Bernardo D’Orey Gaivão Plum veio ao mundo 20 dias antes do planejado. Sua mãe ainda não completara nove meses de gestação e se preparava para um exame no dia seguinte quando a bolsa rompeu, anunciando a chegada do primogênito.
Sua vinda era muito aguardada. Ele era o primeiro filho de Júlio e Maria Madalena, que estavam casados havia dois anos, e também o primeiro neto de seus avós paternos. Apesar da gravidez mais breve do que o esperado, Bernardo chegou com muita saúde e encheu a casa de alegria. Era novembro de 1990.
Cinco anos depois nasceria sua irmã Ana Luisa, e depois Julia, nove anos mais nova que ele. A rivalidade das meninas contra o menino, típica das birras de infância, daria lugar a uma sincera amizade depois da adolescência.
A família sempre morou em Santo André, na região do ABC paulista, e seus pais —um profissional do setor financeiro e uma fonoaudióloga— tinham “uma vida de muito trabalho, mas também muito feliz”, na definição do pai, Júlio Plum.
O menino passava muitas tardes na casa da avó Maíta, uma portuguesa com sotaque carregado, quase sempre brincando com o primo Marcos. Amava esportes e jogava muito videogame. O futebol foi onipresente ao longo da vida, e aos 14 ele começou no tênis —influenciando o pai, que joga até hoje.
Depois de se formar no ensino médio, com 17 anos recém-completados morou por seis meses no Canadá. Com a família que o recebeu, manteve laços para a vida inteira.
O fascínio pelos jogos eletrônicos o influenciou na escolha da profissão. Bernardo se formou em Ciência da Computação na UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), campus de Sorocaba, onde morou por quase sete anos.
Corintiano apaixonado, tinha mais aptidão para o handebol do que para o futebol. Fez parte da associação atlética da faculdade e tornou-se treinador do time feminino.
Tinha a reputação de chefe acolhedor e generoso entre os colegas de trabalho, e de exemplo de companheirismo entre os amigos de faculdade e professores. Era gerente sênior e coordenava três equipes diferentes no grupo Boticário. Nas reuniões de família, trocava provocações com a irmã Ana Luisa, que trabalha com marketing na concorrente Natura.
Há três anos conheceu a engenheira de alimentos Camila Vicente, na internet. A família dele a chamava de sua “alma gêmea”. Bernardo era do tipo cavalheiro, que abria a porta do carro para ela embarcar e descer.
Casaram-se em agosto, e Bernardo vestia trajes iguais aos que o pai usou 36 anos antes: terno preto, camisa branca e gravata prateada. “Ele nos encheu de orgulho”, disse o pai. “Era um marido exemplar. Tenho certeza que seria o melhor pai do mundo.”
Como no início da vida, Bernardo teve também uma morte precoce. Ele morreu num acidente de carro no último sábado (7), aos 34 anos, deixando os pais, as duas irmãs e a mulher.