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Homens de ‘Disclaimer’ são perversos, idiotas ou zumbis – 14/12/2024 – Ilustríssima

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Homens de 'Disclaimer' são perversos, idiotas ou zumbis - 14/12/2024 - Ilustríssima

Francisco Bosco

[RESUMO] Série da Apple TV+ dirigida por Alfonso Cuarón e protagonizada por Cate Blanchett sacrifica a complexidade do enredo em nome de uma moral política maniqueísta, sustenta o autor, inscrevendo-se em um conjunto de representações culturais recentes que confundem a crítica a traços opressores da masculinidade tradicional com a asfixia de meninos e homens jovens por meio do sentimento de culpa e da falta de perspectivas.

Em janeiro de 2018, as mulheres que fundaram a organização Time’s Up foram entrevistadas por Oprah Winfrey. A certa altura, Oprah mostra um tuíte de Dylan Farrow, filha adotiva de Woody Allen, que acusava o pai de a ter molestado sexualmente quando criança. Farrow demandava que o movimento “mudasse as coisas inequivocamente”. Oprah pergunta: “O que vocês diriam para ela?”. Natalie Portman declara: “Acredito em Dylan”.

Oprah cumpre o dever jornalístico e observa que Allen sofrera duas investigações, ao fim das quais nenhuma acusação contra ele prosperara. Mas acrescenta: “Entretanto, as questões mais amplas permanecem”. A atriz America Ferrera comenta: “Acho que uma grande parte disso é sobre mudar não apenas as regras escritas, mas também as não escritas”.

Essas formulações são um dos principais marcos da ruptura epistêmica instaurada pelo movimento MeToo e suas derivações. A primeira formulação vai contra o princípio segundo o qual a busca pela verdade deve recorrer aos procedimentos consagrados, seja pela filosofia, pela ciência, pelo direito ou pelo jornalismo: investigação, apuração, levantamento de evidências, competição entre argumentos etc.

Woody Allen foi investigado, submetido aos procedimentos epistêmicos consagrados e inocentado. Desde então, nenhum fato novo que pudesse conduzir a uma reavaliação do processo surgiu, mas a própria justiça procedimental estava sendo revogada. Doravante, o epistêmico seria subordinado ao político.

Não importava, portanto, que a submissão ao político, ignorando toda a dimensão procedimental que teoricamente visa a minimizar o risco de se cometerem injustiças, pudesse eventualmente sacrificar a verdade. A verdade tornava-se ela mesma política.

A segunda formulação, de America Ferrera, consagrava o movimento social como um poder autorizado a se sobrepor e até a ignorar o poder da justiça institucional. Se as investigações contra Allen —as “regras escritas”— não puderam culpá-lo e puni-lo, que a disputa narrativa social o fizesse.

Pronto, estava moralmente autorizada a era dos cancelamentos e julgamentos sumários, que vigorou por toda a última década, desde o final do ano de 2013 (o desastrado e desastroso tuíte de Justine Sacco, em dezembro daquele ano, me parece ser o marco inicial).

Por mais que a serviço de uma verdade histórica ampla e irrefutável —as violências sofridas pelas mulheres—, essa coalescência entre episteme e política é de difícil digestão para estômagos kantianos, rawlsianos ou democratas liberais avessos à justiça utilitária. Eu mesmo, à época, embora reconhecendo as razões justíssimas do pleito, critiquei a gambiarra, então consagrada, no Brasil, pela máxima “a vítima tem sempre razão”.

Alguns anos depois, a criminologista Maria Lucia Karam revisitava seu conhecido “A Esquerda Punitiva”, abordando agora a “esquerda social”, que passara a “dar valor praticamente inquestionável à palavra da alegada vítima em hipóteses de crimes sexuais, como o estupro, negando qualquer valor à palavra do réu”. Em tal posicionamento, prossegue Karam, “a presunção de inocência é convenientemente esquecida”. Esquece-se até mesmo “da antiga lição do direito romano: ‘testis unus, testis nullus’ [testemunha única, testemunha nula]”.

