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Fabi Bang e Myra Ruiz se preparam para novo ‘Wicked’ – 08/02/2025 – Mônica Bergamo

Fabi Bang e Myra Ruiz se preparam para novo 'Wicked' - 08/02/2025 - Mônica Bergamo

Karina Matias

Myra Ruiz ensaiava “Defying Gravity”, canção que é um dos pontos altos de “Wicked”, quando recebeu uma mensagem do diretor Charles Möeller, nome fundamental do teatro musical brasileiro. “Ele me mandou: ‘Te ouvi cantando, você vai passar’.”

O ano era 2015. Myra estava no Rio de Janeiro em cartaz no musical “Nine”, dirigido por ele e Cláudio Botelho. Ao mesmo tempo, ela e uma série de outras atrizes faziam testes em São Paulo para conseguir uma vaga na primeira montagem brasileira de “Wicked”, já um hit na Broadway.

Aos 23 anos, Myra duvidou do palpite de Möeller —ele tinha escutado a atriz cantando porque ambos estavam hospedados no mesmo prédio na capital fluminese, ela no 5º andar, e o diretor no 10º. Myra tentava conquistar o papel de Elphaba, a bruxa má do Oeste, principal personagem do espetáculo ao lado de Glinda, a bruxa boa. “Achava que não tinha a menor chance.”

Estava errada. Myra protagonizou não só aquela versão de 2016, como também uma segunda, em 2023, além de dublar Cynthia Erivo na adaptação para o cinema do musical, que estreou no ano passado e recebeu dez indicações ao Oscar, inclusive de melhor filme e melhor atriz para Erivo.

Agora, ela se prepara para subir ao palco em uma quarta versão do musical. Ao seu lado como Glinda estará novamente Fabi Bang, sua parceira em 2016, 2023 e na dublagem do longa.

Embora Fabi seja nove anos mais velha que Myra e já tivesse mais experiência em musicais quando fez o teste para “Wicked”, a escolha das duas para a primeira montagem do espetáculo surpreendeu o meio artístico. “Todo mundo falava que [as protagonistas] seriam algumas das atrizes veteranas. E acabou sendo eu e a Fabi, duas novatas, que nunca tinham protagonizado nada”, recorda a intérprete de Elphaba.

Até então, as duas pouco se conheciam. Nos bastidores, foram se tornando amigas, parceria que se estendeu para outros projetos e para a vida pessoal: Myra é madrinha da filha de Fabi, a Bebel.

Bailarina profissional, Fabi se encantou com o mundo dos musicais ao entrar para o elenco de dançarinos de “O Fantasma da Ópera”, em 2005. “Olhei toda aquela engrenagem funcionando e pensei: ‘Não vou sair daqui, quero viver disso’. Para mim, o dia triste era quando não tinha trabalho”, conta.

A partir daquele momento, passou a ter aulas de canto e a se dedicar ao universo do teatro. Dez anos depois, quando começaram os testes para “Wicked”, Fabi já era conhecida no mercado por sua versatilidade. Inicialmente, a produção sugeriu que ela fizesse teste para as duas personagens principais: Glinda e Elphaba.

Mas ela preferiu mergulhar em apenas um dos papéis. Escolheu a “bruxa boa” seguindo conselhos das pessoas que estavam ao seu redor. “Foi uma decisão difícil para mim, porque, sinceramente, não me imaginava no papel da Glinda. Mas resolvi dar um voto de confiança para as pessoas que estavam me cercando. E todas elas falavam assim: como você está em dúvida? Você é a Glinda! A gente não vê outra coisa em você que não seja esse movimento, essa agilidade, essa efervescência, essa alegria’.”

Para ambas, estrelar “Wicked” foi um divisor de águas na vida e na carreira. O espetáculo costuma atrair admiradores fervorosos ao redor do mundo, especialmente adolescentes e jovens adultos. E não foi diferente no Brasil. É comum que os mais fanáticos assistam mais de uma vez ao musical. Os produtores contabilizam que, em 2023, quase 40 pessoas viram 30 vezes a produção.

