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Entenda o processo eleitoral dos Estados Unidos

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Entenda o processo eleitoral dos Estados Unidos

Pedro Peduzzi – Repórter da Agência Brasil

Apontados como “a maior democracia do mundo”, os Estados Unidos (EUA) não elegem seu presidente por meio do voto direto. E nem sempre o eleito é aquele que conquista a maioria dos votos. Algo difícil de ser entendido pelos brasileiros, que tiveram, como mote para a retomada da democracia, nos anos 80, o lema Diretas Já.

“Não são só eleições diretas que caracterizam uma democracia. A democracia tem outras instituições que a caracterizam, como, por exemplo, o Judiciário e os direitos do cidadão, como liberdade de expressão e direito ao voto, ainda que de forma indireta. Vejo como problema maior o fato de o sistema eleitoral dos EUA ser excludente e eivado de vícios, com um monte de problemas. Por exemplo, o fato de não haver, lá, um órgão centralizador do processo, como o nosso TSE [Tribunal Superior Eleitoral]”, explicou à Agência Brasil o pesquisador do Instituto Nacional de Estudos sobre os EUA (Ineu) Roberto Goulart Menezes.

Segundo o professor do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB) Virgílio Caixeta Arraes, o processo que faz a escolha indireta para a presidência norte-americana “foi assim definido como forma de evitar candidaturas demagógicas ou populistas com propostas sedutoras, porém inviáveis, ou desagregadoras. Arraes disse à Agência Brasil que, na época, avaliava-se que os delegados teriam mais experiência ou amadurecimento político que o restante do eleitorado.

As diferenças entre os processos eleitorais de Brasil e Estados Unidos têm, como ponto de partida, as cartas magnas dos dois países. Com uma Constituição bem mais simplificada do que a brasileira, os EUA delegam boa parte de suas leis às normas locais, dando, aos estados, mais autonomia, prerrogativas, poderes e responsabilidades. Dessa forma, muitas tipificações criminais e penas são estabelecidas a partir de leis estaduais.

Doutor em ciência política pela Universidade de São Paulo (USP) e professor do Instituto de Relações Internacionais da UnB, Goulart Menezes explicou que as eleições presidenciais são organizadas pelos governos estaduais, o que acaba resultando em algumas dificuldades que não ocorrem em países como o Brasil, onde o processo é centralizado.

De acordo com Menezes, há estados que trazem, para o processo eleitoral local, algumas de suas características históricas que podem ser consideradas questionáveis. “Na Geórgia, por exemplo, estado de maioria negra, uma lei local que tira o direito ao voto de pessoas com três ou mais condenações na Justiça. Com isso, muitos abusos cometidos por policiais acabam por retirar o direito a voto de negros [e latinos]”, ressaltou o pesquisador.

Como funciona

Como a votação é indireta, nenhum dos eleitores votará, nesta terça-feira (5), diretamente nos candidatos Kamala Harris, do Partido Democrata, ou em Donald Trump, do Partido Republicano. “Eles votarão em delegados de seus estados, e estes, sim, votarão nos candidatos à Presidência dos Estados Unidos”, acrescentou Menezes.

O colégio eleitoral dos EUA é formado por 538 delegados. O número de delegados por estado é proporcional ao tamanho da população, o que define também seus representantes no Legislativo.

“O número de delegados é revisto periodicamente, a cada duas eleições. A Califórnia, por exemplo, tinha, em 2016, 55 delegados. Em 2024, terá 54”, disse Menezes, referindo-se ao estado com maior número de delegados.

O segundo estado com mais delegados é o Texas (40), seguido da Flórida (30), Nova York (28 ) e de Illinois e Pensilvânia (19, cada um). Os com menor número são Dakota do Norte, Delaware, Dakota do Sul, Vermont, Wyoming, distrito de Columbia e Alasca (3 delegados, cada); Maine, Montana, Idaho, New Hampshire, Virgínia Ocidental, Rhode Island e Havaí (4 delegados, cada).

The winner takes it all

Todos os estados, menos Maine e Nebraska, usam o sistema de eleição de delegados conhecido como “the winner takes all”, no qual “o vencedor leva tudo”. No caso, todos os votos dos delegados do estado.

Dessa forma, o sistema oferece possibilidades reais de que seja eleito o candidato menos votado, caso tenha vencido a disputa nos estados mais populosos – portanto, com maior número de delegados.

Isso, inclusive, já ocorreu em alguns pleitos, como o de 2016, quando o republicano Trump foi eleito tendo quase 3 milhões de votos a menos que a democrata Hillary Clinton.

Situação similar ocorreu em 2000, favorecendo também o Partido Republicano, no embate que colocou, na Presidência dos EUA, George W. Bush – mesmo com seu adversário, o democrata Al Gore, tendo recebido quase 500 mil votos a mais.