Essa virada epistêmica era, claro, sintoma de uma crise, de uma justa revolta contra as distorções ou mesmo falsificações vigentes tanto nas instituições quanto no debate social sobre os casos de assédio moral e sexual contra mulheres. Como observam Waldomiro Silva, Maria Virginia Machado e Giuseppina Marsico: “Numa democracia, a confiança epistêmica nas instituições e em outras pessoas é absolutamente essencial”.

A palavra das mulheres, que não tinha qualquer valor de verdade, agora passava a ter valor incondicionado de verdade. Isso, por óbvio, no interior do campo progressista, pois rapidamente —e por diversos outros fatores— o chão social foi ruindo e um fosso dividiu o Brasil e o mundo em dois.

Na última década, o tema foi elaborado pela cultura. A série “Disclaimer” (Apple TV+), dirigida por Alfonso Cuarón, propõe a reintrodução dos elementos da dúvida, da desconfiança e do estado de atenção diante das narrativas. “Atenção para a narrativa e a forma.” “Elas podem nos aproximar da verdade, mas também podem ser uma arma com grande poder de manipulação.” São frases iniciais da obra.

Pois bem, serão dois os meus pontos principais. Tentarei demonstrar que a série falha em sua intenção manifesta e acaba por traí-la, pois sacrifica a complexidade e as ambiguidades em nome de uma moral política maniqueísta, e que há um problema no modo como os homens da obra são retratados.

Esse modo se inscreve em um conjunto de representações da masculinidade que configuram, no limite, uma questão política, à medida que estão contribuindo para o agravamento de problemas psicossociais de meninos e adolescentes e encaminhando muitos homens, principalmente os jovens, ao ideário da extrema direita.

Portanto, está dado o “disclaimer”: diante de uma obra que trata dos direitos epistêmicos das mulheres e os afirma, este texto, sem deixar de reconhecer a justiça moral dessa perspectiva, vai pensar outros lados da questão.

Vou tentar resumir a trama da série ao mínimo, já sob a minha perspectiva, claro, e de meus fins argumentativos. Catherine Ravenscroft, interpretada por Cate Blanchett, é uma documentarista bem-sucedida, casada com Robert, diretor de uma ONG. Ambos têm um filho, Nicholas, de 25 anos, um jovem existencialmente anêmico, sem horizonte profissional, que tem uma relação fria, quase hostil com a mãe, e algum vínculo afetivo com o pai.

Vinte anos antes, numa viagem à Itália, Robert tem que se ausentar por alguns dias. Catherine então conhece um jovem, Jonathan, com quem tem uma tórrida noite de sexo enquanto o filho dorme. O banquete envolve uma sessão de fotos.

No dia seguinte, exaurida pela orgia, Catherine cochila na praia ao lado do filho. Ela acorda sobressaltada; o filho rumou mar adentro e está à deriva em seu botezinho inflável. Catherine corre para o mar, mas paralisa de medo. Jonathan se atira ao mar, salva o menino, mas acaba morrendo afogado, sem que ela tenha se esforçado para chamar os salva-vidas.

Os pais de Jonathan são Nancy e Stephen Brigstocke. Nancy, desesperada pela morte do filho, cede à melancolia e definha, até morrer de câncer. Stephen se torna um idoso apático e desesperançado.

Quando decide doar os objetos da esposa, encontra fotos antigas e descobre as imagens de Catherine nua. Encontra também um manuscrito, “The Perfect Stranger”, dedicado “a meu filho, Jonathan”. O manuscrito tem um “disclaimer”: “Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas não é uma coincidência”. O livro de Nancy conta a história do encontro entre Catherine e Jonathan, tal como o vimos nas imagens do passado.

Stephen toma para si o propósito de destruir a vida de Catherine, Robert e Nicholas, fazendo com que leiam o livro e anexando as fotos pornográficas. Com efeito, Robert a expulsa de casa, e Nicholas tem uma overdose de heroína. Essa é a narrativa que nos é apresentada.

