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EUA: Autores de fantasia devem criar mitologia americana – 22/12/2024 – Ross Douthat

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EUA: Autores de fantasia devem criar mitologia americana - 22/12/2024 - Ross Douthat

Qualquer crítico cultural pode reclamar da falta de criatividade observada na cultura pop dos Estados Unidos hoje e da “fome por um certo tipo de arte” em meio a tanta falta de originalidade institucionalizada.

Mas é um pouco mais difícil dar a escritores ou cineastas ordens específicas. De que tipo de arte estamos sentindo falta exatamente? O que esse artistas deveriam almejar?

Seja como for, vamos tentar fazer uma reflexão de final de ano sobre o assunto, inspirada por discursos recentes nas redes sociais, minhas compras de Natal e interesses pessoais e o sucesso de bilheteira de “Wicked“.

Se eu fosse distribuir tarefas aos possíveis autores de nossa cultura estagnada, sugeriria novos experimentos no gênero fantástico; mais do que isso, uma busca pela “Grande História da Fantasia Americana”.

Não me refiro apenas a um grande romance de fantasia escrito por um americano. Desde o gênio originário de J.R.R. Tolkien até o revisionismo sombrio, entre aspas, dos nossos dias, a fantasia criada e consumida no mundo de língua inglesa está fortemente associada ao passado do Norte da Europa, mesmo quando é escrita por pessoas do Novo Mundo, como George R.R. Martin (Isso inclui minha própria incursão na escrita de romances, que segue firmemente essa tradição céltico-germânica-arturiana).

Tolkien forjou uma coleção de lendas e contos feita sob medida para os ingleses, um povo que ele sentia carecer de base mitológica. Muitas décadas depois, a maioria dos produtos culturais em inglês, de Nárnia a Hogwarts, ainda tendem a compartilhar uma estrutura e um apelo essencialmente “do Velho Mundo”.

Em muitos dos contos de fadas do império Disney, temos uma americanização parcial das formas europeias —mas ali também, o poder original pertence aos irmãos Grimm ou a Hans Christian Andersen, com heroínas ao estilo americano em geral plantadas em reinos pré-americanos.

Claro, os escritores de fantasia contemporâneos bebem de influências culturais mais amplas: existem obras do gênero ambientadas em versões da China, dos países árabes, da Índia e da África Subsaariana.

Mas os EUA apresentam uma oportunidade única para os entusiastas do fantástico. Trata-se da cultura dominante do mundo contemporâneo; quem não gostaria de ajudar a elaborar sua base mitológica? Ainda há um desafio adicional. Por serem uma nação moderna por excelência, os EUA não têm um patrimônio pré-moderno sobre o qual possam se basear da forma como Martin fez com a história da Inglaterra e da França medievais para criar seu Westeros.

Assim como pensadores políticos como Louis Hartz argumentaram que os EUA, liberal desde a sua fundação, precisam de uma tradição conservadora verdadeira, alguém poderia defender que a Grande Fantasia Americana é, na verdade, uma impossibilidade, já que esse gênero trata da transição do pré-moderno para o moderno, do encantado para o desencantado —e os EUA foram desencantados, comerciais e capitalistas desde o princípio.

Mas ninguém que conheça profundamente os EUA consideraria nossa cultura realmente desencantada. No máximo, somos o lugar onde o desencanto atingiu um limite e estagnou ou se reverteu, seja no Sul assombrado por Jesus ou na Califórnia New Age.

Temos, sim, um passado pré-moderno ancestral que consiste no legado indígena americano, ainda que seu impacto tenha sido ofuscado pela conquista e expropriação de seus bens. E estamos fascinados (ou melhor, obcecados) pelos lugares que representam nossa própria transição do pré-moderno para o moderno, desde a Nova Inglaterra puritana (visite Salém hoje se achar que o passado do país não tem uma ressonância mágica) até a paisagem do oeste americano (onde a luta pela civilização e seus descontentamentos continua até hoje).

