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Em tempos de guerra, como lidar com o luto coletivo

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ZAP // DALL-E-2

As dores das guerras e de tantas tragédias chegam pelas TV, pelas janelinhas dos celulares, pela conversa do grupo, pelos gritos ou pelo silêncio diante do que é difícil assimilar e traduzir. Complicado de falar e de sentir.

O luto coletivo, segundo especialistas, pode ser simbólico, mas é concreto, que faz doer até o corpo. Nesta quinta (2) o feriado de Finados adquire também significados de reflexão para quem busca lidar com o sofrimento presente na esquina de casa ou mesmo do outro lado do mundo.

“Quando estamos vivenciando guerras, pandemias, passamos a vivenciar perdas simbólicas e concretas coletivamente. Mesmo não conhecendo as pessoas que estão morrendo, nos conectamos com suas histórias e vivenciamos suas dores e perdas”, explica a psicóloga Samantha Mucci. Ela é pesquisadora do tema e coordenadora do Programa de Acolhimento ao Luto (Proalu), e professora do Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

A especialista contextualiza que as imagens das guerras expostas diariamente nos remetem a vivências de insegurança, sofrimento, ansiedade e instabilidade presentes na nossa história. “Impossível não nos afetarmos coletivamente. Esse luto coletivo vai além da empatia, da compaixão e da solidariedade. Lembro da imagem de uma criança olhando para os escombros e corpos em sua frente com olhar assustado e cheio de lágrimas que me marcou muito”, exemplifica a professora Samantha Mucci.

A imagem fez com que a professora chorasse recentemente. “Pela humanidade, pelas guerras que já vivemos, pela minha criança interior, pelas minhas perdas, pelos meus lutos já vividos”, diz a professora.

Múltiplas perdas

Para a psicóloga clínica Keyla Cooper, também especializada em luto, o momento de múltiplas perdas atravessa o nosso dia a dia de uma maneira muito significativa, sejam pelas informações que chegam da guerra no Oriente Médio, mas também pelos desequilíbrios causados pelas mudanças climáticas, pelas misérias e fome visíveis.

“O tempo todo a gente se enfrenta com o limite da humanidade. De uma maneira geral, esses problemas afetam aquilo que a gente projeta para o nosso futuro”, explica a professora universitária em Brasília, que é pesquisadora da Universidade de Strathclyde (Glasgow – Escócia).

A instabilidade de pensar no amanhã teve, na avaliação das pesquisadoras ouvidas pela Agência Brasil, um momento-chave que foi a ocorrência da pandemia de coronavírus. Depois, o mundo viu eclodir as guerras da Ucrânia e do Oriente Médio, com mortes de civis. “A previsibilidade da vida foi profundamente abalada”, diz Keyla Cooper. As professoras esclarecem que o luto não é só um processo emocional, mas também uma reação psicológica, emocional, cognitiva, social e espiritual diante de uma perda significativa, não necessariamente apenas de pessoas.

Para as quatro psicólogas ouvidas pela reportagem, é importante que, em quaisquer condições da vivência do luto, a pessoa possa encontrar espaços para se expressar e encontrar empatia. De buscar comunicar a própria dor e encontrar pessoas ou grupos para escutar a fim de se sentir acolhido. “É muito importante a gente refletir, enquanto sociedade, sobre o espaço que a morte tem na nossa vida, qual o sentimento diante do limite que a morte impõe”, contextualiza.

Proteção

É claro sentir a dor do outro ou de viver o luto do outro, tem relação com a nossa capacidade de sermos empáticos. “Pessoas que têm um nível de empatia muito grande, certamente, vão experimentar de uma forma mais intensa a experiência do luto do outro, a experiência do luto coletivo”, ressalta a especialista em psicologia transpessoal, Cynthia Ramos, que trabalha em Brasília.

A psicóloga clínica e educacional Aline Oliveira, que atua em São Paulo, defende que é importante também procurar respeitar a necessidade de silêncio interno que pode ocorrer em alguns momentos de luto. “Se sentir necessário, procurar lugares preparados para falar sobre o assunto, seja em grupos que trabalham com o luto, a psicoterapia individual, ou pessoas próximas de confiança”, aconselha.

