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 Multivacinação não oferece risco e aumenta imunidade coletiva

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 Multivacinação não oferece risco e aumenta imunidade coletiva

Bruno de Freitas Moura – Repórter da Agência Brasil

As campanhas de multivacinação, que funcionam como mutirão de aplicação de imunizantes para atualização da caderneta de vacinação, não oferecem risco à população e são, efetivamente, uma forma de aumentar a cobertura vacinal no país e fortalecer a imunidade coletiva, evitando o risco de surtos de doenças que podem levar à morte e a sequelas graves.

Mas, em um cenário de proliferação de fake news e desinformação, algumas pessoas demonstram receio em relação à aplicação de mais de um imunizante no mesmo dia.

Neste Dia Nacional da Vacinação, celebrado em 17 de outubro, especialistas ouvidos pela Agência Brasil reforçam a importância da estratégia adotada pelo Ministério da Saúde e ajudam a descartar mitos e receios que envolvem a multivacinação, direcionada principalmente às crianças e adolescentes menores de 15 anos.

Em campanhas recentes, o ministério disponibilizou 17 vacinas que protegem contra doenças como poliomielite, sarampo, rubéola e caxumba, entre outras.

Sem riscos

A pesquisadora Patricia Boccolini, coordenadora do Observatório de Saúde na Infância (Observa Infância), instituição ligada à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), explica que não há limite para a quantidade de vacinas que uma criança pode receber no mesmo dia. Ela defende que “é importante não desperdiçar aquela oportunidade de deixar as vacinas daquela criança em dia”.

“Segundo o Ministério da Saúde, em princípio, todas as vacinas de rotina da criança podem ser aplicadas no mesmo dia”, afirma.

Boccolini acrescenta que sempre há um profissional da saúde no local do mutirão para avaliar quais vacinas são necessárias e administrar as doses.

O Observa Infância é uma iniciativa de divulgação científica para levar ao conhecimento da sociedade dados e informações sobre a saúde de crianças.

A diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Isabella Ballalai, conta que algumas vacinas precisam respeitar um intervalo de aplicação. “Intervalo mínimo entre duas doses da mesma vacina e o intervalo mínimo entre uma vacina e outra, e isso vai variar de acordo com o imunizante”.

“O profissional da saúde, quando avaliar essas vacinas atrasadas, vai buscar aproveitar melhor aquela visita”.

A diretora da Sbim derruba o mito de que a multivacinação sobrecarrega o sistema imunológico de crianças e adolescentes.

“A gente se expõe a vírus, bactérias e fungos 24 horas por dia, e isso não sobrecarrega. Não vai ser a quantidade mínima de antígenos que tem nas vacinas que vai sobrecarregar o sistema imunológico. Ao contrário, as vacinas ajudam o sistema imunológico, apresentando esses antígenos das doenças consideradas mais graves, de forma que ele possa criar esses anticorpos sem adoecer”, detalha.

Boccolini completa: “O que pode acontecer são reações leves, como febre, dor no lugar da aplicação, algumas reações pequenas”.

“A gente tem que pensar que os benefícios da vacinação em proteger contra doenças graves que podem levar à morte das crianças superam esses pequenos desconfortos temporários que possam surgir”, acrescenta a pesquisadora.

Vacinas específicas

A coordenadora do Observa Infância faz o adendo de que os profissionais de saúde que acompanham a vacinação orientam sobre casos específicos de vacinas que não devem ser tomadas no mesmo dia.

“A gente tem algumas exceções, por exemplo, a vacina da tríplice viral – que protege contra sarampo, caxumba e rubéola – ou a tetra viral – que protege contra sarampo, caxumba, rubéola e também varicela [popularmente conhecida como catapora] – em crianças menores de 2 anos não devem ser aplicadas com outras vacinas, como a de febre amarela”, alerta.

“A vacina da febre amarela pode ter alguma interferência na resposta imunológica quando combinada com componente, por exemplo, da caxumba e da rubéola presentes na tríplice viral”.

