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Encontro de restos de trens conta muito sobre ferrovias – 20/10/2024 – Sobre Trilhos

Encontro de restos de trens conta muito sobre ferrovias - 20/10/2024 - Sobre Trilhos

Marcelo Toledo

A descoberta na última semana de restos de locomotivas durante escavações para a construção da nova alça sul de acesso à marginal Tietê, na capital, é mais um episódio que mostra a negligência no tratamento recebido pelas ferrovias no país ao longo da história.

Pesquisadores ferroviários afirmam que as peças de locomotivas a vapor encontradas pertenceram à SPR (São Paulo Railway), pioneira no transporte ferroviário de cargas e passageiros em São Paulo.

Os achados não são fato isolado. É muito comum encontrar vagões abandonados, trilhos deteriorados e incompletos devido aos furtos e antigas estações, nas quais milhares de pessoas transitaram no passado, em péssimo estado de conservação —isso quando elas ainda existem. A diferença agora é que eles estavam enterrados.

Uma estimativa preliminar do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) aponta que entre os achados estão partes de maria-fumaça, vagões e caldeiras, ligados à história ferroviária do bairro da Lapa, na zona oeste da capital, e ao centro de manutenção e reparo ferroviário existente no local desde o final do século 19. Parte do terreno foi isolada.

O pesquisador ferroviário Leandro Guidini disse que soube do “afloramento” dos vestígios ferroviários no último dia 12, quando um amigo o enviou fotos. Ele disse que sabia de uma lenda —agora confirmada— de que locomotivas e partes de trens tinham sido enterrados com o objetivo de fazer um aterro no local, mas não esperava encontrar o que viu.

“Imaginei que fossem restos da Garratt [locomotiva britânica]. Mandei as fotos para um amigo meu, que também ficou alucinado, ele gosta muito de São Paulo Railway, e fomos para lá. Quando chegamos, pelas medidas que a gente tirou com a trena, diâmetro de roda, entre-eixos, disposição das rodas, a gente falou, ‘pô, isso aqui é SPR’. Incrível, porque o nosso entendimento era o de que essas locomotivas já não existiam havia mais de cem anos”, disse. Para ele, a descoberta abre brecha para mais pesquisas ferroviárias.

Exemplos de prejuízos ao patrimônio ferroviário existem em quase todos os lugares onde há, ou um dia houve, ferrovia.

Em Ribeirão Preto, cidade que deve boa parte de seu desenvolvimento econômico à Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, vários trechos na área urbana têm trilhos abandonados, como na região do HC (Hospital das Clínicas), vinculado à USP (Universidade de São Paulo).

Jaguariúna, na região de Campinas e que também era atendida pela Mogiana, também tinha trilhos abandonados, que ao menos foram usados para compor a estrutura de placas de trânsito no entorno de sua estação ferroviária –que recebe passeios turísticos entre a cidade e Campinas.

A continuidade das pesquisas no local pela empresa especializada que realiza o acompanhamento arqueológico, assim como o estudo mais detalhado do material identificado, permitirá ter maior clareza, confirmando ou não a datação e o total de peças na área.

A Secretaria da Cultura diz que também acompanha o levantamento dos itens, que está em andamento. A gestão afirma que, até o momento, a descoberta não interferiu nas obras.

A FERROVIA INGLESA

Primordial para o escoamento da produção agrícola, leia-se café, até o porto de Santos, a São Paulo Railway acelerou os investimentos e originou o surgimento de dezenas de companhias ferroviárias, contribuindo para transformar um país até então essencialmente rural num que passou a se industrializar.

A SPR foi tema do minidocumentário “A Influência Britânica no Desenvolvimento do Setor Ferroviário Brasileiro”, lançado há três anos pelo governo britânico e que mostra os impactos na economia brasileira provocados pelos investimentos ingleses nas ferrovias, principalmente a SPR.


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