Contudo, depois de ter seu casamento varrido por um tufão e estar com o filho entre a vida e a morte, Catherine decide contar a verdade. Ela fora estuprada por Jonathan e, por isso, no fatídico evento do mar, realmente desejou que ele morresse, embora nada tenha feito nesse sentido. Descobrimos ainda que Nicholas viu a mãe ser violentada, embora ela nunca tenha ficado sabendo disso. A emergência da palavra verdadeira joga luz sobre os sentidos das ações dos demais personagens envolvidos.

Nick provavelmente teve tanto uma amnésia dissociativa quanto uma dissociação traumática afetiva. Isso explica ele não se lembrar, nem do trauma nem de seu entorno, da viagem para a Itália. Explica também sua total desconexão afetiva com a mãe: “Para pessoas em estado de dissociação, pode ser mais fácil encarar um esporte radical de alto risco do que situações de intimidade como o aniversário do próprio filho ou o carinho de alguém que ama”, observa a psicóloga Ediane Ribeiro.

Robert não teve acesso à informação que poderia explicar o comportamento de seu filho e o de sua mulher, o que o conduziu a tomar decisões erradas, pois baseadas em premissas erradas. Homens têm maior dificuldade de lidar com a autonomia do desejo da mulher, sem dúvidas, e muitas vezes reagem agressivamente a essa “revelação”.

Mas, no caso de Robert, a trama constrói as condições —a relação fria entre mãe e filho, a reação de Catherine ao receber o livro, a evidência das fotos dentro desse contexto— para que ele aceite de cara a versão de uma Catherine egoísta e cruel.

Stephen, por sua vez, não é o homem que tomou para si a reparação pelo definhamento de sua amada esposa, mas um velho amargo que adentrou uma dinâmica de autoengano assassino. Pois Nancy tinha escrito um livro em segredo, para tentar elaborar seu luto, sem indicação de que era seu desejo torná-lo público. Essa iniciativa é de Stephen, que imputa fantasiosamente a ela, como uma forma de justificar para si mesmo o que na verdade era um projeto narcísico de vingança.

Por fim, Jonathan nunca foi um jovem inocente que se expôs ao risco de morte para salvar uma criança. Era um estuprador que já tinha dado sinais de agressividade, ignorados pelos pais. Nancy, no fim das contas, é retratada como uma mãe que não suportou lidar com a verdade de que seu filho era violento e, até o fim, cedeu ao autoengano de imaginá-lo vítima. Mas Nancy teve a dignidade de não permitir que esse autoengano agredisse outras pessoas.

Sobre o silêncio de Catherine: um trauma, por definição, é uma ferida aberta, de que costumamos nos aproximar apenas pelos mecanismos do inconsciente. É aceitável, para a psicanálise e para a vida, que Catherine tenha procurado se afastar de seu trauma.

Mas o ponto é: podem-se evocar justificativas legítimas para Catherine ter mantido o silêncio por 20 anos (embora seja pouco verossímil ela manter o silêncio diante da desestruturação total de sua vida). Entretanto, é dificilmente justificável condenar Robert por ter agido como agiu diante do que (não) sabia, mas é isso o que a série faz.

Esquematicamente, entre os personagens principais temos quatro homens —um estuprador, um perverso, um bobalhão machista e um jovem zumbi— e duas mulheres, uma mãe trágica e digna, e a heroína, “farol da verdade”. A ambiciosa assistente de Catherine é talvez a única personagem feminina traçada com um sinal negativo, numa espécie de “tokenização” às avessas. Trata-se, ainda assim, de um sinal ambíguo, pois a ambição não deixa de ser uma forma de empoderamento.

Catherine, no fim das contas, é poupada de críticas, exceto algumas que vêm de sua própria consciência. A moral final da série é que ela é, sobretudo, senão apenas, a vítima de uma violência real e uma narrativa produzidas por muitos agentes, quase todos homens. Certamente é.

Mas Catherine se torna, assim, o pétreo ponto de apoio moral e epistêmico com que devemos nos identificar —um encaminhamento decepcionante para uma série cuja premissa também pode ser descrita como o lembrete de que a adesão a um único ponto de vista trai a complexidade das perspectivas que compõem uma mesma história.