Para esses casos, é preciso um intervalo de 30 dias entre as vacinas, explica. Já para maiores de 2 anos, as vacinas podem ser aplicadas simultaneamente, de acordo com Boccolini.

Ela cita também a Qdenga, vacina contra a dengue produzida pelo laboratório japonês Takeda. Por enquanto o Sistema Único de Saúde (SUS) só a disponibiliza para adolescentes. Mas, tecnicamente, pode ser aplicada em crianças menores.

“É uma vacina de vírus atenuado, ela também segue esse mesmo esquema de ser tomada sozinha e não junto com outras vacinas”.

A pesquisadora enfatiza que qualquer tipo de questionamento, inclusive sobre vacinas que gestantes podem tomar, é elucidado por profissionais de saúde presentes nos mutirões. “Todas essas dúvidas vão ser tiradas lá, no momento da vacinação”.

Cobertura vacinal

Além de serem benéficas para a criança e o adolescente que se protege de doenças evitáveis, as campanhas de multivacinação são importantes para o país, pois são uma forma de ampliar a cobertura vacinal.

“Todo esse esforço conjunto facilita o acesso a vacinas”, avalia Boccolini. “Quando se atualiza a caderneta, você faz com que as doses atrasadas sejam aplicadas em um único momento”.

A consequência, completa, é que o país “se protege contra surtos, fortalecendo a imunidade coletiva”.

Por isso, há o interesse de a cobertura vacinal se manter sempre elevada. A coordenadora cita o exemplo do sarampo. “Uma doença que a gente conseguiu controlar, mas, vira e mexe, ela volta porque não foi erradicada no mundo”.

Outro caso é a poliomielite, que pode causar paralisia infantil. O Brasil erradicou a doença, que ainda é endêmica em muitos lugares do mundo, ou seja, está presente com recorrência em determinada região, mas sem um aumento significativo no número de casos. 

“A gente precisa ter uma cobertura vacinal alta, imunidade coletiva, para que, caso tenhamos alguma pessoa vinda de fora com a doença, estejamos preparados para que não tenha uma questão aqui no território nacional”, explica a especialista, que aponta a necessidade de a nossa cobertura vacinal atingir em torno de 90% a 95% do público-alvo.

De acordo com o Ministério da Saúde, a cobertura vacinal em 2024 é de cerca de 85%. O país não registra casos de poliomielite desde 1989 e, cinco anos depois, em 1994, recebeu a certificação de área livre de circulação do poliovírus selvagem.

No entanto, em 2023, o país foi classificado como de alto risco para a reintrodução do poliovírus pela Comissão Regional para a Certificação da Erradicação da Poliomielite na Região das Américas (RCC), ligada à Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), escritório da Organização Mundial da Saúde (OMS) nas Américas.

Em junho de 2024, o Ministério da Saúde lançou a campanha de vacinação contra a poliomielite, com o objetivo de imunizar 95% do público-alvo de 13 milhões de crianças menores de 5 anos.

Percepção de doenças

A pediatra Isabella Ballalai, da Sbim, destaca que, ao longo da história, campanhas de multivacinação foram muito importantes para a eliminação de doenças evitáveis, como sarampo, poliomielite e varíola. “Foi a forma de a gente conseguir vacinar quase a totalidade da população-alvo”.

Ela lembra que antes da erradicação, a vacinação tinha grande apelo entre a população, pois as pessoas vivenciavam exemplos de efeitos causados pelas doenças.

“Naquela época, as campanhas eram atrativas para a população que conhecia as doenças, que via a criança morrendo, via criança com sequela. Essas doenças eram as maiores causas de mortalidade infantil”.

Ela explica que a vacinação é uma questão comportamental. “Quando a pessoa se vê naquele risco, ela procura a vacina”.

