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Entenda a relação de Elon Musk com o pró-natalismo – 09/03/2025 – Mundo

Entenda a relação de Elon Musk com o pró-natalismo - 09/03/2025 - Mundo

Angela Boldrini, Bárbara Blum

A defesa da procriação humana deixou de ser escopo apenas da Igreja Católica e de grupos religiosos mais conservadores para se tornar um projeto político que envolve vários líderes internacionais.

Estão nesse barco a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, o dirigente chinês, Xi Jinping, o premiê húngaro, Viktor Orbán, a ex-presidente húngara Katalin Novak e até o presidente francês Emmanuel Macron, visto como opositor da ultradireita na Europa. O grupo tem ainda o peso do presidente americano, Donald Trump, e do magnata da tecnologia sul-africano Elon Musk. Todos eles acham que mulheres precisam gerar mais bebês.

Alguns dizem que os valores da família devem imperar, discurso abraçado também pela igreja, que questiona aqueles que preferem ter pets a filhos.

Em fevereiro, Trump anunciou incentivos à fertilização in vitro, e o governo Orbán declarou que daria isenção de impostos às mulheres que tivessem mais de duas crianças. Antes, a medida só valia para os que tinham quatro ou mais.

No ano passado, Macron encarou a fúria das feministas francesas ao dizer que quer fazer um “rearmamento demográfico” para combater a infertilidade na França. Em 2023, Xi pediu à Federação de Todas as Mulheres da China que cultivasse uma cultura do casamento e da gestação —abordagem radicalmente diferente do controle populacional ligado à anterior política do filho único, que vigorou até 2015.

Já Musk é fatalista e diz que haverá um colapso civilizacional caso as pessoas não tenham mais filhos. Pai de 14 crianças —o nascimento do mais recente, Seldon Lycurgus, foi revelado no fim de fevereiro—, ele costuma incentivar a procriação em redes sociais e entrevistas. “Tenha filhos de qualquer forma ou a humanidade vai morrer de fraldas geriátricas em uma lamúria”, escreveu no X.

O empresário tem atuado como braço direito do governo Trump, que segue o Projeto 2025 encampado pelo think thank conservador Heritage Foundation.

O projeto é um conjunto de medidas conservadoras, como retirar a “propaganda woke” das escolas, impedir que o Medicare financie transição de gênero e remover políticas de equidade de gênero do Instituto Nacional de Saúde, que também não poderia mais fazer pesquisa com células-tronco. O plano foi publicado em 2023 pela Heritage como forma de guiar um segundo governo Trump.

Outros empresários do Vale do Silício embarcaram no pró-natalismo. Peter Thiel, fundador do PayPal, é um dos que investem em startups dedicadas a avanços tecnológicos na área da fertilidade. Ele engrossa o caldo de um investimento que ultrapassou os US$ 800 milhões (R$ 4,6 bilhões), segundo a revista Axios.

Segundo Sonia Corrêa, líder do Observatório de Sexualidade e Política, esta convergência é inédita —e preocupante. A posição da igreja, diz ela, não é novidade e remonta aos preceitos filosóficos de valorização do matrimônio sobre os quais a religião se assenta. Outros credos têm esse princípio, como o islamismo. No Brasil, havia um pró-natalismo histórico, fundamentado nas altas taxas de mortalidade infantil. “Há um fundamento da preservação da sociedade, mas que está ideologizado e convertido numa mitologia.” É um movimento que difere de iniciativas de crescimento populacional de países que dão incentivos financeiros aos pais e aumentam o número de creches, como o Japão e algumas nações nórdicas.

Para Bia Galli, advogada e assessora sênior de políticas do Ipas, organização internacional que busca aumentar o acesso a contraceptivos e aborto seguro, a retórica pró-natalista segue a mesma lógica coercitiva do discurso de controle populacional. “Essas políticas não contemplam, por exemplo, o acesso à interrupção da gestação”, afirma.

Musk já encampou o ideário anticontraceptivo. “Contraceptivos hormonais engordam, dobram o risco de depressão e triplicam o risco de suicídio. Existe consenso científico claro, mas poucas pessoas parecem saber disso”, escreveu ele, em 2024, no X. O empresário também disse em entrevistas que, a partir da idade gestacional que um feto pode sobreviver fora do útero, o aborto deve ser considerado assassinato.

Na sua primeira semana de mandato, Trump retomou uma política que barra o envio de fundos federais americanos a organizações internacionais que trabalham com o direito ao aborto. Criada em 1984, durante o mandato de Ronald Reagan, a medida vai e volta ao sabor da orientação política do governo. Foi retomada por todos os presidentes republicanos desde então —e revogada por todos os democratas.

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