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Haddad diz que gastos é prioridade nos debates com Lula – 14/10/2024 – Mônica Bergamo

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Haddad diz que gastos é prioridade nos debates com Lula - 14/10/2024 - Mônica Bergamo

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT-SP), afirma que tem tido mais tempo de conversar com o presidente Lula (PT) já que o Congresso está funcionando em ritmo lento por causa das eleições municipais.

Um dos temas principais das conversas, afirma ele, é a dinâmica dos gastos do governo e o impacto deles na dívida pública —que só cresce. Resolver esse problema, diz Haddad, é “premente” e está “na ordem do dia”.

O ministro afirma que é necessário “endereçar essa questão” para “as pessoas enxergarem que a soma das partes vai caber no todo” e que o arcabouço fiscal definido pelo governo vai de fato funcionar.

Ele diz que Lula já tomou diversas providências e que a questão, portanto, está equacionada no curto prazo. Mas é preciso mais, enfrentando gastos estruturais que comprometem as contas no futuro.

Ele afirma que Lula “conhece o contexto e está atento”, e que é possível resolver essa questão “premente” sem transformar o Brasil na Argentina, em que a taxa de pobreza disparou para 52,9% depois do ajuste fiscal promovido pelo presidente Javier Milei.

DÍVIDA PÚBLICA

Há quase dois anos o senhor parece exclusivamente correr atrás de receitas. Elas cresceram, mas os gastos estruturais também. Em consequência, a dívida pública aumentou, bem como as dúvidas sobre sua sustentabilidade. Há limites técnicos e políticos tanto para novo aumento de receitas quanto para a reestruturação dos gastos. Que cartas o senhor ainda tem na manga para enfrentar o problema?

Vamos lembrar alguns indicadores importantes. A deterioração da base fiscal do Estado começou lá atrás, em 2015.

Perdurou e piorou até 2023. Recebi um orçamento do governo anterior com previsão de receitas na casa de 17% do PIB, o pior da série histórica. A despesa estava na casa de 19,5% do PIB. A maquiagem de 2022 passou a impressão para a sociedade de que tínhamos um equilíbrio fiscal. Mas ele foi construído com base no calote de precatórios e em privatizações açodadas que geraram receitas que não se repetiriam nos anos seguintes.

O que fizemos? Nós estabelecemos um teto de gastos determinando que a despesa não pode crescer acima de 70% da receita. E dentro do limite de 2,5%. A diferença vai recompor as contas públicas deterioradas.

Até aqui, deu certo. O déficit veio para alguma coisa em torno de 1% do PIB, excetuada a despesa extraordinária com queimadas, que é pequena em relação ao orçamento, e com o Rio Grande do Sul [por causa das enchentes]. Despesa da qual me orgulho: a economia gaúcha está em franca recuperação.



O papel do ministro da Fazenda não é só apresentar uma planilha para o presidente. Isso é o mais fácil. Você chama qualquer economista da Liga das Senhoras Católicas que ele te apresenta uma planilha. Corta aqui, corta ali. Mas vai convencer a opinião pública. Vai aprovar no Congresso

Então a meta deste ano está sendo mantida. E se não fossem dois episódios da política —como você coloca bem em sua pergunta— , que foi [o Congresso] estender a desoneração da folha [de pagamentos de salários] aos municípios de até 156 mil habitantes e o Perse [programa de retomada do setor de eventos que previa isenções], nós estaríamos hoje em equilíbrio fiscal.

Mas há apreensão pois a dívida pública cresce.

A Faria Lima [avenida de SP onde se concentram agentes do mercado financeiro] está, com razão, preocupada com a dinâmica do gasto daqui para a frente. E é legítimo considerar isso com seriedade.

A soma das partes, das rubricas orçamentárias, pode fazer com que o arcabouço fiscal aprovado por este governo não se sustente.

O que a Faria Lima está apontando —na minha opinião, com algum exagero em relação ao preço dos ativos brasileiros — é que a dinâmica [dos gastos] para a frente é preocupante. Pode ter impacto na dívida [que a União tem que fazer para financiar seus gastos]. E o governo tem que tomar providências. A Fazenda está com isso na mesa, 100%.

Com a mesma preocupação?