Isabella aponta, no entanto, que com menor percepção de risco causada pela eliminação de doenças, o interesse por vacinação fica mais baixo, ainda mais se conjugado com obstáculos como rotina atribulada, que atrapalhe a levar ao posto de vacinação, e dúvidas causadas por desinformação.

“Este momento que a gente vive mais intensamente agora e depois da covid-19 por conta, inclusive, de muita desinformação, deixa a população em dúvida e uma população que não está vendo risco nenhum de pegar pólio, sarampo, mesmo a gente dizendo que [a doença] vai voltar”.

A médica insiste que a multivacinação é um caminho para garantir a melhor cobertura vacinal no país. “Serve para chamar a população e tentar aumentar a cobertura vacinal para aqueles que, porventura, não foram na rotina”.



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O cantor do One Direction, Liam Payne, morre aos 31 anos – DW – 17/10/2024

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O cantor do One Direction, Liam Payne, morre aos 31 anos – DW – 17/10/2024

A polícia de Buenos Aires disse na quarta-feira que o ex-vocalista do One Direction, Liam Payne, foi encontrado morto do lado de fora de um hotel após cair de sua varanda.

A polícia descobriu o corpo ao chegar ao hotel, onde atendia uma ligação anterior sobre um “homem agressivo que poderia estar sob efeito de drogas e álcool”.

Ex-vocalista do One Direction, Liam Payne morre em Buenos Aires

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Polícia divulga transcrição do 911

Mais tarde, a polícia divulgou uma transcrição da chamada de ajuda para o 911, onde a pessoa que ligou do hotel diz que um hóspede “embriagado” está “quebrando o quarto inteiro” quando está consciente.

“E precisamos que você mande alguém com urgência porque, bom, não sei se a vida do hóspede está em risco. Ele está em um quarto com varanda”, disse a pessoa que ligou.

Os funcionários do hotel fizeram pelo menos duas ligações para os serviços de emergência antes de Payne morrer.

A polícia disse que, assim que chegaram, “foi observada uma desordem total, com vários elementos quebrados”, no quarto de Payne.

A polícia restringe fãs que se reúnem em frente ao hotel onde o ex-vocalista do One Direction, Liam Payne, foi encontrado morto após cair de uma varanda em Buenos Aires, Argentina, quarta-feira, 16 de outubro de 2024.
Fãs lotaram o local para prestar homenagem, e a polícia às vezes teve que mantê-los afastadosImagem: Natacha Pisarenko/AP/imagem aliança

A família de Liam Payne diz que está “de coração partido”

A família de Liam Payne disse em comunicado que está “de coração partido” ao saber da notícia sobre a morte de Payne.

“Liam viverá para sempre em nossos corações e vamos nos lembrar dele por sua alma gentil, engraçada e corajosa. Estamos apoiando uns aos outros o melhor que podemos como uma família e pedimos privacidade e espaço neste momento terrível”, disseram via a BBC.

O que sabemos sobre a trágica morte do cantor

A polícia informou em nota que o jovem de 31 anos caiu do terceiro andar do Hotel Casa Sur no argentino bairro elegante de Palermo, na capital, resultando em “ferimentos extremamente graves”.

Os médicos confirmaram sua morte no local, disse o comunicado.

Alberto Crescenti, chefe do sistema estatal de emergência médica, disse ao canal de televisão argentino Todo Noticias que as autoridades estavam investigando as circunstâncias e realizando uma autópsia.

Ele se recusou a entrar em detalhes sobre o incidente, incluindo se Payne pulou da varanda ou caiu acidentalmente.

  A polícia isolou o hotel onde Payne foi encontrado enquanto os fãs se reuniam
Minutos depois da notícia, torcedores desesperados se reuniram perto do local na capital argentinaImagem: Natacha Pisarenko/AP/imagem aliança

Pablo Policicchio, porta-voz do Ministério da Segurança do município de Buenos Aires, disse em comunicado à agência de notícias Associated Press que Payne “se jogou da varanda de seu quarto”.

