francesas”comentou à AFP Patrick Baudoin, advogado da Federação Internacional dos Direitos Humanos (FIDH) e da Liga dos Direitos Humanos (LDH). Com Olivier Foks, advogado da associação Survie, indicaram que era possível recorrer ao Tribunal de Cassação. Pierre-Olivier Lambert e Emmanuel Bidanda, advogados de dois oficiais de alta patente, não reagiram imediatamente.
Os magistrados da Câmara de Instrução estudaram em meados de setembro um recurso das partes civis contra o arquivamento do processo pelos juízes de instrução parisienses e a sua recusa em realizar determinados atos de investigação. Durante esta audiência, o Ministério Público solicitou a confirmação do arquivamento do processo, segundo fontes próximas do processo.
“Fracasso profundo”
Neste caso, as associações Survie, Ibuka, FIDH e seis sobreviventes de Bisesero acusam a Operação “Turquesa” e a França de “cumplicidade no genocídio”. Acusam-nos de terem abandonado conscientemente os civis tutsis que se refugiaram nas colinas de Bisesero, no oeste do Ruanda, durante três dias, permitindo que o massacre de centenas deles ocorresse por genocidas hutus, de 27 a 30 de junho de 1994.
Os dois magistrados investigadores da unidade de crimes contra a humanidade do tribunal judicial de Paris concluíram que as acusações contra os cinco soldados visados no processo, que nunca foram indiciados, deveriam ser retiradas. Após um primeiro arquivamento em setembro de 2022, a investigação foi reaberta por razões processuais ligadas à publicação do relatório da comissão presidida pelo historiador Vincent Duclert, entregue em abril de 2021, que apontou “fracasso profundo” da França durante os massacres de Bisesero.
Em meados de Novembro, o tribunal administrativo de Paris rejeitou um pedido apresentado pelas vítimas do genocídio no Ruanda visando condenar o Estado francês pela sua alegada cumplicidade na tragédia ocorrida em 1994, considerando-se “incompetente”. Um recurso deve ser interposto perante o Conselho de Estado. Segundo a ONU, os massacres instigados pelo governo Hutu deixaram mais de 800 mil mortos no Ruanda entre Abril e Julho de 1994, principalmente entre a minoria Tutsi.
O mundo com AFP