A mesma preocupação. Desde fevereiro estamos tomando algumas medidas —que não são suficientes para endereçar esse problema para o futuro próximo. E eu tenho conversado com o presidente Lula sobre esse tema específico.

Da dívida pública?

Da questão da dinâmica dos gastos e do impacto disso sobre a dívida. O impacto é o efeito monetário da política fiscal. Quando as pessoas perdem a certeza de que o governo está endereçando esses temas, elas começam a cobrar um prêmio de risco em juros.

E alto: hoje os juros da dívida pública pagos pelo governo estão em torno de 7%, o dobro do PIB.

É esse o problema. Você tem que endereçar corretamente. Tem que dar credibilidade para a dinâmica futura [de gastos e da dívida feita para financiá-los] para trazer esses juros ao patamar adequado. Caso contrário, o teu problema não vai ser de déficit primário [diferença entre arrecadação e gastos do governo], mas de déficit nominal, que inclui o pagamento de juros. Eu sempre disse, e repito: a política monetária e a fiscal têm que estar harmonizadas. Ou você produz um ciclo vicioso do qual é difícil de sair.

Onde está a virtude? Em continuar fazendo o que é o mantra da Fazenda: as receitas têm que voltar ao patamar adequado para financiar [os gastos], combatendo jatubis que favorecem grupos específicos, por exemplo.

Em que patamar do PIB o senhor acha que a receita deve ser estabelecida?

Na casa de 19% do PIB. E a despesa, obviamente, tem que ser menor do que 19% do PIB, para gerarmos superávit. Se conseguirmos fazer isso, a taxa de juros vai voltar a cair, como vinha caindo até o final de 2023.

E o que o senhor está falando com o Lula?

Falo o seguinte: o mercado está entendendo que a soma das partes —a soma do salário mínimo, saúde, educação, BPC— é maior do que o todo. Ou seja, vai chegar uma hora em que esse limite de 2,5% [de crescimento da despesa em relação ao da receita] não vai ser respeitado. Ainda que a receita responda, o arcabouço fiscal não vai funcionar se a despesa não estiver limitada.

Eu falo para o presidente exatamente o que estou falando para você.

Que precisa ajustar a despesa.

Nós precisamos enfrentar essa questão para as pessoas enxergarem que as somas das partes vai caber no todo.



O presidente foi o campeão do superávit primário em seus oito anos de governo [anteriores, de 2002 a 2010]. Foi a pessoa que mais reduziu a dívida pública, e tem orgulho disso. Agora, é óbvio que o que ele herdou do governo Bolsonaro é completamente diferente do que o que ele herdou do [governo] Fernando Henrique Cardoso

E que despesas ele então concorda em ajustar?

Ele tomou providências em relação ao orçamento do ano que vem. O que eu estou dizendo agora para ele é: ‘Olha, o senhor é um presidente de quatro, oito anos, não importa. Mas nós estamos cuidando do Estado brasileiro, para além do seu mandato. As pessoas não estão olhando só para 2026. O mercado financeiro olha para 2027, para 2028, para 2029, para 2030. Vê a trajetória da dívida [em alta] e muitas vezes cobra à vista [exigindo juros maiores] o problema [que vai estourar mais à frente e] que ela está antecipando’. É natural.

Estou mostrando ao Executivo, ao Legislativo e ao Judiciário que nós temos que equacionar estruturalmente as finanças do país. Caso contrário, o mercado, que não está pensando em governo, está pensando na rentabilidade dos seus ativos, antecipa decisões e prejudica o presente.

Então, não há como contornar o problema. Você pode fazer isso por um, dois, seis meses. Mas não vai conseguir equacionar.

HERANÇA

E o presidente se convenceu?

Nós estamos conversando. Estamos tendo mais tempo para isso, até em função do recesso do Legislativo por causa das eleições.

O presidente foi o campeão do superávit primário em seus oito anos de governo [anteriores, de 2002 a 2010]. Foi a pessoa que mais reduziu a dívida pública, e tem orgulho disso.

Agora, é óbvio que o que ele herdou do governo Bolsonaro é completamente diferente do que o que ele herdou do [governo] Fernando Henrique Cardoso.

Aquela herança maldita do governo FHC, portanto, não era assim tão maldita?

