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Indígenas da Amazônia combinavam plantio e criação – 28/12/2024 – Ciência

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Indígenas da Amazônia combinavam plantio e criação - 28/12/2024 - Ciência

Reinaldo José Lopes

O cardápio de um viajante do tempo que desembarcasse no sudoeste da Amazônia por volta do ano 1000 d.C. poderia muito bem ser um saboroso pato assado com milho, mostra um estudo coordenado por um arqueólogo brasileiro. As implicações da descoberta, porém, vão bem além da culinária.

A pesquisa, feita na Amazônia boliviana, não muito longe da fronteira com o Brasil, é mais um indício de que, antes da chegada dos europeus, as populações amazônicas estavam promovendo um amplo processo de intensificação agrícola e diversificação econômica ao longo dos séculos.

Em vários lugares do bioma, esse processo foi capaz de sustentar populações numerosas e impulsionar a construção de canais, estradas e monumentos, conforme mostraram diversos estudos ao longo das últimas décadas.

As novas pistas sobre a subsistência desses povos pré-colombianos na região acabam de sair na revista especializada Nature Human Behaviour. O primeiro autor do trabalho, Tiago Hermenegildo, é ligado ao Museu de Arqueologia e Etnologia da USP e ao Instituto Max Planck de Geoantropologia, na Alemanha. A equipe analisou restos mortais de seres humanos e animais com idades entre 1.300 anos e 600 anos.

Hermenegildo contou à Folha que o trabalho é parte de dois esforços de pesquisa mais amplos. O primeiro é o Projeto Lomas de Casarabe, coordenado desde 1994 por Heiko Prümers, do Instituto Alemão de Arqueologia.

Prümers e seus colegas têm usado uma série de técnicas para demonstrar que a Amazônia boliviana era densamente povoada nessa época, com assentamentos que iam desde pequenas aldeias até cidades. Ao menos algumas delas contavam até com pirâmides de terra batida com 20 metros de altura, conforme revelaram os pesquisadores num estudo publicado em 2022.

Em seu trabalho de doutorado, que recebeu financiamento do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, ligado ao Ministério da Ciência), Hermenegildo analisou esqueletos humanos de três áreas da Amazônia, inclusive os da área estudada pela equipe de Prümers. A análise tinha como foco os chamados isótopos estáveis, ou seja, variantes de elementos químicos (como o carbono e o nitrogênio) que não se transformam ao longo do tempo, mas mantêm sua estabilidade.

“Enquanto fazia minha tese, eu era o único especialista em isótopos estáveis trabalhando na Amazônia. Como o Projeto Lomas de Casarabe encontrou dezenas de esqueletos humanos, o Heiko entrou em contato comigo e a colaboração acabou acontecendo”, explica o arqueólogo brasileiro.

Os isótopos estáveis são particularmente interessantes para a pesquisa arqueológica porque eles fornecem um retrato da alimentação de pessoas e animais que viveram há centenas ou milhares de anos.

No caso desse tipo de estudo, a máxima “você é o que você come” pode ser interpretada literalmente. Afinal, para construir seu organismo (inclusive, é claro, seus esqueletos), seres humanos e outros animais dependem dos elementos químicos das plantas e dos bichos que comem. E cada vegetal ou animal costuma possuir uma “assinatura” própria de isótopos estáveis de carbono e nitrogênio.

Assim, é possível usar a proporção dos diferentes isótopos para saber, por exemplo, se um animal extinto, como um mamute, comia mais capim ou folhas de árvores, por exemplo. Ou, no caso de um assentamento humano do passado, ter uma ideia geral da dieta das pessoas e de seus animais domésticos, mesmo sem encontrar restos dos alimentos propriamente ditos.

No caso dos antigos habitantes da Amazônia boliviana, que viviam numa região hoje conhecida como Llanos de Mojos, já se sabia que o cultivo de milho acontecia por lá. Mas a análise dos isótopos estáveis indica um nível muito alto de consumo do cereal, similar a um dos principais centros de cultivo do continente americano, como os territórios da civilização maia da Guatemala.

