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Excessos do termo ‘desidratação’ para os cortes do governo – 21/12/2024 – Alexandra Moraes – Ombudsman
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Para quem está na cobertura ou a acompanha feito novela, parece óbvio o sentido de “desidratação” como vem sendo usado no caso da ação do Congresso sobre o pacote do corte de gastos governamental. Mas uma leitora chamou a atenção para o fato de a expressão metafórica estar banalizada na cobertura da Folha.
A impressão da leitora é que “se ‘desidratação’ não é a palavra do ano, ao menos deve ser a palavra do final do ano”. E não é só na Folha —a “desidratação” está nos concorrentes também e contribui para encriptar o noticiário dos jornais tradicionais, já escanteados pelos tempos mais afeitos à gritaria das redes (a mídia tradicional “já perdeu“, escreve Helen Lewis na The Atlantic, “e as pessoas que a estão substituindo não estão jogando com as mesmas regras”).
Outro leitor escreveu, sobre o uso de “desidratar”: “É quase sempre assim, alguém descobre uma palavra para definir alguma coisa que não é aquilo que o dicionário define e quase todo mundo da imprensa passa a repetir. (…) E pensar que continuo hidratando a Folha todo mês com R$ 39,90”.
A repetição de “desidratar” para designar o enfraquecimento do corte de gastos no Congresso acaba complicando um assunto que precisaria ser tratado com mais clareza, não menos.
Outro verbo que gerou protesto em outra cobertura foi “refutar”. O professor e ex-ministro Renato Janine Ribeiro, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), contribui com um apelo.
“Será que a Folha poderia usar o verbo ‘refutar’ corretamente? Hoje, na home, ele tem destaque, mas num uso errado: ‘Engenheiro indiciado pela PF refuta fraude eleitoral ou golpismo’. [O título interno repete o verbo] Refutar é um termo que, na filosofia e na ciência, indica a bem fundamentada negação de uma afirmação que, esta, era errada. Não cabe ‘refutação’ quando alguém, sem fundamentos sólidos, apenas nega, contesta uma acusação”, afirma Janine.
Ainda que o sentido do verbo esteja dicionarizado, é difícil entender por que o jornal opta pela forma mais empolada quando tem “negar” e “contestar” à mão.
CASO PELICOT
A imagem de Gisèle Pelicot se tornou emblemática desde que surgiu para “fazer a vergonha mudar de lado”. A dona de casa francesa foi dopada e estuprada pelo homem com quem era casada havia décadas, Dominique Pelicot, que a oferecia para que outros também a violentassem. Ela fez questão de expor sua história, seu rosto e os crimes dessa meia centena de homens para que a Justiça pudesse alcançá-los.
Uma questão, porém, permanece: quase não há imagens dos estupradores. Elas estão restritas aos desenhos dos tribunais, e mesmo assim aparecem pouco. É uma questão que tem se repetido nos comentários do material sobre o caso. Alguns falam de restrições legais na França, outros em não estimular linchamentos, em preservar as famílias dos criminosos. Mesmo a imagem do ex-marido, que recebeu a maior pena, de 20 anos, parece desproporcionalmente preservada.
Gisèle e o significado que ela ganhou são importantes. Ela é um novo símbolo e sua representação vai além da coragem de se expor e de devolver a vergonha aos desavergonhados: mostra a dignidade que os criminosos não podem violar e que vítimas não cabem em estereótipos —assim como não cabem neles criminosos e algozes.
Há força na ideia de que os estupradores seriam “M. Tout-le-Monde”, ou sr. Todo-Mundo, cuja cara não importa, afinal de contas poderia ser qualquer um. O fato é que eles não são todo mundo, embora haja representantes de inúmeras categorias, grupos etários, profissões, situações maritais e parentais. Há 51 condenados.
Mesmo os registros desses homens diante do tribunal, chegando e saindo, foram residuais ao longo da cobertura. Escondiam-se “como ratos”, apontou um comentarista. O contraste com a imagem clara e altiva de Gisèle não poderia ser maior.
FIM DE ANO
O primeiro semestre desta ombudsman termina com 1.622 mensagens de e-mail recebidas entre 1º de junho e 19 de dezembro de 2024. Há uma grande desproporção na participação de homens (83,5%) e mulheres (16,5%). Convido especialmente as leitoras a escreverem mais para ombudsman@grupofolha.com.br.
O assunto campeão de queixas é assinatura (problemas com entrega, cancelamento, atendimento e acesso), com 313 casos. Esse número supera a soma dos e-mails sobre colunas da ombudsman (83), novo formato do impresso (70), artigo de Jair Bolsonaro na Folha (50) e questionamentos sobre moderação de comentários no site (46).
Agradeço pela colaboração das leitoras e dos leitores e desejo a todos boas festas. Saio de férias, mas o atendimento continua. A coluna volta em 2 de fevereiro.
