Laura Intrieri
Sistemas de inteligência artificial (IA) capazes de tomar decisões, acessar ferramentas e desempenhar tarefas sozinhos já são realidade em empresas. São os chamados agentes de IA.
Eles participam da rotina de grandes grupos, que usam a tecnologia para otimizar processos, a pequenos negócios que prometem serviço totalmente gerido por inteligência artificial.
Empresários se dividem sobre a capacidade de a nova tecnologia substituir humanos em empregos. A ferramenta é anunciada por empresas de tecnologia como um assistente que promete elevar a produtividade, mas incapaz de substituir a decisão humana ao final de processos.
Por outro lado, um único agente é capaz de realizar o trabalho de todos os profissionais de cargos inteiros em empresas, segundo Anderson Amaral, desenvolvedor de software que afirma ter criado agência de marketing gerida integralmente por agentes de IA.
“O CEO é o mais dispensável”, diz.
O empresário afirma enxergar realidade incontornável e cita a necessidade de adaptação sobre a substituição de empregos.
“Eu tenho preocupação social, tanto é que criei uma série de cursos sobre os agentes de IA. Recebo críticas, é normal de quem se sente ameaçado. Nós mesmo que trabalhamos em tecnologia estamos fadados a sermos substituídos”, afirma.
Os produtos da empresa de Amaral terão supervisão humana final de produtos, “como quem supervisiona um estagiário”.
Agentes de IA atraem investimento de gigantes como Microsoft, que anunciou nesta segunda-feira (21) a liberação para o público da construção de agentes no Copilot Studio, sistema de personalização de assistentes pessoais. A big tech também introduziu dez novos tipos de agentes focados em vendas e gestão em sua plataforma de administração para empresas, a Dynamics 365.
A OpenAI prevê que esses sistemas se tornarão comuns até o final de 2025. O Google, que também investe em soluções do tipo, lista seis categorias de agentes de IA: agentes de atendimento ao cliente, assistentes virtuais para funcionários, agentes de análise de dados, agentes de segurança, agentes criativos e agentes de programação.
Oracle e Salesforce investem em fábricas de agentes para oferecer opções personalizáveis a clientes brasileiros, e a última quer produzir um bilhão deles até o ano que vem.
O modo como agentes chegam na resposta é a maior diferença com relação a LLMs (sigla em inglês para grandes modelos de linguagem) mais conhecidos, de acordo Flávio Nakasato, sócio da empresa de análise de dados Novelo.
“O agente não responde em um passo só. Ele ‘planeja’ uma sequência de passos para decompor o problema, podendo decidir acessar ferramentas, sites e bancos de dados para compilar uma resposta”, diz. “É muito mais poderoso, porém mais devagar, e consome mais recurso computacional”.
A interface de chat é uma das possibilidades de interação com um agente, mas ele pode trabalhar de outras formas, como reunindo informações e alimentando continuamente uma base de dados acessada por outros funcionários —ou agentes.
Desvendando IA
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A Salesforce tem modelos prontos, focados em vendas e atendimento ao cliente, e a opção de personalizar agentes para cada empresa. A nova ferramenta será lançada em 15 de outubro, com versão em português disponível após o início do ano que vem.
A gigante de vendas cobrará uma média de US$ 2 (cerca de R$ 11) por conversa desempenhada pelo agente, mas não especificou como a complexidade e tamanho da conversa afetariam o preço.
“Pequenas empresas e startups com quem conversamos estavam empolgadas, porque é uma ótima forma de crescer com escala, sem gargalos de contratação e treinamento”, diz Daniel Hoe, vice-presidente de marketing da Salesforce para a América Latina.
Na Cogna, uma das maiores empresas de educação do país, o Edu, agente de IA, ajuda alunos em lições, sendo alimentado com o material didático de cada escola, e também desempenha funções de secretaria, como a renegociação de boletos atrasados.
O piloto, que já rodou com mais de 40 mil alunos, tem treinamento específico para barrar alucinações e não usar conhecimento além do estabelecido pelo colégio proprietário, segundo o grupo educacional.
A Positivo Tecnologia também investe em uma espécie de “professor digital” que usa diferentes ferramentas para fazer resumo de aulas, elaborar provas e acessar bases de dados de forma automática.
A certeza de que o agente terá performance adequada às diretrizes e dados de cada empresa é uma das maiores preocupações. A Oracle desenvolve agentes de IA com capacidade de Recuperação Aumentada de Geração (RAG), técnica para combinar o conhecimento geral de modelos de linguagem com informações específicas das organizações.
“Os clientes treinavam modelos e perdiam o trabalho, porque surgiam LLMs novos. A vantagem do agente é se acoplar e desacoplar de modelos, levando consigo os dados importantes da empresa”, diz Leandro Vieira, vice-presidente da área de tecnologia da Oracle para a América Latina.
A tendência é que modelos de IA façam o trabalho de agentes com cada vez mais facilidade, de acordo com especialistas. O o1, versão mais potente lançada pela OpenAI, já é capaz de trabalhar em etapas, dividindo o “raciocínio” em tarefas sequenciais.
Problemas de um LLM único, como alucinação, ainda existem em agentes, de acordo com Nakasato, da Novelo. “O risco só é reduzido. Uma empresa com 100% de agentes pode até funcionar para trabalhos limitados, mas ainda vai precisar de mente humana no final do processo”, diz.