Eliane Trindade
Um dos herdeiros da Marabraz, Abdul Fares, 40, está movendo ação judicial para interditar o pai, Jamel, 64, um dos sócios-fundadores da rede de varejo que conta com 120 lojas de móveis.
O processo corre em segredo de Justiça na comarca de Simões Filho (BA). Foi descoberto pelo patriarca por acaso, durante busca ativa que a assessoria jurídica do grupo faz rotineiramente.
O filho pede a curatela do pai, alegando que Jamel apresenta diversos problemas de saúde, como depressão profunda, cardiopatia grave, dependência química de medicamentos controlados e um quadro de agressividade, atestados por relatórios psiquiátricos e neurológicos.
Surpreendido com as alegações, o patriarca contratou o escritório Warde Advogados para questionar a ação e o foro no município baiano, em petição de 5 de dezembro, na qual acusa Abdul de crime de falsidade ideológica e o qualifica de “ingrato e parasita”.
A ação de interdição, com pedido de internação do pai, é mais um lance de uma batalha judicial que teve início com o fato de o patriarca e seu irmão Nasser Fares, atual administrador do grupo Marabraz, terem entrado com processo cível na Justiça de São Paulo para reaver ações da holding da família que estão em nome dos seis herdeiros.
O imbróglio desaguou em uma queixa-crime contra Abdul, conhecido como “o noivo bilionário da atriz Marina Ruy Barbosa“.
“Nada mais doloroso para um pai do que se ver na obrigação de processar criminalmente o próprio filho”, diz a notícia-crime protocolada nesta terça-feira (10) no 2° Distrito Policial de Barueri (SP).
“Abdul vem lançando mão de meios manifestamente criminosos e fraudulentos para tentar interditar e internar seu pai”, alegam os advogados do empresário de origem libanesa que fundou o império familiar na década de 1980 com os irmãos.
Jamel é dono de um terço das Lojas Marabraz e das Clínicas Fares, ao lado dos irmãos Adiel e Nasser. O patrimônio familiar está alocado em uma holding, a LP Administradora.
Em 2011, em uma estratégia de blindagem patrimonial, o trio colocou a holding em nome de uma filha de Nasser, dos três filhos de Jamel e dos dois herdeiros de Adiel.
O arranjo funcionou bem nos primeiros anos, mas se deteriorou quando a nova geração teria entrado em choque com a velha guarda. Pessoas ligadas à família relatam o mal-estar causado pelo estilo nababesco de alguns herdeiros.
Um contraste com o perfil dos fundadores que fizeram fortuna a partir de um pequeno negócio no Brás. “Preço menor ninguém faz”, diz o jingle da Marabraz, entoado pela dupla Zezé Di Camargo e Luciano.
Nasser é o mandachuva do grupo, que investe também no ramo imobiliário, com grandes loteamentos industriais em Cajamar e aquisição do prédio da Abril na Marginal Tietê.
Em 2019, os primos Abdul e Nader, filho de Adiel, criaram o Blue Group, para administrar o e-commerce da Marabraz.
O negócio deu prejuízo, alimentando o desgaste dos sobrinhos com o tio, que decidiu reassumir a área de vendas online da empresa.
Magoados, os herdeiros agora tentam de fato controlar a LP, que legalmente está no nome deles, acusados de “incinerar o patrimônio imobiliário da família”.
“Nos últimos dois anos e meio, Abdul torrou em despesas pessoais pelo menos R$ 22,5 milhões com recursos que pertencem às empresas da família, em viagens de jatinho, aquisição de helicópteros, compra de diamantes no valor de milhões de reais para presentear sua noiva, entre outras indulgências”, relata a defesa de Jamel na queixa-crime.
Abdul é descrito como “um dos mais dissolutos dos herdeiros da família”, por seu estilo de vida “digno de um potentado árabe”.
A peça de defesa ressalta o furor causado na imprensa quando Abdul presenteou a atriz com um anel “no valor de US$ 1 milhão [R$ 6 milhões] na viagem de noivado em jatinho particular a Dubai”.