Então sim, o material para o aspirante a escritor de fantasia americano é um pouco diferente, um pouco mais fragmentado, do que o disponível na história e mitologia europeias. Ao mesmo tempo, há material de sobra para uma mitologia muito americana —com potencial para ser tão organicamente ligada ao Novo Mundo quanto a Terra Média está à Inglaterra ou ao norte da Europa, e que poderia inclusive servir para recuperarmos alguns aspectos meio esquecidos do nosso passado.

Mencionei “Wicked” no início do texto porque “O Mágico de Oz”, de L. Frank Baum, é provavelmente a obra americana que tem uma influência mais duradoura sobre a cultura pop. Mas uma lista mais longa incluiria as revistas pulp; os contos estranhos de Edgar Rice Burroughs, assim como os livros de sua série “John Carter”; os romances “Alvin Maker”, de Orson Scott Card; “Deuses Americanos” de Neil Gaiman (um britânico que escreve fantasia americana); e, claro, a saga “A Torre Negra” de Stephen King.

Menções especiais a H.P. Lovecraft e a Ray Bradbury por trabalharem em zonas onde a fantasia se mistura com o horror ou a ficção científica (você também poderia argumentar que as “óperas espaciais”, de “Flash Gordon” a “Star Wars”, são na verdade a principal contribuição americana para o gênero de fantasia, mas eu precisaria de um novo ensaio para discutir o assunto; você também poderia dizer que os super-heróis são a forma americana de fantasia, mas aí você estaria errado).

Nenhuma dessas obras alcançou, no entanto, a influência contemporânea de Nárnia, Hogwarts e Westeros, muito menos a Terra-média de Tolkien. E isso se deve em parte ao fato de que nenhuma delas é realmente boa o suficiente. O grande romance de Gaiman tem muitas ideias interessantes, mas a mitologia não é totalmente coesa e o enredo não é memorável (“Lugar Nenhum”, romance muito britânico, é um livro superior). A saga de King “A Torre Negra” tem as ambições certas, mas sucumbe aos delírios de grandiosidade dos finais da carreira (“O Talismã”, que King co-escreveu com Peter Straub, é mais bem-sucedido).

Os modelos, junto com Oz e Hogwarts, seriam, assim, Nárnia, a Prydain de Lloyd Alexander e os romances “A Rebelião das Trevas”, de Susan Cooper. Alguns incluiriam a pentalogia “Uma Dobra no Tempo”, de Madeleine L’Engle, e a saga iniciada por “The Diamond in the Window” (o diamante na janela), de Jane Langton.

O objetivo final é simples: destronar o precioso Harry Potter e todos os seus amigos que tomam chá, libertar as crianças americanas da tirania do sistema britânico de internatos (perdemos uma guerra?) e dar-lhes um lugar mágico que corresponda à amplitude, à escala e aos horizontes impossivelmente amplos de seu próprio país.


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Nos museus, a difícil missão de gestão

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Nos museus, a difícil missão de gestão

Esgotamento, má gestão, assédio… As condições de trabalho nem sempre são pacíficas num mundo cultural que, no entanto, se vangloria de benevolência. Às vezes o desconforto se transforma em drama. Em outubro de 2021, um gestor da FRAC Champagne-Ardenne, em Reims, suicidou-se no seu local de trabalho. Dois anos depois, Vincent Honoré, ex-curador do MoCouma estrutura híbrida que é ao mesmo tempo centro e escola de arte, em Montpellier, terminou os seus dias. No mundo da arte, onde este curador era muito apreciado, houve espanto. Como chegamos lá?

“Vincent me disse que estava no fundo do poço, exausto pelo estresse. Muitas vezes eu pegava com uma colher de chá.”testemunha um de seus amigos. “Não podemos falar de bullying, não houve trocas animadas com a gestãomatiza um de seus colegas. Mas havia uma falta de compreensão, uma sensação de invisibilidade. O problema não era a sobrecarga de trabalho, mas sim uma divergência de pontos de vista sobre a arte, sobre o papel do curador. » Na primavera, após três meses de investigação realizada de janeiro a março, a Segurança Social classificou o suicídio como “acidente de trabalho”.