Depois que a notícia foi divulgada, os fãs rapidamente se reuniram em frente ao hotel. Posteriormente, passaram a colocar velas e outras homenagens em memória da cantora.

Fãs acendem velas do lado de fora do hotel onde o ex-vocalista do One Direction, Liam Payne, foi encontrado morto após cair de uma varanda em Buenos Aires, Argentina, quarta-feira, 16 de outubro de 2024.
Fãs acenderam velas e deixaram bilhetes em homenagem perto do hotel na Argentina na noite de quarta-feiraImagem: Natacha Pisarenko/AP/imagem aliança

Payne foi aberto sobre sua luta contra o alcoolismo, postando um vídeo em julho de 2023 em seu canal no YouTube dizendo que estava sóbrio há seis meses após receber tratamento.

Payne assistiu recentemente a um show de seu ex-colega de banda Niall Horan em Buenos Aires durante sua viagem à Argentina e suas contas nas redes sociais permaneceram ativas, mesmo na quarta-feira.

Rápida ascensão à fama após a descoberta do ‘X Factor’

Payne ganhou destaque como um dos cinco membros da banda One Direction, que teve sua grande chance em 2010, quando os vários membros fizeram o teste para a série britânica de competição de canto “The X Factor”.

Cada cantor não conseguiu progredir como artista solo, mas os jurados reuniram Payne, Zayn Malik, Harry Styles, Niall Horan e Louis Tomlinson em uma boy band que se tornaria uma das mais bem-sucedidas do mundo.

(da esquerda para a direita) Zayn Malik, Liam Payne, Niall Horan, Louis Tomlinson e Harry Styles
A banda (da esquerda para a direita) Zayn Malik, Liam Payne, Niall Horan, Louis Tomlinson e Harry Styles, retratada em 2012Imagem: Yui Mok/empics/picture aliança

Eles se tornaram conhecidos por sucessos românticos como “What Makes You Beautiful” e tiveram seis sucessos no Top 10 nas paradas da Billboard quando se separaram em 2016. Oficialmente, o grupo apenas chamou sua pausa de hiato.

Após a separação do grupo, Payne seguiu carreira solo, lançando o álbum “LP1” em 2019. Seu último lançamento foi o single “Teardrops”, em março.

Payne teve um filho de 7 anos com sua ex-namorada, a musicista Cheryl, que era conhecida como Cheryl Cole quando se apresentava com a banda pop Girls Aloud.

rm, rc/msh (AP, Reuters)

Se você estiver sofrendo de tensão emocional grave ou pensamentos suicidas, não hesite em procurar ajuda profissional. Você pode encontrar informações sobre onde encontrar essa ajuda, não importa onde você more no mundo, neste site: https://www.befrienders.org



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Israel investiga se líder máximo do Hamas morreu em ataque à Faixa de Gaza

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CNN Brasil

Militares israelenses encontraram um homem que se acredita ser Yahya Sinwar, o líder máximo do Hamas, durante operações militares de rotina na Faixa de Gaza, disseram duas fontes de Israel familiarizadas com o assunto.

Tropas de infantaria encontraram três militantes perto de um prédio em Gaza e os enfrentaram, disseram as fontes.

Após o fim da batalha, as tropas encontraram um corpo parecido com o de Sinwar e alertaram os comandantes seniores.

Os serviços militares e de inteligência israelenses estão trabalhando para identificar se o corpo é de fato de Sinwar por meio de análise de DNA, disseram as fontes.

“Durante as operações da FDI na Faixa de Gaza, três terroristas foram eliminados. As FDI e a ISA estão verificando a possibilidade de que um dos terroristas fosse Yahya Sinwar. Neste estágio, a identidade dos terroristas não pode ser confirmada”, disseram as Forças de Defesa de Israel (FDI) em um comunicado.

Sinwar é a figura mais significativa do Hamas ainda à solta, e Israel o considera o “mentor” dos ataques mortais de 7 de outubro que desencadearam a invasão terrestre de Gaza por Israel.