Nesse sentido, ela explica que falar abertamente é uma forma de expressar a dor, e pode encontrar um lugar de amparo ao dividir e compartilhar os sentimentos com outras pessoas. “A dor do luto precisa ser vivenciada, reconhecida e respeitada”.

Em suma, a pesquisadora Samantha Mucci concorda que o cuidado deve envolver acolhimento. “Apesar de cada pessoa viver de seu jeito e no seu tempo o processo de luto, é muito bom quando temos com quem compartilhar as histórias que vivemos. “Como pretendemos conviver com a presença da ausência”.

Bombardeados

É importante ainda, de acordo com Keyla Cooper, identificar fatores de sofrimento, como o consumo muito imediato de notícias que são difíceis de se lidar. “A forma como recebemos informações pode ter uma implicação na saúde mental muito significativa. Eu penso que a mídia tem um papel muito importante. É importante veicular as informações, mas eu acho que é importante refletir sobre o como veicular essas notícias.”

Nesse sentido, a especialista em psicologia transpessoal, Cynthia Ramos, enfatiza que, de fato, cada um de nós pode e deve se cuidar. “Quando se trata de um evento de grande magnitude, como guerras, primeiro, não devemos ignorar o que está acontecendo no mundo porque não é a alienação que vai nos proteger. Mas também é importante estarmos atentos a não permitir que sejamos bombardeados ou superexpostos às notícias, às vezes muitas vezes repetitivas”, diz.

Atenção aos sinais

As psicólogas identificam que sintomas físicos podem ser importantes para identificar como ocorre a elaboração de luto. Podem haver, segundo as especialistas, processo de sofrimento manifestação de ansiedade, com raros momentos de prazer e de distração. “Isso pode ser uma demanda para procura de um psicólogo, inclusive se a pessoa constatar sintomas físicos como taquicardia, sudorese e problemas no trato digestivo”, diz a psicóloga Keyla Cooper.

Outros sinais que a pessoa deve ficar atenta é a dificuldade de concentração, apatia, alteração no apetite e no sono. “Alguns sintomas físicos como enxaquecas, náuseas, muita dificuldade de realizar até mesmo os cuidados básicos de higiene como tomar banho e escovar os dentes”, diz a psicóloga Samantha Mucci.

Dos olhos

Segundo Samantha Mucci, da Unifesp, o processo de luto precisa ser vivenciado e ressignificado pela pessoa que está enlutada, pela família, por todos que estão sentindo a perda de alguém ou de algo significativo. “Muitas vezes evitamos e não nos sentimos preparados para lidar com a expressão dos sentimentos relacionados ao processo de luto como a tristeza, sentimento de abandono, a raiva, o sentimento de culpa e pesar, o choro”.

Por isso, chorar e se manifestar são tão fundamentais, conforme avaliam as psicólogas. “Chorar é um processo importante de elaboração dessas emoções. É através do choro e da expressão dos sentimentos que podemos parar para pensar no que está sentindo. Não tem como a gente pular essa etapa”, diz Keyla Cooper.

Afinal, estão envolvidos sentimentos muito particulares que são íntimos e não costumam ser a tônica de postagens em redes sociais preocupadas em propagar ilusões de felicidades permanentes. Como diz a professora da Unifesp, são sentimentos reais “e precisam de espaço, tempo e permissão para serem reconhecidos e vividos”.




Leia Mais: Cibéria

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Entenda o que é morte encefálica e se quadro é reversível – 06/03/2025 – Equilíbrio e Saúde

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Entenda o que é morte encefálica e se quadro é reversível - 06/03/2025 - Equilíbrio e Saúde

Andreza de Oliveira

Após sofrer um acidente de carro e ter a morte encefálica atestada, o jogador sub-20 Pedro Severino, 19, do Red Bull Bragantino, teve o diagnóstico revertido depois de apresentar um quadro de reflexo de tosse persistente.

Em nota, o Hospital Municipal Dr. Waldemar Tebaldi, em Americana (SP), onde o jogador estava internado informou ter interrompido o protocolo de morte encefálica, mas que o jovem continuará com sedação e ventilação mecânica. Ele foi transferido na manhã desta quinta-feira (6) para a Unimed de Ribeirão Preto, para continuidade de tratamento.

O protocolo do jogador foi iniciado às 16h30 da terça-feira (4). Segundo o hospital, será retomado caso Severino não apresente mais reflexos.