Talvez o mais interessante, porém, seja a análise dos ossos dos patos (da espécie Cairina moschata) também encontrados nos sítios arqueológicos da região. O bicho, em seu estado selvagem, é nativo da América do Sul, tanto que é conhecido popularmente também como pato-bravo ou pato-do-mato.

Mas ele também é a única espécie de vertebrado domesticado localmente nas regiões da América do Sul fora dos Andes, as chamadas terras baixas. (Nos Andes também houve a domesticação de mamíferos, como os porquinhos-da-índia e as lhamas.)

Ainda não está claro como esse processo ocorreu, mas há fortes indícios de que a alimentação das aves com milho era uma das abordagens usadas pelos antigos indígenas, porque é isso o que sugerem os isótopos estáveis dos ossos dos patos.

Seria um indicativo, portanto, de que o plantio em larga escala do milho pode ter impulsionado outras transformações na estrutura produtiva e agrícola da região –usando o que sobrava da colheita para engordar as aves e aumentar o acesso a um novo recurso, por exemplo.

Hermenegildo destaca que, embora o caso dos patos seja exclusivo dos Llanos de Mojos, ao menos pelo que se sabe por enquanto, outros processos semelhantes de aumento da produtividade e diversificação da produção agrícola aconteceram em vários outros lugares da região amazônica, inclusive no Brasil, envolvendo também diferentes tipos de raízes e outras plantas.

“Para mim, o milho foi um recurso fundamental no sul da Amazônia [como um todo], mas acho difícil que encontremos dietas completamente baseadas nele em outros lugares. Sem dúvida precisamos de mais estudos para entender melhor as estratégias de subsistência dos povos amazônicos. O que temos até agora mal chega a ser a ponta do iceberg”, diz ele.





Leia Mais: Folha

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Copinha 2025: Estádio fica alagado após chuvas em SP – 28/12/2024 – Esporte

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Copinha 2025: Estádio fica alagado após chuvas em SP - 28/12/2024 - Esporte

Caroline Hardt

As fortes chuvas que atingiram o estado de São Paulo nos últimos dias provocaram o alagamento de um campo de futebol na cidade de Tietê que seria usado como uma das sedes da Copa São Paulo de Futebol Júnior.

Localizado ao lado do Rio Tietê, que transbordou por causa das chuvas intensas na região, o Estádio José Ferreira Alves, campo do Comercial Futebol Clube, amanheceu completamente inundado neste sábado (28).

Em nota publicada nas redes sociais, o Comercial diz que fará uma análise nos próximos dias para avaliar a viabilidade das partidas do torneio no estádio da cidade.

“Em parceria com a Prefeitura Municipal e a Defesa Civil, estamos monitorando e trabalhando intensamente para acelerar a revitalização do gramado e das instalações do estádio. Com a previsão de redução das chuvas nos próximos dias, acreditamos que o nível do Rio Tietê deve baixar, permitindo o escoamento completo da água acumulada”, informou o clube.

Ainda de acordo com o Comercial, um plano emergencial foi elaborado para transferir os jogos para outro estádio da região, caso seja necessário.

Até o momento, a Federação Paulista de Futebol não se manifestou sobre possíveis alterações no local das partidas.

A princípio, o Comercial de Tietê enfrentaria o Juventude-RS no Estádio José Ferreira Alves na sexta-feira que vem (3), pela primeira rodada da Copinha. América-RN e Operário de Caarapó-MS também têm partidas marcadas para acontecer no estádio.





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Tudo que eu quero no Natal é US$ 1,22 bilhão: o bilhete da Mega Millions acerta todos os seis números | Califórnia

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Tudo que eu quero no Natal é US$ 1,22 bilhão: o bilhete da Mega Millions acerta todos os seis números | Califórnia

Guardian staff and agencies

O novo ano será brilhante para um sortudo ganhador da Mega Millions na Califórnia: depois de três meses do acúmulo do prêmio principal da loteria, um bilhete no valor de US$ 1,22 bilhão acertou todos os seis números no sorteio de sexta-feira à noite, de acordo com o site da loteria.