Ele não é visto em público desde os ataques do Hamas e acredita-se que ele esteja escondido na vasta rede de túneis que serpenteiam sob Gaza.

Imagens que supostamente mostram o corpo do líder do Hamas, Yahya Sinwar, estão circulando amplamente nas redes sociais.

Nelas, um homem muito parecido com Sinwar pode ser visto morto nos escombros de um prédio destruído, com ferimentos graves no crânio.

A CNN passou as imagens por um software autenticador, que não mostra sinais de manipulação de imagem. Não é possível discernir o local ou o momento da morte a partir das fotografias.

A CNN ainda não conseguiu confirmar a identidade do homem visto nas fotos.

E o premiê israelense Benjamin Netanyahu afirmou que não houve sinais de ferimentos em nenhum refém na operação israelense em Gaza que pode ter matado Sinwar.

O porta-voz de Netanyahu disse que o primeiro-ministro instruiu os militares israelenses a informar às famílias dos reféns que “não houve sinais de danos aos reféns no encontro em questão”.

Sinwar não é visto há mais de um ano

Yahya Sinwar não é visto desde que a guerra entre Israel e o Hamas começou em 7 de outubro de 2023.

Imagem de Yahya Sinwar, chefe do grupo militante Hamas, em evento nos EUA • 14/08/2024 REUTERS/David ‘Dee’ Delgado

Ele também não foi ouvido publicamente por quase um ano – até meados de setembro.

Em 10 de setembro, ele emitiu sua primeira declaração desde o começo da guerra, parabenizando o presidente argelino Abdelmadjid Tebboune por sua vitória eleitoral, de acordo com o canal Telegram do Hamas.

No dia seguinte, seu gabinete disse que ele escreveu cartas agradecendo aqueles que ofereceram condolências após a morte de Ismail Haniyeh, seu antecessor assassinado. E em 13 de setembro, uma carta foi enviada ao então chefe do Hezbollah, Hassan Nasrallah.

A CNN não conseguiu verificar se Sinwar era de fato o autor das cartas.

Sinwar foi nomeado líder político do Hamas depois que Haniyeh foi assassinado na capital iraniana, Teerã, em julho.

Discurso do líder do Hamas, Yahya Sinwar • Reuters

Ele é visto como mais linha-dura do que seu antecessor em negociações com Israel e favorece a cooperação e laços mais próximos com o Irã e grupos islâmicos aliados, como o Hezbollah.

Quem é Yahya Sinwar?

Figura de longa data no grupo armado, Sinwar foi responsável pela construção do braço militar do Hamas antes de formar novos laços importantes com as potências árabes regionais como líder civil e político do grupo.

Foi eleito para o principal órgão de decisão do Hamas, o Politburo, em 2017, como líder político do Hamas em Gaza. No entanto, desde então tornou-se o líder de fato do Politburo, de acordo com uma pesquisa do Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR, na sigla em inglês).

Ele foi designado terrorista global pelo Departamento de Estado dos EUA desde 2015 e foi sancionado pelo Reino Unido e pela França.

Yahya Sinwar, o líder eleito do Hamas, aparece durante uma cerimônia em homenagem aos combatentes mortos por ataques aéreos israelenses no Estádio de Futebol Yarmouk em 24 de maio de 2021 na Cidade de Gaza • Laurent Van der Stockt/Getty Images

Harel Chorev, pesquisador sênior do Centro Moshe Dayan para Estudos do Oriente Médio e da África, da Universidade de Tel Aviv, disse que, embora Sinwar seja um ator-chave dentro do Hamas, ele não deve ser visto como seu único líder.

“Ele é visto como o mais graduado porque tem um perfil público muito elevado, mas o Hamas não funciona desta forma”, disse ele. “O Hamas é uma organização descentralizada com vários centros de poder separados e ele é um deles”.

