Michael Viriato
Recebi uma mensagem bastante inusitada de uma leitora. Não vou fazer comentários, apenas transcrever o texto na íntegra. Como diz na mensagem, ela pediu anonimato para não ser identificada, mas pediu que mantivesse o nome de seu companheiro como uma forma de que esta carta viesse a mudar seu comportamento financeiro.
Caro Michael,
Me chamo Carla, mas peço que não use meu nome verdadeiro. Nos últimos três anos, nosso padrão de vida caiu muito, e você sabe como são os vizinhos. A fofoca corre solta aqui no condomínio, e não quero que outros descubram minha situação.
Primeiro, queria parabenizá-lo pelo seu esforço. Depois de 37 anos escrevendo na Folha de S.Paulo, percebo que disciplina foi seu forte. Queria eu que Oswaldo tivesse tido metade dessa disciplina. Esse é o motivo desta mensagem. Espero que ele leia isso e, quem sabe, mude seu comportamento. Sim, acredite, hoje é 2054.
Me juntei ao Oswaldo há cerca de dez anos. Ele tinha 55 anos na época. Os primeiros oito anos foram uma maravilha. Sou amante da vida boa. Acordar cedo não é comigo. Gosto de descansar, comer bem, cochilar no meio do dia, fazer um pouco de exercício e dar algumas voltas no condomínio. No início, tudo estava bem. Até o momento em que Oswaldo chegou àquilo que chamam de aposentadoria. Já notava a preocupação dele.
Ele sempre leu sua coluna. Eu não. Prefiro a coluna do Marcão (Cozinha Bruta) e a da Silvia Haidar (Gatices). Sim, eles também escrevem até hoje, e o conteúdo tem mais a ver comigo. Nunca gostei nem entendi de investimento, por isso, nem sei o que você deveria recomendar para seus leitores.
Mas tenho algumas críticas e sugestões.
Você errou, e isso está causando problemas para mim hoje.
Você acreditava que o INSS ajudaria na renda. O Oswaldo acreditou em você. Mas, hoje, não tem mais INSS. Quem poupou pode ter alguma aposentadoria. Como ele não poupou, não só nosso padrão de vida caiu como estamos tendo de vender a nossa casa. Oswaldo disse que não está dando para pagar o condomínio. Eu tenho falado para os vizinhos que vamos para uma maior, mas vamos ter de mudar para uma menor. Detesto ambientes apertados.
Quem está nos ajudando é o filho do Oswaldo. Não gosto dele e acho que ele nunca gostou de mim. Sempre que eu chegava perto para cumprimentar ele se afastava.
Oswaldo se sente mal em receber a ajuda do filho e fica de mau humor. Muitas vezes, esse sentimento acaba sobrando para mim. Mas fazer o quê? Vou para o meu canto.
E aqui vai minha maior crítica: você deveria ter sido mais incisivo nas recomendações de poupança. O ponto é que o Oswaldo viveu bem e gastou tudo com as outras. Agora está sobrando para mim e justamente no fim de minha vida. Sim, indivíduos de minha espécie vivem apenas cerca de 13 anos. Eu já estou com 11.
Talvez você esteja confuso sobre quem está escrevendo. Vou explicar. A inteligência artificial permitiu a nós, gatos, nos comunicarmos com humanos. Não consigo entender como meus antepassados faziam para conviver sem essa tecnologia.
Então, Oswaldo, se você estiver lendo: deixe de se comportar como gatos e poupe.
Com esperança,
Carla.”
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