Defender a complexidade não significa incorrer num relativismo que sacrificaria os fatos —no caso, o fato central e não relativizável da violência sexual—, mas afirmar uma leitura mais complexa dos atos dos personagens e de suas consequências.

Na moral da história, Robert, o marido que, apesar de exercer amorosamente o papel de coadjuvante (uma das dificuldades notórias dos homens), é percebido como um egoísta cruel que se sente melhor sabendo que a esposa foi estuprada do que sabendo que ela teve prazer sexual com outro homem. Não basta ser coadjuvante; é preciso ser bobalhão e, sob essa superfície já rebaixada, egoísta e cruel. Não há muita saída.

Digo, há. O único personagem masculino filmado com empatia em “Disclaimer” é Nicholas. O jovem de 25 anos cuja vida foi sequelada pelo trauma que ele nunca teve a chance de elaborar. Nicholas vaga pela série como um fantasma, arrastando suas correntes entre um quarto precário, um subemprego e um ponto de consumo de heroína. É esse homem, traumatizado, subjetivamente desvirilizado, quase um fiapo de vida, que é oferecido como ponto de empatia.

Pois há redenção: basta reconectar-se com a mãe perdida, “tornar-se um homem por meio da mulher”. Essa dialética —as novas masculinidades sendo forjadas na crítica do feminismo— é aceitável, desejável, necessária, mas me parece que precisa ser feita de outra forma. Talvez seja pedir demais a muitos homens que aceitem se identificar com os papeis de idiota, egoísta cruel, perverso, estuprador ou zumbi que deve morrer para renascer do ventre político feminista. Ao que tudo indica, não está funcionando.

Há uma crise da masculinidade, por óbvio. Mas é um erro perigoso encarar isso apenas com olhos de reparação, sem enxergar o quanto meninos e jovens homens que não têm culpa pela história do patriarcado estão sendo submetidos a um feixe de representações e interações que os faz se sentirem culpados, deslocados, sem perspectivas.

O cientista social Richard Reeves observa que meninos e homens estão ficando para trás em todo o processo educacional na maioria das grandes economias mundiais. Essa lacuna de gênero, nos EUA (onde as mulheres são cerca de 60% dos estudantes universitários), ocorre especialmente entre famílias pobres e não só entre pessoas brancas, mas negras também.

Warren Farrell, coautor de “The Boy Crisis“, relata: “Ouço mais meninos hoje dizendo alguma versão de ‘Gostaria de não ter nascido’. E dizendo isso porque ouvem na escola que, se você nasceu homem, você é parte do patriarcado, o que significa que você faz parte de um sistema feito de regras que beneficiam os homens, que os homens são os opressores e as mulheres são as oprimidas”. Os meninos, prossegue Farrell, “estão escutando que ‘o futuro é feminino’ e a masculinidade sendo descrita como tóxica”.

Na mesma linha, Scott Galloway relata: “Recebo muitos emails de pais preocupados, principalmente de mães, como este: ‘Tenho uma filha que mora em Chicago e trabalha com relações públicas e outra filha que está na Penn. Meu filho mora em nosso porão, fuma e joga videogame'”. O autor prossegue: “Muitos estão presos: isolados, desesperados e improdutivos, propensos à obesidade, ao vício em drogas e ao suicídio, suscetíveis à misoginia, às teorias da conspiração e à radicalização”.

Essa situação é, ao que tudo indica, um dos fatores principais que têm levado a uma separação cada vez maior entre os votos de homens e mulheres. A meu ver, nos EUA isso é mais claro, porque o Partido Democrata, mesmo sob Joe Biden ou durante a cuidadosa campanha de Kamala Harris, está associado à agenda progressista em sua forma contemporânea.

No Brasil, a extrema direita bolsonarista é em quase tudo análoga ao trumpismo, mas a simetria patina do outro lado: Lula é um social-democrata “old school”, com traços de conservadorismo no campo dos gêneros, em que pese a inflexão intensa de seu comportamento a partir da influência de Janja. Não temos espaço para avançar nessas distinções; fiquemos com a realidade dos EUA, bastante semelhante à nossa, e geralmente indicativa de nosso futuro.