Chorev disse que embora Sinwar seja uma figura proeminente, ele faz parte de um “triunvirato” de oficiais do Hamas responsáveis pelo ataque de 7 de outubro, juntamente com Mohammed al-Masri, popularmente conhecido como Mohammed Deif, comandante das Brigadas Al-Qassam, o braço militar do Hamas, e o vice de Deif, Marwan Issa.

Sinwar é de longe o mais conhecido e mais reconhecível dos três.

FOTOS: Veja imagens do conflito entre Israel e Hamas

“Homem morto andando”

Sinwar nasceu em 1962 em um campo de refugiados em Khan Younis, no sul de Gaza. A sua família foi deslocada de Al-Majdal, uma aldeia palestina na atual Askhelon, durante a guerra árabe-israelense. Ele se juntou ao Hamas no final da década de 1980 e se tornou um dos fundadores do seu temido aparelho de inteligência interno, conhecido como Majd.

Ele foi condenado em 1988 por desempenhar um papel no assassinato de dois soldados israelenses e quatro palestinos suspeitos de colaboração com Israel, e passou mais de duas décadas na prisão israelense. Sinwar disse mais tarde que passou esses anos estudando seu inimigo, inclusive aprendendo a falar hebraico.

Ele foi libertado em 2011 como parte do acordo que viu mais de mil prisioneiros palestinos serem trocados por Gilad Shalit, um soldado das forças israelenses que foi capturado e levado para Gaza, onde foi detido por mais de cinco anos. Naquela época, Sinwar chamou a troca de “um dos grandes monumentos estratégicos na história da nossa causa”.

Chorev disse que a libertação dele foi ajudada pelo fato de seu irmão ser um dos sequestradores de Shalit e insistiu para que ele fosse incluído no acordo.

Líder do Hamas Yahya Sinwar, considerado o “cérebro” do ataque contra Israel. • Reuters

De volta a Gaza, Sinwar subiu na hierarquia e rapidamente se tornou um ator-chave dentro do Hamas. Chorev disse que ele ficou conhecido por sua brutalidade e pela violência que inflige a qualquer pessoa que suspeite de traição ou colaboração.

“É bem sabido que enquanto estava na prisão, ele torturou pessoas, principalmente membros do Hamas, usando (um) prato quente para lhes causar queimaduras… o seu papel no Majd realmente diz muito sobre o seu carácter, a sua crueldade. Mas, ao mesmo tempo, os israelenses que o conheceram disseram que ele também pode ser muito prático, discutindo opções abertamente”, disse Chorev.

Como um líder do Hamas, Sinwar concentrou-se nas relações externas do grupo. De acordo com o ECFR, ele foi responsável por restaurar a relação do Hamas com os líderes egípcios que estavam receosos do apoio do grupo ao islã político, e por obter financiamento militar contínuo do Irã.

O chefe do Hamas em Gaza, Yahya Sinwar, participa de uma reunião com membros de grupos palestinos na Cidade de Gaza, em 13 de abril de 2022 • Ali Jadallah/Agência Anadolu via Getty Images

Sinwar foi considerado vital e provavelmente o principal ponto de contato dentro de Gaza durante as intensas negociações sobre o retorno dos mais de 240 reféns levados para o enclave pelo Hamas nos ataques de 7 de outubro. As negociações envolveram figuras importantes de Israel, Hamas, Estados Unidos, Catar e Egito.

“No final das contas, há duas pessoas” no comando das negociações, disse Gershon Baskin, um conhecido ativista israelense pela paz envolvido na libertação de Shalit, o soldado israelense, em 2011. “Um é Yahya Sinwar do lado do Hamas e o outro é Benjamin Netanyahu do lado israelense”.

Mais de 100 reféns israelenses e estrangeiros foram libertados pelo Hamas e 240 prisioneiros palestinos libertados por Israel como parte de uma trégua obtida nessas negociações, antes da trégua temporária acabar em 1 de dezembro, com Israel e o Hamas se culpando mutuamente pelo fracasso.

