O exercício anual de ataque nuclear da Otan começou nesta segunda (14) com a estreia da Finlândia, que aderiu à aliança militar ocidental no ano passado, e críticas da Rússia.
“Sob as condições de uma guerra quente, que está ocorrendo dentro do arcabouço do conflito ucraniano, tais exercícios levam a nada menos do que mais escalada de tensões“, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
A queixa é previsível, mas ignora o fato de que a Rússia fez neste ano um exercício de emprego de armas nucleares táticas, aquelas que teoricamente são usadas de forma limitada nos campos de batalha, sem programação prévia. Bombas do tipo foram posicionadas na vizinha Belarus.
Além disso, o presidente Vladimir Putin está revisando sua doutrina de uso dessas armas, sugerindo que elas podem ser empegadas em caso de ataques convencionais de qualquer tipo à Rússia —antes, elas só seriam sacadas em caso de ação nuclear ou convencional, mas que trouxesse risco existencial ao país.
Tudo isso vem no escopo das tensões com o Ocidente, exacerbadas pela Guerra da Ucrânia. A Otan tem feito também movimentos no setor, dizendo que pode aumentar o arsenal de cem ogivas táticas que guarda em seis bases de cinco países europeus.
Os EUA também estão revisando sua política de uso dos armamentos, e iniciaram o desmonte do sistema de tratados de controle de armas ainda na gestão de Donald Trump (2017-2021).
Peskov voltou a dizer que Moscou não vê condições para reabrir negociações de desarmamento com os EUA porque Washington está ativamente participando da guerra ao lado de Kiev.
A deterioração do ambiente de segurança nuclear do mundo foi evidenciada com a concessão do prêmio Nobel da Paz deste ano a uma entidade japonesa que luta pelo fim dessas armas.
A edição 2024 do Steadfast Noon (algo como meio-dia com firmeza, em inglês) envolverá cerca de 60 aviões de 13 membros da Otan, utilizando oito bases no Reino Unido, Dinamarca e Holanda. O foco da simulação será o mar do Norte —evitando o Báltico, o que seria visto com uma provocação direta à Rússia, que margeia aquele corpo d’água.
Por outro lado, os finlandeses irão participar, com o apoio de caças F-18 e F-35. Até a invasão da Ucrânia pela Rússia, em 2022, os finlandeses mantinham uma estrita política de neutralidade militar, ainda que participassem de ações coordenadas com a Otan.
A guerra mudou isso, levando também a vizinha Suécia a deixar 200 anos de isolamento relativo, aderindo neste ano à aliança. Estocolmo não participará deste Steadfast Noon porque o planejamento nuclear da Otan é bastante metódico e lento.
Outro estreante na ação é o novo secretário-geral da Otan, o holandês Mark Rutte. Seu país, aliás, é um dos comandantes formais do exercício, ao lado da Bélgica. Ambos os países sediam bases com bombas táticas B-61, e a Holanda é a primeira integrante da Otan a operar o mais recente avião capacitado para empregá-las, o americano F-35.
Alem das seis bases atuais, duas delas na Itália, há outras seis unidades com capacidade de receber armas nucleares na Europa. Uma delas, no Reino Unido, poderá ser reativada em breve.
No Steadfast Noon, são treinadas as capacidades de lançar um ataque, um contra-ataque e, principalmente, a coordenação entre diversas forças. Além dos caças capazes de empregar bombas táticas, como o F-35, o Tornado e o F-16, participam da ação bombardeiros B-52 americanos.
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