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MST denuncia agronegócio, imperialismo e acordo UE-Mercosul no G20

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MST denuncia agronegócio, imperialismo e acordo UE-Mercosul no G20

Lucas Pordeus León – Repórter da Agência Brasil

Cerca de mil militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) de várias partes do país estão no G20 Social, no Rio de Janeiro, e denunciam no evento os “crimes” do imperialismo, por meio de um tribunal popular, o papel do agronegócio na crise climática e o acordo entre Mercosul e União Europeia. Além disso, promovem ato em defesa da Palestina.

Na avaliação do MST, o documento elaborado por representantes dos movimentos participantes no G20 Social, que será entregue ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no sábado (16), não é o mais importante do encontro, uma vez que os países do G20 – que reúne as 19 maiores economias do planeta, além da União Europeia e da União Africana – não têm qualquer obrigação de adotar, ou mesmo considerar, as propostas da sociedade civil.

“A nossa presença aqui é a mensagem que queremos passar e envolve os três  temas selecionados pelo Brasil para o G20: combate à fome; reforma da governança global e crise climática”, afirmou Cássia Bechara, da direção nacional do MST e coordenadora do setor de internacionalismo do movimento.

Para Cássia, não há como falar de combate à fome sem falar de reforma agrária, nem falar de crise climática sem discutir o papel do agronegócio em países como o Brasil.

“Só se combate à fome com reforma agrária, não se combate à fome investindo no agronegócio para produzir soja ou outras commodities. Não vamos conseguir enfrentar a crise ambiental se não enfrentarmos o modelo agrícola implementado nos países do Sul Global”, destacou Cássia. Sul Global é o termo usado para se referir aos países pobres ou emergentes que, em sua maioria, estão no Hemisfério Sul do planeta.

Diferentemente do que ocorre nos países mais ricos, no Brasil, o desmatamento e a agricultura são os maiores emissores de gases do efeito estufa. O país é o quinto maior emissor de poluentes do planeta.

“Não podemos enfrentar a crise climática sem debater o papel do agronegócio na exploração dos bens naturais, na poluição das águas e dos solos a partir dos agrotóxicos, na emissão de gases a partir do monocultivo e da pecuária extensiva, na promoção das queimadas para a expansão da fronteira agrícola. O agronegócio está no centro da crise ambiental dos países do Sul Global”, acrescentou a dirigente do MST.

Economia Verde

Uma das especialistas convidadas pelo MST para discutir a crise climática no G20 Social foi a advogada socioambiental Larissa Packer, da organização não governamental ONG) Grain, que fez uma crítica do modelo de economia verde promovido por bancos e fundos de investimento para combater a crise climática por meio de mercado de créditos de carbono ou da venda de “títulos verdes” para financiar dívidas dos países.

“É uma proposta encaminhada por corporações e setores financeiros que geraram a crise. Isso para manter o modo de produção e consumo da forma como está, além da manutenção do estado mínimo, delegando para o mercado financeiro a solução da crise que eles mesmo criaram”, destacou Larissa.

Tribunal

Entre as várias atividades realizadas pelo MST durante o G20 Social, no Rio de Janeiro, o movimento promove nesta sexta-feira (15), em conjunto com outros movimentos sociais, o Tribunal Popular O Imperialismo no Banco dos Réus, em que será feito um julgamento simbólico de “crimes” do imperialismo, conceito muito usado nas relações internacionais.

Segundo o sociólogo Raphael Seabra, professor do Departamento de Estudos Latinos Americanos da Universidade de Brasília (UnB), o conceito de imperialismo é usado para situações em que “um país central se vale de seu maior poderio econômico, político e militar para subordinar e influenciar/pressionar países periféricos de acordo com seus próprios interesses comerciais, políticos e diplomáticos”.

Entre os casos analisados, estão a guerra na Faixa de Gaza, considerado um genocídio; o caso do Haiti, considerado uma violação à soberania e à autodeterminação dos povos; os efeitos nocivos do acordo Mercosul e União Europeia; o bloqueio de 60 anos contra Cuba; a destruição ambiental provocada pelo rompimento das barragens de Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais, e o chamado extermínio dos povos negros e originários no Brasil.

