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Ditador se reelege em votação contestada na Venezuela

Ditador recebeu dois terços dos votos, em pleito em que 54% do eleitorado não foi às urnas

Em votação marcada pelo baixo comparecimento e não reconhecida pelo seu principal adversário, o ditador venezuelano, Nicolás Maduro, 55, foi reeleito neste domingo (20) para um novo mandato de seis anos, segundo o CNE (Conselho Nacional Eleitoral).

Com 92,6% das urnas apuradas, o chavista obteve mais de 5,8 milhões, ou 68% dos votos válidos, contra pouco mais de 1,8 milhão (21%) para o oposicionista Henri Falcón.  Em terceiro, ficou o pastor evangélico Javier Bertucci, com 925 mil (11%).



A abstenção chegou a 54%. Na eleição presidencial anterior, em 2013, esse percentual foi de 20,3%. 

“Obrigado por me fazer presidente da República Bolivariana da Venezuela no período 2019-2025”, disse Maduro, no discurso da vitória, no Palácio de Miraflores. “Quanto me subestimaram, e aqui estou.”

A vitória oficialista ocorre apesar de o seu governo ser rechaçado pela maioria da população, segundo as pesquisas de opinião mais confiáveis, que colocavam o ex-chavista Falcón como favorito.

Pouco antes do anúncio do resultado, Falcón acusou Maduro de usar a máquina estatal para vencer o pleito. “Não reconhecemos este processo eleitoral. Para nós, não houve eleições, é preciso fazer novas eleições na Venezuela.”

Em resposta, Maduro chamou o opositor de “falsón” por não aceitar a derrota. “É uma falta de respeito contra você, compatriota.”

Com o resultado, o chavismo, no poder desde 1999, aparenta ganhar uma sobrevida, em meio à mais grave crise econômica da história venezuelana. 

O triunfo de Maduro diminui as chances de a Venezuela reverter seu agudo processo de deterioro. Em recessão desde 2013 —e com uma hiperinflação de quase 14.000%, a penúria do país tem levado centenas de milhares de pessoas a emigrar, fugindo da fome e da violência. 

Sem a participação dos principais líderes oposicionistas, declarados inelegíveis, a eleição de domingo não é reconhecida pela União Europeia, pelos EUA, pelo Canadá e pela Colômbia, entre outros países.

O Brasil, que teve seu embaixador expulso de Caracas em dezembro, vem criticando a escalada autoritária na Venezuela e não reconhece a legitimidade do pleito, mas avalia que precisa manter um relacionamento mínimo para tratar de temas bilaterais com o país vizinho.

Em 14 de maio, o Grupo de Lima, do qual o Brasil faz parte, exortou a Venezuela a suspender a eleição por não ter a participação de toda a oposição e pela falta de observadores internacionais independentes, entre outros problemas. 

O dia foi marcado pela pouca presença de eleitores nos centros de votação, mesmo nos redutos chavistas.

“O que a gente ganha não dá nem pra comer, quem vai se entusiasmar com essa eleição?”, disse o pintor de carros Jesús Pereira, 80, registrado no liceu Manuel Palacio Fajardo, o mesmo do presidente Hugo Chávez, morto em 2013.

Morador do bairro 23 de Enero, maior bastião do chavismo do país, Pereira afirmou que “todos estão saindo do país como os pássaros. Quem pode, vai embora.”

A movimentação de eleitores era mínima no local pela manhã. A reportagem da Folha contou apenas 29 pessoas entrando no prédio do liceu entre as 8h03 e as 8h13. 

Desses, oito desembarcaram da boleia de um caminhão da Fontur (Fundo Nacional de Transporte Urbano), do governo federal. A prática é ilegal pela lei eleitoral. 

A maioria dos eleitores era de idosos. Após votar, eles se dirigiam ao Ponto Vermelho, instalado do outro lado da rua, sob um pequeno toldo. Ali, funcionários escaneavam a Carteira da Pátria, com o qual o portador tem acesso a cestas básicas, atenção médica, entre outros benefícios e serviços públicos. 

Numa tentativa para atrair eleitores, Maduro prometeu pagar um bônus a quem apresentasse a Carteira da Pátria nos Pontos Vermelhos, montados perto e até mesmo dentro dos centros de votação. Segundo relatos dos próprios eleitores, o valor será de 10 milhões de bolívares (US$ 11)

Vestida com uma calça estampada com a bandeira venezuelana, a chavista Milagros Ramírez, 53, disse que a falta de filas se devia ao processo mais rápido de votação.

Ela atribui a crise econômica venezuelana aos empresários, que estariam promovendo uma guerra econômica contra o chavismo. “Isso não está fácil, mas temos de continuar apoiando do governo”, diz a técnica de recursos humanos aposentada por invalidez.