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a lei especial permitirá um pouco mais de crescimento, mas ao custo de ampliar as desigualdades, segundo o OFCE
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22 de dezembro de 2024Mesmo que se trate de um texto técnico, destinado a permitir ao Estado “operar” na ausência de orçamento, a lei especial não será neutro a nível macroeconómico. Ao congelar certas medidas fiscais, estes três artigos, votados na sequência da moção de censura do governo, apoiarão um pouco o crescimento, indica o Observatório Francês das Condições Económicas (OFCE) numa nota publicada no domingo, 22 de dezembro. À custa de um aumento do défice orçamental e de um agravamento das desigualdades, uma vez que os grandes vencedores são as famílias mais ricas e as grandes empresas.
Nas suas previsões feitas no outono, o OFCE estimou que a lei financeira de 2025 (PLF), agora arquivada, poderia prejudicar o crescimento de 2025 em 0,8 pontos do produto interno bruto (PIB). Com base nisso, o instituto havia estabelecido uma previsão de crescimento de 0,8% para o próximo ano. A lei especial, ao congelar as reformas tributárias ou medidas excepcionais previstas, altera a situação.
Na hipótese – teoricamente improvável – de que esta lei se mantenha durante todo o ano de 2025, na ausência de novos textos orçamentais, o OFCE estima agora que o crescimento poderá atingir os 1,4%. Por outro lado, a menos que sejam tomadas novas medidas, “o défice público ficaria entre 6,1% e 6,4% do PIB em 2025”, indicam os autores da nota, em vez dos 5,3% previstos no PLF 2025. “Teremos um pouco mais de crescimentoresume Mathieu Plane, vice-diretor do departamento de Análise e Previsões do OFCE e um dos autores da nota. Mas tenha cuidado com os efeitos induzidos, ligados às incertezas que pesam sobre as empresas, por exemplo, ou ao risco de instabilidade. »
Para as empresas, a lei especial permite-lhes escapar, pelo menos por algum tempo, a um aumento significativo das contribuições obrigatórias, de mais de 20 mil milhões de euros no total. O cancelamento da contribuição excepcional para os grandes grupos resultará, por si só, em 8 mil milhões de euros menos impostos para as maiores empresas francesas. O “reperfilamento” das isenções de contribuições patronais sobre baixos salários, que representa 4 mil milhões de euros, também é adiado – isto é um ganho para as empresas que utilizam amplamente este sistema. Quanto à suspensão da redução da contribuição sobre o valor acrescentado (CVAE), resulta também numa poupança de mil milhões de euros para as empresas.
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Teste definirá se é viável colocar mais etanol na gasolina – 22/12/2024 – Eduardo Sodré
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22 de dezembro de 2024O MME (Ministério de Minas e Energia) estabeleceu o protocolo de testes que vai definir se a gasolina vendida no Brasil poderá ter 30% de etanol anidro em sua composição, passando a se chamar E30. Hoje, o teor é de 27%.
As medições de consumo, desempenho e durabilidade serão feitas pelo IMT (Instituto Mauá de Tecnologia), que é parceiro da Folha nos testes de automóveis comercializados no Brasil.
O instituto vai verificar a viabilidade técnica da mistura por meio de avaliações envolvendo carros e motos movidos apenas a gasolina.
Haverá tanto modelos mais novos como veículos dos anos 1990, que atendem a diferentes fases do Proconve (Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores) e o Promot (Programa de Controle da Poluição do Ar por Motociclos e Veículos Similares)
“A avaliação contemplará ensaios de pista, testes de partida a frio, medições de emissões, aquisição de veículos e análise complementar de dados via sistema OBD [sigla em inglês para diagnóstico de bordo]”, diz o comunicado enviado pelo MME.
“O aumento da mistura de etanol anidro à gasolina para 30% busca ampliar os benefícios ambientais e econômicos, como a redução das emissões de gases de efeito estufa e a diminuição da dependência de importações de gasolina.”
Há, contudo, a preocupação com o funcionamento de carros mais antigos. Por exemplo, um automóvel produzido em 2002 foi adequado para o E25 disponível na época —a sigla significa que havia 25% de etanol anidro na gasolina comercializada nos postos.
Hoje, esse teor é encontrado no combustível premium, como a gasolina Podium, da rede de postos Petrobrás, e as opções Shell V-Power Racing e Ipiranga Ipimax Pro.
Além das questões técnicas, os testes com o E30 irão verificar se haverá mudança significativa nas médias de consumo dos carros.
As avaliações ocorrerão em ritmo acelerado. De acordo com o calendário divulgado pelo Ministério de Minas e Energia.
“Os testes serão conduzidos pelo Instituto Mauá de Tecnologia entre janeiro e fevereiro de 2025, conforme o cronograma estabelecido”, diz o comunicado enviado pelo MME. “O relatório final com os resultados será entregue até o fim de fevereiro.”
Caso seja comprovada a viabilidade do E30, caberá ao CNPE (Conselho Nacional de Política Energética) a aprovação da mudança.
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Diante de Trump e Farage, o aliado natural da Grã-Bretanha é a Europa | William Keegan
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22 de dezembro de 2024 William Keegan
Ta visão de outros líderes mundiais bajulando o presidente eleito dos EUA – o criminoso Donald Trump – e o seu capanga Elon Musk é bastante desagradável, mas no mundo da realpolitik eles provavelmente sentem que não têm opção.