Filha de Che


Rio de Janeiro (RJ), 12/11/2024 - Aleida Guevara, filha de Che Guevara, veio de Havana para participar com ativistas do MST do G20 Social. Foto: Priscila Ramos/MST
Rio de Janeiro (RJ), 12/11/2024 - Aleida Guevara, filha de Che Guevara, veio de Havana para participar com ativistas do MST do G20 Social. Foto: Priscila Ramos/MST

A cubana Aleida Guevara questiona modelo de democracia existente nos países capitalistas – Priscila Ramos/MST

A filha mais velha de Ernesto Che Guevara, um dos principais líderes da Revolução Cubana, veio de Havana à convite do MST para participar do G20 Social e falar sobre os impactos do bloqueio contra a ilha. Aleida Guevara, que tinha 4 anos quando o pai foi morto na Bolívia, disse à Agência Brasil que o mundo mudou pouco nas últimas seis décadas.

“O mundo segue com um poder dominante que economicamente esmaga os demais. Esses Estados Unidos (EUA) fazem o que querem com a Europa. Provocaram uma guerra entre dois países que foram irmãos, Ucrânia e Rússia, e se beneficiam disso porque o gás russo era muito mais barato para a Europa. Agora, a Europa tem que pagar mais pela energia vinda dos EUA”, afirmou.

Ao falar para o público no G20, a filha de Che questionou o modelo de democracia que existe nos países capitalistas. “Que democracia é essa em que as multinacionais levam toda a riqueza e em que a terra está nas mãos de poucas famílias?”, perguntou, lembrando que a origem da palavra democracia vem do grego e significa governo do povo.

“Enquanto o dinheiro segue para os bancos dos Estados Unidos, eles têm o poder de vetar o que eles quiserem. Não podemos continuar assim. Fazem falta muitas mudanças, mas sobretudo falta poder do povo. Levar à prática essa famosa democracia e tomar o poder que nos corresponde como povo”, defendeu a filha mais velha do líder da Revolução Cubana.

União Europeia

Uma das principais críticas trazidas pelo MST para o G20 Social é o acordo que vem sendo costurado entre Mercosul e União Europeia. No entendimento do movimento, esse projeto de acordo de livre comércio reforça a posição do Brasil de exportador de matérias-primas e importador de produtos industrializados.

“É um acordo que vai potencializar a desindustrialização dos países do Sul Global”, destacou Cássia Bechara. Especialistas ouvidos pela Agência Brasil entendem que a proposta pode inibir a indústria brasileira.

Palestina

Outro foco do MST é a denúncia do que ocorre atualmente na Faixa de Gaza, que o movimento considera um genocídio contra o povo palestino. Um ato foi convocado para este sábado (16), em Copacabana, para denunciar as ações de Israel.

“Os maiores financiadores do genocídio estão aqui, no G20. Sejam os financiadores de armamentos e de recurso, como os Estados Unidos e países da União Europeia, sejam os financiadores políticos do Estado de Israel”, destacou Cássia Bechara. Para a dirigente do MST, o discurso do governo brasileiro contra Israel é importante, mas é preciso ainda que o país rompa relações comerciais com Tel-Aviv.



Leia Mais: Agência Brasil



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Netanyahu ‘rejeita com desgosto’ mandado de prisão do TPI – DW – 21/11/2024

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Netanyahu ‘rejeita com desgosto’ mandado de prisão do TPI – DW – 21/11/2024

Os países ocidentais reagiram à notícia do mandado de detenção do TPI para o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, com respostas que vão desde a rejeição total até à aceitação, na sua maioria, cautelosa.

Alguns dos que se enquadram nesta última categoria disseram que prenderiam Netanyahu se ele chegasse ao seu território, e alguns apenas sugeriram que o fariam.

O União EuropeiaO principal diplomata do país, Josep Borrell, disse que os mandados não eram políticos e que a decisão do tribunal deveria ser respeitada e implementada.