Como muitos cientistas políticos observaram, a campanha de Harris evitou tratar de problemas de gênero. Mas Galloway lembra que o site do Partido Democrata tem uma página intitulada “A quem servimos”. “Estão listados 16 grupos, incluindo afro-americanos, a comunidade LGBTQ, mulheres, veteranos e 12 outros grupos demográficos que compreendem aproximadamente 76% da população.” Mas não há qualquer referência a homens jovens. “Quando você defende explicitamente 76% da população, não está defendendo 76%, mas discriminando 24%”, conclui.

Tudo isso são dados ou interpretações baseadas em evidências. Mas, diante dessa conversa, a reação da maioria das mulheres costuma ser de repúdio. À evocação dos problemas subjetivos e sociais dos homens, elas reagem como se isso fosse um mimimi sem senso de proporções e/ou estivesse se opondo à agenda feminista. É uma reação razoável, claro. Para cada dado sobre a “boy crisis”, podemos evocar dados, mais antigos e mais graves, sobre violência contra mulher, baixa representatividade institucional, diferença salarial etc.

Enquanto escrevo esse texto, a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados aprovou uma proposta que proíbe o aborto legal em quaisquer circunstâncias, na prática determinando a maternidade compulsória e traumática e expondo ao risco de morte meninas e adolescentes estupradas. Essa lei deixaria o Brasil na triste companhia de apenas 16 países, entre os quais Iraque, Filipinas, Nicarágua, El Salvador e Honduras. É uma lei mais regressiva que a do Irã, do Afeganistão e de Mianmar.

Não se trata, entretanto, de uma antinomia. É possível defender um ajuste na forma como as masculinidades são representadas hoje sem que isso implique qualquer freio ao avanço da agenda das mulheres.

Do mesmo modo, a resposta progressista ao padrão de votos de homens e mulheres costuma enxergar nisso apenas uma manifestação masculina de ressentimento, de perda de privilégios, logo uma ação política reacionária. Essa perspectiva é verdadeira, mas ela não torna falsa a perspectiva segundo a qual os homens, sobretudo jovens, estão se sentindo asfixiados pelas representações culturais que não cessam de confundir a crítica a traços opressores da masculinidade tradicional com uma crítica totalizante, ontológica mesmo, aos homens.

A série dirigida por Alfonso Cuarón é um sintoma desse feixe discursivo, e a ele se soma, aprofundando o problema. Como escreveu Phillip Maciak, crítico da New Republic: “Disclaimer é a história de uma mulher que nunca é ouvida pelos homens de sua vida. E parece, por vezes, que Cuarón prefere contar uma história polêmica sobre a injustiça dessa desatenção, acusar as fileiras de homens que a ignoram e mostrar ao público a sua própria cumplicidade em vez de apenas deixá-la falar”.





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Militar amigo de Tarcísio expande contratos sem licitação – 14/12/2024 – Poder

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Militar amigo de Tarcísio expande contratos sem licitação - 14/12/2024 - Poder

Bruno Ribeiro

Comandado por um militar de confiança do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), o DER (Departamento de Estradas de Rodagem) vem expandindo a contratação de empresas sem licitação para a prestação de serviços a usuários das estradas paulistas.

Em dois anos, o coronel da reserva do Exército Sergio Codelo, superintendente do órgão, assinou 16 contratos com empresas terceirizadas, que somam R$ 401 milhões, todos sem licitação, para a operação das Unidades Básicas de Atendimento (UBAs) das rodovias.

Até a gestão anterior, esses serviços eram contratados por licitação.

As UBAs prestam serviços de apoio a motoristas, como resgate com guinchos, nas rodovias não privatizadas. O DER não dispõe de servidores para a função.

Os contratos são com 15 empresas, organizadas em consórcios, de modo que atuam em mais de um trecho rodoviário. Parte das contratadas tem histórico de investigação por irregularidades.

O coronel foi superintendente regional do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) de 2019 a 2023, no governo de Jair Bolsonaro (PL), enquanto Tarcísio era ministro da Infraestrutura. O governador comandou o Dnit entre 2014 e 2015, no governo de Dilma Rousseff (PT).