Eu nunca usei essa expressão. Tem que cobrar de quem usou.

O Lula usou.

Eu realmente não sei. Mas nada é comparável ao que aconteceu de 2015 para cá.

CORTES

O presidente Lula não parece disposto a mexer na vinculação dos gastos de educação e saúde ao aumento da receita, na indexação do salário mínimo, no BPC, no seguro desemprego. Ou seja, em um conjunto de gastos que só cresce e que é apontado como causador do problema estrutural da dívida.

O governo, e eu não me excluo, demorou a perceber o grau de disfuncionalidade causado pela alteração de alguns programas.

Desde 2021 houve a PEC do Calote [que adiou o pagamento de precatórios], a retirada de filtros do BPC e do Bolsa Família [para a concessão dos benefícios], a ampliação do Fundeb [fundo da educação básica] de R$ 22 bilhões em para quase R$ 70 bilhões em 2026 sem fonte de financiamento.

Ou seja, muitas das despesas que se pretende cortar foram contratadas antes de o Lula tomar posse. Quando vê isso, o presidente fala assim: ‘Pô, mas eu vou cortar dos pobres?’. Percebe a situação?

E então?

[Eu digo a Lula] ‘Ninguém está dizendo que é fácil. O senhor colocou o pobre no orçamento, ninguém está pedindo para tirar. Mas há questões estruturais que precisam ser resolvidas. Porque são distorções muitas vezes criadas com finalidades eleitorais, particularmente pelo governo anterior. Elas estão no nosso colo. Não tem pra quem dar a batata quente. Então temos que resolver”.

Mas o que será feito, afinal?

Eu estou aqui na condição de ministro da Fazenda que tem a obrigação de informar ao público as preocupações da área econômica. Mas não posso antecipar decisões que vão ser tomadas pelo chefe do executivo.

E como fazer isso sem mexer com os mais pobres?

Dá para fazer. Há uma forma inteligente de endereçar o problema. Do mesmo jeito que a gente fez o país crescer 3%, e ninguém acreditava [que isso seria possível].

Mas cresce justamente pela expansão do gasto público…

[interrompendo] Não, não é verdade. O impulso fiscal desse ano é menor do que o do ano passado. Como é que então vai explicar o crescimento pelo gasto?

As pessoas estão desconsiderando que nós estamos fazendo a maior reforma tributária da história desse país. A maior reforma de crédito da história desse país. Que nós estamos reformulando o setor de seguros. Que o crédito vai expandir mais de 10%, acima das receitas.

Por que setor após setor tem encontros com o presidente da República no Palácio do Planalto pra anunciar investimentos da ordem de R$ 90 bilhões, R$ 120 bilhões, se a incerteza é tão grande? Será que é?

ARGENTINA

O senhor mesmo manifesta preocupação.

Uma coisa é manifestar preocupação. A outra é dizer que nada está sendo feito. Eu gostaria que a velocidade fosse maior? O ministro da Fazenda, se pudesse, fazia um ajuste no primeiro mês do governo para ficar sossegado nos outros três anos e onze meses. Mas as coisas não funcionam assim. Elas têm que ser construídas politicamente.

O papel do ministro da Fazenda não é só apresentar uma planilha para o presidente. Isso é o mais fácil. Você chama qualquer economista da Liga das Senhoras Católicas que ele te apresenta uma planilha. Corta aqui, corta ali. Mas vai convencer a opinião pública. Vai aprovar no Congresso.

O outro ponto é o seguinte: o que mais protege os mais pobres é crescimento com baixa inflação. Sem crescimento, não tem como fazer ajuste nenhum em um país como o Brasil. É inviável politicamente.

Temos então que combinar tudo isso. Às vezes o caminho é um pouquinho mais longo do que um economista ortodoxo gostaria. Mas ele é mais saudável do ponto de vista político, econômico e social.

Olha o que está acontecendo na Argentina: 60% das pessoas [vivem hoje] abaixo da linha da pobreza. Não sei quantas passam fome. Uma coisa é o [presidente da Argentina, Javier] Milei fazer isso. Outra coisa é o Lula fazer isso.

Que gastos são “imexíveis” para o presidente Lula?