Raphael Ribeiro Spera, médico neurologista do Hospital Sírio Libanês e membro da ABN (Academia Brasileira de Neurologia), explica o que é a morte encefálica e como ocorre o protocolo que decreta este estado.

O que é morte encefálica

Para ser decretada morte encefálica, o paciente tem que ter passado por um trauma grave, como acidentes automobilísticos, parada cardiorrespiratória, meningite grave, entre outros problemas que comprometam o funcionamento das funções cerebrais.

“Geralmente, é uma agressão cerebral significativa, intensa e que leve o paciente a estado de coma arresponsivo”, explica Spera. O quadro de coma arresponsivo acontece sem sedação e que, mesmo com estímulos, o paciente não responde.

Dentre os estímulos feitos estão os auriculares (nos ouvidos), nos dedos das mãos e pés e na sobrancelha. O paciente em morte encefálica também não pode ter nenhum fator tratável e tem que estar em observação no hospital por, pelo menos, seis horas, o que influencia no prazo para diagnóstico.

Etapas do protocolo de morte encefálica

Após a série de testes iniciais, o paciente é submetido a uma avaliação para constatar a morte encefálica. Segundo Spera, geralmente o primeiro passo é feito com um exame de neuroimagem, como tomografia ou ressonância, que consegue mostrar a gravidade da lesão no cérebro.

O exame de imagem avalia as três estruturas do tronco encefálico e, a partir do resultado do exame, é discutido se é hora de abrir ou não o protocolo de amortização.

“Se houver comprometimento, na segunda parte checamos as pupilas com estímulo de soro gelado nos olhos para ver se o paciente pisca. Também viramos a cabeça para um lado e para o outro para ver se os olhos se movimentam”, completa.

O terceiro teste é o de apneia, que só precisa ser feito uma vez. Nele o paciente fica desconectado do ventilador, mas continua recebendo oxigênio. Todas as etapas são repetidas por um outro profissional capacitado dentro de uma hora.

Em cada país existe uma regra para avaliação das etapas deste protocolo. No Brasil, ao menos dois profissionais diferentes fazem os exames para constatar a morte encefálica. A pessoa capacitada para esse tipo de diagnóstico pode ser neurologista ou intensivista e tem que ter feito um curso específico de capacitação.

O último passo, quando o primeiro e o segundo são positivos, consiste ainda em um exame comprobatório de fluxo cerebral.

Em quais casos o diagnóstico é retirado?

Em alguns casos, por falta da quantidade ideal de profissionais adequados a fazerem o diagnóstico, é comum que a comprovação de morte encefálica demore algumas horas ou dias a mais.

“Pessoas com lesões cerebrais irreversíveis ainda podem sobreviver por alguns dias, mas em algum momento o quadro evolui invariavelmente a óbito por conta das estruturas do cérebro que controlam, por exemplo, a temperatura, o índice de sódio, a diurese, que são coisas que passam a ser comprometidas”, completa Spera.

Em casos de sobrevivência após um dano cerebral grave é comum que o paciente viva em estado vegetativo, segundo o especialista.



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Briefing da Guerra da Ucrânia: as negociações dos EUA-Ucrânia acontecem na Arábia Saudita na próxima semana, diz Zelenskyy. Ucrânia

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Briefing da Guerra da Ucrânia: as negociações dos EUA-Ucrânia acontecem na Arábia Saudita na próxima semana, diz Zelenskyy. Ucrânia

Guardian staff and agencies

  • O presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy disse As conversas entre a Ucrânia e os EUA no final da guerra ocorrerão na Arábia Saudita na próxima semana. Em seu discurso noturno na quinta -feira, Zelenskyy disse que viajaria para a Arábia Saudita na segunda -feira e sua equipe permaneceria para manter conversas conosco. “A Ucrânia está mais interessada em paz”, disse Zelenskyy.

  • Os líderes europeus tiveram negociações de emergência em Bruxelas onde eles endossou um plano para mobilizar € 800 bilhões para defesa européia. Presidente da Comissão da UE, Ursula von der Leyen, que fez a proposta, Chamado de um “momento decisivo”.