O grande jornalista americano HL Mencken não viveu para ver o cumprimento da sua profecia de 1920 de que “um dia a Casa Branca será ocupada por um tolo e um completo idiota narcisista”, mas está sem dúvida a revirar-se na sua sepultura.
No entanto, o resto de nós tem que conviver com isso. E mesmo antes da tomada de posse, as ramificações do recente resultado das eleições presidenciais estão a ser sentidas por toda parte.
A ameaça da construção de um muro tarifário já contribuiu para os crescentes problemas económicos do vizinho norte dos EUA, o Canadá, onde o Primeiro-Ministro Trudeau sofreu a súbita renúncia de sua ministra das finanças, Chrystia Freeland. Com tarifas mais elevadas iminentes, Freeland não pretendia pôr em perigo um programa de estabilidade orçamental curvando-se ao plano de Trudeau para o que considerava concessões fiscais de compra de votos injustificadas.
Entretanto, em toda a Europa, a ameaça de uma guerra tarifária está a provocar uma reformulação fundamental da estratégia económica. Os noruegueses, há muito cépticos quanto à adesão plena à UE, estão agora aparentemente tendo dúvidas. Especula-se até que os suíços possam estar a pensar nisso, embora eu deva acreditar nisso quando o vir.
Para o Reino Unido torna-se cada vez mais óbvio que deveríamos estar mais bem protegidos dentro da tenda comercial europeia do que fora dela. Os danos económicos causados pelo Brexit são agora tão manifestos que pesquisas recentes indicam que a maioria dos eleitores gostaria que regressássemos à união aduaneira e ao mercado único.
É triste que Keir Starmer ainda pareça acreditar que pode chegar a um acordo comercial satisfatório com os EUA, independentemente da UE. Starmer e a sua sitiada chanceler, Rachel Reeves, marcaram autogolos suficientes durante os seus primeiros seis meses no cargo, sem os acrescentar, expondo-se às exigências egoístas de Trump relativamente à forma de um acordo comercial entre os EUA e o Reino Unido.
O que nos leva à preocupação dos partidos políticos britânicos e dos meios de comunicação em geral com essa fantasia fantasiosa Nigel Farage e seu enganosamente intitulado Partido da Reforma.
Assim que este governo agir em conjunto e deixar de criticar a função pública pelas suas próprias falhas, deverá lançar um ataque total a Farage e à maior parte daquilo que ele defende. A longo prazo, isto seria benéfico para a nação e para as perspectivas do próprio Partido Trabalhista. Ao curvarem-se aos preconceitos da Reforma contra a imigração com sinais de “apito canino”, os ministros não fazem nenhum bem a si próprios.
Para dar um exemplo flagrante de como o preconceito mal julgado é inimigo do bem: há uma contradição directa entre a ambição do governo de construir muito mais casas e o preconceito contra o chamado trabalho imigrante. Digo “chamados” porque muitos dos trabalhadores da construção civil da Europa Oriental, dos quais a economia dependia até recentemente, não se estabeleceram permanentemente aqui. À medida que esta economia se tornou integrada na economia europeia mais alargada, parecíamos uma região dos EUA: havia linhas de abastecimento de bens, serviços e pessoas – mão-de-obra, por assim dizer – e os trabalhadores da construção regressavam frequentemente à Europa de Leste, que continuava a ser a sua base. .
Lemos agora que o programa de construção do governo está ameaçado por uma escassez de algo entre 150.000 e 200.000 pedreiros, muitos dos quais anteriormente teriam de ir e vir entre o Reino Unido e a Europa Oriental. A propósito, constato que a Espanha está a encorajar a imigração no interesse do crescimento económico!
Agora, tanto a Alemanha como a França, há muito considerada a potência da UEestão a enfrentar graves problemas políticos e económicos. Mas pelo menos, como parte integrante da UE, é provável que encontrem força nos números nas negociações tarifárias.
Precisamos nos juntar a eles; mas, apesar da ênfase de Starmer em melhores relações com a UE, a sua recusa obstinada e a do seu chanceler em aceitar a adesão à união aduaneira e ao mercado único deixam a sua equipa de negociação com as duas mãos atadas nas costas.
Mas voltando a Farage. O medo de Farage e do que hoje é chamado de Reforma foi a principal razão – possivelmente o razão – a razão pela qual David Cameron tomou a infeliz decisão de convocar o referendo de 2016. Brexit foi a panaceia de Farage para os problemas económicos do Reino Unido. Foi um desastre.
Farage me lembra o ridículo Roderick Spode em PG Wodehouse’s O Código dos Woosters. É verdade que Farage não é tão desagradável como Oswald Mosley, o fascista dos anos 1930 com os seus seguidores “camisas negras” nos quais o Spode se baseou. Mas, tendo sido o grande responsável pelo desastre do Brexit, ele deve estar a rir-se durante todo o caminho até ao banco de Musk pela forma como ainda está a ser levado a sério.
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