Não existe tabu para a área técnica. Mas não posso antecipar a avaliação que ele está fazendo. Ele conhece o contexto e está atento. Está com isso na cabeça. Lula tem um plano de governo, tem um plano para o Brasil. Ele é comprometido com esse país.

Todos dão como certo que não existirá nenhum tipo de ajuste no Brasil em 2026 por ser um ano eleitoral. Daí a expectativa de que ele seja feito agora.

Pois é.

Daí a nossa pergunta.

E eu estou respondendo. O que eu não posso é antecipar uma decisão que não me cabe.



Temos agora que resolver antes a questão da reestruturação da despesa. Isso vem na frente de qualquer outra coisa. Lula conhece o contexto e está atento

ISENÇÃO

O presidente se comprometeu com algumas propostas que aumentam gastos, como a isenção de imposto de renda para a faixa de até R$ 5.000. Ela será dada inclusive para quem ganha mais do que isso, até este valor? Ou será dada apenas a quem recebe exatamente isso?

Não, porque aí quem ganha R$ 5.001,00 paga quanto? Entende? Não dá para funcionar assim. São vários cenários. Estamos levando ao presidente todos os exercícios que ele pede.

Aprovada essa isenção, será necessário buscar uma receita para cobrir os custos. De onde ela virá? Taxando lucros e dividendos, o que pode atingir empresas do Simples e PJs?

A reforma da renda será feita com neutralidade, como aconteceu com a reforma do consumo.

Se dá para um, tem que tirar do outro?

É isso. De onde sai, para onde vai. Com que escadinha, com que prazo.

De novo: não posso antecipar decisões. O papel da Fazenda é levar cenários e prós e contras para o presidente. “Esse cenário tem esse custo político”. Vamos fazer a reforma da renda. Mas o modelo ainda não está definido.

A primeira etapa da reforma da renda será mesmo enviada ao Congresso depois das eleições municipais?

Eu penso que temos agora que resolver antes a questão da reestruturação da despesa. Isso vem na frente de qualquer outra coisa.

Já conseguimos recompor uma boa parte da base fiscal com o que tinha sido perdido [em isenções]. A desoneração da folha [de pagamento de salário das empresas] está com prazo para acabar. O Perse está com prazo para acabar. A isenção de fundos fechados e offshore acabou. São coisas contratadas para sempre. É receita ordinária, e não extraordinária. Nós não estamos vendendo estatal a preço de banana para fazer caixa.

E a próxima etapa, que estou discutindo com Lula, é a da reestruturação [dos gastos]. É a questão mais premente, que está na ordem do dia. E nós temos que dar resposta a isso.



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o motorista apresentou a um juiz de instrução na sexta-feira

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o motorista apresentou a um juiz de instrução na sexta-feira

Um ciclista morto por um motorista, no Boulevard Malesherbes, em Paris. O drama de terça-feira, 15 de outubro, que custou a vida de Paul Varrypoderia ter sido acrescentado silenciosamente à litania de notícias que cobrem a secção de segurança rodoviária. Mas ele veio a encarnar uma coexistência atormentada entre carros e bicicletas, levando-a ao seu clímax e despertando entre os ciclistas a consciência da sua vulnerabilidade.

São 17h45 no oeste de Paris na terça-feira. Ciclista de 27 anos atropelado por motorista de SUV após “uma disputa”de acordo com o mandato do Ministério Público de Paris. Testemunhas e videovigilância permitiram apurar que o condutor subiu pela larga ciclovia durante 200 metros e teria passado por cima do pé do ciclista que se deslocava para a sua esquerda. Este último então bateu no capô “para alertar o motorista, que inicialmente teria recuado, soltando o pé”especifica o Ministério Público de Paris.

O ciclista largou a bicicleta para ficar na frente do carro, do lado esquerdo, “mostrando seu descontentamento”. O motorista então virou as rodas em sua direção e avançou. A autópsia confirmou que ele a atropelou. “A videovigilância mostra uma elevação da frente e depois da traseira do lado esquerdo do veículo”acrescenta a Procuradoria de Paris, indicando que os exames de álcool e drogas deram negativo.