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Suspeito de atentado na Alemanha é acusado de assassinato – 22/12/2024 – Mundo

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Suspeito de atentado na Alemanha é acusado de assassinato - 22/12/2024 - Mundo

O homem suspeito de matar cinco pessoas ao avançar com um carro sobre uma multidão em um mercado de Natal lotado em Magdeburgo, na Alemanha, enfrenta múltiplas acusações de assassinato e tentativa de assassinato, disse a polícia neste domingo (22).

Taleb Al A., 50, um psiquiatra da Arábia Saudita que vive no país europeu há quase duas décadas, já estava sob custódia desde a noite de sexta-feira (20), quando ocorreu o incidente que deixou dezenas de feridos.

Segundo o comunicado da polícia, um juiz ordenou que ele fosse colocado em prisão preventiva sob acusações de assassinato em cinco casos e tentativa de assassinato e lesão corporal grave em múltiplos outros casos. A agência de notícias Reuters não pôde verificar imediatamente se ele tinha um advogado.

O ataque é investigado como terrorismo, mas as motivações do agressor permanecem obscuras.

O perfil do suspeito, cujo sobrenome não é divulgado pelas autoridades e pela imprensa alemã por questões legais e de privacidade, desafia as autoridades, já que não se encaixa na descrição clássica de um terrorista.

No sábado, o promotor de Magdeburg, Horst Nopens, disse que um dos possíveis motivadores poderia ser o que ele chamou de frustração do suspeito com o tratamento da Alemanha aos refugiados sauditas. Conhecido ativista anti-islã, Taleb tem 40 mil seguidores no X, onde tecia elogios a Alice Weidel, candidata a premiê pelo partido de extrema direita conhecido pela retórica agressiva anti-imigração AfD (Alternativa para a Alemanha).

A simpatia do suposto agressor pela sigla não impediu a realização de uma manifestação de extrema direita com cerca de 2.100 pessoas na noite de sábado em Magdeburg. Manifestantes, alguns usando balaclavas pretas, seguravam uma grande faixa com a palavra “remigração”, um termo popular entre extremistas que buscam a deportação em massa de imigrantes e pessoas consideradas não etnicamente alemãs.

Sem dar detalhes, a polícia afirmou que houve “distúrbios menores” no protesto que deram origem a procedimentos criminais.

Outros moradores se reuniram para prestar suas homenagens aos mortos —um menino de nove anos e quatro mulheres de 52, 45, 75 e 67 anos, segundo o comunicado da polícia. Entre os feridos, cerca de 40 tinham ferimentos graves.

De acordo com as autoridades, o suspeito usou pontos de saída de emergência para entrar no mercado, onde ganhou velocidade e avançou sobre as multidões, atingindo mais de 200 pessoas em um ataque de três minutos.

A AfD tem forte apoio na antiga Alemanha Oriental, onde está Magdeburg. Pesquisas de opinião colocam a sigla em segundo lugar às vésperas das eleições de fevereiro. Seus membros, incluindo a candidata Weidel, planejam fazer um comício em Magdeburg na noite de segunda-feira (23).

Segundo pessoas da área de segurança da Arábia Saudita e da Alemanha, Riad havia alertado repetidamente Berlim sobre publicações nas redes sociais do suspeito.

O governo prometeu neste domingo investigar possíveis erros cometidos pelas autoridades. “As autoridades responsáveis pela investigação vão esclarecer todos os aspectos do caso, o que incluirá uma análise exaustiva das pistas que existiam no passado e como foram seguidas”, disse a ministra do Interior, Nancy Faeser, ao jornal Bild am Sonntag.