Após votar, o principal candidato da oposição, o dissidente chavista Henri Falcón exortou o CNE (Conselho Nacional Eleitoral), servil ao governo, a fechar os Pontos Vermelhos, acusando-os de “mecanismo de controle” dos eleitores.

“Exigimos jogo limpo e transparência”, acusou o ex-governador de Lara, que lidera as pesquisas de opinião mais confiáveis. “Não podemos permitir essa chantagem.”

O CNE, no entanto, não tomou nenhuma medida sobre os Pontos Vermelhos, que vêm sendo usados pelo chavismo em eleições recentes.

Na zona leste de Caracas, zona antichavista que concentra bairros de classe média e alta da capital venezuelana, os centros de votação pareciam ainda mais vazios. 

A falta de eleitores se deve em parte à campanha da coalização oposicionista MUD (Mesa da Unidade Democrática) pela abstenção. Seus principais líderes, Henrique Capriles e Leopoldo López, foram impedidos de concorrer.

No Colégio San Ignacio, no bairro nobre La Castellana, apenas dez eleitores apareceram para votar entre as 9h29 e as 9h39 —um por minuto. Ali, não havia um Ponto Vermelho.

“Não que eu goste de Falcón, mas a outra opção é uma fantasia de que os EUA vão invadir a Venezuela. Isso não vai acontecer”, diz o advogado Henrique Castillo, 41.

Em tom de brincadeira, disse que sua mulher deixou de falar com ela porque decidiu votar. “Mas não creio que a abstenção seja uma demonstração de força.” Por Fabiano Maisonnave.

Brasil não reconhece reeleição de Maduro; oposição venezuelana fala em fraude eleitoral

Governo da Venezuela

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro

O chefe de Estado venezuelano foi declarado vencedor das eleições presidenciais deste domingo (20) pela autoridade eleitoral, com quase 70% dos votos, depois de contabilizados quase todos os votos.

Nicolás Maduro obteve 67,7% dos votos, contra os 21,2% do principal adversário, Henri Falcon, anunciou a presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela, Tibisay Lucena, que afirmou se tratar de uma “tendência irreversível”.

Segundo o G1, o Grupo de Lima, formado por 14 países das Américas, incluindo o Brasil, declarou nesta segunda-feira (21) que não reconhece a legitimidade das eleições presidenciais na Venezuela, e que os países irão convocar seus embaixadores em Caracas para expressar protesto. Outros países condenaram a reeleição de Maduro, enquanto Rússia e Bolívia apoiaram.

De acordo com o CNE, Maduro foi reeleito com 5.823.728 votos, tendo sido registrados um total de 8.603.936 votos válidos, que correspondem a uma participação de 46% dos 20.527.571 eleitores.

Apesar de reeleito, Maduro perdeu 1.763.851 votos, em relação a 2013, ano em que foi eleito sucessor do antigo presidente Hugo Chávez (que presidiu o país entre 1999 e 2013) com 7.587.579.

Henri Falcon obteve 1.820.552 votos. O pastor evangélico Javier Bertucci 925.042 e o engenheiro Reinaldo Quijada 34.6714 votos, indicou o CNE.

Pouco antes do anúncio, Falcon tinha declarado que não irá reconhecer os resultados e exigiu a repetição das eleições em outubro próximo. “Não reconhecemos esse processo eleitoral como válido”, afirmou.

Segundo a BBC, o candidato opositor acusa o governo de influenciar a votação através do Carnet de la Patria, o documento que permite aos venezuelanos recolher benefícios estatais e utilizar os serviços públicos.

Foram instaladas 34.143 mesas eleitorais em 14 mil centros de votação da Venezuela.

Funcionários do governo escanearam os cartões perto dos pontos de votação e Maduro prometeu que quem votasse nele neste domingo teria direito a um benefício extra, escreve a emissora britânica.

Desta forma, a oposição acusa o governo de compra de votos. O país tem vivido uma das piores crises da sua história, com escassez de produtos e hiperinflação, com os venezuelanos dependendo fortemente da assistência governamental. Em algumas partes do país, 70% das crianças estão desnutridas.

300 mil soldados das Forças Armadas Venezuelanas têm a missão de garantir a segurança do material eleitoral e dos centros de votação, ao abrigo da operação Plano República, na qual participa também o Ministério Público da Venezuela.

“O povo da Venezuela se pronunciou e pedimos a todos, nacionais e internacionais, que respeitem os resultados eleitorais e o povo da Venezuela, que decidiu e decidiu em paz”, disse Tibisay Lucena.

As eleições presidenciais antecipadas decorreram “como sempre foi a tradição do povo da Venezuela, com grande tranquilidade e civismo”, acrescentou.

Com muitos candidatos impossibilitados de concorrer ou presos, a oposição diz que o atual processo não tem legitimidade e que há indícios para desconfiar de fraude eleitoral. Diversos países, como os EUA e a Argentina, já disseram que não vão reconhecer o resultado destas eleições. Por Ciberia.

 
 
 

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