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Folia de Reis improvisa toadas até para pets – 05/01/2025 – Cotidiano

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Roberto de Oliveira

Palhaços barbudos empunham espadas de madeira. Todo o gestual tem o intuito de proteger o bem maior do grupo: a bandeira, ornamentada com fitas e flores coloridas que, mesmo ao sabor dos ventos, deixa clara a imagem da Sagrada Família e dos Reis Magos nela estampada. Cantores e tocadores —equipados de viola, sanfona, pandeiro— integram o cortejo de visitas, com o intuito de distribuir bênçãos em troca de presentes, nessas peregrinações religiosas denominadas jornadas ou giros. Porque hoje é o dia de Santo Reis.

A data do dia de Reis, em si, é comemorada na segunda-feira (6). Os festejos, porém, costumam acontecer em diferentes épocas do ano, sobretudo no período natalino. “Muitas vezes, a gente chega a cantar em 30 casas diferentes num só dia”, conta Carlos Eduardo da Silva Júnior, 27, da companhia de reis Du Catira, de Itapevi (SP), criada em 1958.

Ao lado do irmão, Diego Henrique, 16, da mãe, Flávia, 54, e do pai, Carlos Eduardo, 49, fundador do grupo, a família toda participa da Folia de Reis, tradição herdada do bisavô paterno. Com apenas 12 anos, a mais nova do grupo, Manuella Eduarda, faz parte da quinta geração de foliões.

A Folia de Reis é celebrada, principalmente, em Minas Gerais, Goiás, Espírito Santo, São Paulo, Bahia e Rio de Janeiro, de acordo com a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Na capital fluminense, a festa pode se estender até o dia 20 de janeiro, quando é celebrado o dia de São Sebastião, padroeiro da cidade.

Há festejos em áreas rurais de São Paulo e também na região do ABC paulista. É no interior, todavia, onde a festa é trabalhada com mais afinco.

Inspirados nas viagens míticas dos Reis Magos, os festejos de origem católica estão presentes no Brasil desde o século 18. Em forma de auto, a Folia de Reis narra a jornada do nascimento de Jesus e a viagem dos três Reis Magos para visitá-lo em Belém.

Guiados por uma estrela, os reis viajantes do Oriente, Baltazar, Melchior e Gaspar, deram ouro, incenso e mirra ao menino Jesus, segundo a tradição cristã. O significado dos presentes tem diferentes interpretações. O ouro representava a realeza; o incenso, a divindade, a devoção; e a mirra simbolizava a humildade dos magos diante do menino e sua imortalidade.

Chamada pela Igreja Católica de Epifania do Senhor, a festa litúrgica recebeu influência de origens europeias, especialmente ibéricas. Por aqui, adotou formas e expressões regionais distintas em brincadeiras, músicas, danças e orações. A devoção aos Santos Reis, entretanto, permeia toda a celebração.

“Os cantos e versos muitas vezes são improvisados na hora, no calor do encontro”, conta Júnior. “Já recebemos pedidos variados: desde uma senhora que tinha perdido dois cachorrinhos queridos até mesmo de uma mãe preocupada com o vestibular da filha”, conta o rapaz, que seguiu a trajetória dos pais, dos avós e dos tataravós mineiros desde que era criança.

Geralmente formada por 12 integrantes, as folias são compostas por mestres e contramestres, responsáveis pelo canto. O alferes ou bandeireiro é o responsável por carregar a bandeira, estandarte da companhia, e apresentá-la aos chefes das residências visitadas. Há ainda foliões, instrumentistas e palhaços mascarados, vestidos com roupas coloridas feitas de chita, conforme versões arraigadas nas tradições populares.

“Os palhaços são os guardiões da bandeira, flâmula que representa a estrela guia. É ela que abre os caminhos para os foliões”, conta Inimar dos Reis, 60 anos, 40 deles dedicados à folia. “Ninguém pode passar à frente da bandeira”, explica.

Criador da companhia de reis Folias e Folguedos, ele é produtor e pesquisador de cultura popular. Costuma viajar pelo país em defesa das tradições culturais. Uma das missões é empenhar-se para que a Folia de Reis mantenha a sua relevância.

“Perdemos muitas lideranças no auge da pandemia da Covid. O pessoal tradicional, das antigas. Estamos fazendo um trabalho para trazer mais jovens aos grupos.”

Diz ele que a participação de novos integrantes vem crescendo nas folias, por interesse tanto cultural quanto religioso. Uma estratégia é realizar o périplo em datas fora da efeméride fixada pelo calendário católico. Hoje é comum ocorrer Folia de Reis em meses distintos como abril e setembro.

No interior paulista, as regiões de Palmital, São José do Rio Preto e São Luiz do Paraitinga costumam atrair muitas companhias de reis, assim como as mineiras Guaxupé e Jequitibá.

