Zuckerberg perde US$ 15,4 bilhões e cai do 4º para 6º entre os mais ricos, segundo a Forbes.
O Facebook bateu nesta quinta-feira (26) um novo recorde na história do setor de tecnologia americano.
Desta vez, porém, não há motivo para comemorar: a empresa perdeu US$ 120 bilhões (R$ 446,8 bilhões) em um único dia na Bolsa de NY, a maior destruição de valor diária de uma companhia na história de Wall Street.
As ações da companhia recuaram 19% nesta quinta, para US$ 176,26. No ano, acumulam perda de 0,11% –até a véspera, ganhavam 23,26%.
A forte queda dilapidou US$ 15,4 bilhões (R$ 57,3 bilhões) do patrimônio do fundador da empresa, Mark Zuckerberg, que perdeu duas posições na lista dos mais ricos da Forbes —agora, é o sexto.
Para servir de parâmetro, a perda diária do Facebook foi equivalente ao valor inteiro do McDonald’s ou da Nike, ou então à soma dos valores de Petrobras e Bradesco. Também superou todo o mercado acionário da Argentina.
A forte queda foi a resposta dos investidores a uma receita que veio abaixo do esperado em algumas linhas do balanço divulgado na quarta (25). Com anúncios, por exemplo, o ganho no segundo trimestre foi de US$ 13,04 bilhões, ante consenso do mercado de US$ 13,16 bilhões.
O ritmo de crescimento na base de usuários também desacelerou, recuando de 13% no segundo trimestre de 2017 para 11% nos três meses encerrados em junho deste ano.
Mas o dia desastroso refletiu sobretudo o alerta feito pelo próprio Facebook de que a nova realidade da empresa pode ser mais modesta, com desaceleração no crescimento na segunda metade do ano, conforme advertiu seu diretor financeiro, David Wehner.
A empresa estima ainda que, em 2019, o crescimento dos gastos será maior que o da receita. Esse investimento será feito, por exemplo, em segurança, inovação, conteúdo de vídeo e realidade virtual.
O balanço acendeu o sinal amarelo entre analistas. Muitas casas revisaram projeções para o preço das ações do Facebook, entre elas, o banco suíço UBS, o americano JP Morgan e a casa de investimento Baird.
A equipe de análise do JP Morgan diz que, mais que decepcionante, a melhor palavra para descrever os resultados e perspectivas para o Facebook seria “estarrecedor”. “Achamos que poucas pessoas, se é que uma, conseguiu antecipar esse tipo de reajuste.”
Após o crescimento de 42% no segundo trimestre, o banco redimensiona a expansão do Facebook para 33% entre julho e setembro e 26% no quarto trimestre —a previsão era de 38% e 34%, respectivamente.
Um dos fatores que podem levar a essa desaceleração, segundo o banco, é a aposta do Facebook em monetizar o Stories (serviço de fotos e vídeos temporários), que tem capacidade de gerar retorno menor que a do feed de notícias.
Para a Baird, a desaceleração no crescimento da receita e a queda na margem operacional nos próximos trimestres são “auto-infligidos”, conforme o Facebook sacrifica “a monetização original no aplicativo para dirigir o uso/engajamento nos Stories.”
Também é incerta a resposta de usuários e anunciantes a eventuais mudanças na política de privacidade após o escândalo envolvendo a consultoria Cambridge Analytica.
A empresa teve acesso a dados de 86 milhões de usuários da rede social sem o consentimento deles. Zuckerberg foi ao Congresso dos EUA responder a perguntas sobre o ocorrido e passou a ser alvo de pressão de autoridades regulatórias em vários países.
Desde então, paira sobre a empresa a possibilidade de uma regulação mais rígida por parte do governo, o que poderia afetar o desempenho da companhia no longo prazo. Na conferência de resultados, Wehner afirmou que a empresa colocou a privacidade em primeiro lugar. Para os analistas, há desafios nessa área.
Mas o JP também avalia que o Facebook tem a oportunidade de mudar as expectativas para “níveis mais acessíveis”.
William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue Securities, reconhece que o resultado decepcionou, mas avalia que houve um exagero na penalização à empresa. “Ainda que estejamos falando de milhões de dólares, a diferença é marginal, nada desastroso que levasse a tamanha perda”, diz.
Ele ressalta que a nova realidade anunciada pela empresa “traz o mercado de volta.” “Apesar de negativo no curto prazo, mostra o compromisso dos diretores em construir uma empresa que entregue bons resultados não apenas num único trimestre”, afirma.
Alves diz ainda que o mercado “parece que havia ignorado os recentes escândalos pelos quais a empresa passou.”
A queda do Facebook arrastou o índice de tecnologia Nasdaq, com baixa de 1,01%, e contaminou o ânimo de investidores da Amazon, que aguardavam divulgação de balanço. Os papéis da varejista caíram 2,98%. Outras ações de tecnologia, como Twitter (-2,89%) e Apple (-0,31%), também recuaram. Danielle Brant. Folha SP.