Estudo publicado na revista científica “New England Journal of Medicine” confirma a transmissão vertical do vírus oropouche em um caso de morte fetal registrado no Ceará. A transmissão vertical ocorre quando um microrganismo passa da mãe para o bebê durante a gestação.
O trabalho contou com a colaboração da Fiocruz, por meio do Laboratório de Arbovírus e Vírus Hemorrágicos, referência regional em arboviroses para o Ministério da Saúde.
O Brasil registrou 8,2 mil casos de febre oropouche em 2024. Boletim com dados até o dia 19 de outubro mostra dois casos de transmissão vertical confirmados e 20 em investigação. Em um dos casos confirmados, houve a morte fetal, em Pernambuco. No segundo caso, o Acre, ocorreram anomalias congênitas.
A detecção da transmissão vertical foi realizada pelo serviço de vigilância da Secretaria da Saúde do Ceará, com a colaboração de instituições como a Universidade de Fortaleza, a Universidade Federal do Ceará, o Serviço de Verificação de Óbitos do Ceará Dr. Rocha Furtado, o Laboratório Central de Saúde Pública do Ceará, a Faculdade São Leopoldo Mandic e a Escola de Saúde Pública do Ceará.
O estudo tem informações sobre o quadro clínico da gestante, que apresentou sintomas compatíveis com o oropouche, como febre, dores no corpo e na cabeça, no dia 24 de julho. Ela estava na 30ª semana da gravidez. No dia 5 de agosto, a gestante recebeu o diagnóstico de morte fetal.
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Com autorização da família, os especialistas realizaram procedimentos minimamente invasivos para coletar amostras do bebê, que permitiram a detecção do vírus, encontrado no líquido cefalorraquidiano e tecidos cerebral, pulmonar e hepático, além do cordão umbilical e placenta.
A infecção também foi confirmada em amostra de sangue da mãe.
O Laboratório de Arbovírus e Vírus Hemorrágicos da Fiocruz recebeu amostras para nova bateria de testagem e confirmou o resultado positivo. Depois disso, foi realizado um sequenciamento genético do vírus detectado no feto.
A análise apontou a presença da linhagem chamada de OROVBR_2015-2024, que emergiu recentemente no Brasil, na região norte, e se espalhou pelo país, chegando também aos Estados Unidos, Bolívia, Cuba e Itália.
“Esse é mais um estudo que evidencia que o vírus oropouche é capaz de fazer infecção vertical. O mecanismo como isso acontece ainda é desconhecido, mas já existem evidências robustas de que ele pode causar danos severos em fetos, incluindo o óbito”, afirma o pesquisador Felipe Naveca, chefe do Laboratório de Arbovírus e Vírus Hemorrágicos da Fiocruz.