A França disse que agiria de acordo com a noção de “combate à impunidade”.

“A nossa resposta irá alinhar-se com estes princípios”, disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Christophe Lemoine, embora admitindo que se trata de uma “questão jurídica complexa”.

Holanda foi mais direto, com o Ministro dos Negócios Estrangeiros holandês, Caspar Veldkamp, ​​a dizer ao Parlamento: “Não nos envolveremos em contactos não essenciais e agiremos de acordo com os mandados de detenção. Cumprimos integralmente o Estatuto de Roma do TPI”.

NoruegaO ministro dos Negócios Estrangeiros, Espen Barth Eide, disse apenas: “É importante que o TPI cumpra o seu mandato de forma criteriosa. Tenho confiança de que o tribunal prosseguirá com o caso com base nos mais elevados padrões de julgamento justo”.

IrlandaO primeiro-ministro do Iraque, Simon Harris, disse que a emissão dos mandados foi “um passo extremamente significativo”, acrescentando que qualquer pessoa em posição de ajudar o TPI na realização do seu trabalho vital deve fazê-lo “com urgência”.

Nos EUA, que, tal como Israel, não é membro do tribunal, a tendência parecia ser para a rejeição total, pelo menos no Acampamento republicano.

O senador republicano dos EUA Lindsey Graham, um aliado próximo do presidente eleito Donald Trumpdisse no X, antigo Twitter, que “qualquer nação que se junte ao TPI após este ultraje é parceira de um ato imprudente que atropela o Estado de Direito”.



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The biggest bond bets the pros are making

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Two professional investors working on a computer

After a grim 2022, there has been plenty to like in fixed-income markets over the past 18 months or more: high income, a gentle tailwind from falling inflation, a benign economic environment with minimal defaults. Investors have been able to sit back, relax, and collect their coupons. However, there are signs that this cheery outlook may be at risk.

For some time, the assumption has been that inflation would continue to drop, giving central banks scope to cut interest rates. This is good news for bond market prices. At the same time, policymakers across the US, Europe and UK appeared to have engineered a soft landing for their economies, making recession – and therefore a rise in default rates for companies – unlikely.

There are now a number of risks to those assumptions. It is not at all clear that inflation will drop much further from here, Moreover, if Donald Trump in his second term in the White House delivers on his promises of reduced immigration, tax cuts and tariffs, prices could start to edge higher. Even though interest rates are dropping, longer-dated bond yields are still rising because the markets believe inflation may revive.

Corporate bond spreads – the reward investors receive for taking a risk on a corporate bond rather than a government bond – are at their lowest level since the 1990s and seem to imply little risk of default. While there is no immediate risk of recession, there are concerns that the bond market is complacent about the risks in the global economy. Is this really the strongest environment for 30 years?  

This is a more fragile backdrop for bonds and, as a result, fund managers are being more careful in their allocation. Even in tougher environments, bond fund managers have a range of levers to generate returns. They can vary the interest-rate sensitivity of a portfolio. In general, longer-dated bonds are more sensitive to interest rates than shorter-dated bonds, so if a fund manager wants to ensure that they are not exposed to variations in interest rates, they will tend to prefer shorter-dated bonds.

They can also be careful on their credit selection. Even if valuations for the corporate bond market look ambitious, there will be sectors and individual bonds that look better value. Fund managers can also look at different regions – euro-denominated bonds may be better value than dollar-denominated bonds, for example. They can also take advantage of short-term volatility, and bond markets have been particularly noisy over the past year.

Interest rate exposure

Many bond fund managers are now reducing the interest-rate sensitivity of their portfolio by targeting shorter-dated bonds. Nicolas Trindade, senior portfolio manager with the Active Sterling Credit team at AXA Investment Management, says: “We see value at the shorter-dated end of fixed-income markets. There is not much incentive to move into longer-dated bonds because we aren’t getting any additional yield.” He says this is true in both government and corporate bond markets.