Embora seja um dos cinco membros do Exército que Tarcísio trouxe ao governo paulista, em uma prática similar à do governo Bolsonaro, Codelo afirma que só conheceu o governador no Dnit, durante obras de pavimentação da BR-163, que liga Mato Grosso ao Pará. Ele foi nomeado no órgão a convite de outro militar, o general Antonio Leite dos Santos Filho, diretor na época.

Em 2022, o DER era um órgão considerado sensível pela equipe de Tarcísio. Obras sem licitação da gestão Rodrigo Garcia (ex-PSDB, hoje sem partido) estavam na mira do Ministério Público por suspeita de direcionamento. Codelo foi nomeado para garantir a lisura do órgão, segundo aliados de Tarcísio na época.

Entre 2021 e 2022, o DER havia assinado 110 contratos sem licitação, que somaram R$ 516 milhões, dos quais 100 foram para a execução de obras de emergência. Já entre 2023 e 2024, Codelo reduziu para R$ 283 milhões os valores de obras emergenciais.

Por outro lado, ao todo, incluindo os contratos de prestação de serviços, sua gestão elevou as despesas com contratações diretas para R$ 907 milhões, cerca de 75% a mais, graças principalmente aos contratos das UBAs.

Algumas das empresas que haviam sido contratadas sem licitação para executar obras na gestão passada foram recontratadas, agora, para prestar o serviço.

É o caso da Planservi Engenharia, empresa que obteve seis contratos para operar UBAs, por R$ 40,6 milhões. A empresa foi citada em um relatório da própria gestão Tarcísio, no ano passado, de pagamentos irregulares a empreiteiras para obras de rodovias.

A Engespro, que soma R$ 12 milhões em contratos, foi alvo do Ministério Público na Operação Estrada, de 2018, que resultou na condenação de três fiscais do DER por fraude. Já a Ensin, empresa de sinalização viária, que tem R$ 26,5 milhões em contratos, tem como sócios empresários proprietários da CDL, ex-Consladel, citada em investigações de supostos desvios em licitações no Amazonas e em Minas Gerais.

Codelo recebeu a Folha em seu escritório, para falar os contratos, na última segunda-feira (10). Ele disse que lançou duas licitações para o serviço, mas optou por revogar ambas após questionamentos do TCE (Tribunal de Contas do Estado) paulista.

Os questionamentos foram motivados pela descoberta de falhas de ordem burocrática, segundo Codelo, apontados por empresas interessadas na disputa, segundo informações do TCE.

Em nota, o DER informou que na primeira licitação suspensa, em março do ano passado, o TCE apontou “prática contrária à concorrência”. A segunda suspensão se deu em outubro deste ano, após a concessão de três rodovias à iniciativa privada, que mudaram o escopo dos contratos.

Codelo disse que fez contratos de emergência para não interromper o serviço. “É o melhor dos mundos? Não. Me sinto confortável de ter meu CPF nessa? Não”, afirmou. “Não durmo tranquilo com isso, mas eu não posso fugir da responsabilidade de manter o serviço pela população.”

Sobre as empresas contratadas, Codelo destaca que as contratações de emergência também têm regras e cotações de preço e que ele não tem como impedir a assinatura de um contrato com a empresa com a proposta mais barata.

“Tem empresa que descobre que há uma emergência e manda a proposta”, afirmou. “Não posso colocar a minha vontade [e excluir um participante], porque aí todo mundo vai perder a confiança em mim. Tenho que me manter isento.”

A Planservi foi procurada para comentar o caso, mas não respondeu. A Ensin informou em nota que, embora seus sócios sejam os mesmos da CDL, as empresas são distintas e que “pauta suas atividades em valores éticos, zelando pela boa-fé, transparência e responsabilidade”. A empresa ressaltou que as investigações em que a CDL foi envolvida terminaram arquivadas.

Já a Engespro informou, por nota, que já era contratada do DER e que, quando o acordo acabou, assinou um contrato de emergência. A empresa diz que seus sócios e colaboradores “jamais figuraram como réus em processo de natureza penal”.