As duas situações foram possíveis porque, apesar de a maior parte dos votos ter ido para os democratas, quem obteve a maior parte de votos entre os 538  delegados foram os republicanos.

Estados Pêndulo

Se, por um lado, existem estados em que o resultado da disputa costuma ser mais previsível, com eleitores historicamente apoiadores de um ou outro partido, por outro, há estados em que, também historicamente, não há maioria absoluta nas intenções de votos. São os chamados swing states – em tradução livre, “estados pendulares”, onde qualquer partido pode sair vitorioso.

Com isso, esses estados acabam sendo alvo preferencial das campanhas eleitorais, com grandes chances de definir o resultado final do pleito. Sete estados são considerados pêndulos: Arizona, Carolina do Norte, Geórgia, Michigan, Nevada, Pensilvânia e Wisconsin.

Segundo Goulart Menezes, quando as eleições são muito apertadas, os candidatos costumam focar também nos dois únicos estados onde o sistema eleitoral não segue a linha do “the winner takes it all” – Maine e Nebraska. “Mesmo sendo pequenos e com pouco peso, é possível que o voto decisivo venha dali, principalmente em caso de eleições acirradas”, destacou Goulart Menezes.

A luta pela maioria dos votos não para aí. “Uma estratégia adotada para formar maioria em algumas localidades é definir o desenho dos distritos eleitorais, de forma a formar maioria para esta ou aquela tendência e, na contabilização final, favorecer um lado, contabilizando todos os votos dos delegados para o candidato da preferência do governador estadual”, detalhou o pesquisador.

“Isso é algo aterrador porque, em muitos casos, esse desenho não segue nenhuma lógica, e tem por trás muitos interesses. O desenho do distrito eleitoral é definido pelo governador a partir de informações sobre como vota uma determinada área. O objetivo é fazer uma distribuição que resulte em maioria para seu partido”, acrescentou.

Voto antecipado

Outra peculiaridade do sistema eleitoral norte-americano é que alguns estados permitem o voto antecipado, mecanismo adotado sob a justificativa de evitar longas filas e tumulto no dia das eleições.

Pelo processo antecipado, o eleitor pode mandar seu voto pelos Correios, até mesmo do exterior, ou depositá-lo em locais predeterminados. Quase 50 milhões de eleitores já votaram dessa forma para o próximo pleito.

Goulart Menezes disse que o procedimento do voto a distância tem sido usado pelo atual candidato do Partido Republicano para disseminar desinformação e notícias falsas (fake news). “Trump tem dito que o voto pelos Correios de lá possibilita voto duplo de alguns eleitores, novamente lançando dúvidas improcedentes sobre o processo eleitoral, criando mais uma possibilidade de insurgência, caso perca as eleições.”

Segundo o professor, isso não procede porque, para enviar o voto por via postal, o eleitor, antes, tem de se registrar na internet. Para cada cédula recebida, há um código correspondente, o que inviabiliza, ao eleitor, votar mais de uma vez.

“Até mesmo essa situação de votos incendiados antes de serem contabilizados não gera problemas, porque, registrados, os eleitores que não tiveram seus votos chegando ao destino poderão fazê-lo posteriormente. Nenhum voto, portanto, é perdido”, esclareceu Menezes.

Prévias eleitorais

A definição sobre quem serão os candidatos nos partidos norte-americanos é feita por meio de uma programação complexa e demorada, denominada prévias eleitorais. Ao longo de vários meses – em geral, mais de sete meses –, dezenas de candidatos dos principais partidos, além dos independentes, disputam o voto popular.

Como se trata de uma organização cara, que exige dos partidos o funcionamento de máquina operacional em todos os estados norte-americanos, só os democratas e os republicanos conseguem concluir o processo com possibilidades reais de chegar à Casa Branca, sede do governo dos Estados Unidos.

As prévias têm modelos diferentes em cada estado: em alguns, qualquer eleitor pode votar em qualquer eleição primária. Outros estados exigem que o eleitor mostre a filiação partidária para votar nas primárias da área em que está registrado.

Além de escolhidos pelas prévias, os candidatos precisam, também, ter a candidatura oficializada em convenções partidárias. As convenções duram em média quatro dias e nunca ocorrem em Washington, capital norte-americana.

Resultados

A autonomia dos estados para definir suas leis eleitorais costuma gerar alguma imprevisibilidade com relação ao tempo em que o resultado do pleito presidencial é anunciado. Em 2000, devido a polêmicas na Flórida, o processo de contagem dos votos demorou mais de um mês. Já em 2008, devido à boa vantagem de Barack Obama em muitos estados, o democrata já era o presidente eleito no final do dia da votação.