Reis e o seu grupo deram uma amostra dessa diversidade durante a 15ª edição do Natal Iluminado, iniciativa da Associação Comercial de São Paulo, em cortejo pelas ruas do centro da capital paulista, de 16 a 23 de dezembro passado.

É comum que as folias se formem como pagamento de promessas feitas a graças alcançadas. Normalmente, esses grupos mantêm o giro por sete anos para cumprir o juramento.

Diego Henrique, da companhia Du Catira, lembra que os médicos deram um mês de vida ao pai dele quando nasceu. “Meus avós fizeram promessas aos Santos Reis. O meu pai saiu na folia quando tinha um aninho e nunca mais parou”, conta.

As pessoas que recebem a bandeira dos Santos Reis em suas casas fazem pedidos de cânticos e orações à companhia em meio a uma atmosfera que muitas vezes mistura religiosidade com misticismo. “É comum pelo interior do Brasil a gente cantar também para um ente querido adoentado ou falecido, sempre a pedido da família”, explica Reis.

O cantador é quem pede licença para entrar nas residências e entoar músicas e louvores aos magos, via de regra, diante de presépios e lapinhas. Em troca, são ofertados donativos pelos familiares visitados.

Aqui cabe mais uma tarefa aos palhaços: a de recolher a oferta. “Recebemos galinha, bezerro, porco e até cavalo. Sem contar as sacas de milho e soja”, diz Júnior.

Normalmente, esses produtos vão a leilão, e o dinheiro é compartilhado entre os participantes das companhias.

Folia de Reis, Festa de Santos Reis ou Reisado, essas peregrinações guardam características que as diferenciam. De acordo com o pesquisador Reis, o reisado, por exemplo, costuma incorporar elementos alegóricos e carregar consigo mais integrantes.

Justamente por serem numerosos, os reisados não entram no interior das casas. Avançam, no máximo, até o terreiro ou o quintal da morada. Em ambos os casos, a oferta é bem-vinda para garantir a festa do ano que vem. “Yeah, yeah, yeah”, como diria Tim Maia.



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Quem foi São Longuinho e o significado dos três pulinhos – 15/03/2025 – Cotidiano

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Quem foi São Longuinho e o significado dos três pulinhos - 15/03/2025 - Cotidiano

Vitoria Pereira

“São Longuinho, São Longuinho, São Longuinho, se você me ajudar a achar este objeto, eu dou três pulinhos.” Com esse pedido, muitos devotos recorrem ao padroeiro dos objetos perdidos, cuja data de celebração acontece neste sábado (15).

Segundo dados do Google Trends, o interesse dos brasileiros em conhecer a história do santo e os motivos pelos quais ele é invocado para encontrar itens desaparecidos tem crescido nos últimos cinco anos.

Tradicionalmente, ele é identificado como o soldado romano que perfurou Jesus com uma lança durante a crucificação. Por isso, na iconografia, ele é retratado segurando uma lança.

Esse gesto fez jorrar água e sangue de Cristo, e algumas gotas caíram nos olhos de Longuinho. Ele, que sofria de problemas de visão, foi curado. Considerado um milagre, isso o levou a reconhecer Jesus como o filho de Deus e a passar por um processo de conversão ao cristianismo, abandonando o exército.

Dom André Alves, presidente da Academia Brasileira de Hagiologia, especializada no estudo da vida dos santos, diz que o ato é mencionado no Evangelho de João (capítulo 19). No entanto, o nome de Longuinho não é citado diretamente nas Escrituras.

O historiador e professor de ciências da religião da PUC Minas Rodrigo Coppe explica que muitas dessas narrativas vêm do imaginário popular, já que não há documentos originais suficientes para confirmar todos os detalhes.

Apesar das incertezas sobre a vida de São Longuinho, Dom André diz que ele foi canonizado por volta do ano 1.000 pelo Papa Silvestre 2º.

“Toda a documentação e os escritos se perderam, e conta-se que, ao buscar pelos documentos, o pontífice pediu a intercessão de São Longuinho para que o material fosse encontrado. Quando os documentos surgiram, como prova de gratidão, o Papa procedeu com sua canonização”, afirma.

Por isso, além da lança, ele também é representado com uma luminária, simbolizando sua busca por algo perdido.

Sobre a origem dos pulinhos, Gerson Leite de Moraes, doutor em ciências da religião e filosofia, afirma que há diferentes versões, sendo que uma delas está relacionada à dificuldade de locomoção de Longuinho, que era um pouco manco.

“Essa limitação o deixava triste, principalmente ao ver outras pessoas caminhando ou pulando normalmente. Os três pulinhos, então, seriam uma forma de expressar a alegria e a gratidão, simbolizando a superação das dificuldades e deixando São Longuinho feliz”, afirma Gerson.

