Não é por falta de bons autores que a novela brasileira vai morrer. Com a estreia de “Garota do Momento” nesta segunda (4) na faixa das seis horas, Alessandra Poggi subiu mais um degrau para se tornar uma das grandes novelistas da Globo hoje.
Já deu para ver que “Garota do Momento” será um novelão com N maiúsculo, usando um recurso clássico do melodrama: a perda da memória. E que a autora usará o fim dos anos 1950, quando o Rio ainda era a capital do país, para discutir racismo, machismo e outros preconceitos à luz dos debates que fazemos em 2024. Vale lembrar que os anos 1950 são uma época que rendeu belos produtos na Globo, como a minissérie “Anos Dourados” (1986) e a novela “Bambolê” (1987).
Aconteceu de um tudo no primeiro capítulo da nova novela das seis. Em 1958, conhecemos a mocinha Beatriz (Duda Santos, a Maria Santa do remake de “Renascer”), doce professora de crianças em Petrópolis. Um dia, ao folhear uma revista, ela dá de cara com a foto da sua mãe desaparecida, Clarice (Carol Castro), na coluna social.
MÃE E FILHO DO MAL
Corta para 1942, 16 anos antes, onde descobrimos o que aconteceu. Clarice foi ao Rio expor suas pinturas, se apaixonou pelo empresário Juliano (Fábio Assunção), mas logo o surpreendeu agredindo e depois matando uma vedete que era sua amante, e com quem teve uma filha. Assustada, Clarice fugiu do prédio, foi atropelada por um bonde e perdeu a memória.
Foi a oportunidade para Juliano e sua maquiavélica mãe, Maristela (Lília Cabral), inventarem todo um passado falso para a moça, incluindo uma falsa irmã, Zélia (Letícia Colin), e fazendo a moça crer que a filha da vedete era a sua filha.
IDADES QUE NÃO BATEM
Eventos rocambolescos à parte, os noveleiros já tiveram outros dois grandes prazeres nesta estreia. O primeiro foi ver Lília Cabral viver a mãe de Fábio Assunção sendo apenas 14 anos mais velha que ele – quem pediu verossimilhança? Tá tudo certo; novela é gênero mais próximo do teatro que do cinema realista. Maristela, a vilã de Lília, já apareceu com chapéu rebuscado e perucão pesado, honrando a tradição das malvadas exuberantes.
O segundo foi ver a Globo voltar aos áureos tempos da Som Livre e encomendar a grandes artistas uma trilha sonora especial para sua nova novela. Era um recurso que mostrava que a novela era o principal produto cultural do Brasil e rendeu músicas que tocam até hoje – exemplo: toda a discografia do Roupa Nova. Na estreia, já pudemos ouvir Criolo cantando “Se Acaso Você Chegasse”, Iza arrasando em “Cry Me a River” e Gloria Groove mandando ver no vozeirão grave em “Smoke Gets in Your Eyes”.
E olha que “Garota do Momento” ainda não tirou da cartola dois trunfos que certamente ajudarão em seu sucesso: Maísa (assinando sem o Silva na abertura) como a mimada Bia, a falsa filha e antagonista de Beatriz; e Eduardo Sterblitch num papel sob medida para ele, o apresentador de TV Alfredo Honório, calcado em Silvio Santos e outros grandes apresentadores da época. Como disse Alfredo nas chamadas, a depender do que se viu no primeiro capítulo, “Garota de Momento” tem tudo para ser um “chuá”.
Garota do Momento
De segunda a sexta às 18h30 na Globo