Leia Mais: Agência Brasil



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François Bayrou viajará para Mayotte no domingo e segunda-feira

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François Bayrou viajará para Mayotte no domingo e segunda-feira

Elisabeth Borne, nova Ministra da Educação Nacional, apela a “encontrar o caminho para a estabilidade institucional”

A nova Ministra da Educação e ex-Primeira-Ministra Elisabeth Borne apelou na terça-feira, durante a transferência de poder na rue de Grenelle, a “encontrar o caminho para a estabilidade institucional” e insistiu em “necessidade de criar alianças entre as forças políticas republicanas” para justificar a sua decisão de ingressar no governo de François Bayrou.

“Ao propor que eu ingressasse no governo como Ministro de Estado, o Presidente da República e o Primeiro-Ministro pretenderam fazer da educação, do ensino superior e da investigação a prioridade da acção governativa”ela acrescentou.

“Não vou fingir esta manhã que planejei há muito tempo me encontrar diante de você”admitiu aquele que deixou Matignon no início do ano, substituído pelo ex-ministro da Educação Gabriel Attal.

Mas ela explicou que respondeu “positivamente” a François Bayrou devido a “contexto particular e grave” : “uma nova página se abre. Isto exige a responsabilidade de cada um de nós para encontrar o caminho para a estabilidade institucional”.ela disse.

“Tenho dito muitas vezes nos últimos meses o quanto acredito na importância do “bloco central” e no que ele representa, o quanto acredito na necessidade de provocar o surgimento de alianças entre as forças políticas republicanas”ela disse.

Se ela admitisse não ser “um especialista” disciplinas de ensino e pesquisa, ela julgou “legítimo” torná-lo uma prioridade do governo, porque “a escola é o alicerce da República”. “Estou lúcido. Sou o sexto ministro nomeado em pouco mais de dois anos e meio e compreendo as dificuldades e expectativas da comunidade educativa e do mundo académico e da investigação”sublinhou ainda, sublinhando a importância de “colocar fim ao aumento da incivilidade, dos insultos e até da violência, em (O) estabelecimentos » e para “ataques ao secularismo em (O) escolas ».

Ela não se esqueceu de recordar o seu peso político e a sua experiência evocando a sua “capacidade de defender orçamentos”enquanto os sindicatos estão preocupados com os cortes nos cargos docentes previstos pelo governo anterior.

A ex-Primeira-Ministra iniciou o seu discurso, depois do da sua antecessora, Anne Genetet, manifestando a sua “solidariedade” aos habitantes de Mayotte, “e especialmente à comunidade educativa e universitária, aos alunos, aos estudantes e aos seus pais”.

Anne Genetet (à direita) dá as boas-vindas à sua sucessora, Elisabeth Borne, no Ministério da Educação Nacional, em Paris, em 24 de dezembro de 2024.
Discurso da nova Ministra da Educação Nacional, Elisabeth Borne, durante cerimónia de transferência do poder, em Paris, 24 de dezembro de 2024.



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Caminhoneiros vão à Justiça por reforma de ponte que caiu – 26/12/2024 – Painel S.A.

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Caminhoneiros vão à Justiça por reforma de ponte que caiu - 26/12/2024 - Painel S.A.

O presidente da Abrava, a associação brasileira dos caminhoneiros, Wallace Landim, afirmou ter entrado com ação na Justiça para obrigar que a ponte Juscelino Kubitschek seja reconstruída o quanto antes.

Conhecido como Chorão, o dirigente é um dos mais influentes líderes da categoria que, em 2018, parou o país após medidas do governo que oneraram o diesel.

Ele também enviou cartas ao governadores de Tocantins e Maranhão pedindo punição aos responsáveis pela má conservação da ponte, que desabou no último domingo (22).

Documentos do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) mostram que, sete meses antes do desabamento, o órgão já sabia dos problemas na estrutura da via.

“É a principal ligação para o Nordeste. Cerca de 80% das cargas que saem da Zona Franca de Manaus via Belém passavam pela ponte”, disse Chorão.

“Estamos cobrando pela omissão e obrigação de fazer dos governos federais e estaduais. Não é de hoje que essa ponte tem dado sinais. Foram feitos vários pedidos ao Dnit e ao Ministério dos Transportes para fazer a manutenção. Nada foi feito em uma ponte de 60 anos. Os governos têm 100% da culpa.”

Com Diego Felix


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Caramelo rouba a cena do Papai Noel em shopping em Vitória; vídeo fofo

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No ranking das melhores cidades do mundo para se comer, São Paulo é a única do Brasil. Como referências pão de queijo e coxinha. - Foto: Pixabay

“Aqui não é notícia quem mata, mas quem salva. Não quem rouba, mas quem é honesto. Não quem agride, mas aquele que faz boas ações. Não noticiamos tragédias, só casos com final feliz. Em vez de preconceito, damos histórias de superação.”

Rinaldo de Oliveira; Fundador do SóNotíciaBoa



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