O bilhete vencedor foi vendido no Circle K em Cottonwood, uma cidade rural com cerca de 6.000 habitantes, a cerca de 233 km ao norte de Sacramento, perto da Interstate 5, no condado de Shasta. Os números vencedores, incluindo o Mega, foram 3, 7, 37, 49, 55 e 6.

Ishar Gill, filho do dono da loja, disse que o bilhete premiado foi “uma bênção” para a pequena cidade. A identidade do vencedor ou vencedores não foi imediatamente conhecida.

“Não temos a menor ideia de quem pode ter ganhado ou vendido”, disse Gill à Associated Press. “Mas parabéns ao vencedor.”

O Circle K, onde o bilhete vencedor foi vendido, ganhará um bônus de US$ 1 milhão – o valor mais alto que um parceiro varejista da Loteria da Califórnia pode ganhar, disse o site Mega Millions.

“Bem, é uma vitória gigante em uma cidade pequena”, disse a porta-voz da Loteria da Califórnia, Carolyn Becker, em um comunicado.

Dois outros jogadores da Califórnia acertaram cinco dos seis números e ganharam prêmios de US$ 787.500 cada. Um foi vendido em Roseville e o outro em San Bernardino.

O valor total do jackpot da Mega Millions só seria distribuído ao vencedor que escolhesse uma anuidade paga ao longo de 29 anos. Quase todos os vencedores do grande prêmio optam por receber um pagamento em dinheiro, que para o sorteio de sexta à noite é estimado em US$ 549,7 milhões. O estado da Califórnia não tributa os ganhos da loteria.

“Com alguém agarrado ao que agora é um pequeno pedaço de papel muito, muito valioso, nosso conselho para o jogador que tirou a sorte grande esta noite é certificar-se de assinar o verso do bilhete”, disse Becker. “Mantenha-o seguro. É muito importante que você não o perca, porque é literalmente o seu ingresso para o prêmio em dinheiro.”

O vencedor agora tem um ano para reivindicar seu prêmio, enquanto os vencedores do prêmio secundário têm seis meses. O jackpot da Mega Millions voltará ao ponto inicial de US$ 20 milhões no sorteio de terça-feira.

O jackpot de sexta-feira é o quinto maior da história da Mega Millions. O maior ganhador do jackpot de loteria de todos os tempos foi em 2022, quando um único ganhador que comprou um bilhete em Altadena, Califórnia, arrecadou um jackpot da Powerball de US$ 2,04 bilhões. Mas o maior prêmio do jackpot da Mega Millions de todos os tempos veio de um bilhete no valor de US$ 1,6 bilhão vendido na Flórida em agosto de 2023.

Apesar das longas probabilidades do jogo, de um em 302,6 milhões, os jogadores continuaram a comprar bilhetes à medida que o tamanho do grande prémio crescia. Até sexta-feira, a última vez que um jogador da Mega Millions ganhou o prêmio principal foi no dia 10 de setembro.

A Loteria da Califórnia estima que durante o período de quase quatro meses em que o jackpot continuou a crescer, ela arrecadou um valor adicional US$ 89,5 milhões para escolas públicas apenas nas vendas da Mega Millions.

Mega Millions e Powerball são vendidos em 45 estados, bem como em Washington DC e nas Ilhas Virgens dos EUA. Powerball também é vendida em Porto Rico.

Os preços dos ingressos da Mega Millions devem subir de US$ 2 para US$ 5 em abril. O aumento será uma das muitas mudanças que as autoridades dizem que resultarão em melhores probabilidades de jackpot, prémios gigantes mais frequentes e pagamentos ainda maiores.



Leia Mais: The Guardian



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