“Atitude voluntária do motorista”

A partir de terça-feira, o Ministério Público abriu uma investigação sobre homicídio, confiada a 1é distrito de polícia judiciária, tendo as primeiras testemunhas “percebeu uma atitude voluntária do motorista durante a movimentação do carro em direção ao ciclista”. Depois de quarenta e oito horas sob custódia policial, o motorista de 52 anos – que foi preso no local na terça-feira – foi levado ao tribunal na noite de quinta-feira para ser apresentado a um juiz de instrução na sexta-feira para uma possível acusação.

“Não é um acidente, é um assassinato”afirma Marion Soulet, porta-voz de Paris en Saddle, que conhecia a vítima. Paul Varry era um “membro ativo” da associação: “Ele exigiu que as pessoas pudessem circular com total segurança e lutou para acalmar a cidade. » Quarta-feira à noite, centenas de pessoas compareceram para prestar homenagem na Place de la Madeleine, a pedido da associação. Cada um seguiu seu caminho “Poderia ter sido eu”relacione as palavras: “Muitos relataram os incidentes que vivenciam diariamente, com um desfecho menos dramático, mas com igual violência. »

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Lula afirma que acabará com bets se regulação não der certo

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Em visita à Bahia, o presidente Lula deu entrevista à Rádio Metrópole nesta 5ª feira (17.out). Anunciará investimentos em educação e participará de comício em Camaçari (BA)

Presidente declara que seu governo não tem como ter controle sobre população mais humilde ou crianças que fazem apostas

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta 5ª feira (17.out.2024) que, se a regulação das apostas esportivas virtuais, as chamadas bets, não for eficaz, ele poderá proibir o funcionamento dessas casas de apostas no país. O governo definiu critérios e faz um pente-fino na lista de empresas em atividade.

“Tínhamos uma opção: ou acabava definitivamente ou regulava. Nós optamos pela regulação. Me parece que nessa semana mais de duas mil bets já saíram de circulação. Vamos ver. Se a regulação der conta, está resolvido o problema. Se não der conta, eu acabo. Para ficar bem claro. Porque você não tem controle do povo mais humilde, de criança com celular na mão fazendo aposta. Não queremos isso”, disse o chefe do Executivo, em entrevista à Rádio Metrópole, de Salvador (BA).

Assista à fala de Lula (56seg):

Pesquisa PoderData realizada de 12 a 14 de outubro de 2024 mostra que 24% dos brasileiros afirmaram já ter feito alguma aposta on-line, nas chamadas bets. Apesar disso, a maioria dos eleitores (73%) declarou nunca ter feito apostas on-line. Outros 3% preferiram não responder. É a 1ª vez que o PoderData faz essa pergunta aos entrevistados.

Os resultados da pesquisa evidenciam que o mercado de apostas no Brasil atinge parte considerável da população. Quando se projeta o percentual (24%) sobre o eleitorado brasileiro (quem tem mais de 16 anos), são 37,4 milhões de pessoas que jogam num mercado que atuava até pouco tempo atrás sem regulamentação.

Poder360 estratifica os dados por demografia (sexo, idade, região, escolaridade, renda e religião). Eis os destaques:

  • mais apostam – as taxas dos que afirmam apostar em bets são maiores entre os jovens de 16 a 24 anos (31%), os moradores das regiões Sudeste (26%) e Nordeste (25%) e os que cursaram o ensino fundamental (27%).
  • apostam menos – os que menos declaram realizar apostas on-line são as mulheres (20%), os moradores da região Sul (19%), os que recebem de 2 a 5 salários mínimos (19%) e mais de 5 salários mínimos (20%).

METODOLOGIA  

A pesquisa PoderData foi realizada de 12 a 14 de outubro de 2024. Foram entrevistadas 2.500 pessoas com 16 anos de idade ou mais em 181 municípios nas 27 unidades da Federação. Foi aplicada uma ponderação paramétrica para compensar desproporcionalidades nas variáveis de sexo, idade, grau de instrução, região e renda. A margem de erro é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos.

As entrevistas foram realizadas por telefone (para linhas fixas e de celulares), por meio do sistema URA (Unidade de Resposta Audível), em que o entrevistado ouve perguntas gravadas e responde por meio do teclado do aparelho. O intervalo de confiança do estudo é de 95%.