Faeser será interrogada no dia 30 de dezembro sobre as falhas que podem ter possibilitado o ataque, mais um sinal da pressão que o governo enfrenta a dois meses das eleições antecipadas.

Os Democratas Cristãos, principal partido de oposição da Alemanha, e os Democratas Livres, que faziam parte do governo de coalizão até seu colapso no mês passado, pediram melhorias no aparato de segurança da Alemanha, incluindo uma melhor coordenação entre autoridades federais e estaduais.

“O contexto deve ser esclarecido. Mas, acima de tudo, devemos fazer mais para prevenir tais crimes, especialmente porque aparentemente houve avisos e dicas específicas neste caso que foram ignorados”, disse Sahra Wagenknecht, líder do partido de esquerda BSW, ao jornal Welt.

O BSW, um novo partido político com raízes de extrema esquerda, também condenou a imigração descontrolada e ganhou considerável apoio antes da eleição de 23 de fevereiro.



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Aprenda a melhor receita de rabanada para arrasar nas festas

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A noiva Julia dispensou carros chiques e chegou na igreja de caminhão para homenagear o pai. Lindo! - Foto: @_jugpaivahudinik/Instagram

Ela pode ter vários significados, como tradição familiar, aconchego, confraternização. Mesmo assim, de maneira geral, ela nos traz um toque especial de doçura na ceia de Natal. Sim, estamos falando da tão deliciosa rabanada. Já imaginou ver as melhores dicas para fazer rabanada na ceia de Natal?

A rabanada, além de ser um prato tradicional do Natal, tem um sabor único e perfeito. Você sabia que ela remete ao Império Romano? Isso mesmo, o primeiro registro da sua receita foi feito nos manuscritos de Marcus Gavius Apicius, em sua obra Apicius Culinaris.

A notícia boa mesmo a receita vindo do outro lado do mundo, você verá como existem várias formas diferentes que agradam a todos os tipos de paladar. Veja como.

Para preparar a rabanada simples, não é necessário recorrer a ingredientes complexos ou técnicas complicadas. A beleza dessa receita está exatamente na sua acessibilidade e no toque de carinho que cada passo demanda. Vamos lá:

Ingredientes:
– 6 fatias de pão francês (de preferência amanhecido, mais firme)
– 1 xícara de leite integral
– 1 ovo
– 1/2 xícara de açúcar
– 1 colher de chá de canela em pó
– Óleo para fritar
– Açúcar e canela a gosto para polvilhar

Modo de Preparo:

1. Prepare o leite:Em uma tigela, aqueça o leite até que fique morno. Ele não deve ferver, apenas atingir uma temperatura confortável, que ajudará a amolecer o pão. Se quiser um toque especial, pode adicionar uma pitada de essência de baunilha ou um pedacinho de casca de limão, criando um aroma delicado que vai fazer toda a diferença.

2. Mergulhe as fatias de pão: corte o pão em fatias generosas, de cerca de 2 cm de espessura. Mergulhe uma fatia de cada vez no leite morno, deixando que o pão absorva bem o líquido, mas sem desmanchar. O segredo é garantir que o pão fique úmido, mas não encharcado.

3. Passe no ovo: em uma tigela separada, bata o ovo até que ele fique levemente espumoso. Após o mergulho no leite, passe as fatias de pão no ovo batido, cobrindo bem ambos os lados.

4. Frite até dourar: aqueça o óleo em uma frigideira funda, em fogo médio. Quando o óleo estiver bem quente, coloque as fatias de pão empanadas. Frite até que fiquem douradas e crocantes por fora, mas macias por dentro. A crocância é um dos segredos para o sucesso dessa receita, por isso, tenha cuidado para não fritar demais e acabar com uma rabanada seca.

Agora é só aproveitar essa delícia de Natal!

Sua presença nas mesas de Natal fortalece o espírito de convivência e celebração, criando memórias afetivas. Levanto toda a família para a cozinha em seu preparo. – Foto: Freepik



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