  • O acordo foi feito no mesmo dia em que Donald Trump disse que o Nós não podemos defender aliados da OTAN que não contribuíram com sua parte dos gastos com defesa. “Acho que é bom senso”, disse ele a repórteres. “Se eles não pagarem, não vou defendê -los.”

  • Os líderes da oposição da Ucrânia confirmaram Eles tiveram discussões com membros da comitiva de Trumpmas negou que eles fizessem parte de uma parcela relatada da Casa Branca para remover Zelenskyy do poder.

  • Petro Poroshenko, ex -presidente ucraniano que perdeu para Zelenskyy nas eleições de 2019, disse que participou das negociações, mas Opuu as demandas de Trump por eleições em tempo de guerra.

  • Presidente francês Emmanuel Macron dobrou em suas críticas a Vladimir Putin, Chamá -lo de “um imperialista que procura reescrever a história” depois que o presidente russo pareceu compará -lo a Napoleão Bonaparte.

  • Macron disse que foi abordado por outros líderes o dia todo em Bruxelas sobre seu recente oferta para estender a dissuasão nuclear francesa e que ele espera ver a cooperação até o final da primeira metade de 2025.

  • A Rússia vê os comentários do presidente Emmanuel Macron sobre estender o dissuasão nuclear da França a outros países europeus como uma “ameaça”disse o ministro das Relações Exteriores Sergei Lavrov na quinta -feira. Lavrov também reafirmou a oposição de seu país às forças européias sendo destacadas na Ucrânia se um acordo fosse feito para interromper o conflito.

  • Zelenskyy, que estava nas negociações em Bruxelas, apresentou “propostas práticas” para líderes europeus e da OTAN para terminar a guerra, Começando com um cessar -fogo no céu e no marincluindo a interrupção de todas as operações militares no Mar Negro.

  • A Grã -Bretanha continuará a fornecer inteligência à Ucrânia, Fontes disseram ao The Guardian, depois que o governo Trump disse que os EUA deixariam de fazê -lo.

  • O Reino Unido também continuará fornecendo sua análise dos dados brutos, disseram fontes, embora de acordo com a prática normal de inteligência não simplesmente transmitirá as informações obtidas por meio de acordos de compartilhamento há muito estabelecidos entre os dois países.

  • As forças russas foram lançadas Um novo ataque de drones em massa ao porto do mar negro da Ucrânia de Odesa Na quinta -feira, prejudica a infraestrutura energética e desencadeando incêndios, disse o governador regional, o mais recente do que se tornou agressão diária à cidade. “Nos arredores de Odesa, três casas particulares estão em fogo e a infraestrutura de energia foi danificada”, escreveu o governador Oleh Kiper no aplicativo de mensagens do Telegram. Kiper disse que as informações sobre as vítimas estão sendo esclarecidas. As ondas de drones invadiram a cidade todas as noites desta semana.



  • Leia Mais: The Guardian

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    Pacatário ou quebra -paz? Por que a boa reputação do vizinho do Quênia é marcada | Notícias da política

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    Pacatário ou quebra -paz? Por que a boa reputação do vizinho do Quênia é marcada | Notícias da política

    Em um dia da semana em fevereiro, políticos e militares se reuniram em um centro de eventos populares no distrito comercial central de Nairóbi e chegaram a um consenso sobre a formação de um novo governo.

    Mas em vez da bandeira vermelha e preta queniana, uma sudanesa adornava o salão. No lugar dos políticos quenianos, todos sentados estavam aliados às rápidas forças de apoio do Sudão (RSF), um grupo paramilitar cuja guerra em andamento com as Forças Armadas Sudanesas (SAF) destruiu esse país.

    Um clamor maciço – do governo sudanês e do povo, bem como de vários governos estrangeiros, incluindo Turkiye e Arábia Saudita – seguiu os movimentos do RSF. No entanto, a indignação também foi direcionada ao governo queniano por seu aparente apoio ao paramilitar. O governo liderado pela SAF, atualmente com sede em Port Sudan, lembrou seu embaixador no Quênia em fevereiro. Quando o RSF se reuniu novamente em Nairobi na semana passada para assinar uma “Constituição de Transição”, o SAF não mediu palavras.

    “Essas posições claras afirmam a postura irresponsável da presidência queniana em abraçar a milícia genocida da RSF”, disse o governo liderado por Saf em comunicado no domingo, acrescentando que o Quênia era um “estado desonesto”.