Para facilitar a leitura, os resultados da pesquisa foram arredondados. Por causa desse processo, é possível que o somatório de algum dos resultados seja diferente de 100. Diferenças entre as frequências totais e os percentuais em tabelas de cruzamento de variáveis podem aparecer por conta de ocorrências de não resposta. Este estudo foi realizado com recursos próprios do PoderData, empresa de pesquisas que faz parte do grupo de mídia Poder360 Jornalismo.

CONVERSA ENTRE AMIGOS

Lula foi entrevistado pelo jornalista e ex-político Mário Kertész, 78 anos. Ele foi filiado à Arena nos anos 1970 (partido que sustentou a ditadura militar). Depois, deu uma guinada à esquerda, entrando no PMDB e PDT. Foi prefeito de Salvador (BA) duas vezes (1979-1981 e 1986-1989) e é dono da rádio Metrópole.

Seu filho, Chico Kertész, integrou a equipe de marketing de Lula durante a campanha presidencial de 2022. Ele também fez parte do grupo que atuou na candidatura do peronista Sergio Massa à Presidência da Argentina em 2023, que perdeu para o libertário Javier Milei.

Durante a entrevista, Kertész tratou Lula como amigo ao longo da conversa, não fez perguntas incômodas e, mesmo em tom de brincadeira, fez o presidente defendê-lo sobre a pecha de ser petista e de receber dinheiro do governo. Leia abaixo a íntegra do trecho em que tratam sobre o assunto:

Kértesz: Que bom presidente ver esses olhos brilhando, os mesmos olhos que brilharam quando você chegou à Presidência na 1ª vez. Agora, tem uma dívida sua comigo que eu cobro e o pessoal lá não resolve e é preciso resolver. Todo dia que eu defendo as suas ideias, as ideias da democracia, o pessoal diz que eu sou vendido ao PT, que eu sou petista, que a rádio vive de PIX do PT e eu não recebi até hoje um, presidente. Sacanagem.

Lula: Se o Mário tivesse feito alguma proposta de receber dinheiro, eu certamente não teria com ele a relação de respeito que eu tenho. Porque uma coisa que é importante é essa relação. Essa relação de sinceridade que temos que passar para as pessoas. As pessoas estão sendo convencidas todos os dias de que todo político é ladrão, que toda pessoa que fica pública é ladrão. E precisamos mostrar com atitudes que não é assim. Minha relação com você é antiga, não é uma relação nova. E ela tem que ser aperfeiçoada. E se o governo tiver que dar financiamento para todas as rádios do Brasil, tem que dar para você.

Kertész: Mas eu não quero.

Lula: Estou falando uma coisa normal. Se a Rede Globo tem direito, vai ter a Bandeirantes, a Record, o SBT. O governo tem dinheiro para publicidade. Eu sou favorável a gente repassar dinheiro para as cidades do interior porque às vezes, R$ 50 mil para uma ‘radiozinha’ ou jornal do interior dá para pagar uma conta de luz. Alivia as pessoas. O que não dava é que, antigamente tudo era canalizado para o eixo Rio – São Paulo.

[…]

Kertész: Quando eu falo isso é porque as pessoas não entendem. O que eu defendo é o que eu acredito. Não tem nada de dinheiro envolvido, nem publicidade, nem nada. Eu acredito no seu trabalho, na sua luta.

Lula: E as pessoas que quiserem te julgar precisam conhecer a sua biografia, a sua história. Todos nós temos história. E a sua história como jornalista é uma história extraordinária. Não é à toa que, sempre que eu posso, eu peço para fazer uma entrevista com você. É importante lembrar que a última que eu dei para você foi em janeiro, então faz quase 10 meses que eu não dou entrevista para o Mário Kertész. Então, quando           você tiver alguma coisa interessante para me perguntar, você ligue que a gente faz [a entrevista] por telefone. A gente faz lá de casa. O que não pode é deixar de perguntar o que você quiser perguntar. ‘Ah, tem um problema, tal coisa está errada, o Lula tem que explicar’. Ligue, você vai ver se eu vou faltar com você.

Kertész: Nunca faltou.

Lula: E pode fazer a pergunta que quiser.