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Autoridades sul-coreanas buscam estabilidade enquanto Joe Biden diz que a aliança é ‘fundamental’ na região | Coréia do Sul

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Autoridades sul-coreanas buscam estabilidade enquanto Joe Biden diz que a aliança é 'fundamental' na região | Coréia do Sul

Guardian staff and agencies

O líder da oposição da Coreia do Sul, Lee Jae-myung, ofereceu-se para trabalhar com o governo para aliviar o tumulto político, enquanto as autoridades procuravam tranquilizar aliados e mercados – um dia depois de o parlamento controlado pela oposição votou pelo impeachment o presidente conservador, Yoon Suk Yeol, por causa de uma tentativa de curta duração de impor a lei marcial.

O banco central da Coreia do Sul prometeu no domingo manter os mercados estáveis, enquanto o regulador financeiro sul-coreano disse que expandiria os fundos de estabilização do mercado, se necessário.

Joe Biden chamou no domingo a aliança dos EUA com a Coreia do Sul de “chave para a paz e a prosperidade na região Indo-Pacífico” após uma ligação no sábado com Han Duck-soo, o primeiro-ministro que se tornou o presidente interino enquanto um tribunal constitucional delibera sobre a remoção permanente de Yoon do cargo.

Os legisladores sul-coreanos votaram no sábado pelo impeachment de Yoon devido à sua breve declaração de lei marcial, que mergulhou o país em alguns dos sua pior turbulência política em décadas.

Lee Jae-myung, o líder do Partido Liberal Democrata, cujo partido detém a maioria na Assembleia Nacional, instou o tribunal constitucional a decidir rapidamente sobre o impeachment de Yoon e propôs um conselho especial para a cooperação entre o governo e o parlamento.

Os poderes de Yoon foram suspensos até que o tribunal decida se o destituirá do cargo ou o reintegrará. Se Yoon for destituído, uma eleição nacional para escolher seu sucessor deverá ser realizada dentro de 60 dias.

Lee, que liderou uma feroz ofensiva política contra o governo de Yoon, é visto como o favorito para substituí-lo.

Ele disse numa conferência de imprensa televisiva que uma decisão judicial rápida seria a única forma de “minimizar a confusão nacional e o sofrimento das pessoas”.

O tribunal se reunirá para começar a considerar o caso na segunda-feira e terá até 180 dias para decidir. Mas os observadores dizem que uma decisão poderia ser tomada mais rapidamente. No caso de impeachments parlamentares de ex-presidentes, Roh Moo-hyun em 2004 e Park Geun-hye em 2016, o tribunal passou 63 dias e 91 dias, respetivamente, antes de determinar a reintegração de Roh e a destituição de Park.

Lee também propôs um conselho nacional onde o governo e a Assembleia Nacional trabalhariam juntos para estabilizar os assuntos de estado, e disse que o seu partido não tentaria impeachment do primeiro-ministro, um nomeado por Yoon que agora serve como presidente interino.

“O Partido Democrata cooperará ativamente com todos os partidos para estabilizar os assuntos de Estado e restaurar a confiança internacional”, disse Lee. “A Assembleia Nacional e o governo trabalharão juntos para resolver rapidamente a crise que assolou a República da Coreia.”

Não ficou imediatamente claro como o partido governante Poder Popular reagiria à proposta de Lee. Kim Woong, um ex-legislador do PPP, acusou Lee de tentar exercer poder sobre assuntos de Estado.

O Partido Democrata usou a sua maioria parlamentar para acusar o ministro da Justiça e o chefe da polícia nacional devido ao decreto da lei marcial, e disse anteriormente que também estava a considerar o impeachment de Han Duck-soo.

Não houve resposta imediata de Han, um burocrata experiente.

Ao assumir o seu papel como líder interino, Han ordenou aos militares que reforçassem a sua postura de segurança contra a Coreia do Norte. Ele pediu ao ministro das Relações Exteriores que informasse outros países que as principais políticas externas da Coreia do Sul permaneceriam inalteradas, e ao ministro das finanças que trabalhasse para minimizar os potenciais impactos negativos na economia decorrentes da turbulência política.