    Os RSFs assinando a “fundação do Sudão” No mês passado, na verdade, abre o caminho para um governo paralelo em territórios controlados pela RSF, inclusive em partes da capital, Cartum e a região oeste de Darfur.

    Para os analistas, o fato de que uma jogada tão divisiva foi permitida em Nairóbi significa que o Quênia não é neutro.

    “Na linguagem do futebol, esse é um objetivo diplomático”, disse ao Al Halakhe Abdullahi Boru, especialista em políticas do Quênia que também trabalha para a Refugees International, ao Al Jazeera. As consequências de tal movimento na reputação do Quênia são caras e os danos “levarão um pouco para consertar”, acrescentou.

    É apenas o mais recente acidente diplomático que o governo do presidente William Ruto entrou recentemente. Os confrontos com a República Democrática do Congo (RDC) sobre a hospedagem de grupos rebeldes em Nairóbi no final de 2023 ainda estão fervendo. Analistas disseram que o posicionamento de Ruto nos dois eventos é uma reviravolta política significativa para um país visto como um líder regional imparcial, onde as negociações de paz entre as facções em guerra na Somália e ao mesmo tempo o Sudão foram realizadas.

    Mulheres e crianças sudanesas deslocadas se abrigam em um acampamento perto da cidade de Tawila, em North Darfur, em 11 de fevereiro de 2025 (Marwan Mohamed/AFP)

    Uma linha divisória no Sudão?

    Lutando no Sudão estourou pela primeira vez em abril de 2023, depois de Mohamed Hamdan “HamedDagalo, o líder da RSF, e o general Abdel Fattah al-Burhan, o chefe da SAF, caíram. Os dois líderes haviam participado anteriormente de um golpe que encerrou um governo de transição que incluía civis, mas uma luta de poder subsequente encerrou sua aliança.

    Mais do que 60.000 pessoas foram mortos na guerra e 11 milhões foram deslocados. Ambos os lados são acusados ​​pelas Nações Unidas de possíveis crimes de guerra nos combates. No entanto, existem alegações mais graves contra o RSF, cujos combatentes são principalmente das tribos nômades “árabes” de Darfur. A ONU disse no ano passado que o RSF havia travado uma campanha “horrível” contra o sedentário masalit de “não árabes” em West Darfur e os ataques podem ser “indicadores de genocídio”. Em janeiro, os Estados Unidos declararam que o RSF estava cometendo um “genocídio” e estava mirando as pessoas “em uma base étnica”.

    Enquanto o Egito e a Autoridade Intergovernamental de Desenvolvimento (IGAD), uma coalizão de estados do nordeste da África que inclui o Quênia e o Sudão, tentaram negociar negociações de paz, elas foram amplamente mal sucedidas.

    Após a primeira reunião de RSF em Nairobi em fevereiro, o governo do Quênia se defendeu contra a reação do Sudão e dos políticos da oposição em casa. Em um comunicado, o secretário de Relações Exteriores Musalia Mudavadi disse que Nairóbi estava de fato desempenhando um papel de pacificação.

    “A apresentação de um roteiro e a liderança proposta pelo RSF e grupos civis sudaneses em Nairobi é consistente com o papel do Quênia nas negociações de paz, o que exige que ele forneça plataformas não partidárias para que os partidos de conflito busquem resoluções”, disse Mudavadi.

    Mas alguns sudaneses discordaram. Embora houvesse grupos civis nas reuniões da RSF, incluindo algumas de Darfur, a analista político sudanês Shaza El Mahdi disse que, como o SAF não estava presente, qualquer negociação de paz seria nula.

    “Eu não compro nada”, El Mahdi disse à Al Jazeera sobre a declaração de Mudavadi. “Para o RSF, esta reunião com civis é mais uma coisa de marca para lavar sua imagem. Sinaliza grandes alarmes para nós como sudaneses porque o RSF está colocando a primeira pedra em uma linha que dividirá Darfur do resto do país. É um movimento divisivo. ”

    Além disso, o RSF provavelmente só usou Nairobi como um lançamento para gerar alguma forma de legitimidade, acrescentou o analista, que trabalha para o Centro de Empresa Privada Internacional. Esse movimento, no entanto, afetou a maneira como o sudanês percebe o governo queniano, disse ela.