Muitos desses espectadores se tornaram também grandes fãs das atrizes, que estão hoje entre os maiores nomes do teatro brasileiro. Para Fabi, conquistar esses fãs é um dos principais legados que “Wicked” lhe proporcionou. “Me conectei com pessoas que movem a minha vida, a minha carreira. É uma herança preciosíssima saber que, qualquer que seja o projeto em que eu estiver inserida, há aquele público que me acompanha de forma fiel, porque de alguma forma se sentiu tocado pelo meu trabalho”, diz ela.

Myra compartilha da mesma opinião. “É uma loucura, sou parada na rua quase todo dia [por fãs]”, relata ela. “Me deixa muito feliz por ver o poder que o teatro pode ter. Não é TV, não é Hollywood. É uma peça de teatro em que as pessoas têm que sair da casa delas para consumir”, destaca.

Prova disso foi a comoção que ambas causaram ao participar no ano passado da CCXP, principal feira de cultura pop que ocorre no Brasil. “Parecia nossa,…[que a gente era] Justin Bieber“, lembra Myra. O sucesso do filme “Wicked”, na visão delas, só aumentou a popularidade da história sobre as bruxas do universo de “O Mágico de Oz”.

Com investimento em torno de R$ 19 milhões, a nova versão brasileira do musical tem estreia marcada para 20 de março, no Teatro Renault, em São Paulo. Para esta produção, o desafio, dizem elas, é não cair no lugar comum. “Quando acabou a temporada de 2023, eu pensei comigo: ‘Nossa, acho que agora esgotei a minha fonte de criatividade para esse papel’. Mas quando chegou essa nova proposta, foi uma provocação para mim como atriz de conseguir trazer frescor para uma personagem que eu tenho tanta intimidade e que as pessoas já viram em outras versões”, diz Fabi. “[A proposta] é conseguir fazer com que essa montagem seja tão inesquecível quanto as outras”, completa.

Myra tem opinião semelhante e diz não querer ter medo de arriscar por receio de desagradar o público. “Acho que o desafio é a gente encontrar o balanço entre repetir o que é legal e criar coisas novas”, afirma. “Para que a minha performance seja a melhor possível, preciso ter a coragem de fazer escolhas que eu posso não ter feito antes.”

Para a atriz, esse é um dos ensinamentos mais importantes do filme e de Elphaba, a menina que sofre preconceito desde a infância por ter a cor da pele verde, mas que consegue encontrar dentro dela o poder que essa diferença proporciona.

Myra avalia que esse é um processo pelo qual as mulheres passam ao longo da vida. “O quanto a gente tem que abdicar quando a gente resolve bancar quem a gente é. E isso tem um peso, principalmente na vida da mulher. E vai dando raiva, vai sendo difícil não virar a ‘bruxa má’ quando você se sente, muitas vezes, incompreendida. Ou quando tudo o que você fala é levado para um lado pior.”

“A personagem é tão forte porque ela inspira as pessoas a passarem por esse processo. Eu mesma ainda não tenho a coragem da Elphaba, mas estou criando cada vez mais.” No caso de Fabi, ela afirma que Glinda foi a sua faculdade, pós-graduação e mestrado. “Ela é um prato cheio para qualquer atriz, porque tem comédia, tem drama, tem romance.”

Da convivência proporcionada a partir do musical, elas também ficaram amigas. No início, porém, elas contam que tinham tudo para virar inimigas. Havia uma certa “fofoquinha” nos bastidores do espetáculo que tentava colocar uma contra a outra. “Parece que o mundo adora ver mulher brigando. A peça fala um pouco sobre isso, inclusive”, diz Myra.

Elas contam, porém, que logo perceberam que precisavam se unir em vez de competir, já que ambas estavam em início de carreira, ainda muito inseguras e experimentando pela primeira vez o protagonismo. “Só eu sabia o que ela estava sentindo, e só ela sabia o que eu estava sentindo, porque era algo novo para nós duas”, relembra Fabi.

“E aí a gente criou realmente um alicerce. É quase um casamento. Claro que temos as nossas diferenças, mas existe um cuidado uma com a outra para preservar esse bem comum, que é a nossa relação. Até as vaidades, os egos, a gente abdica em nome da dupla”, completa a atriz.



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