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Evangélicos ainda tratam gays como membros de 2ª categoria – 07/02/2025 – Cotidiano

Evangélicos ainda tratam gays como membros de 2ª categoria - 07/02/2025 - Cotidiano

Recentemente Lucas Guimarães, companheiro do influencer Carlinhos Maia, apareceu nas redes sociais participando da santa ceia na Igreja Lagoinha de Alphaville. A Lagoinha é conhecida pelo posicionamento de seus pastores, André Fernandes e André Valadão, contra a homossexualidade. Como explicar essa contradição?

Nas igrejas evangélicas, há o rito da santa ceia em que o fiel recebe o pão e o vinho lembrando as palavras de Jesus: “Isto é o meu corpo… Isto é o meu sangue, fazei isto em memória de mim”. Mas a participação, em geral, é reservada a membros.

Ser batizado e ser membro em comunhão, que significa estar de acordo com as crenças da igreja, sempre foi um pré-requisito para participar da santa ceia nas igrejas evangélicas. É por meio da exclusão da santa ceia que igrejas evangélicas reprimem divergências de pensamento e comportamento entre seus membros.

A repercussão da contradição foi imediata no segmento evangélico. O canal “Cristão Também Pensa” publicou o vídeo de Lucas Guimarães participando da santa ceia seguida por uma entrevista do pastor André Fernandes ao podcast “Inteligência Ltda” sobre o tema igreja e homossexualidade.

Na entrevista, André Fernandes afirma que conhece “pessoas que estão em uniões homoafetivas e frequentam sua igreja há anos”. Elas são bem-vindas nos cultos da igreja, só não podem exercer cargos de liderança, segundo o pastor. Sob o ponto de vista doutrinário, elas não podem participar da santa ceia, mas na prática ele diz que a igreja não controla quem come o pão e recebe o cálice da santa ceia.

O caso nos leva a perguntar: Por que pessoas LGBTQIA+, tendo hoje opções de igrejas afirmativas e inclusivas, optam por frequentar cultos em igrejas que pregam que a homossexualidade é pecado e reservam a eles uma espécie de membresia de segunda categoria?”

De acordo com a pastora Priscilla Coelho, o sentimento religioso de culpa é a chave para entender a contradição. Ela conhece a fundo o tema porque liderou o hoje extinto ministério Cores da Lagoinha, voltado aos fiéis LGBTQIA+.

Para Priscilla, um dos problemas é que ainda existem poucas igrejas inclusivas. Há também a dificuldade de romper a ligação com a comunidade em que a pessoa criou raízes. Mas, principalmente, ela diz, gays toleram não serem aceitos plenamente pela igreja porque lutam com o sentimento de que não são aceitos por Deus.

Na mesma entrevista, o pastor André Fernandes usa a culpa para justificar a contradição de receber em sua igreja pessoas que não são plenamente aceitas: “Deus não te aceita do jeito que você é; Deus te recebe do jeito que você está e ele quer te levar para um lugar onde você vai se tornar aquilo que você de fato é”.

Sob a perspectiva sociológica, a relação entre gays e igrejas evangélicas está passando por um ajustamento que tem mais nuances que os polos representados pelo discurso tradicional. Ou seja, há mais a ser considerado do que apenas dizer: “homossexualidade é pecado, logo não há lugar para gays na igreja” ou, no extremo oposto, a aceitação plena representada pelas igrejas inclusivas e afirmativas.

Por exemplo, a Igreja Batista da Água Branca (Ibab) não é inclusiva, mas tem ajustado teologicamente sua pregação sobre o tema na direção de afirmar que todas as pessoas são bem-vindas. O pastor Kenner Terra, que passou a integrar o corpo pastoral recentemente, pregou que é cínico dizer: “Deus ama o pecador, mas odeia o pecado” e, na sequência, completou referindo-se à santa ceia: “todas as pessoas e todas as orientações são bem-vindas”.

O psicanalista Contardo Calligaris escreveu, nesta Folha, que “a orientação sexual de um indivíduo não precisa ser um traço relevante de sua identidade”. Ela não precisa ser relevante, mas resiste e vai mostrando novas formas de coexistência com a identidade cristã em igrejas evangélicas conservadoras.

A luta das mulheres por direitos levou à popularização da frase: “Lugar de mulher é onde ela quiser estar”. Esse parece ser o rumo que os evangélicos LGBTQIA+ estão tomando. Independentemente do que as igrejas dizem, a ideia é que “pessoas homoafetivas e evangélicas estarão na igreja que quiserem estar”.



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