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TCU vê erros da Caixa Asset com papéis do Banco Master – 17/10/2024 – Mercado

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TCU vê erros da Caixa Asset com papéis do Banco Master - 17/10/2024 - Mercado

Lucas Marchesini

A área técnica do TCU (Tribunal de Contas da União) concluiu que a Caixa Asset falhou nas diligências realizadas para analisar a compra de R$ 500 milhões em papéis do Banco Master.

A operação foi barrada pela área técnica da corretora do conglomerado Caixa após parecer apontando, entre outros, o risco reputacional de operar com o Banco Master.

Após o relatório contrário à compra, três técnicos que assinaram a análise negativa foram dispensados das funções comissionadas que ocupavam. Na sua defesa ao TCU, a Caixa Asset alegou que os afastamentos aconteceram por “interesse da administração” baseado na performance dos gestores.

Antes do parecer, proposições do diretor executivo de Gestão de Fundos de Investiment da Caixa Asset, Igor Laino, ignoraram o problema, atuando a favor da operação.

“Os motivos alegados para a dispensa dos gerentes podem não refletir os reais fundamentos da decisão, logo, não é possível descartar a hipótese de represália”, avaliou o TCU.

“Embora [as decisões de investimento] sejam submetidas a um conselho, todos os integrantes são subordinados ao diretor de Fundos de Investimento o que lhe garante total poder de realizar as substituições que lhe convierem acaso os gestores se posicionem contrários a seus encaminhamentos.”

Para o órgão, o problema é agravado a partir da “vulnerabilidade dos funcionários de bancos públicos em geral diante da estrutura de remuneração dessas instituições, fortemente impactadas pelas funções gratificadas”.

Procurada, a Caixa Asset disse que observa as normas internas e externas que regem suas atividades e ressaltou que as informações relacionadas ao processo estão gravadas com sigilo

O parecer dos técnicos apontava entre os motivos para reprovar a operação o risco reputacional de fazer negócios com um dos sócios do Banco Master, Mauricio Quadrado.

Ele foi citado em delação premiada do ex-superintendente nacional da Caixa Roberto Madoglio, por ter supostamente pago propina para viabilizar uma operação do FI-FGTS, fundo de investimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço gerido pela Caixa. Com a delação, Madoglio devolveu R$ 39,2 milhões aos cofres públicos.

Os pareceres anteriores da Caixa Asset analisando a operação não citavam Quadrado ou risco reputacional.

Com isso, concluiu o TCU, “omitiram completamente os resultados sobre a integridade das pessoas naturais representantes da instituição financeira e do Conglomerado/grupo econômico a que pertence, as notícias desabonadoras, além de processos na CVM e no Banco Central, não constando nem mesmo em anexo”.

“Além disso, demonstravam ênfase nas informações positivas coletadas sobre o Banco Master, poucas menções a características desabonadoras e baixa ênfase em questões relevantes, capazes de enviesar a tomada de decisão”, acrescentou.

Quando o caso foi revelado, o Banco Master disse que “as alegações contra os executivos citados são inverídicas e os eventos mencionados não possuem qualquer relação com as operações do banco”. Procurado pela Folha nesta quinta-feira (17), o banco reafirmou essa declaração.

Outro ponto analisado pelo TCU é o possível conflito de interesse a partir da atuação do vice-presidente de Negócios de Atacado da Caixa, Tarso Duarte de Tassis, no Banco Master, como assessor especial da presidência na área financeira e jurídica. Tassis é integrante do conselho de administração da Caixa Asset.

“Nesse contexto, aponta-se que as estruturas das três linhas de defesa da Caixa e da Caixa Asset devem se manter alertas quanto à necessidade de monitoramento diante do potencial conflito de interesses em operações que envolvam o Banco Master em especial, considerando o relacionamento passado com esse banco com Tassis”, diz o parecer.

Caso aprovado a proposição da área técnica o TCU questionará a Caixa Asset sobre “as falhas na governança que não teriam impedido a aprovação da operação, não fosse a contraposição fortemente embasada” dos técnicos afastados.

O TCU deve ouvir Igor Laino, diretor da Caixa Asset e autor dos pareceres que deixavam de fora o risco reputacional de se relacionar com o Banco Master. A corte de contas quer saber também da Caixa Asset a atual locação dos três funcionários destituídos de seus cargos comissionados.





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