A pirâmide que adorna o topo da One Canada Square, a icônica torre de Canary Wharf, em Londres, pisca levemente sob o céu chuvoso. Bem ao lado, um prédio adornado com o logotipo do HSBC está apenas parcialmente iluminado. O edifício atribuído ao Citibank está em reforma. Ao pé desses mundos de vidro azul, alguns trabalhadores fazem fila em frente a uma coleção de food trucks.
“Só tem gente de terça a quinta, diz Alex, um banqueiro de 39 anos. Outros dias, é como trabalhar em uma selva deserta de concreto. » Rosa-Maria, que tem uma loja de massas frescas, optou por adaptar o seu horário de funcionamento. “Fecho às 14h30 porque não tem ninguém lá à noite”ela confidencia.
Canary Wharf, um distrito financeiro situado numa enseada do Tâmisa, foi criado no final da década de 1980 por iniciativa de Margaret Thatcher, que queria revitalizar as antigas docas. Desenvolvido pelo magnata imobiliário canadense Paul Reichmann, foi adquirido em meados da década de 1990 pelo Canary Wharf Group, uma entidade de propriedade do fundo soberano do Qatar e da empresa de gestão de ativos Brookfield.

“Não há outro exemplo na Europa de um distrito financeiro dominado por um único ator”sublinha Marie Dormeuil, especialista imobiliária da Green Street. Só o Grupo Canary Wharf possui 47% dos edifícios desta área, representando uma área de mais de 715.000 metros quadrados.
Desenvolvimento do teletrabalho
Recentemente, porém, o grupo encontrou dificuldades. Em meados de setembro, a agência Fitch desceu a classificação da sua dívida para a categoria “especulativa”, temendo que teria dificuldades para refinanciar uma dívida de 4,2 mil milhões de libras esterlinas (5 mil milhões de euros), parte da qual expira em 2025 e 2026. “A subida das taxas de juro no Reino Unido aumentou o custo da dívida ao mesmo tempo que provocou uma desvalorização dos seus activos imobiliários”explica M.meu Dormeuil. Em 2023, o valor da sua carteira imobiliária perderá 1,2 mil milhões de libras, para 6,8 mil milhões de libras.
Em paralelo, a empresa sofreu um êxodo. O HSBC abandonará sua torre de 45 andares em 2027, em favor de um escritório menor na cidade. O escritório de advocacia Clifford Chance seguirá em 2028. Moody’s e Credit Suisse também anunciaram planos de saída, enquanto o Barclays e o Citigroup reduzirão sua presença. Porém, em março, a taxa de vacância já se situava nos 15,2%, segundo a imobiliária CoStar.
Canary Wharf tem sofrido com o desenvolvimento do teletrabalho desde a pandemia de Covid-19. Em Londres, os funcionários passam em média 2,7 dias por semana no escritório, em comparação com 3,5 dias em Paris e 3,1 dias em Nova Iorque. “Isso forçou as instituições financeiras a reduzir seu espaço de escritóriosobserva Peter Bishop, planejador urbano da University College London. Neste contexto, a Cidade, bairro mais animado e acessível, surge como um destino de primeira escolha. »
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