He believes that longer-dated bonds could start to lose value. At the moment, the market is implying that interest rates aren’t likely to be any higher in future than they are today. Trindade believes this will change – short-term rate expectations are likely to fall as central banks cut rates, while longer-dated bonds are likely to rise as government borrowing rises.

A rise in government borrowing is the inevitable consequence of social shifts, such as an ageing population, defence spending and climate transition, says Trindade: “Most of that government borrowing will be done at medium or longer-term rates. That will be a technical factor pushing long-term rates higher.” In the US, the burgeoning budget deficit will require a lot of issuance as well.

Kaspar Hense, senior portfolio manager in the investment grade team at RBC Bluebay, is also positioned for rising yields (and falling prices) among longer-dated bonds, believing that Trump policies delay any rally in yields. He thinks yields on 30-year Treasuries could reach 4.75%-5.00% before the end of the year from their current level of 4.6%.

He also sees some difficulties in the UK, with the requirement for higher wages in the public sector weighing on inflation. He thinks inflation could be as high as 3% over the next two years, with wages the major contributor. This will put pressure on longer-dated bonds.

Donald Trump and Elon Musk Getty

Donald Trump with Tesla CEO Elon Musk. Credit: Jeff Bottari/Contributor/Getty Images

Credit selection

The current caution among fixed-income managers is also evident in careful credit selection. Trindade is looking at bank bonds, which are trading at wider spreads than other corporate bonds, but also in distressed areas such as the UK water sector. “We need to do our credit work, but Thames Water’s problems have hit the whole sector. It’s a re-run of real estate sector in 2022 where you have a couple of bad apples and that hurts everyone.”

Tom Hanson, fund manager on the Aegon High Yield Bond fund, is taking a similarly cautious and selective approach. He says: “We are focused on some higher-quality, higher yielding, short-dated bonds. It’s about shutting up shop, and holding as much as possible in defensive income-generative bonds.”

He says they are looking at individual credits, and the structure of each bond, adding, “it is possible to own a very short-dated bond in what seems to be a very cyclical sector. We have an overweight to real estate companies, which is a relatively recent position and have been careful to avoid areas such as autos, which have been weak.”

Hanson is also being careful on the fund’s country positioning. For example, he has a higher weighting in Europe relative to the US and also some exposure to emerging markets. He is also finding a lot of cheaper bonds in the UK. “International buyers aren’t that interested in the UK. Ever since 2016, there has been a risk premium put on the UK. That creates opportunity. Bonds are dated capital. An equity can stay cheap forever, but with a bond, all you need is the maturity date to come around.”

Wary of Trump effect

Aza Teeuwen, manager on the TwentyFour Income Ord (LSE:TFIF) fund, says there are nerves around the Trump effect: “We are sticking close to home, and staying in shorter-dated assets. We have moved into higher-quality and more liquid bonds. We’re not necessarily nervous around defaults, but if we’ve learned anything, it’s that markets can be volatile.” Among the highest weightings in the group’s MI TwentyFour AM Dynamic Bond fund are Nationwide, Barclays and Phoenix Group bonds.

The group also favours asset-backed securities (ABS), where yields are higher. This part of the market is floating rather than fixed rate, so had been expected to do badly as interest rates fell, but as interest rate expectations have been revised higher, the sector has done well.

Shalin Shah, senior fund manager on the Royal London Corporate Bond fund is also targeting the ABS market. It is a relatively small part of the major bond indices, so it is not an option for all investors. He says: “A lot of money is commoditised in corporate bonds. A lot of exchange-traded funds (ETFs) need to buy on ratings and issue sizes. This creates anomalies and can stretch valuations in the well-known companies.” The ABS market suffers from the opposite effect, and this makes yields more attractive.

He says that investors need to be careful on covenants, and how much protection they get if a bond defaults. He says: “Ratings only tell you the likelihood of default. They don’t tell you how much you get if something starts to go wrong.” The team prefers allocations to secured debt, which sits higher up the capital structure in a company. This gives them a seat at the table in the event of a default. Like TwentyFour, Royal London Asset Management favours the financial sector with HSBC, M&G, Aviva and Legal & General bonds among the top 10 holdings on the fund.