No domingo, Han conversou por telefone com o presidente dos EUA, Joe Biden, discutindo a situação política na Coreia do Sul e os desafios de segurança regional, incluindo o programa nuclear da Coreia do Norte. Biden expressou o seu apreço pela resiliência da democracia na Coreia do Sul e reafirmou “o compromisso férreo” dos EUA, de acordo com ambos os governos.

3 de dezembro de Yoon imposição da lei marcialo primeiro desse tipo em mais de quatro décadas, durou apenas seis horas. Yoon enviou centenas de soldados e policiais ao parlamento em um esforço para impedir a votação, mas eles se retiraram depois que o parlamento anulou o decreto de Yoon. Nenhuma grande violência ocorreu.

Os partidos da oposição acusaram Yoon de rebelião, dizendo que um presidente da Coreia do Sul só pode declarar a lei marcial durante tempos de guerra ou emergências semelhantes e não teria o direito de suspender as operações do Parlamento, mesmo nesses casos.

Yoon rejeitou as acusações e prometeu “lutar até o fim”. Ele disse que o envio de tropas ao parlamento teve como objetivo emitir um aviso ao Partido Democrata, que ele chamou de “força anti-estado” que abusou do seu controle do parlamento, atrasando o projeto de lei orçamentária do governo para o próximo ano e pressionando repetidamente para o impeachment. altos funcionários.

As instituições responsáveis ​​pela aplicação da lei estão a investigar possíveis rebeliões e outras alegações. Eles prenderam o ministro da defesa e o chefe da polícia de Yoon e duas outras figuras de alto nível.

Yoon tem imunidade da maioria dos processos criminais como presidente, mas isso não se estende a alegações de rebelião ou traição. Ele foi proibido de deixar a Coreia do Sul, mas os observadores duvidam que as autoridades o detenham devido ao potencial de confrontos com o seu serviço de segurança presidencial.

Lee apelou às autoridades para acelerarem as suas investigações e disse que uma investigação independente por um procurador especial deveria ser lançada o mais rapidamente possível. Na semana passada, a Assembleia Nacional aprovou uma lei que exige uma investigação liderada por um procurador especial.

“Os indivíduos e instituições envolvidos neste ato de rebelião devem cooperar plenamente com as investigações”, disse Lee.

Com a Agence France-Presse, Reuters e Associated Press



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Atletas de ponta lutam para levar em conta os males femininos em seus treinos

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Atletas de ponta lutam para levar em conta os males femininos em seus treinos

No centro de preparação de atletas do Instituto Nacional de Esporte, Especialização e Rendimento (Insep) em Paris, 5 de junho de 2020.

Estas foram algumas palavras que Paula Badosa deixou escapar, no dia 14 de novembro, numa entrevista a um canal de televisão espanhol, mas que soaram como uma palavra que, aos poucos, vai sendo divulgada sobre um mal recorrente. “As regras são um pesadelo para os jogadores”disse o tenista espanhol antes da Billie Jean King Cup, que aconteceu em Málaga.

Até então, quando uma atleta de alto nível via a sua competitividade prejudicada pelas suas regras, notávamos modestamente que ela estava “diminuído fisicamente”. O primeiro a falar abertamente sobre o assunto foi o nadador chinês Fu Yuanhui em 2016, após os Jogos Olímpicos do Rio (Brasil). Desde então, são poucos os campeões que, como a ginasta francesa Coline Devillard ou a sua compatriota andebolista Estelle Nze Minko, se atrevem a questionar a influência do ciclo menstrual no seu desempenho físico. As regras tornaram-se um tema dominante na sociedade, mas ainda não nos desportos.

Até agora, os estudos sobre os efeitos dos ciclos menstruais no corpo das atletas permaneceram demasiado empíricos. O Instituto Nacional de Esporte, Especialização e Desempenho (Insep) acaba de publicar uma pesquisa para melhor entendê-los. “Sabíamos que a menstruação incomodava muitos atletas, mas precisávamos de dados sobre essa prevalência”explica Carole Maitre, ginecologista esportiva do Insep.

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