Sinwar foi chamado de muitas coisas: o porta-voz militar israelense, tenente-coronel Richard Hecht, chamou Sinwar de “face do mal” e declarou-o um “homem morto andando”. A mídia israelense comparou-o a Osama bin Laden, enquanto um perfil publicado pelas forças israelenses o apelidou de “o açougueiro de Khan Younis”.

Mas Chorev disse que, apesar da sua posição no centro das atenções, Sinwar é apenas um dos muitos comandantes que Israel precisa remover antes de poder dizer que “destruiu o Hamas”.

“Para simplificar, se Israel matar Sinwar, não significa necessariamente que derrubará o Hamas. No entanto, o Hamas ainda pode ser derrubado mesmo que Sinwar continue vivo… porque não é (uma organização hierárquica). Para que Israel destrua o Hamas, precisa destruir uma massa crítica de centros de poder, não apenas ele”, disse ele.

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Berlim vira palco para último ato diplomático de Biden – 17/10/2024 – Mundo

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Berlim vira palco para último ato diplomático de Biden - 17/10/2024 - Mundo

José Henrique Mariante

No que é considerado pela mídia americana como uma espécie de último ato diplomático de sua administração, Joe Biden será recebido nesta sexta-feira (18) em Berlim pelo chanceler alemão, Olaf Scholz, e pelo presidente do país, Frank-Walter Steinmeier. Uma pequena lista de convidados reforça o simbolismo do encontro: Keir Starmer, primeiro-ministro do Reino Unido, e Emmanuel Macron, presidente francês.

Biden será condecorado por Steinmeier por seus esforços em apoiar a Ucrânia na guerra contra a Rússia e proteger a Europa. A homenagem reflete de certa forma a expectativa europeia negativa diante de um eventual segundo mandato de Donald Trump, que já afirmou que consegue interromper o conflito com um simples telefonema. O problema não está na bravata, mas na propalada interrupção de financiamento ao esforço de guerra ucraniano, até aqui fundamental.

O presidente americano era esperado na semana passada na Alemanha, mas adiou a viagem para se concentrar na reação aos estragos de dois furacões na Flórida, que também se tornou uma questão eleitoral após uma onda de desinformação nas redes sociais e em parte da mídia pró-Trump.

A agenda cancelada previa um encontro com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que nesta semana cumpre uma espécie de road show de seu “Plano de Vitória”. Entre outros pontos, a proposta prevê a adesão imediata do país à Otan e o aumento de sua capacidade bélica, a ponto de atingir alvos mais sensíveis na Rússia.

Diplomatas europeus trabalham com a expectativa de que Biden possa de alguma forma incrementar o apoio a Zelensky nestes últimos meses de mandato, especialmente no caso de sua vice, Kamala Harris, perder a eleição em novembro. A atuação do presidente americano, no entanto, é limitada por um Congresso cada vez menos propenso ao apoio incondicional à Ucrânia.

Zelensky esteve em Berlim na semana passada, causando grandes transtornos ao cotidiano da capital federal. Algo parecido é esperado para esta sexta-feira, em que artérias importantes da cidade serão interrompidas pelas forças de segurança.

Além das regiões da chancelaria e do Palácio de Bellevue, a residência oficial do presidente alemão à margem do rio Spree, as cercanias da Potsdamer Platz, muito procurada por turistas, estarão com acesso limitado ou mesmo proibido. Isso tudo porque Biden ficará hospedado no Ritz Carlton, próximo à praça.

Além dos bloqueios para carros e pedestres, a visita também prejudica o transporte público. As linhas de trem e metrô que passam pelos locais de restrição terão frequência reduzida ou suspensa, como ocorreu na semana passada quando Zelenski estava na cidade. Parte do tráfego aéreo também pode ser afetada por causa da presença do Air Force One no aeroporto de Berlim-Brandemburgo.





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