Fixed-income managers are cautious, sticking with shorter-dated bonds where interest rate risks are lowest, and being extremely selective on the type of corporate bonds they hold, and the countries they hold them in. They are looking at ABS, or financial bonds, where valuations look more appealing and they can secure a higher income. This is a fragile moment for fixed-income markets and selectivity is increasingly important.

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Rita – 21/11/2024 – Tati Bernardi

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Rita - 21/11/2024 - Tati Bernardi

Nós temos uma brincadeira que funciona assim: eu preciso cafungar demoradamente o pescoço dela para ter certeza de que veio a criança certa da escola. Rita adora, morre de rir, se deixa cheirar por algum tempo, até que pergunta se veio mesmo a criança certa. E eu digo que sim. Certíssima. Nenhuma melhor. A filha esperada uma vida toda. Digo que desde que eu era pequena já sabia que ela chegaria, com as pernas compridas, a risada debochada e a braveza. Rita insiste que é mentira, mas divide comigo o ilusionismo desse “para além de nós” que experimentamos quando amamos demais.

O tempo todo preciso me controlar para não lançar meu nariz, feito um mamífero selvagem, para dentro do cheiro do seu couro cabeludo. Assim que acorda, bem cedinho, Rita me pergunta se no final do dia vamos ter o momento “filminho só nós duas”. Eu digo que sim. E enquanto ela for pequena, sei que vou negar a maioria dos convites para sair de casa. Só me esforço se o amigo é realmente um parceiro de vida ou se o evento tem extrema importância profissional. Como trocar o momento “filminho só nós duas” por qualquer programa nota sete e meio?

Lembro quando chegamos a uma casa alugada no interior e eu fui arrumando o armário do quarto com minhas roupas e as roupas da minha filha e meu namorado da época chiou de leve: não seria melhor ela ficar no quarto ao lado? Rita estava enciumada, tinha cinco anos. Ia ficar comigo, obviamente. Deveria ser simples: é preciso amar uma mulher com filhos sabendo que ela é uma mulher com filhos. É preciso amar os filhos de uma mulher com filhos. É preciso que essa criança sinta que é amada por qualquer pessoa que chegue perto da sua mãe. E isso é inegociável. Do contrário, a relação não apenas morre, mas estrebucha envenenada.

Percebo os olhares das moças da minha nova convivência, mulheres que, acertadamente, priorizam sua vida social, profissional e amorosa. Parece que ser “a mãe trouxa pelo filho” é algo muito distante da elite intelectual. Que seja, mas não tenho forças suficientes em mim para lutar contra esse arrebatamento, não tenho registros no sangue, não tenho sequer intenções. Serei para sempre a mãe trouxíssima pela sua filha.

Agora ela pede massagem em seus pezinhos enquanto faz a lição de casa. É muita folga. Muita. Mas quem aguenta aquela mini bisnaga cor-de-rosa mexendo os dedinhos em busca de um prêmio por já saber, tão pequena, somar dezenas com unidades? Seu perfil, a bochecha redonda que ela entorta porque prefere ser cínica a queridinha, a boca sempre com um bico meio bravo, os olhos imensos que ela revira quando digo que tenho mais o que fazer.

Grávida de dois meses, vomitando o tempo todo, cheguei a perguntar para a minha analista se existia alguma possibilidade de eu não amar minha filha. Ela disse que sim, algumas mães não amam seus filhos, mas não havia nada em mim que sugerisse que eu era como essas mulheres. Hoje lembro disso como lembro de todas as vezes que fiquei totalmente imóvel de frente para um avião. Por que eu entraria naquele negócio para conhecer um lugar novo, distante e com estímulos e informações que com certeza me trariam tantas inquietudes e instabilidades? No conto “A legião estrangeira”, de Clarice Lispector, em certo momento a narradora diz assim: “Eu que não me lembrara de lhe avisar que sem o medo havia o mundo”.


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