Outra explicação sugere que, devido à sua baixa estatura, ele teria facilidade em encontrar objetos perdidos em lugares apertados ou sob mesas, tanto antes quanto após sua conversão. Enquanto, outra teoria associa essa habilidade ao tempo em que ele servia na corte romana, onde teria ajudado a encontrar itens perdidos.

Dom André explica que o número três remete à Santíssima Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo), e os três pulinhos seriam uma forma de agradecer a São Longuinho.

No entanto, ele ressalta que essa prática não é uma doutrina oficial da Igreja Católica. Ele sugere que os fiéis também podem expressar sua gratidão de outras formas, como rezar três Pai Nossos.

Essa manifestação de fé pode ser observada em locais como a cidade de Guararema, localizada a 76 km da capital paulista, onde se encontra a igreja Nossa Senhora da Escada.

A igreja se destaca por alegar ser a única a possuir a imagem de São Longuinho. O local foi construído pelos jesuítas em 1652 e tombado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) na década de 1940.

Após alguns anos, uma escultura de São Longuinho foi descoberta entre os objetos antigos da igreja por Ana Luísa Leme, uma devota fervorosa do santo. Ela se tornou a zeladora do local e colocou a imagem para a veneração dos fiéis, conta o padre João Motta, pároco da igreja.

O padre diz que a devoção a São Longuinho ganhou ainda mais destaque quando a esposa de um homem à beira da morte fez uma promessa ao santo, e ele se recuperou de forma considerada milagrosa pela família.

“Os fiéis [também] recorrem ao santo para interceder por questões de saúde, emprego ou problemas familiares”, afirma o pároco da igreja.

Como forma de agradecimento pela graça recebida, a família passou a organizar uma quermesse anual em Guararema, no mês de março. Neste ano, o evento chega à sua 23ª edição —o evento começou no dia 7 e vai até este domingo (16).



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Netinho de três anos salva a bisavó que caiu e bateu a cabeça; enfrentou escuro

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O Senado aprovou projeto que determina ao SUS garantir a reconstrução dentária de mulheres vítimas de violência doméstica. A iniciativa aguarda sanção do presidente da República. – Foto: Agência Brasil

“Aqui não é notícia quem mata, mas quem salva. Não quem rouba, mas quem é honesto. Não quem agride, mas aquele que faz boas ações. Não noticiamos tragédias, só casos com final feliz. Em vez de preconceito, damos histórias de superação.”

Rinaldo de Oliveira; Fundador do SóNotíciaBoa



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“O que aconteceu com todos os guerreiros da Europa?” »»

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"O que aconteceu com todos os guerreiros da Europa?" »»

Qvai lutar durante nossas próximas guerras? Ou melhor, quem lutará em nosso lugar durante nossas próximas guerras? Esta pergunta, que há muito pairam em nossas cabeças – ignorada, repelida, reprimida – tornou -se irritante desde a traição de Donald Trump. Porque ele não deve permanecer a menor dúvida sobre este ponto: os 47e Presidente dos Estados Unidos da América é um traidor de seus amigos, seus aliados e, acima de tudo, aos valores seculares de sua nação.

Todos os dias, agora, debatemos a necessidade de uma “defesa européia comum”, o aumento de investimentos dedicados a financiar nossos gastos militares e até a possibilidade de implantar nossos soldados ao longo da frente sangrenta que separa os ucranianos e russos. Debatemos obstáculos que impedem a Europa de atingir a autonomia, na ausência de independência impossível, em sua defesa militar contra possíveis e futuras agressões, infelizmente, cada vez mais provável (e já em andamento). Esses obstáculos são numerosos, enormes e diversos: são natureza militar-industrial, econômica, tecnológica e estratégica, mas também, acima de tudo, de natureza política.

Esse debate, por mais necessário que seja, persiste em ignorar a principal deficiência européia quanto à possibilidade de realizar uma guerra defensiva ao todo: a ausência de guerreiros. Como os recentes massacres ucranianos (e do Oriente Médio), infelizmente, tragicamente mostrados, as guerras, incluindo as mais avançadas tecnologicamente, precisam de guerreiros. Nós europeus europeus não o temos, não somos guerreiros, não somos mais.

Não estou me referindo aqui à única escassez de soldados operacionais, por mais grave que seja: a defesa da fronteira ucraniana exigiria a implantação de 200.000 soldados. No entanto, a União Européia só seria capaz de fornecer 60.000 em três rotações de 20.000. Para travar a guerra, mesmo uma única guerra defensiva, é necessário ter armas apropriadas, mas também-e isso é um jovem teimoso, intratável e terrível, os jovens (e mulheres) precisam, empréstimos e inclinados a usá-los. Em outras palavras, os homens resolveram matar e morrer.

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