    “Pessoalmente, não apoio o RSF ou o SAF porque os dois lados têm sido autores e devem enfrentar a justiça”, disse El Mahdi. “Mas então muitos povos sudaneses preferem o SAF e o veem como a melhor alternativa, e agora as pessoas acreditam que o Quênia está apoiando o RSF contra o Sudão”.

    Alguns observadores apontaram para uma “amizade” entre Ruto e Hemedti como uma possível razão para a aparente camaradagem de Nairobi com o RSF.

    Em janeiro de 2024, Ruto recebeu Hemedti, que estava em uma turnê regional e também foi recebido em Uganda e Etiópia na ira do governo SAF. Em seguida, fale de um “bromance” entre Ruto e Hemedti se intensificou depois que Ruto viajou para Juba, Sudão do Sul, para uma visita de estado em novembro. No jato presidencial com Ruto estava o irmão de Hemedti e o vice -comandante da RSF Abdulrahim Dagalo, que foi sancionado pelos EUA por seu papel na guerra.

    Outros, no entanto, apontaram para um recente acordo econômico entre o Quênia e os Emirados Árabes Unidos, cujo governo acredita -se que apoie o RSF Embora negue esse. O acordo, assinado em janeiro, verá os Emirados Árabes Unidos no Quênia. Jairobi já está esperando receber um empréstimo de US $ 1,5 bilhão para financiar déficits orçamentários que ocorreram de uma onda de empréstimos durante a administração anterior.

    Paramilitar do Sudão Rapid Support Forces Commander, General Mohamed Hamdan Daglo (Hemedti),
    As paramilitares de apoio rápido do Sudão são comandadas pelo general Mohamed Hamdan ‘Hemedti’ Dagalo (arquivo: Ashraf Shazly/AFP)

    Tropas de manutenção da paz e ‘calças de cintura alta’

    Em dezembro de 2023 de maneira semelhante ao desastre do Sudão, Nairóbi foi apresentador de líderes rebeldes da RDC, causando uma fila profunda entre os dois países, mesmo quando o governo queniano insistia que estava tentando fazer as pazes.

    Em meio ao avanço rastejante na época do M23-um grupo rebelde que a ONU disse ser apoiada por Ruanda e que apreendeu as principais cidades da DRC oriental nas últimas semanas-seu líder Bertrand Bisimwa se reuniu com Corneille Nangaa, a antiga Comissão Eleitoral da RDC que rejeitou, para anunciar uma aliança política. Suas notícias vieram do saguão de um hotel Nairobi.

    Isso surpreendeu os observadores políticos não apenas por causa de Bisimwa, mas também porque os soldados quenianos na época estavam liderando tropas de manutenção da paz da comunidade da África Oriental (EAC) para aplicar um cessar -fogo instável entre o exército da RDC e uma série de grupos armados, incluindo o M23.

    Vários problemas já haviam surgido entre Nairobi e Kinshasa sobre o M23. A RDC acusou há meses os manutenção da paz liderada pelo Quênia, que foram destacados pela primeira vez em novembro de 2022, de “coabitar” com os rebeldes.

    Isso porque Kinshasa queria que as tropas da EAC enfrentassem e parassem o M23 – sua maior dor de cabeça. Mas a força liderada pelo Quênia recusou-se a acelerar ofensivas, argumentando que seu mandato era apenas para supervisionar a retirada de grupos armados e aplicar os cessar-fogo acordados. As tensões cresceram. Em partes da RDC, protestos e tumultos eclodiram quando congolês raivosos atacaram as forças de paz da EAC e da ONU por não impedir a violência do M23. Em dezembro de 2023, o presidente congolês Felix Tshisekedi enviou as forças da EAC.

    Foi contra esse cenário que a cabeça do M23 chegou a Nairobi. Em declarações irritadas após a reunião, Kinshasa ordenou que Ruto prendesse os dois líderes rebeldes, mas esse pedido foi recusado sem rodeios.