“Abdul Fares não tem renda própria. Todas as suas despesas pessoais, mais apropriadas à corte inteira de um sultanato do que a de um indivíduo solteiro, são pagas exclusivamente pelas rendas de aluguel dos imóveis da família Fares que estão alocados na LP Administradora”, alega a defesa.
A primeira medida legal do patriarca foi questionar o foro da Comarca de Simões Filho, onde foi ajuizada a ação de interdição, “amparada por documentos forjados”.
“É uma ação estarrecedora, inacreditável”, escreve o advogado na petição endereçada ao juiz da 2ª Vara dos Feitos de Consumo, Cíveis, Comerciais e Acidentes do Trabalho do Foro da Comarca de Simões Filho.
“É sem precedentes um filho ajuizar contra um pai ação de interdição na comarca de uma cidade em que nenhum dos dois nunca pisou os pés.”
Pai e filho residem em condomínios de luxo em Alphaville, em Barueri (SP), a 40 minutos da capital paulista.
Abdul teria alegado residir em uma casa simples alugada por R$ 2.500 no Condomínio Vivaz II, localizada no polo industrial na região metropolitana de Salvador. Para efeitos da ação de interdição, o pai teria “endereço profissional” na mesma casa, cujo contrato foi assinado em janeiro de 2024.
A defesa anexou provas de que nem o filho nem o pai residiram ou mantém negócios no município, razão pela qual contesta a competência do juiz da Bahia para julgar o caso. É pedido que a ação de interdição seja remetida para a comarca de Barueri.
O Ministério Público requereu a suspensão da apreciação do pedido de curatela provisória, até que sejam esclarecidas as questões levantadas sobre o domicílio em Simões Filho.
Caso seja comprovado que cometeu falsidade ideológica para manipular a jurisdição do processo de interdição e usou informações e documentos falsos, Abdul poderá ser condenado a penas de 1 a 5 anos de reclusão e multa.
Procurados pela Folha, Abdul, o pai e demais membros da família Fares não quiseram se manifestar.
José Luiz Bayeax Neto, advogado de Jamel, informou que não irá se pronunciar sobre o assunto. E Jailton Rigaud, advogado contratado por Abdul em Simões Filho, não respondeu até a publicação da reportagem.
Por trás da disputa, está um negócio com faturamento anual de R$ 1 bilhão e o controle de uma holding bilionária.
A ação de interdição seria um antídoto para o caso de Jamel e Nasser terem êxito nas demandas cíveis já ajuizadas.
“Abdul Fares está apreensivo com a possibilidade de ser obrigado a devolver as quotas da holding para o seu pai, e perder o único meio que tem de sustento da sua vida de califa”, argumenta a defesa dos patriarcas da família.
Em sua página no Instagram, Abdul se apresenta como cofundador da Blue Group e sócio da LP Real Estate. Tem 153 mil seguidores. Ele só segue uma única pessoa, a própria noiva, dona de um perfil acompanhado por 42,3 milhões de fãs.
Pouco ativo na rede social, as últimas postagens de Abdul datam de 2020. A maioria dos posts é de frases motivacionais, de autoria de personalidades como Albert Einstein (“Não tente ser uma pessoa de sucesso. Tente ser uma pessoa de valor”).
O tema é recorrente, como na dica assinada pelo próprio Abdul: “Ter sucesso significa enfrentar um fracasso atrás do outro sem perder o entusiasmo”.
No perfil da atriz, são discretas as aparições dos noivos. No verão europeu, o casal aparece em poucas imagens em cenários paradisíacos, a bordo de iates e em points de ricos e famosos como Córsega, Mikonos e Capri.
Marina e Abdul assumiram o relacionamento em agosto de 2023. Em outubro, celebraram o noivado em Dubai. Nesta semana, a atriz anunciou que decidiu morar com o noivo, para fazer um “test-drive” antes de oficializarem a união.