O bilionário indiano Gautam Adani foi indiciado por promotores dos EUA por suposto envolvimento em um esquema de US$ 265 milhões para subornar autoridades de seu país, mergulhando seu conglomerado em uma crise profunda pela segunda vez em dois anos.
Várias acusações de fraude —que, segundo as autoridades dos EUA, envolveram uma empresa listada em Nova York e afetaram investidores americanos —foram feitas contra Adani, que é uma das pessoas mais ricas do mundo, e outros sete réus.
As ações e títulos das empresas do bilionário despencaram nesta quinta-feira (21), e a Adani Green Energy, a empresa no centro das alegações, cancelou uma venda de títulos de US$ 600 milhões.
Mandados de prisão foram emitidos nos EUA para Adani e seu sobrinho Sagar, e os promotores planejam entregar esses mandados às autoridades policiais estrangeiras, mostram os registros do tribunal. O Grupo Adani afirmou em um comunicado que as alegações são infundadas, acrescentando que buscará “todos os recursos legais possíveis”.
Promotores federais dos EUA disseram que os réus concordaram em pagar subornos a funcionários do governo indiano para obter contratos de fornecimento de energia que deveriam render US$ 2 bilhões de lucro ao longo de 20 anos e desenvolver o maior projeto de usina solar da Índia.
Eles também disseram que os Adanis e outro executivo da Adani Green Energy, o ex-CEO Vneet Jaain, levantaram mais de US$ 3 bilhões em empréstimos e títulos ao esconder sua corrupção de credores e investidores.
Os três foram acusados de fraude de valores mobiliários, conspiração para fraude de valores mobiliários e conspiração para fraude eletrônica. Os Adanis também foram acusados em um caso civil paralelo da Comissão de Valores Mobiliários dos EUA.
“Gautam e Sagar Adani estavam envolvidos no esquema de suborno durante uma oferta de notas em setembro de 2021 pela Adani Green, que arrecadou US$ 750 milhões, incluindo aproximadamente US$ 175 milhões de investidores dos EUA”, disse a Comissão de Valores Mobiliários em um comunicado à imprensa, acrescentando que uma empresa central para o esquema, Azure Power, costumava negociar na Bolsa de Valores de Nova York.
“Os materiais da oferta da Adani Green incluíam declarações sobre seus esforços anticorrupção e antissuborno que eram materialmente falsas ou enganosas à luz da conduta de Gautam e Sagar Adani”, acrescentou.
As acusações seguem a um período de muita turbulência para o Grupo Adani no ano passado, após a Hindenburg Research, uma empresa de venda a descoberto, emitir um relatório acusando-o de usar paraísos fiscais offshore de forma inadequada -o que a empresa negou.
As autoridades indianas, incluindo o Conselho de Valores Mobiliários da Índia, não responderam aos pedidos de comentário sobre as acusações. A Azure Power também não respondeu.
Debopriyo Moullik, um advogado criminalista de Nova Délhi, disse que esperava que o Grupo Adani buscasse a rejeição da acusação.
“Como um mandado de prisão foi emitido, as autoridades dos EUA terão que se aproximar do governo indiano através da embaixada indiana para executar tal mandado na Índia”, acrescentou.
As ações da Adani Green Energy despencaram 17% e os papéis de outras empresas do conglomerado perderam mais de 10%. O grupo perdeu US$ 28 bilhões em valor no pregão de quinta-feira, colocando a capitalização de mercado combinada de suas empresas em US$ 141 bilhões. Antes do relatório Hindenburg do ano passado, o valor de mercado do grupo era de US$ 235 bilhões.
Os títulos em dólar da Adani caíram, com preços entre 3-5 centavos a menos nos títulos da Adani Ports and Special Economic Zone.
O governo do primeiro-ministro Narendra Modi foi acusado por opositores políticos de favoritismo em relação a Adani nas decisões governamentais. Modi e Adani, ambos do estado ocidental de Gujarat, negaram qualquer irregularidade.
O partido Congresso da Índia reiterou os pedidos por uma investigação parlamentar sobre supostas irregularidades.
As acusações criminais mostraram que alguns conspiradores se referiam privadamente a Gautam Adani com os codinomes “Número um” e “o grande homem”, enquanto Sagar Adani supostamente usava seu celular para rastrear detalhes sobre os subornos.
Outros cinco réus foram acusados de conspirar para violar a Lei de Práticas de Corrupção no Exterior, uma lei anti-suborno dos EUA, e quatro foram acusados de conspirar para obstruir a justiça.
Nenhum dos réus está sob custódia, disse um porta-voz do procurador dos EUA Breon Peace no Brooklyn. Acredita-se que Gautam Adani esteja na Índia.
O empresário tem um patrimônio de US$ 69,8 bilhões, segundo a revista Forbes, tornando-o o segundo homem mais rico da Índia, atrás de Mukesh Ambani. Ele é um dos poucos bilionários formalmente acusados nos Estados Unidos de irregularidades criminais.
As ações da GQG Partners GQG.AX, uma empresa de investimentos listada na Austrália que é um grande apoiador da Adani, caíram 20%, sua maior queda em um único dia desde que foi listada há três anos. A empresa afirmou em um comunicado que monitora as acusações.
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