    “O Quênia é uma democracia”, respondeu Ruto em comunicado. “Não podemos prender ninguém que tenha emitido uma declaração. Não prendemos as pessoas por fazer declarações, prendemos criminosos. ”

    Agora, apenas um ano depois, o M23 passou a aproveitar as principais cidades do leste de Goma e Bukavu. A guerra deslocou centenas de milhares de congoleses, e pelo menos 7.000 pessoas foram mortas desde que os combates se intensificaram em janeiro, de acordo com para o governo da RDC.

    “Como alguém que está tentando mediar a paz também pode acomodar pessoas que pegaram em armas contra o povo congolês?” Kambale Musavuli, advogado e analista de direitos humanos congolês do Centro de Pesquisa dos EUA sobre o Congo-Kinshasa, disse à Al Jazeera.

    “Independentemente do que a explicação Ruto possa ter dado, acho que ele tentou entrar nas questões do Congo. Pergunte -se, se um cidadão queniano beligerante que pegou armas pode organizar uma conferência de imprensa em Kinshasa, o Quênia teria respondido da mesma maneira (que Ruto fez)? “

    Muitos congolês, continuou Musavuli, já não gostavam de Ruto por causa de uma “amizade íntima” com o presidente da Ruanda, Paul Kagame, e devido a uma atitude “condescendente” percebida em relação ao país.

    O analista referenciou um gafe ruto feito na trilha da campanha em 2022, que havia irritado os diplomatas da RDC e prejudicou muitos congolês. Falando a uma multidão de proprietários de pequenas empresas, Ruto prometeu mais receita agrícola porque planejava abrir avenidas para vender a gado para a RDC, dizendo que “têm uma população de 90 milhões, mas não possuem vacas”. Ruto também chamou o congolês, um povo que “usa calças de cintura alta”, referindo-se a um estilo comum em videoclipes congolês. Mais tarde, ele se desculpou pela gafe depois que os políticos congolesa expressaram raiva.

    “Quando as eleições para Ruto estavam sendo mantidas, nós na RDC não estávamos torcendo por Ruto. Queríamos uma alternativa porque já conhecíamos a atitude dele em relação a nós ”, acrescentou Musavuli.

    De Peacekeeper a Side Taker?

    Muito antes de suas brindes atuais com seus vizinhos, o Quênia já foi visto como um corretor de paz na África Oriental.

    Em 2004, sob a liderança do Presidente Mwai Kibaki, facções em guerra na Somália Rated Rated se reuniram em Nairóbi para concordar com um acordo que formaria um parlamento federal e encerraria a sangrenta guerra civil que se enfureceria desde a queda de 1991 do ditador Mohamed Siad Barre.

    Apenas um ano depois, o Quênia liderou novamente e foi apresentador do acordo de paz abrangente sudanese, uma estrutura de paz que ajudou a acabar com o conflito civil sudanês e, eventualmente, abriu o caminho para a fundação do país do Sudão do Sul em 2011.

    Agora, sob o governo de Ruto, o Quênia parece não apenas estar lutando para defender essa imagem, mas também estar causando ativamente problemas, disseram analistas. As aparentes alianças não, mas duas facções armadas estrangeiras desde que Ruto assumiu o cargo em 2022, prejudicaram a antiga posição regional do Quênia como país com poder diplomático e enfraqueceram sua reputação como interlocutor honesto, segundo especialistas.

    Mesmo internamente, o Quênia foi abalado por tensões não vistas desde a crise pós-eleição do país em 2007. Os protestos liderados por jovens atingiram o país em junho e julho do ano passado, quando milhares marcharam contra os planos de Ruto para impostos mais altos. Semanas, os manifestantes foram baleados pela polícia do Quênia. Pelo menos 50 pessoas foram mortas, centenas feridos e Muitos outros permanecem desaparecidosde acordo com a Comissão Nacional de Direitos Humanos do Quênia. Os quenianos nas mídias sociais ainda estão pedindo a Ruto a renunciar com a hashtag: #Rutomustgo.

    “O Sudão e a RDC expuseram os saltos diplomáticos do Quênia”, disse Halakhe. “Apesar de toda a sua política internamente fraturada, a política externa do Quênia-embora não seja particularmente princípio-não era auto-prejudicada”.

    Tudo o que mudou, acrescentou.

    “Agora (Quênia) tomou partido. Por ser o lugar onde os processos de paz são negociados para agora se envolver na lavagem de genocídio é um declínio acentuado do prestígio diplomático do Quênia. ”



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